Capítulo 9 O mercado de trabalho: salários, lucros e desemprego
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Como o mercado de trabalho de toda a economia determina os salários, o emprego e a distribuição de renda
- O mercado de trabalho funciona bem diferente do mercado de pães descrito no capítulo anterior porque as firmas não podem comprar o trabalho de empregados diretamente, mas apenas contratar seu tempo.
- Como vimos no Capítulo 6, o modelo principal-agente é usado para explicar o conflito de interesses entre empregador e empregado a respeito de quanto o trabalhador deve trabalhar, e por que esta questão não pode ser resolvida por um contrato.
- O resultado do processo de determinação de salários em todas as firmas da economia é a curva de salários, que mostra o salário associado a cada taxa de desemprego.
- Os preços que as firmas cobram por seus produtos são influenciados pela demanda por seus bens e pelo custo do trabalho, o salário.
- O resultado do processo de determinação de preços em todas as firmas é a curva de preços, que fornece o valor do salário real consistente com a margem de lucro que maximiza os lucros totais de uma firma, dados seus custos de produção.
- O excesso de oferta de trabalho (desemprego involuntário) é uma característica dos mercados de trabalho, mesmo em equilíbrio.
- Se a demanda de toda a economia por bens e serviços é muito baixa, o desemprego será maior do que seu nível de equilíbrio e pode persistir.
- Os sindicatos e políticas públicas podem afetar o equilíbrio do mercado de trabalho.
Como acontece em várias partes do mundo, a mineração era um meio de vida para Doug Grey, um escavador que operava guindastes gigantes no Território do Norte, Austrália. Nos anos 1990, ele ajudou a construir a mina de zinco MacArthur River, uma das maiores do mundo, onde seu filho Rob conseguiu seu primeiro emprego. “Acabei dirigindo caminhões de minério”, lembra-se Rob. “Foi uma oportunidade incrível”.
Na época, parecia que Rob tinha nascido no momento certo. Ele entrou no mercado de trabalho no exato instante em que o boom de recursos minerais no mundo inteiro estava decolando, impulsionado pela demanda da China que crescia rapidamente. Rob viveu na Tailândia por um tempo, gastando pouco e viajando de avião para o seu local de trabalho em Borroloola.
Quando Rob começou a trabalhar, Doug, o Grey pai, aceitou um emprego na mina de minério de ferro de Pilbara, na Austrália Ocidental, onde recebia quase o dobro da renda média de uma família australiana naquela época. Tanto pai quanto filho estavam economizando um bom dinheiro.
Contudo, em 2015, o boom de recursos naturais era apenas uma lembrança distante, e os preços do minério e do zinco continuavam em queda livre. Rob e seus colegas de trabalho estavam preocupados. “Todo mundo sabia que a recessão econômica e os preços das commodities eram um problema. Lá no fundo, tínhamos isso em mente”. A economia dos seus sonhos não iria durar muito. “Era … óbvio … que estava chegando ao fim”, disse Doug.
E chegou. No final de 2015, Rob recebeu a má notícia: “Em meu segundo dia de férias, o gerente geral me ligou e disse: “Obrigado por seu serviço, somos muito gratos, mas temos que te demitir.” Seu pai também havia sido dispensado.
Dirigir caminhões de minério é a paixão de Rob e ele ainda tem esperança de se ver atrás do volante. Mas isso não vai acontecer, pelo menos não na mina de Pilbara, onde seu pai havia trabalhado. Diante de uma demanda despencando, a mineradora cortou a produção, e também buscou formas de reduzir drasticamente os custos. Como parte desse processo, o trabalho humano foi substituído por máquinas sempre que possível. Em Pilbara, ninguém está dirigindo nenhum dos enormes caminhões robotizados de minério que agora são ‘dirigidos’ por graduados no ensino superior com joysticks a 1.200 km de distância, em Perth (voltaremos ao processo de automação e seus efeitos no mercado de trabalho nos Capítulos 16 e 19).
A ascensão e a queda das perspectivas econômicas da família Grey têm tudo a ver com o andamento do mercado de trabalho nos setores de mineração e construção na Austrália Ocidental e nos Territórios do Norte. A Figura 9.1 mostra que a experiência deles não era nada incomum. O boom nos preços de minério (figura superior) tornou a mineração altamente lucrativa, levando a uma forte demanda por trabalho que, de repente, esgotou a reserva de escavadores e motoristas de caminhão desempregados. As mineradoras não tiveram escolha a não ser pagar salários incrivelmente altos e, enquanto o boom durou, as empresas permaneceram altamente lucrativas.
O declínio nos preços das commodities começou em meados de 2011 e o desemprego começou a aumentar. A boa sorte da família Grey durou por mais quatro anos.
- desemprego, involuntário
- O estado de estar desempregado, mas preferindo ter um emprego com os salários e condições de trabalho que os trabalhadores empregados idênticos têm. Veja também: desemprego.
Neste capítulo, descrevemos como o mercado de trabalho funciona e por que, mesmo em equilíbrio, a oferta de trabalho (número de pessoas procurando emprego) excede a demanda por trabalho (número de empregos oferecidos). As pessoas sem trabalho nesta situação são denominadas desempregados involuntários (para distinguir daquelas desempregadas por escolha própria, mas que estão procurando emprego).
9.1 A curva de salários, a curva de preços e o mercado de trabalho
Nos capítulos anteriores, analisamos mercados específicos — compra e venda de pão, por exemplo — e às vezes em uma mesma firma. Aqui, elaboramos um modelo do mercado de trabalho da economia como um todo, o qual determina a quantidade de desemprego na população total. Consideramos firmas formadoras de preços que vendem produtos diferenciados (como descrito no Capítulo 7) e um grande número de trabalhadores idênticos que podem ser empregados por firmas pelo mesmo salário definido por ela (conforme estudado no Capítulo 6).
- salário nominal
- Valor efetivamente recebido como pagamento por trabalho em uma moeda específica. Também conhecido como: salário em dinheiro. Veja também: salário real.
Consideramos o caso simples em que o único fator de produção é o trabalho, então o único custo é o salário, e os lucros são determinados por apenas três elementos: o salário nominal (o valor realmente recebido em determinada moeda), o preço pelo qual a firma vende seus produtos, e o produto médio produzido por trabalhador em uma hora.
O mercado de trabalho
O mercado de trabalho reúne dois temas vistos antes: a firma e seus empregados (Capítulo 6) e a firma e seus clientes (Capítulo 7). Duas coisas que você aprendeu serão essenciais para entender como o mercado de trabalho funciona.
Firmas e empregados
- renda do emprego
- Renda econômica que um trabalhador recebe quando o valor líquido do seu emprego excede o valor líquido de sua melhor alternativa subsequente (isto é, estar desempregado). Também conhecida como: custo de perder o emprego.
Para motivar os empregados a trabalhar com afinco e bem, as firmas devem estabelecer um salário suficientemente alto para que o trabalhador ou a trabalhadora receba uma renda de emprego. Isso significa que existe um custo de perder o emprego: uma trabalhadora, por exemplo, está melhor se estiver empregada do que se for demitida por falta de esforço. Se a trabalhadora tiver facilidade para encontrar outro trabalho caso seja demitida, o que será o caso se o nível de emprego na economia estiver alto, ela exigirá um salário mais alto para trabalhar com mais afinco. Pense na formação dos salários como uma tarefa do departamento de recursos humanos (RH) da firma.
Firmas e clientes
Ao definirem o preço dos bens que vendem, as firmas enfrentam um trade-off entre vender mais produtos ou cobrar um preço mais alto, devido à curva da demanda com que se deparam. Para determinar o preço a ser estabelecido, a firma calcula a margem sobre o custo de produção (conhecida como markup) que equilibra os ganhos resultantes de um preço mais alto com as perdas resultantes de vender menos, de modo a maximizar os lucros. Esse markup de maximização de lucro determina a divisão da receita da firma entre lucros e salários. Pense na formação de preços como uma tarefa do departamento de marketing da firma.
Salários e emprego
- salário real
- É o salário nominal após ser ajustado para considerar as mudanças nos preços entre diferentes períodos de tempo. O salário real mede a quantidade de bens e serviços que o trabalhador pode comprar. Ver também: salário nominal.
Queremos saber como são determinados o salário real e o nível de emprego na economia como um todo. Tenha em mente que o salário real é o salário nominal dividido pelo nível de preços de uma cesta padrão de bens de consumo, então é determinado tanto pelos preços definidos pelas firmas como pelos salários nominais que essas pagam. Imagine que este processo tem duas fases:
- Primeiramente, cada firma decide que salário pagar, que preço cobrar por seus produtos e quantas pessoas contratar.
- Depois, somando todas essas decisões de todas as firmas, temos o emprego total na economia e o salário real.
Veja como a primeira fase (escolha de salário, preço e emprego) ocorre em cada firma:
- O departamento de recursos humanos determina o salário mais baixo que pode pagar: o valor escolhido não deve comprometer a motivação do trabalhador para trabalhar e devem ser considerados os preços dos produtos de outras firmas, os salários que outras firmas estão pagando e a taxa de desemprego na economia. Esse será o salário nominal definido pela firma. O RH comunica essa informação ao departamento de marketing.
- O departamento de marketing define o preço: ele se baseia no salário nominal assim como na forma e na posição da curva de demanda com que a firma se defronta. Por exemplo, se a curva de demanda é elástica, o que indica um alto nível de competição com outras firmas, ela estabelecerá um preço mais baixo. Definir o preço é o mesmo que fixar o tamanho do markup sobre o custo de contratação de trabalhadores. Dada a posição da curva de demanda, que indica o nível de demanda de toda a economia, o departamento de marketing determina então a quantidade de produto que a firma colocará à venda. Essa informação é transmitida para o departamento de produção (DP).
- Então, o departamento de produção calcula quantos empregados devem ser contratados para produzir a quantidade estabelecida pelo departamento de marketing, com base na função de produção da firma.
A segunda fase — considerar o resultado conjunto das decisões de todas as firmas — é mais complicada. Mas a ideia-chave é simples. Quando todas as firmas na economia tiverem tomado suas decisões de salário e preço (markup), o produto por trabalhador da economia se divide entre salário real recebido pelo trabalhador e lucro real recebido pelo proprietário da firma. Se todas as firmas estiverem cobrando o mesmo preço e pagando o mesmo salário nominal, então um salário real maior (W/P) implica um markup menor (1 − (W/P). Para entender como salário real e emprego são determinados conjuntamente no mercado de trabalho, precisamos de dois conceitos básicos:
- curva de salários
- Curva que indica o salário real necessário em cada nível de emprego da economia para incentivar os trabalhadores a trabalharem bem e com afinco.
- curva de preços
- Curva que fornece o salário real pago quando as firmas escolhem o preço que maximiza seus lucros.
- Curva de salário: indica o salário real necessário em cada nível de emprego da economia para incentivar os trabalhadores a trabalharem bem e com afinco.
- Curva de preço: indica o salário real pago quando as firmas escolhem o preço que maximiza seus lucros.
Na próxima seção, veremos como o emprego e o desemprego são medidos. Depois, introduzimos a curva de salário usando o modelo de determinação de salários do Capítulo 6. Então, descrevemos como uma única firma determina seu nível de emprego utilizando o modelo de formação de preços do Capítulo 7. Isso nos mostrará a razão pela qual a curva de preços é essencial para entender o mercado de trabalho na economia como um todo. A seguir, mostramos como as duas curvas juntas determinam o nível de emprego de equilíbrio, o salário real e a distribuição de renda entre salários e lucros. Por fim, usamos este modelo para explorar os efeitos de mudanças nas políticas públicas, tais como tributação do lucro das firmas e salários de trabalhadores, subsídios para as firmas contratarem mais trabalhadores, mudanças nos benefícios de seguro desemprego recebidos por desempregados e mudanças no grau de competição entre as firmas.
Questão 9.1 Selecione a(s) resposta(s) correta(s)
Qual(is) das seguintes afirmações está(ão) correta(s)?
- Para motivar os empregados a trabalhar bem e com afinco, as firmas devem estabelecer um salário suficientemente alto para que os trabalhadores recebam uma renda de emprego, em outras palavras, a perda de emprego tem um custo diferente de zero.
- Há um trade-off entre preço/markup mais alto e a quantidade de vendas. Uma firma escolhe o preço que maximiza seus lucros.
- No equilíbrio do mercado de trabalho, há desemprego involuntário, já que o salário deve ser estabelecido em um nível mais alto do que ao nível de pleno emprego para motivar os empregados a trabalhar bem e com afinco.
- O salário real é W/P, enquanto o markup é (P − W)/P = 1 − (W/P). Assim, quanto maior for o primeiro, menor será o segundo.
9.2 Mensurando a economia: emprego e desemprego
- desemprego
- Situação na qual uma pessoa apta e disposta a trabalhar não está empregada.
De acordo com a definição padronizada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), os desempregados são pessoas que:
- estavam sem trabalho durante o período de referência (geralmente quatro semanas), o que significa que elas não estavam em um emprego remunerado nem trabalhando como autônomas;
- estavam disponíveis para trabalhar;
- estavam procurando emprego, o que significa que elas tomaram atitudes específicas naquele período em busca de emprego ou trabalho autônomo.
- população em idade ativa
- Convenção estatística que, em muitos países, se refere a todas as pessoas com idade entre 15 e 64 anos.
- população inativa
- Pessoas da população em idade produtiva que não estão empregadas nem procurando por emprego remunerado ativamente. Aquelas pessoas que trabalham em casa cuidando dos filhos, por exemplo, não são consideradas parte da força de trabalho e, portanto, são classificadas dessa forma.
- força de trabalho
- Número de pessoas da população em idade ativa que trabalham, ou desejam trabalhar, fora do domicílio. Podem estar empregadas (inclusive como autônomas) ou desempregadas. Veja também: taxa de desemprego, taxa de emprego, taxa de participação.
A Figura 9.2 traz um panorama do mercado de trabalho e mostra como seus componentes se encaixam. Começamos pelo lado esquerdo com a população. A caixa seguinte mostra a população em idade ativa que consiste na população total menos crianças e pessoas acima de 64 anos. A população em idade ativa se divide em duas partes: a força de trabalho e as pessoas fora da força de trabalho (conhecidas como inativos). As pessoas fora da força de trabalho não estão empregadas nem procuram ativamente por emprego. São, por exemplo, pessoas impossibilitadas de trabalhar por motivos de doença ou incapacidade, ou pais que estão em casa cuidando de seus filhos. Apenas os membros da força de trabalho podem ser considerados empregados ou desempregados.
Figura 9.2 O mercado de trabalho.
- taxa de participação
- Razão entre o número de pessoas na força de trabalho em relação à população em idade ativa. Veja também: força de trabalho, população em idade ativa.
Existem várias estatísticas úteis para avaliar o desempenho do mercado de trabalho em um país e para comparar os mercados de trabalho entre os países. As estatísticas dependem dos tamanhos relativos das caixas mostradas na Figura 9.2. A primeira é a taxa de participação, que mostra a proporção da população em idade ativa que está na força de trabalho. É calculada da seguinte forma:
\[\begin{align*} \text{taxa de participação} &= \frac{\text{força de trabalho}}{\text{população em idade ativa}} \\ &= \frac{\text{empregados + desempregados}}{\text{população em idade ativa}} \end{align*}\]- taxa de desemprego
- Razão entre o número de desempregados e a força de trabalho total. (Observe que a taxa de emprego e a taxa de desemprego não somam 100%, pois têm denominadores diferentes.) Veja também: força de trabalho, taxa de emprego.
A seguir está a estatística de mercado de trabalho usada com mais frequência: a taxa de desemprego. Esta mostra a proporção da força de trabalho que está desempregada. É calculada da seguinte forma:
\[\begin{align*} \text{taxa de desemprego} = \frac{\text{desempregados}}{\text{força de trabalho}} \end{align*}\]Por fim, chegamos à taxa de emprego que mostra a proporção da população em idade ativa que está em um emprego remunerado ou trabalha como autônoma. É calculada da seguinte forma:
\[\begin{align*} \text{taxa de emprego} = \frac{\text{empregados}}{\text{população em idade ativa}} \end{align*}\]É importante notar que o denominador (a estatística na parte de baixo da fração) da taxa de desemprego é diferente do utilizado na taxa de emprego. Por isso, dois países com a mesma taxa de desemprego podem ter diferentes taxas de emprego se um tiver uma taxa de participação maior e o outro, uma menor.
A tabela da Figura 9.3 ilustra a situação dos mercados de trabalho norueguês e espanhol entre 2000 e 2015, e mostra como as estatísticas de mercado de trabalho se relacionam umas com as outras. A tabela também mostra que a estrutura do mercado de trabalho difere amplamente entre esses países. Podemos ver que o mercado de trabalho norueguês funcionou melhor do que o mercado de trabalho espanhol nos últimos 15 anos. A Noruega teve uma taxa de emprego muito mais alta e uma taxa de desemprego muito mais baixa. Além disso, a Noruega também teve uma taxa de participação mais alta, o que é reflexo de uma maior proporção de mulheres na sua força de trabalho.
Noruega | Espanha | |
---|---|---|
Número de pessoas, milhões | ||
População em idade ativa | 3,5 | 37,6 |
Força de trabalho | 2,5 | 21,6 |
Pessoas fora da força de trabalho (inativos) | 1,0 | 16,0 |
Empregados | 2,4 | 18,1 |
Desempregados | 0,1 | 3,5 |
Taxas (%) | ||
Taxa de participação | 2,5/3,5 = 71% | 21,6/37,6 = 58% |
Taxa de emprego | 2,4/3,5 = 69% | 18,1/37,6 = 48% |
Taxa de desemprego | 0,1/2,5 = 4% | 3,5/21,6 = 16% |
Figura 9.3 Estatísticas de mercado de trabalho para Noruega e Espanha (médias de 2000–2015).
Organização Internacional do Trabalho. 2015. ILOSTAT Database.
Noruega e Espanha são exemplos de dois casos comuns. A Noruega é uma economia de baixo desemprego e alto emprego (os outros países escandinavos — Suécia, Dinamarca e Finlândia — são semelhantes), enquanto a Espanha é uma economia de alto desemprego e baixo emprego (as outras economias do sul da Europa — Portugal, Itália e Grécia — são exemplos semelhantes). Entretanto, há outras combinações possíveis: a Coreia do Sul é um exemplo de uma economia que tem, ao mesmo tempo, baixas taxas de desemprego e de emprego.
Exercício 9.1 Emprego, desemprego e participação
- Visite o site da OIT e use a Base de dados da ILOSTAT para calcular as taxas de emprego, desemprego e participação de duas economias a sua escolha.
- Descreva as diferenças nos dados desses dois países e compare-os com os da Espanha e da Noruega. Escolha uma representação visual dos dados (por exemplo, usar a função de gráfico do seu software de planilha) e explique a sua escolha.
- Após estudar este capítulo, use o modelo de mercado de trabalho para sugerir possíveis motivos para essas diferenças nas taxas de desemprego nesses países. Pode ser que você precise descobrir mais a respeito dos mercados de trabalho desses dois países.
Questão 9.2 Selecione a(s) resposta(s) correta(s)
Qual(is) das seguintes afirmações está(ão) correta(s)?
- taxa de participação = força de trabalho ÷ população em idade ativa
- taxa de desemprego = desempregados ÷ força de trabalho
- Esta é a definição de taxa de emprego.
- taxa de desemprego = desempregados ÷ força de trabalho, enquanto taxa de emprego = empregados ÷ população em idade ativa. As taxas não somam 1, pois seu denominador é diferente.
9.3 A curva de salário: emprego e salário real
Agora vamos construir um modelo de mercado de trabalho que pode ajudar a explicar as diferenças nas taxas de desemprego entre os países e as mudanças da taxa de cada país ao longo do tempo. Para isso, ampliamos a perspectiva, passando de uma única firma (Capítulo 6) para a economia como um todo, e perguntamos como as mudanças na taxa de desemprego afetam a determinação de salários pelos empregadores.
Na Figura 9.4, o eixo horizontal representa a proporção da população em idade ativa e, por isso, chega até o valor de 1. O eixo vertical é o salário de toda a economia.
- A força de trabalho é a linha vertical mais à direita: ela tem um valor menor do que 1, dependendo da taxa de participação.
- Os trabalhadores inativos estão à direita da linha da força de trabalho.
- A taxa de emprego é a linha vertical à esquerda da força de trabalho, indicando a parcela da população que está trabalhando atualmente.
- A taxa de desemprego é a proporção da força de trabalho que não está empregada: isto é, os trabalhadores entre a linha da taxa de emprego e a linha de força de trabalho.
- equilíbrio de Nash
- Conjunto de estratégias, uma para cada jogador, em que a estratégia de cada jogador deve ser a melhor resposta às estratégias escolhidas por todos os outros.
A curva positivamente inclinada é chamada de curva de salário. Como a função de melhor resposta (esforço ótimo) do empregado na qual ela se baseia, a curva de salário é uma versão matemática de uma afirmação ”se-então”: se a taxa de emprego é x, então o salário de equilíbrio de Nash será w. Isso significa que, a uma taxa de emprego x, o salário w é o resultado de empregadores e empregados fazendo o melhor que podem para estabelecer salários e reagir ao salário com determinada quantidade de esforço, respectivamente.
Essa declaração é verdadeira porque, em uma economia composta por muitas firmas, como a que vimos no Capítulo 6, a curva de salário de toda a economia se baseia diretamente na determinação dos salários pelo empregador e na decisão de esforço pelo empregado.
Mostramos como fazer isso na Figura 9.5, ao reunir a Figura 9.4 (a curva de salário de toda a economia) e a Figura 6.6 (como a firma define o salário). O painel superior da Figura 9.5 mostra a curva de melhor resposta do empregado aos dois níveis da taxa de desemprego, de 12% e 5%. Como vimos no Capítulo 6, uma taxa de desemprego mais alta reduz o salário de reserva, pois, se perde o emprego, o trabalhador enfrenta um período esperado de desemprego mais longo. Isso enfraquece o poder de barganha do empregado e desloca a curva de melhor resposta para a esquerda. Com uma taxa de desemprego de 12%, o salário de reserva é mostrado no ponto F. A escolha que maximiza os lucros do empregador é o ponto A com o salário baixo (wL).
Figura 9.5 Derivando a curva de salário: variando a taxa de desemprego na economia.
No painel inferior, traçamos o ponto A. A linha tracejada de desemprego a 12% indica que o salário estabelecido é wL. Agora assumimos um tamanho fixo para a força de trabalho, de modo que o eixo horizontal mostra o número de trabalhadores empregados, N. À medida que o emprego aumenta, avançando para a direita, a taxa de desemprego diminui.
Usando exatamente o mesmo raciocínio, encontramos o salário que maximiza os lucros quando o desemprego está muito abaixo, em 5%. Tanto o salário de reserva quanto o salário estabelecido pelo empregador são mais altos, conforme mostrado no ponto B. Isso nos dá o segundo ponto na curva de salário do painel inferior.
Derivamos a curva de salário como parte do modelo de esforço no trabalho, que foi desenhado para ilustrar como os empregados e os proprietários das firmas (e seus gestores) interagem quando definem os salários e determinam o nível de esforço no trabalho. Usaremos o mesmo modelo mais adiante quando descrevermos as políticas para alterar o nível de desemprego em toda a economia. Posteriormente neste capítulo, e nos capítulos 16 e 17, veremos as formas como os sindicatos podem afetar o processo de formação de salários e, assim, alterar o funcionamento do mercado de trabalho.
Curvas de salário têm sido estimadas por diversas economias. Veja como isso é feito lendo o artigo de David Blanchflower e Andrew Oswald.
A Figura 9.6 é a curva de salário estimada a partir de dados dos Estados Unidos. Observe que, na Figura 9.6, o eixo horizontal mostra a taxa de desemprego caindo, diminuindo da esquerda para a direita. Usando dados de taxas de desemprego e salários em áreas locais, os economistas podem estimar e traçar a curva de salário de uma economia.
Figura 9.6 Curva de salário estimada para a economia americana (1979–2013).
Estimada por Stephen Machin (UCL, 2015) a partir dos microdados da Current Population Survey para os grupos rotativos de saída para o período 1979 a 2013.
Simplificando o modelo
Podemos simplificar o problema de motivação do trabalhador e a curva de salário se utilizarmos apenas dois níveis de esforço:
- ‘trabalhar’: fazer o nível de esforço que o proprietário e os gerentes de uma firma definiram como suficiente:
- ‘enrolar’: não fazer nenhum esforço.
Isso será útil posteriormente porque nos permite tomar o nível de esforço como dado, com os salários determinados de modo a garanti-lo.
Nesse caso, o trabalhador é representado de forma semelhante a uma máquina com apenas uma velocidade, e está ‘ligado’ ou ‘desligado’. Como mostra a Figura 9.7, a curva de salário é o limite entre as duas “regiões”: sobre e acima da curva de salário estão todas as combinações de salário real e nível de emprego para as quais os empregados trabalham e, abaixo da curva, estão as combinações para as quais os trabalhadores enrolam.
Figura 9.7 Curva de salário: nível de salário necessário para fazer os empregados trabalharem ao invés de enrolarem.
Vamos usar essa simplificação “trabalhar ou enrolar” no modelo de agora em diante.
Exercício 9.2 Deslocamentos na curva de salário
- Lembre-se do Capítulo 6 e forneça uma breve explicação para o deslocamento da curva de salário descrito em cada linha na tabela abaixo. Utilize um diagrama para mostrar a função de melhor resposta e a curva de salário. Para a segunda e a terceira linhas, dê um exemplo de um local de trabalho da vida real.
- Explique por que um aumento da taxa de desemprego altera a função de melhor resposta, mas não a curva de salário.
Mudança Desloca a curva de salário Diminuição do auxílio desemprego para baixo Dispositivo de monitoramento para detectar enrolação para baixo Decréscimo na desutilidade de trabalhar para baixo
Questão 9.3 Selecione a(s) resposta(s) correta(s)
A Figura 9.5 mostra a curva de salário e como ela é derivada usando a função de melhor resposta dos empregados e as linhas isocusto de esforço dos empregadores.
Com base nessa figura:
- Um corte no auxílio desemprego deslocaria a função de melhor resposta para a esquerda. Entretanto, isso significaria que o salário de equilíbrio cai para dada taxa de desemprego, rebaixando a curva de salário.
- Um maior período esperado de desemprego deslocaria a função de melhor resposta para a esquerda, rebaixando a curva de salário.
- Se houver um grande estigma associado ao desemprego, então as funções de melhor resposta dos trabalhadores se deslocariam para a esquerda. Isso reduz o salário de equilíbrio para dada taxa de desemprego, resultando em uma curva de salário mais baixa.
- Com esse equilíbrio entre pessoas buscando emprego e vagas disponíveis se alterando em favor dos trabalhadores, suas funções de melhor resposta se deslocariam para a direita, resultando em uma curva de salário que se move para cima.
9.4 A decisão de contratação da firma
Para entender o segundo componente do modelo de mercado de trabalho — a curva de preços — precisamos analisar mais detidamente a decisão da firma sobre quantas pessoas contratar, e como esta decisão depende da quantidade que a firma produz. A quantidade produzida depende da quantidade que a firma é capaz de vender o que, por sua vez, depende do preço que ela cobra.
A decisão da firma vem da interação entre seus três departamentos. Lembre-se de que, no nosso modelo, temos departamentos de recursos humanos (RH), marketing e produção (DP). Essa firma tem apenas um fator de produção — trabalho —, então, o salário é o único custo. E, para simplificar ainda mais, assumimos que uma hora de trabalho produz uma unidade de produto (produto médio do trabalho = λ = 1). Assim, o salário que a firma paga (W) é o custo de uma unidade de produto (na unidade monetária correspondente). Observe que W é o salário nominal e w é o salário real.
O processo é resumido na tabela da Figura 9.8.
- produtividade do trabalho
- Produção total dividida pelo número de horas ou por alguma outra medida do fator de produção trabalho.
Departamento | … conhece | … e, com base nisso, estabelece |
---|---|---|
Recursos humanos | Os preços, salários e emprego em outras firmas | O salário nominal da firma, W |
Marketing | Todos os itens acima e a função de demanda da firma | O preço do produto, p |
Produção | Todos os itens acima, mais a produtividade do trabalho e a quantidade que a firma pode vender | O nível de emprego da firma, n |
Figura 9.8 Os três departamentos determinam a contratação da firma.
Quando o RH tiver estabelecido um salário suficientemente alto para motivar a força de trabalho, o departamento de marketing atua em duas etapas. Lembre-se que a firma pode definir o preço, mas não a quantidade que será capaz de vender (a quantidade vendida depende da quantidade demandada a cada preço na curva de demanda da firma). Então, primeiramente, como no Capítulo 7, o departamento de marketing se pergunta: quais combinações de p e q são factíveis? Essas combinações são mostradas pela curva de demanda, que dependerá das quantidades que outras firmas estão produzindo, dos preços que estabeleceram, dos salários que estão pagando e de outras influências no nível total de demanda de bens na economia.
A segunda etapa é escolher um ponto na curva de demanda, então o departamento de marketing analisa a Figura 9.9 para determinar quão lucrativa cada combinação de preço-quantidade seria. Utilizando o valor de W escolhido pelo RH, o marketing constrói as curvas isolucro exibidas. Lembre-se que cada curva é uma coleção das combinações de preço e quantidade que geram o mesmo nível de lucro para a firma, dado determinado salário. Curvas mais afastadas da origem (maior preço e maior quantidade) indicam maiores lucros. Lembre-se que:
\[\begin{align*} \text{inclinação da curva isolucro} &= \text{taxa marginal de substituição} \\ &= \frac{(p-W)}{q} \end{align*}\]Como no Capítulo 7, os lucros máximos ocorrem no ponto B, no qual a curva de demanda é tangente a uma curva isolucro. O departamento de marketing, então define um preço p, e calcula que poderá vender q unidades do produto.
Quando a firma vende q mercadorias a um preço p, sua receita total é pq. Observe na figura que, ao definir um preço, a firma determinou a divisão da receita total entre lucros e salários. Isso se baseia no markup (p − W)/p (ou 1 − (W/p)). Como você viu no Capítulo 7, o markup é maior quando a curva de demanda é menos elástica, o que indica uma competição menos intensa.
O DP sabe que cada hora do trabalhador (trabalhando na velocidade a que a renda do emprego e a ameaça de demissão o incentivam a trabalhar) produz uma única unidade do bem, então contrata n horas de trabalho, onde n = q. Essa é a função de produção (muito simples) da firma.
Na próxima seção, ela ajudará a pensar em como o modelo explica o que a firma faria se estivesse no ponto A. O departamento de marketing veria que a firma estava tendo menos lucro porque a curva isolucro em A é mais baixa do que no ponto B. Assim, o marketing aumentaria o preço e informaria ao DP que deve produzir menos. Da mesma forma, se a firma estivesse no ponto C, o marketing reduziria o preço e o DP receberia a mensagem de que deve produzir mais para atender à alta nas vendas ao menor preço.
Questão 9.4 Selecione a(s) resposta(s) correta(s)
A Figura 9.9 mostra a curva de demanda do mercado e as curvas isolucro da firma. Com base nessa informação, qual(is) das seguintes afirmações está(ão) correta(s)?
- A taxa marginal de substituição da firma indica em quanto é possível reduzir o preço para vender uma unidade adicional mantendo o lucro constante. Essa é, portanto, a inclinação da curva isolucro.
- Os pontos A e C estão na mesma curva isolucro. Assim, a firma seria indiferente em relação às duas.
- O departamento de marketing determina o preço após o RH estabelecer o nível de salário.
- O ponto de maximização de lucro é B, no qual a firma produz mais e cobra menos do que no ponto C.
9.5 A curva de preço: salários e lucros na economia como um todo
Vimos na Figura 9.9 que, quando a firma estabelece o preço como um markup sobre seu custo de salário, isso significa que o preço por unidade de produto se divide entre o lucro por unidade e o custo de salário por unidade. Para a economia como um todo, quando todas as firmas estabelecem preços dessa forma, o produto por trabalhador (a produtividade do trabalho ou, da mesma forma, o produto médio do trabalho, denominado lambda, λ) se divide entre lucro real por trabalhador Π/P e salário real W/P.
A Figura 9.10 mostra o resultado das decisões de preços das firmas de toda a economia, e usamos P para representar o nível de preços da economia como um todo. A linha horizontal superior mostra as receitas por trabalhador das firmas em termos reais: o produto médio do trabalho. O que chamamos de ”curva” de preços não é na verdade uma curva: é apenas um número que fornece o valor do salário real consistente com o markup sobre os custos quando todas as firmas estabelecem seu preço para maximizar seus lucros. O valor de salário real consistente com o markup não depende do nível de emprego na economia, então, na Figura 9.10, é representado por uma linha horizontal na altura de wPS.
Figura 9.10 Curva de preços.
Nas Figuras 9.9 e 9.10, o ponto B da curva de preços mostra o resultado do comportamento de definir preços para maximizar lucros adotado pelas firmas da economia como um todo.
Considere agora o ponto A da Figura 9.11, que corresponde ao ponto A da Figura 9.9. Siga as etapas da Figura 9.11 para ver por que a firma irá aumentar seus preços para atingir maiores lucros no ponto B. O aumento dos preços e a redução no emprego são indicados pela seta no ponto A da Figura 9.11, que aponta para baixo e para a esquerda. A seta aponta para baixo porque o aumento nos preços implica uma queda no salário real, isto é, o salário nominal dividido pelo preço. E aponta para a esquerda porque um aumento de preços implica uma queda na produção e no emprego.
Exercício 9.3 A curva de preços
Com suas próprias palavras e usando um diagrama como o da Figura 9.9, explique por que os preços cairiam e o emprego aumentaria se a economia estivesse no ponto C da Figura 9.11 (o oposto do que ocorre no ponto A).
Se estão acima da curva de preços, como no ponto A da Figura 9.10, as firmas aumentam os preços e cortam empregos. Abaixo da curva de preços, num ponto como C, as firmas reduzem seus preços e contratam mais pessoas. Dado o nível de demanda da economia como um todo, o comportamento ao definir preços e contratação adotado pelas firmas levará a economia a um ponto da curva de preços tal que o nível de emprego e o salário real estejam em um ponto como B.
O que determinará a altura da curva de preços? Existem diversas influências quando consideramos o impacto das políticas públicas (como veremos mais adiante neste capítulo), mas duas coisas exercem uma influência significativa sobre a curva de preços, mesmo que não haja intervenção do governo:
- Competição: a intensidade da competição na economia determina a até que ponto as firmas podem cobrar um preço que exceda seus custos, ou seja, o markup. Quanto menor a competição, maior o markup. Na Figura 9.9, uma curva de demanda mais inclinada, resultante de uma menor competição entre as firmas, levará a um markup mais alto e a um aumento no lucro por trabalhador. Uma vez que isso leva a maiores preços em toda a economia, isso implica em menores salários reais, empurrando a curva de preços para baixo.
- Produtividade do trabalho: para qualquer markup dado, o nível de produtividade do trabalho — o quanto um trabalhador produz em uma hora — determina o salário real. Quanto maior o nível de produtividade do trabalho (λ), mais alto o salário real consistente com dado markup. Na Figura 9.10, a maior produtividade do trabalho desloca a linha tracejada para cima e, mantendo o markup constante, a curva de preços se desloca para cima, aumentando o salário real.
Para entender mais sobre a curva de preços, leia o Einstein ao final desta seção.
Questão 9.5 Selecione a(s) resposta(s) correta(s)
O diagrama a seguir mostra a curva de preços. Com base nessa informação, qual(is) das seguintes afirmações está(ão) correta(s)?
- No ponto A, o salário real é muito alto, o que significa que o markup é muito baixo. O restante da afirmação está correto.
- O ponto B é o ponto de maximização de lucro. Portanto, a firma pode aumentar o lucro ao passar de C para B, reduzindo seu preço (o que reduz o markup e aumenta o salário real) e contratando mais trabalhadores.
- Maior competição implica num markup mais baixo, o que reduz o lucro por trabalhador. Como o menor markup leva a menores preços em toda a economia, isso implica salários reais mais altos, empurrando a curva de preços para cima.
- Maior produtividade do trabalho significa que a curva de produto médio do trabalho é mais elevada. Para qualquer markup, isso implica uma curva de preços mais alta, o que significa que o salário real é mais alto.
Einstein A curva de preços
São várias as etapas para mostrar como a curva de preços para a economia como um todo resulta das decisões de firmas individuais.
Passo 1: a firma define seu preço
Para focar no que é essencial, assumimos que os únicos custos da firma são os salários que ela paga. (Estamos desconsiderando o custo de oportunidade dos bens de capital que os trabalhadores usam na fabricação dos produtos da firma.) Assumimos que, em média, um trabalhador produz λ unidades de produto, o que não varia com o número de empregados trabalhando. Utilizamos a letra grega lambda (λ) para representar a produtividade do trabalho. A firma paga ao trabalhador um salário W, em dólares. Tanto a produtividade do trabalho quanto os salários podem ser medidos por hora, por dia ou por ano. Em nossos exemplos numéricos, geralmente usamos salário por hora e produtividade por hora.
O custo unitário do trabalho é o salário pago para contratar a quantidade de trabalho necessária para produzir uma unidade do bem. Isto é definido como:
\[\begin{align*} \text{custo unitário do trabalho} &= \frac{\text{salário nominal}}{\text{produtividade do trabalho}} \\ &= \frac{W}{\lambda} \end{align*}\]Por exemplo: se W = $30 e λ = 10, então o custo unitário do trabalho será $3, ou seja $30/10 unidades = $3 por unidade.
Lembre-se do Capítulo 7, no qual uma firma escolhe seu preço de modo que o markup seja inversamente proporcional à elasticidade da curva de demanda que a firma enfrenta:
\[\begin{align*} \frac{\text{(preço} - \text{custo marginal)}}{\text{preço}} = \frac{1}{\text{elasticidade}} \end{align*}\]Além disso, como assumimos que os custos marginal e médio são iguais, isto é, CMg = CMe, podemos dizer que o markup é simplesmente a fração do preço do bem que vai para os lucros da firma. A elasticidade da curva de demanda da firma é maior quanto maior for a competição com outras firmas, então, quanto maior a elasticidade, mais baixos são o preço e o markup da firma. Chamamos o markup de μ (a letra grega mi):
\[\begin{align*} \mu = \frac{1}{\text{elasticidade}}=\frac{P-C}{P}=\frac{\text{Lucro por unidade}}{\text{Preço por unidade}} \end{align*}\]Utilizando nossas premissas, o custo marginal (e médio) da firma é o custo unitário do trabalho (W/λ), e podemos dizer que a firma determina seu preço, p, de tal forma que:
\[\begin{align*} \mu &= \frac{p-(\frac{W}{\lambda})}{p} \\ &= 1 - \frac{\frac{W}{p}}{\lambda} \end{align*}\]Reorganizando e multiplicando cada lado por λ, temos:
\[\begin{align*} \frac{\frac{W}{p}}{\lambda} &= 1 - \mu \\ \frac{W}{p} &= \lambda(1-\mu) \\ &= \lambda - \lambda\mu \end{align*}\]Em palavras, esta fórmula diz que:
\[\begin{align*} \text{salário real} &= \text{produto por trabalhador}(\lambda) \\ &- \text{lucro real por trabalhador}(\lambda\mu) \end{align*}\]Quando a firma define o preço que maximiza seu lucro, está dividindo o produto por trabalhador entre a parte que vai para os empregados como salário e a parte que vai para os proprietários como lucro.
Etapa 2: o nível de preços da economia como um todo e o salário real
Do ponto de vista do trabalhador e da trabalhadora, o salário real mede quanto do seu consumo típico pode ser comprado com uma hora de trabalho. Como envolve muitos bens e serviços diferentes, o consumo depende dos preços que as firmas de toda a economia definirem, e não apenas dos de sua empresa. Vamos chamar o preço médio dos bens e serviços que o trabalhador consome de P, que é uma média dos diferentes níveis de p definidos pelas firmas da economia.
O salário real é o salário nominal dividido pelo nível de preço de toda a economia, P.
\[\begin{align*} \text{salário real} &= \frac{\text{salário nominal}}{\text{nível de preços}} \\ w &= \frac{W}{P} \end{align*}\]Etapa 3: lucros, salários e a curva de preços
Assumimos que toda a economia é composta por firmas que enfrentam condições de competição similares às que a firma específica que acabamos de estudar enfrenta. Isso significa que o problema de definição de preços da etapa 1 se aplica a todas as firmas da economia, então podemos usar a equação de preços para determinar o salário real de toda a economia:
\[\begin{align*} \text{Curva de preços}: \frac{W}{P} = \lambda(1-\mu) \end{align*}\]O que quer dizer:
\[\begin{align*} \text{salário real} (\frac{W}{P}) = \text{produto por trabalhador}(\lambda) - \\ \text{lucro real por trabalhador}(\lambda\mu) \end{align*}\]Este é o salário indicado pela curva de preços.
9.6 Salários, lucros e desemprego em toda a economia
Ao sobrepor a curva de salários à curva de preços na Figura 9.12, temos uma visão dos dois lados do mercado de trabalho.
Figura 9.12 Equilíbrio no mercado de trabalho.
Todos os pontos na área sombreada abaixo da curva de salários são chamados de “não se trabalha”, pois nessa região o salário real é insuficiente para motivar os trabalhadores a se esforçarem. Nessa situação, o trabalho não é realizado e não há lucros, então ninguém é contratado: o único resultado possível no longo prazo, se o salário real está abaixo da curva de salários, é o nível de emprego zero. Os pontos sombreados não são factíveis.
O equilíbrio do mercado de trabalho ocorre onde as curvas de salários e de preços se cruzam. Esse ponto é um Equilíbrio de Nash, porque todas as partes estão optando por suas melhores respostas, dado o que todos os outros estão fazendo. Cada firma está estabelecendo o salário nominal onde a curva isocusto é tangente à função de melhor resposta (Capítulo 6), e está definindo também o preço que maximiza seus lucros (Capítulo 7). Considerando a economia como um todo, na intersecção das curvas de salários e de preços (ponto X):
- As firmas estão oferecendo o salário que garante que o trabalho dos empregados seja efetivo ao menor custo (ou seja, estando sobre a curva de salário). O RH não pode recomendar uma política alternativa que proporcionaria maiores lucros.
- O nível de emprego é o mais alto possível (sobre a curva de preços) dado o salário oferecido. O departamento de marketing não pode recomendar uma mudança no preço ou na quantidade produzida.
- Aqueles que têm empregos não podem melhorar sua situação se mudarem seu comportamento. Se se esforçassem menos em seus empregos, correriam o risco de ficarem desempregados e, se pedissem um aumento, seus empregadores recusariam ou contratariam outra pessoa.
- Aqueles que não conseguem emprego prefeririam estar trabalhando, mas não têm como: não conseguem emprego nem mesmo oferecendo-se para trabalhar por um salário menor que o dos outros.
O desemprego como característica do equilíbrio do mercado de trabalho
Mostramos que o desemprego pode existir no equilíbrio de Nash do mercado de trabalho.
- equilíbrio do mercado de trabalho
- Combinação de salário real e nível de emprego determinada pela intersecção das curvas de salários e de preços. Este é o equilíbrio de Nash do mercado de trabalho porque nem empregadores nem trabalhadores podem melhorar sua situação se mudarem seus comportamentos. Veja também: desemprego de equilíbrio, taxa de desemprego, estabilizadora da inflação.
- desemprego de equilíbrio
- Número de pessoas em busca de emprego, mas sem trabalho, determinado pela intersecção das curvas de salários e de preços. Este é o equilíbrio de Nash do mercado de trabalho no qual nem empregadores nem trabalhadores podem melhorar sua situação se mudarem seus comportamentos. Veja também: desemprego involuntário, desemprego cíclico, curva de salário, curva de preços, taxa de desemprego, estabilizadora da inflação.
- excesso de oferta
- Situação na qual a quantidade de um bem oferecido é maior do que a quantidade demandada pelo preço atual. Veja também: excesso de demanda.
Agora mostraremos por que sempre haverá desemprego no equilíbrio do mercado de trabalho, usando o argumento do Capítulo 6. Isso se chama desemprego de equilíbrio.
A existência de desemprego significa que pessoas estão procurando emprego, mas não encontram. Isso também é chamado de excesso de oferta no mercado de trabalho, o que significa que a demanda por trabalho ao salário determinado é menor do que o número de trabalhadores dispostos a trabalhar por esse salário. Para entender por que sempre haverá desemprego no equilíbrio do mercado de trabalho, consideremos a curva de oferta de trabalho.
Em nosso modelo, assumimos que a curva de oferta de trabalho é vertical, o que significa que salários mais altos não levam mais pessoas a ofertarem mais horas de trabalho. Com salários mais altos, algumas pessoas procuram (e encontram) mais horas de trabalho, e outras procuram (e encontram) menos horas. Você já viu no Capítulo 3 que o efeito substituição de um aumento de salário (que leva as pessoas a escolherem mais horas de trabalho e menos tempo livre) pode ser compensado pelo efeito renda. Para simplificar, desenhamos uma curva de oferta tal que o salário não tenha efeito sobre a oferta de trabalho. No entanto, isso não é importante: o modelo não seria diferente se salários mais altos levassem mais ou menos pessoas a procurar trabalho. Para ver isso, você pode experimentar curvas de oferta de trabalho com formas diferentes na Figura 9.12.
Por que sempre haverá algum nível de desemprego involuntário no equilíbrio de mercado de trabalho?
- Se não houvesse desemprego: o custo de perder o emprego seria zero (não há renda do emprego), pois um trabalhador que perdesse o emprego poderia conseguir outro imediatamente com a mesma remuneração.
- Portanto, algum nível de desemprego é necessário: significa que o empregador pode motivar os trabalhadores a se esforçarem no trabalho.
- Portanto, a curva de salários está sempre à esquerda da curva de oferta de trabalho.
- Assim, em qualquer equilíbrio no qual as curvas de salários e de preços se cruzam deve haver pessoas desempregadas: é o que mostra a lacuna entre a curva de salários e a curva de oferta de trabalho.
Outra forma de verificar isso é observando novamente a Figura 9.12. Veja que a inclinação da curva de salários aumenta significativamente quando se aproxima da linha de oferta de trabalho, ultrapassando tanto a curva de preços quanto a curva de produtividade do trabalho. Esse fato sobre nosso modelo enfatiza um limite importante das políticas de redução do desemprego. De acordo com nosso modelo, qualquer política que chegue perto de eliminar totalmente o desemprego colocaria os empregadores numa posição em que o melhor que poderiam fazer seria pagar salários tão altos a ponto de eliminar os lucros dos empregadores e tirar as firmas do mercado.
Exercício 9.4 Esse é realmente um Equilíbrio de Nash?
Nesse modelo, os desempregados não são diferentes dos empregados (exceto por sua falta de sorte). Imagine que você seja um empregador, e uma pessoa desempregada o procure e prometa trabalhar com o mesmo nível de esforço que seus atuais trabalhadores por um salário um pouco menor.
- Como você reagiria?
- Sua reação ajuda a explicar por que o desemprego deve existir em um equilíbrio de Nash?
Questão 9.6 Selecione a(s) resposta(s) correta(s)
A Figura 9.12 mostra o modelo de mercado de trabalho. Considere agora uma redução no grau de competição enfrentado pelas firmas. Qual(is) das seguintes afirmações está(ão) correta(s) a respeito dos efeitos da competição reduzida?
- Menor competição implica um markup mais alto. Isso reduz a parcela do produto reivindicada pelos trabalhadores, reduzindo, então seu salário real. Logo, a curva de preços se desloca para baixo.
- A curva de salário é determinada pela oferta de trabalho e, portanto, não se altera.
- A diminuição da competição leva a uma curva de preços mais baixa, enquanto a curva de salário fica inalterada. Assim, o equilíbrio (a intersecção das duas curvas) se desloca para baixo e para a esquerda, o que resulta num salário real mais baixo e num desemprego mais alto.
- Com a curva de preços se deslocando para baixo, a intersecção das duas curvas se move para baixo ao longo da curva de salário, onde o desemprego é mais alto.
Questão 9.7 Selecione a(s) resposta(s) correta(s)
Qual(is) das seguintes afirmações está(ão) correta(s) a respeito dos efeitos de um aumento do salário real na oferta de trabalho de um trabalhador?
- Se o salário real aumenta, o trabalhador se sente mais rico. Isso o levaria a trabalhar menos, em outras palavras, o efeito renda é negativo.
- O salário real é o preço de consumir lazer. Assim, quando o salário aumenta, o tempo livre se torna mais caro em relação aos bens de consumo (que são comprados usando a renda do salário). Portanto, o trabalhador substituiria o consumo de lazer pelo consumo de bens, o que implica menos tempo livre e mais oferta de trabalho.
- Os efeitos renda e substituição sempre agem em sentido oposto um ao outro, levando a uma maior oferta de trabalho a salários mais baixos e a uma menor oferta de trabalho a salários mais altos.
- O efeito renda negativo e o efeito substituição positivo sempre agem em sentido oposto um ao outro. Com salários mais altos, o primeiro compensa o último, o que implica que o trabalhador reduz sua oferta de trabalho (pois já ganha o suficiente).
9.7 Como mudanças na demanda de bens e serviços afetam o desemprego
No início deste capítulo, você leu sobre o pai e o filho que trabalhavam no setor de mineração na Austrália (Doug e Rob Grey). Os altos e baixos de suas vidas refletiram mudanças nas condições da economia Australiana como um todo. O boom dos minerais levou à construção em larga escala de instalações de mineração na Austrália Ocidental, em Queensland e no Território do Norte. Quando as construções dos projetos existentes estavam chegando ao fim, os preços globais de minério de ferro despencaram, fazendo com que novas minas, portos e instalações de processamento deixassem de ser construídos. Na Figura 9.1, o desemprego começou a aumentar quando o preço global do minério de ferro caiu.
O desemprego aumentou porque a demanda por trabalho na mineração e nos setores relacionados foi reduzida. Não apenas a demanda por minerais diminuiu, mas também foi reduzida a demanda por bens e serviços que a família Grey e outras famílias semelhantes teriam comprado se tivessem conservado seus empregos. Como consequência, a demanda por bens e serviços caiu em toda a economia e, com isso, caiu a demanda derivada por trabalho. O termo “demanda derivada por trabalho” é usado para enfatizar o fato de que a demanda das firmas por trabalho depende da demanda por seus bens e serviços.
- desemprego cíclico
- Aumento no desemprego acima do desemprego de equilíbrio provocado por uma queda na demanda agregada associada ao ciclo econômico. Também conhecido como: desemprego por insuficiência de demanda. Veja também: desemprego em equilíbrio.
Os economistas usam o termo agregado — que significa as partes somadas até medir o total — para descrever os fatos e variáveis de toda a economia. A demanda agregada, por exemplo, é a soma da demanda por todos os bens e serviços produzidos na economia, seja de consumidores, de firmas, do governo ou de compradores em outros países. O aumento no desemprego causado pela queda na demanda agregada é chamado de desemprego por ”insuficiência de demanda” — ou, como aprenderemos no Capítulo 13, desemprego cíclico.
Como esse desemprego por insuficiência de demanda aparece em nosso modelo de mercado de trabalho, e como ele se relaciona com o desemprego no equilíbrio de Nash do mercado de trabalho?
- desemprego, involuntário
- O estado de estar desempregado, mas preferindo ter um emprego com os salários e condições de trabalho que os trabalhadores empregados idênticos têm. Veja também: desemprego.
Siga as etapas na Figura 9.13 para comparar o desemprego no equilíbrio do mercado de trabalho (em X) com o desemprego causado por um baixo nível de demanda agregada (em B). Uma pessoa desempregada em X está involuntariamente desempregada porque aceitaria um emprego com o salário real mostrado pela intersecção das curvas de salário e de preços.
Uma pessoa desempregada no ponto B também está desempregada involuntariamente. Na verdade, essa pessoa aceitaria um emprego com um salário abaixo daquele mostrado em B, e ainda estaria disposta a se esforçar nesse emprego.
Denominamos o nível de desemprego no ponto X de desemprego em equilíbrio, mas, e no ponto B? Será que um alto nível de desemprego por insuficiência de demanda poderia ser um resultado de longo prazo? O comportamento das firmas e dos trabalhadores poderá levar ao desaparecimento do desemprego causado por demanda agregada insuficiente?
Podemos ver que B não é um equilíbrio de Nash. Nesse ponto, o departamento de RH — notando a alta taxa de desemprego — certamente diria: “Com um desemprego tão alto, poderíamos pagar muito menos para nossos trabalhadores e eles ainda fariam seu trabalho!” Uma vez que a firma poderia aumentar seus lucros reduzindo o salário, contanto que se mantivesse acima da curva de salários, B não é um equilíbrio de Nash.
No entanto, mesmo assim, um resultado como B poderia persistir por um longo tempo, se não houvesse políticas públicas para expandir o emprego.
Para ver por que isso ocorreria, primeiramente precisamos entender como uma decisão de reduzir o salário tomada pelos departamentos de RH de toda a economia poderia (sob as circunstâncias apropriadas) levar ao desaparecimento do desemprego cíclico. Imagine que a economia estivesse no ponto B (isto é, com todas as firmas em pontos como o B da Figura 9.9). Então, ocorreria a seguinte sequência, iniciada pelo departamento de RH:
- Salários mais baixos reduziriam os custos.
- O grau de competição enfrentado pelas firmas não se alteraria, então, elas iriam querer definir um preço para recuperar o markup de maximização de lucro.
- Dado que os custos são mais baixos, as firmas cortariam os preços.
- Uma vez que a curva de demanda que enfrentam tem inclinação para baixo, as firmas venderiam mais, aumentando a produção e o emprego.
A Figura 9.14 mostra o processo de ajuste da firma. O salário é cortado ao seu nível mais baixo pelo RH e, devido aos custos menores, o departamento de marketing diminui os preços para maximizar o lucro. As firmas se moveriam para a direita ao longo da curva de demanda. Produto e emprego aumentariam.
Para ver onde irá parar o corte de preços da firma, considere as novas curvas isolucro quando o custo de contratação de trabalhadores tiver sido reduzido. Lembre-se do Capítulo 7 no qual, à medida que os custos caem, cada ponto da curva isolucro corresponde agora a um maior nível de lucro do que antes da redução dos salários.
É importante notar que a curva isolucro torna-se mais inclinada do que antes. Lembre-se que a inclinação da curva isolucro é (p − C)/q de modo que, por exemplo, no ponto B (q, p), a inclinação da curva isolucro com o menor salário é maior.
Siga as etapas da Figura 9.14 para ver em que ponto a firma estabelecerá seu preço.
O que poderia dar errado?
Esse processo explica como os cortes de salários e de preços poderia levar a economia a se deslocar de B de volta para X. Mas as economias reais não funcionam tão facilmente.1 O que poderia dar errado?
Resistência dos trabalhadores a uma redução no salário nominal
O departamento de RH saberia que reduzir os salários nominais de seus empregados não seria uma tarefa simples, porque isso significa que a quantia monetária de fato recebida por todos trabalhadores teria que ser menor. Como vimos no Capítulo 6, as firmas geralmente relutam em cortar os salários nominais porque isso pode reduzir a motivação dos trabalhadores e levar a um conflito com eles. Greves e outras formas de resistência dos trabalhadores, como táticas de ‘operação tartaruga’ prejudicariam o processo de produção. Por essas razões, o RH pode hesitar em impor cortes nos salários nominais dos trabalhadores.2
Reduções de salários e preços podem não levar a vendas e empregos mais altos
Para ocorrer o ajuste de B para X, as firmas de toda a economia têm que reajustar os salários e os preços para baixo e, em reação a isso, as firmas e as famílias têm que aumentar sua demanda por bens e serviços o suficiente para restabelecer a demanda de toda a economia (ou agregada) ao nível do ponto X. Para uma firma específica, uma queda nos preços leva a um aumento de vendas. Entretanto, a queda nos preços de toda a economia pode levar a cortes nas despesas, o que desloca para a esquerda as curvas de demanda que as firmas enfrentam. Preços em queda podem levar as famílias a adiarem seus gastos, pois esperam que os preços se reduzam ainda mais no futuro. Esse comportamento poderia agravar a lacuna nos gastos. Entretanto, à medida que os salários caem, as pessoas gastam menos, reduzindo a demanda.
Assim, na presença de demanda agregada insuficiente, as decisões usuais das firmas em busca de lucro e as respostas dos consumidores, quando somadas ao longo de toda a economia, não garantem que a economia passará de B para o equilíbrio de Nash em X.
O papel da política governamental
Felizmente, existe outra forma de voltar de B para o equilíbrio de Nash. O governo poderia adotar políticas para aumentar seus próprios gastos e expandir a demanda enfrentada pelas firmas. Nesse caso, no ponto B, as firmas descobririam que estão produzindo menos do que a quantidade que maximiza seus lucros e, ao invés de reduzirem os salários, empregariam mais pessoas. As políticas que afetam a demanda total da economia são vistas nos Capítulos 13 a 17.
A Figura 9.15 ilustra esse caso. Como ocorreu anteriormente, a economia (após a queda na demanda agregada) parte do ponto B. Em vez de esperar por uma recuperação na demanda agregada (por exemplo, por meio de uma recuperação da demanda global por minerais) ou esperar que o processo de redução dos salários e preços se espalhe por toda a economia, o governo pode aumentar o nível de demanda agregada.
- política monetária
- Ações do banco central (ou do governo) com o propósito de influenciar a atividade econômica mudando a taxa de juros ou os preços de ativos financeiros. Veja também: quantitative easing. Também conhecido como: relaxamento quantitativo, afrouxamento quantitativo, flexibilização quantitativa.
- política fiscal
- Mudanças em impostos ou gastos governamentais para estabilizar a economia. Veja também: estímulo fiscal, multiplicador fiscal, demanda agregada.
Um método é o banco central tornar o crédito mais barato ao reduzir a taxa de juros. O objetivo é incentivar as pessoas a adiantarem algumas das suas decisões de gastos, principalmente em bens que normalmente são comprados por financiamento, tais como casas e automóveis. Analisaremos detalhadamente essa política monetária no Capítulo 10 (Bancos, dinheiro e mercado de crédito) e no Capítulo 15 (Inflação, desemprego e política monetária). Outros métodos são o aumento dos gastos do governo ou a redução de impostos. Essas políticas fiscais serão o assunto do Capítulo 14 (Desemprego e política fiscal).
Podemos resumir o que aprendemos nas Figuras 9.15 a–c. Quando a demanda agregada da economia é muito baixa, o desemprego é mais alto do que seria no equilíbrio de Nash. O governo ou o banco central podem eliminar esse desemprego por insuficiência de demanda por meio de políticas fiscais ou monetárias. Essas políticas podem ser uma maneira mais rápida de reduzir o desemprego se comparadas a simplesmente contar com a combinação do ajuste de salários e preços para baixo feito pelas firmas de toda a economia e aumento da demanda pelas famílias e firmas para bens e serviços.
O ajuste via política fiscal ou monetária é mostrado na Figura 9.16a; o ajuste via corte de salários e de preços é mostrado na Figura 9.16b; e o mercado de trabalho agregado é mostrado na Figura 9.16c.
Figura 9.16a A firma: ajuste em direção ao desemprego de equilíbrio em X via política fiscal ou monetária.
Figura 9.16b A firma: ajuste em direção ao desemprego de equilíbrio em X via cortes de salários e de preços.
Figura 9.16c Mercado de trabalho agregado: desemprego cíclico e desemprego de equilíbrio.
Exercício 9.5 Salários e demanda agregada
Vimos que se uma economia tem baixa demanda agregada com alto desemprego cíclico, então o ajuste automático de volta ao equilíbrio poderia ocorrer por meio de um processo de corte de salários e preços. Imagine que você seja um trabalhador e nota que muitos trabalhadores perderam seus empregos enquanto outros estão sofrendo redução dos salários.
- Como isso pode afetar suas decisões de gasto e de poupança?
- Como isso pode afetar o ajuste de volta ao equilíbrio?
Questão 9.8 Selecione a(s) resposta(s) correta(s)
A Figura 9.13 mostra o mercado de trabalho quando houve um choque negativo de demanda agregada. Com base nessa informação, qual(is) das seguintes afirmações está(ão) correta(s)?
- B não é um equilíbrio de Nash, já que as firmas podem obter maiores lucros reduzindo os salários.
- Em B, o desemprego total é a soma do desemprego de equilíbrio e do desemprego cíclico.
- Em B, o salário real está acima da curva de salário, então as firmas podem reduzir os salários e, ainda assim, fazer com que os trabalhadores se esforcem. Isso leva a maiores lucros.
- Um resultado como B após um choque negativo de demanda agregada pode persistir por um longo tempo na ausência de políticas públicas para expandir o emprego.
9.8 O equilíbrio do mercado de trabalho e a distribuição de renda
Como vimos, o modelo do mercado de trabalho determina não apenas o nível de emprego, de desemprego e o salário, mas também a divisão do produto da economia entre trabalhadores (tanto empregados quanto desempregados) e empregadores. Assim, o modelo do mercado de trabalho também é um modelo da distribuição de renda em uma economia simples, na qual existem apenas essas duas classes (empregadores, que são os proprietários das firmas, e trabalhadores), em que alguns trabalhadores estão sem emprego.
Assim como fizemos no Capítulo 5, podemos construir a curva de Lorenz e calcular o coeficiente de Gini para a economia deste modelo. Veja novamente o Einstein do Capítulo 5 sobre a curva de Lorenz e também o Einstein no final desta seção, que explica como calcular o coeficiente de Gini com diferentes tipos de informação sobre a população.
Figura 9.17 Distribuição de renda no equilíbrio do mercado de trabalho.
No painel à esquerda da Figura 9.17, mostramos o mercado de trabalho de uma economia com 80 empregados idênticos de 10 firmas idênticas. Como você pode ver, dez pessoas estão desempregadas. Cada firma tem um único proprietário. A economia está em equilíbrio no ponto A, no qual o salário real é suficiente para motivar os trabalhadores e é consistente com o markup de preço que maximiza os lucros da firma dados os custos (w = 0,6 nesse caso).
O painel à direita mostra a curva de Lorenz para a renda nesta economia. Como as pessoas desempregadas não recebem renda se não houver auxílio desemprego, a curva de Lorenz (a linha contínua azul) começa no eixo horizontal à direita do canto esquerdo. A curva de preços no painel esquerdo indica que o produto total é dividido de tal forma que os trabalhadores recebem uma parcela de 60% e seus empregadores ficam com o restante. No painel à direita, isso está representado pela segunda “dobra” na curva de Lorenz, na qual vemos que as 90 pessoas mais pobres da população (os 10 trabalhadores desempregados e os 80 empregados, mostrados no eixo horizontal) recebem 60% da produção total (no eixo vertical).
O tamanho da área sombreada mede a extensão da desigualdade, e o coeficiente de Gini é 0,36. Para aprender a calcular o coeficiente de Gini a partir de informações como essas, veja o Einstein ao final desta seção.
A curva de Lorenz é feita de três segmentos de linha com o ponto inicial nas coordenadas (0, 0) e o ponto final em (1, 1). A primeira dobra da curva ocorre quando contamos todas as pessoas desempregadas.
A segunda é o ponto interior, cujas coordenadas são: fração do total da população economicamente ativa, fração do produto total recebido em forma de salários. A fração do produto recebida em salários, chamada de participação do salário na renda total, s, é:
\[\begin{align*} s &= \text{participação do salário} \\ &= \frac{\text{salário real por dia de trabalho}}{\text{produto por dia de trabalho}} \\ &= \frac{w}{\lambda} \end{align*}\]Portanto, a área sombreada na figura — e, por consequência, a desigualdade medida pelo coeficiente de Gini — aumentará se:
- Uma maior fração de empregados estiver sem emprego (maior taxa de desemprego): a primeira dobra se desloca para a direita.
- O salário real cai (ou, da mesma forma, o markup aumenta) e nada mais se altera: a segunda dobra se desloca para baixo.
- A produtividade aumenta e nada mais se altera (salários reais não aumentam): implica que o markup aumenta, então, novamente, a segunda dobra se desloca para baixo.
Fatores que afetam o equilíbrio do mercado de trabalho: desemprego e desigualdade
O que pode mudar o nível de emprego e a distribuição de renda entre os lucros e salários em equilíbrio? Siga as etapas da Figura 9.18 para ver o que poderia acontecer se houvesse um aumento no grau de competição enfrentado pelas firmas, talvez como resultado de uma redução nas barreiras à competição de firmas de outros países nos mercados desta economia.
O markup diminuiria e, como resultado, o salário real dado pela curva de preços aumentaria, levando a um novo equilíbrio no ponto B, com maior salário e maior nível de emprego. A parcela do produto que vai para os lucros cai e a que vai para os salários aumenta.
Questão 9.9 Selecione a(s) resposta(s) correta(s)
A Figura 9.17 é a curva de Lorenz associada a determinado equilíbrio de mercado de trabalho. Em uma população de 100 pessoas, existem 10 firmas, cada uma com um único proprietário, 80 trabalhadores empregados e 10 trabalhadores desempregados. Os trabalhadores empregados recebem 60% da renda total como salário. O coeficiente de Gini é 0,36. Em qual dos seguintes casos o coeficiente de Gini aumentaria, mantendo todos os outros fatores inalterados?
- Um aumento na taxa de desemprego mudaria a primeira dobra da curva de Lorenz para a direita. Isso deslocaria a curva para baixo, aumentando o coeficiente de Gini.
- Um aumento no salário real aumentaria a segunda dobra da curva de Lorenz. Isso deslocaria a curva para cima, reduzindo o coeficiente de Gini.
- Isso implica um aumento no markup ou, da mesma forma, uma queda na participação do salário na renda total. Isso desloca a segunda dobra da curva de Lorenz para baixo, aumentando o coeficiente de Gini.
- Um aumento no grau de competição elevaria a curva de preços no mercado de trabalho, resultando em maior emprego e maior participação do salário na renda total. Isso desloca a primeira dobra da curva de Lorenz para a esquerda e a segunda dobra para cima, reduzindo o coeficiente de Gini.
Einstein A curva de Lorenz e o coeficiente de Gini em uma economia com desempregados, empregados e empregadores (proprietários)
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Agora vamos usar a figura para derivar uma equação para o valor do coeficiente de Gini em termos das seguintes variáveis:
- u, fração da população que está desempregada
- n, fração da população que está empregada
- w, salário real
- q, produto por trabalhadores empregados
- s = w/q, participação salarial recebida pelos trabalhadores
Lembre-se que o coeficiente de Gini é igual à área A dividida pela área abaixo da linha de 45 graus e, portanto, é igual a A/0.5 = 2A. Calculamos A como 0,5 − B, onde B = B1 + B2 + B3:
\[\begin{align*} {B}_1 = \frac{1}{2}n s \\ {B}_2 = (1-u-n)s \\ {B}_3 = \frac{1}{2}(1-u-n)(1-s) \end{align*}\]Rearranjando essas variáveis, temos:
\[\begin{align*} B &= {B}_1 + {B}_2 + {B}_3 \\ &= \frac{1}{2}n s + (1-u-n)s + \frac{1}{2}(1-u-n)(1-s) \\ &= \frac{1}{2}(1-u-n) + \frac{1}{2}(1-u)s \end{align*}\]Isso implica que o coeficiente de Gini é:
\[\begin{align*} g &= 2A \\ &= 1 - (1-u-n) - (1-u)s \\ &= u + n - (1-u)s \end{align*}\]Lembre-se que s = w/q. Desta expressão, podemos aprender que:
\[g = u + n − (1 − u)\frac{w}{q}?\]
- Se a classe de empregadores ficar relativamente menor: então u + n aumenta. Isso implica que g aumenta, e o ponto Y se desloca para a direita na curva de Lorenz - a desigualdade aumenta. Isso ocorre porque a mesma quantia de lucro é dividida entre menos pessoas, que se tornam ainda mais ricas do que antes. Isso poderia representar a recente evolução do capitalismo, que passou de uma economia de pequenas firmas e manufaturas de propriedades familiares, cada uma com poucos trabalhadores, para uma economia moderna com concentração de riqueza.
- Um aumento na participação dos salários w/q, ceteris paribus, reduzirá o coeficiente de Gini: desloca o ponto Y para cima.
- Se todas as firmas são cooperativas: se não houver empregadores e os trabalhadores ficarem com tudo o que produzirem (w/q = 1), então o coeficiente de Gini cai para g = 2u + n − 1 e o ponto Y se desloca para o canto superior direito. Se, além disso, não houver desemprego, u = 0 e n = 1, então g = 0: haverá uma igualdade perfeita, pois todos serão trabalhadores e receberão o mesmo salário. Isso assume que a produtividade permanece inalterada.
- Como vimos no Einstein no Capítulo 5, esse cálculo não funciona se a população é pequena: nesse caso, a fórmula que derivamos para o coeficiente de Gini não é igual a 1 quando uma única pessoa recebe toda a renda — como deveria ser. Para ilustrar isso, suponha que w = 0, de modo que a única renda vai para os empregadores. Então, em nossa fórmula acima, g = u + n. Agora, imagine que existem 10 pessoas na população, e apenas uma delas é um empregador. Então g = 0,9 quando Gini é realmente igual a 1. Este é o viés de população pequena que caracteriza este índice. Se você calcula o coeficiente de Gini observando as diferenças entre pares de pessoas na população, seu resultado g não estará sujeito a este viés. Outra alternativa é multiplicar o g calculado acima por N/(N − 1) para corrigir o viés, onde N é o tamanho da população: multiplicando 0,9 por 10/9, temos g = 1.
9.9 Oferta de trabalho, demanda de trabalho e poder de barganha
Ainda que a oferta de trabalho deva sempre exceder a demanda por trabalho no equilíbrio do mercado de trabalho (há sempre algum desemprego involuntário), a oferta de trabalho ainda é um dos determinantes mais importantes deste equilíbrio de Nash. Para entender o porquê disso, imagine que esteja ocorrendo imigração de pessoas em busca de emprego (assuma que esses imigrantes são potenciais empregados, e não pessoas que pretendem abrir um negócio), ou imagine que pessoas que haviam ficado em casa para cuidar dos seus filhos, ou que se aposentaram, retornem à força de trabalho.
Que efeito isso teria? Primeiramente vamos ver o que acontece com a curva de salários após um aumento na oferta de trabalho:
- novas pessoas em busca de trabalho entrariam no grupo de desempregados
- o que aumentaria a duração esperada de um período de desemprego
- ao aumentar o custo de perder o emprego, aumentaria a renda do emprego recebida pelos trabalhadores empregados aos níveis atuais de salário e de emprego
- mas, então as firmas estariam pagando mais do que o necessário para garantir a motivação dos trabalhadores a se esforçar …
- … portanto, as firmas reduziriam seus salários
Esse processo é válido para qualquer ponto da curva de salário, então deve ser válido para toda a curva. Portanto, o efeito de um aumento na oferta de trabalho é deslocar a curva de salário para baixo.
Mudanças na oferta de trabalho: os efeitos da imigração
Vamos usar um aumento na oferta de trabalho causado pela imigração como exemplo. A curva de oferta de trabalho se deslocaria para a direita, como mostra a Figura 9.19.
Nessa história, o impacto de curto prazo da imigração é ruim para os trabalhadores atuais no país: os salários caem e a duração estimada do desemprego aumenta. No longo prazo, entretanto, a maior lucratividade das firmas leva à expansão do emprego que poderá (se não ocorrerem outras mudanças) restaurar o salário real e conduzir a economia de volta a sua taxa inicial de desemprego. Como resultado disso, os trabalhadores em atividade não estão em situação pior. Os imigrantes provavelmente estão melhor economicamente — principalmente se deixam seus países de origem devido a dificuldades de sobrevivência.
Resumimos assim os efeitos do aumento da oferta de mão de obra sobre o mercado de trabalho:
- O deslocamento da curva de salários para baixo ao nível inicial de emprego reduziu os salários (para B).
- A redução nos salários resultou em uma diminuição nos custos marginais das firmas e, se não houver outras mudanças nas condições de demanda das firmas, elas contratarão mais trabalhadores.
- Como resultado disso, o emprego aumenta de tal forma que, novamente, a economia está na interseção da curva de preços com a nova curva de salários, com maior nível de emprego.
- O aumento na oferta de trabalho leva a um novo equilíbrio com maior emprego porque desloca a curva de salários para baixo. Novas contratações cessam quando o salário retorna ao nível mostrado pela curva de preços (em C). No novo equilíbrio, o emprego é maior e o salário real fica inalterado.
Exercício 9.6 Imigração de empreendedores
Suponha que alguns dos imigrantes decidam abrir negócios, em vez de trabalharem como empregados. Explique como você espera que isso afete a curva de salários, a curva de preços e o equilíbrio do mercado de trabalho.
Questão 9.10 Selecione a(s) resposta(s) correta(s)
A Figura 9.17 mostra o modelo de um mercado de trabalho no qual existem 90 milhões de trabalhadores. O atual equilíbrio no mercado de trabalho está em A. Considere agora o caso em que a oferta total de trabalho aumenta para 100 milhões. Com base nessa informação, qual(is) das seguintes afirmações está(ão) correta(s) em relação ao processo de ajuste no mercado de trabalho?
- Antes que a oferta de trabalho aumente, 10 milhões estão desempregados. Com os 10 milhões de trabalhadores adicionais que passam a fazer parte da oferta de trabalho, o desemprego inicialmente duplica para 20 milhões de trabalhadores.
- Maior desemprego significa que permanecer desempregado é mais custoso para os trabalhadores. Portanto, há um aumento da renda do emprego recebida pelos que estão empregados.
- Maior desemprego implica uma maior renda do emprego. Isso significa que as firmas podem pagar salários mais baixos e ainda assim fazer com que os trabalhadores se esforcem.
- Maior desemprego implica uma maior renda do emprego. Isso significa que as firmas podem pagar salários mais baixos e ainda assim fazer com que os trabalhadores se esforcem. Isso é válido em qualquer ponto na curva de salários e, portanto, a curva de salários se desloca para baixo.
9.10 Sindicatos: negociação salarial e a voz dos sindicatos
- sindicato
- Organização que consiste predominantemente de empregados, cujas principais atividades incluem a negociação de salários e de condições de trabalho para seus membros.
O modelo do mercado de trabalho apresentado até aqui se refere a firmas e trabalhadores individuais. Entretanto, em muitos países, os sindicatos de trabalhadores desempenham um papel importante no funcionamento do mercado de trabalho.3 Um sindicato é uma organização que pode representar os interesses de um grupo de trabalhadores nas negociações com os empregadores a respeito de assuntos como pagamento, condições de trabalho e jornada de trabalho. O contrato resultante (acordo de negociação coletiva) é entre a firma ou organização que representa os empregadores e o sindicato.4
Como você pode ver na Figura 9.20, a fração de força de trabalho empregada sob acordos de negociação coletiva negociados por sindicatos varia muito entre os países, indo desde praticamente todos os trabalhadores, como ocorre na França e em algumas economias europeias, a quase nenhum nos Estados Unidos e na Coreia do Sul.
Figura 9.20 Proporção de empregados cujo salário está coberto por acordos de negociação coletiva (início da década de 2010).
Jesse Visser. 2015. ‘ICTWSS Data base. Versão 5.0.’. Amsterdam: Amsterdam Institute for Advanced Labour Studies AIAS. Atualizado em outubro de 2015.
Sindicatos e a curva de salários negociados
Quando os trabalhadores estão organizados em sindicatos, o salário não é definido pelo RH, mas por um processo de negociação entre o sindicado e a firma. Embora o salário deva ser sempre pelo menos tão alto quanto o salário indicado pela curva de salários para determinado nível de desemprego, o salário negociado pode ficar acima da curva de salários. A razão para isso é que a ameaça, por parte do empregador, de demitir o funcionário não é o único exercício de poder possível. O sindicado pode ameaçar “demitir” o empregador (pelo menos temporariamente) entrando em greve, ou seja, retirando da firma o trabalho do empregado.
Podemos pensar em uma “curva de negociação” acima da curva de salários, que indica o salário que o processo de negociação sindicado-empregador produzirá por nível de emprego.
O poder de negociação relativo entre sindicato e empregador determina o quanto essa curva de negociação fica acima da curva de salários. O poder do sindicato depende da sua habilidade de impedir o acesso da firma ao trabalho, então sua força para negociar será maior se puder garantir que, durante a greve, nenhum trabalhador ofereça seu trabalho para a firma. Esse e outros determinantes do poder de barganha dependem das leis e normas sociais que vigoram em uma economia. Em muitos países, por exemplo, é uma grave violação de uma norma social entre os trabalhadores procurar emprego em uma firma cujos trabalhadores estejam em greve.
Um sindicato poderoso, entretanto, pode não optar por negociar um aumento de salário mesmo se tiver poder para tal. Isso ocorre porque mesmo um sindicato muito poderoso só consegue definir o salário, mas não pode determinar quantas pessoas a firma contrata. Um salário muito alto pode reduzir os lucros o suficiente para levar a firma a fechar as portas ou diminuir a quantidade de emprego.
Os sindicatos podem escolher restringir o uso do seu poder de barganha. Se sua influência na negociação de salários atingir uma proporção substancial da economia, os sindicatos levarão em conta o efeito das suas decisões salariais sobre os salários e o emprego dos trabalhadores da economia como um todo.
Para saber a diferença que os sindicatos fazem, vejamos como o mercado de trabalho funcionaria se, ao invés do empregador estabelecer o salário e os empregados reagirem individualmente, o processo agora fosse:
- O sindicato define o salário.
- O empregador informa aos trabalhadores que trabalho sem esforço suficiente levará a demissão.
- Os empregados reagem ao salário e à possibilidade de demissão escolhendo o quanto irão se esforçar no trabalho.
Nesse caso, o empregador não estabelece o salário que maximiza os lucros (o ponto de tangência entre a linha isocusto de esforço e a curva de melhor resposta, no ponto A da Figura 9.21). Percorra as etapas da Figura 9.21 para ver o que acontece quando o sindicato, e não a firma, estabelece o salário.
Como mostra a figura, o salário será mais alto do que o desejado pelo empregador. Os trabalhadores agora se esforçarão mais, mas os salários aumentam mais do que a produtividade, de modo que as firmas recebem menos esforço por dólar gasto com salários. Como consequência, os lucros serão menores do que seriam sem o sindicato, isto é, estão localizados na linha isocusto mais plana passando por C.
Se transportarmos o conteúdo da Figura 9.21 para o modelo de mercado de trabalho da Figura 9.22, veremos que a curva de salários negociados está acima da curva de salários. Observando o equilíbrio no qual a curva de salários negociados intercepta a curva de preços, o salário não será afetado, mas o nível de emprego será mais baixo.
Figura 9.22 A curva de salários negociados em que não existe efeito da voz dos sindicatos.
Paradoxalmente, parece que o sucesso do sindicato na negociação dos salários seria prejudicial para os trabalhadores, uma vez que o salário real permaneceria inalterado e mais pessoas estariam desempregadas. Entretanto, se olharmos para os dados sobre a cobertura dos acordos de negociação do sindicato e para o desemprego na Figura 9.23, não parece ser o caso do desemprego ser maior em países em que a negociação sindical é importante para definir o salário.
A Áustria, com quase todos os empregados cobertos por acordos de negociação salarial, tem uma taxa de desemprego mais baixa (média de 2000 a 2014) do que os Estados Unidos, onde menos de 20% dos trabalhadores estão cobertos por contratos de sindicatos. Tanto Espanha quanto Polônia tiveram um desemprego enorme nesse período, mas a cobertura dos sindicatos era muito alta na Espanha e muito baixa na Polônia.
Figura 9.23 Cobertura dos acordos de negociação coletiva e desemprego na OCDE.
Jesse Visser. 2015. ‘ICTWSS Data base. Versão 5.0.’. Amsterdam: Amsterdam Institute for Advanced Labour Studies AIAS. Atualizado em outubro de 2015.
Sendo assim, o fato de os sindicatos poderem elevar a curva de salários até a nova “curva de salários negociados” não deve ser o único aspecto relevante nessa história.
O efeito da voz dos sindicatos
Suponha que, ao longo do tempo, o empregador e o sindicato tenham desenvolvido uma relação de trabalho construtiva — por exemplo, resolvendo problemas que surgem de tal forma que tanto empregados quanto proprietários se beneficiem. Os empregados podem interpretar o reconhecimento do sindicato por parte do empregador, e sua disposição de se comprometer com eles em relação a um salário mais alto, como sinal de boa vontade.
Como resultado, eles podem se identificar mais intensamente com sua firma e ver o esforço como uma carga menos pesada do que antes, deslocando sua curva de melhor resposta na Figura 9.24 para cima.
O resultado do maior poder de negociação dos trabalhadores, e sua reciprocidade com a política da empresa de ser amigável com o trabalhador, é representado pelo ponto D na Figura 9.24. O salário é o mesmo do caso anterior, mas, como o esforço dos trabalhadores é maior, os lucros da firma são mais altos. Observe que, no exemplo mostrado, a firma ainda está pior do que estava na ausência do sindicato.
Com a nova função de melhor resposta, é claro que existe um resultado melhor para uma firma que estabelece um salário do que D, no qual a curva isocusto é uma tangente ao ponto (não mostrada). Entretanto, isso não é factível. Os trabalhadores não se esforçarão ao máximo sem as negociações salariais e condições de trabalho que se tornaram possíveis com o papel dos sindicatos no estabelecimento de salários.
Mostramos dois efeitos da presença dos sindicatos que agora podemos representar no diagrama do mercado de trabalho:
- É possível que um sindicato consiga fazer com que a firma pague um salário mais alto do que o mínimo necessário para incentivar os empregados a se esforçarem (a curva de negociação está acima da curva de salários).
- Proporcionar aos empregados reconhecimento e voz a respeito de como as decisões são tomadas pode reduzir a desutilidade do esforço e, assim, reduzir o salário mínimo necessário para motivar os empregados a trabalharem com eficiência.
Os dois efeitos são ilustrados na Figura 9.25. Nessa figura, mostramos o caso em que o nível de emprego de equilíbrio é mais alto e o desemprego é menor com o sindicato (ponto Y) do que sem ele (ponto X). Isso ocorre porque o segundo efeito (chamado de “efeito da voz dos sindicatos”), que desloca a curva de salário para baixo, foi maior do que o efeito de negociação, que deslocou a curva de salário para cima.
Figura 9.25 A curva de salários negociados e o equilíbrio do mercado de trabalho em que não existe efeito da voz dos sindicatos.
Entretanto, isso poderia ter tido o resultado inverso. O efeito da negociação salarial poderia ter sido maior do que o efeito de voz dos sindicatos e, nesse caso, o efeito dos sindicatos teria sido reduzir o emprego no equilíbrio no mercado de trabalho.
Isso fornece o motivo pelo qual os dados da Figura 9.23 não mostram qualquer correlação clara (tanto positiva quanto negativa) entre a cobertura dos contratos dos sindicatos e a quantidade de desemprego.
Os sindicatos também podem afetar a produtividade média de trabalho, o que deslocará a curva de preços. Se os sindicatos promoverem a cooperação com a administração para solucionar problemas de produção, o produto médio e a curva de preços se elevarão (levando a salários mais altos e a menos desemprego). Se os sindicatos resistirem à melhora na produtividade, tais como com a introdução de novas tecnologias ou mudanças nas regras de trabalho, então o efeito terá a direção contrária.
Questão 9.11 Selecione a(s) resposta(s) correta(s)
A Figura 9.21 mostra o efeito da determinação do salário pelos sindicatos. O que podemos concluir a partir dessa figura?
- A linha isocusto é mais plana ao cruzar C do que ao cruzar A. Isso significa que a firma recebe menos esforço dos trabalhadores para cada dólar gasto com salários. Portanto, o lucro da firma é menor em C.
- Devido ao efeito dos sindicatos, os empregados precisam ser pagos com salários mais altos para se esforçarem, em comparação a quando não havia sindicatos. Isso desloca a curva de salário para cima.
- Se os empregados retribuem (por exemplo, quando passam a ter uma menor desutilidade de esforço) e existe um ”efeito de voz do sindicato”, isso produz um efeito de deslocar a curva de salário para baixo. Se este efeito mais do que compensa o efeito da negociação salarial, que altera a curva de salário para cima, então haverá uma redução geral no desemprego.
- Diferentemente do ponto A, em C a firma não está produzindo no ponto de tangência da linha isocusto com a curva de melhor resposta. Portanto, não está mais estabelecendo o nível de salário que maximiza os lucros.
9.11 Políticas de mercado de trabalho para lidar com desemprego e desigualdade
Assim como quando estudamos o efeito dos impostos sobre os preços e as quantidades de bens no Capítulo 8, agora vamos usar o modelo do mercado de trabalho que construímos (as duas curvas) para ver como uma mudança de política vai deslocar uma ou ambas as curvas. O efeito de uma política é determinado por como ela altera o ponto de intersecção das duas curvas.
Os objetivos das políticas de mercado de trabalho geralmente incluem a redução do desemprego e o aumento de salários (principalmente os dos menos favorecidos). Mais adiante (Capítulos 13 a 16) veremos que outros objetivos incluem a redução da insegurança econômica à qual as famílias estão expostas por causa de períodos de desemprego.
O efeito de políticas que deslocam a curva de preços
Educação e capacitação
Considere uma melhoria na qualidade da educação e da capacitação que os futuros empregados venham a receber, o que aumenta a produtividade do trabalho. Qual é o efeito desse aumento de produtividade nos salários reais e no emprego de equilíbrio?
O markup escolhido pela firma quando estabelece seus preços para maximizar os lucros é determinado pela quantidade de competição que a firma enfrenta; então não é afetado pelo aumento da produtividade.
Este markup determina a distribuição da receita da firma entre os empregados e os proprietários e, como isso também não mudou, os salários permanecem sendo a mesma fração da receita. Assim, como o produto por trabalhador da firma aumentou, os salários reais e a curva de preços também devem se elevar. O resultado é um aumento tanto no emprego de equilíbrio quanto no salário real.
Subsídio salarial
Uma política que tem sido defendida para aumentar o emprego é um subsídio às firmas, pago proporcionalmente aos salários que pagam a seus trabalhadores. Por exemplo, suponha que contratar um trabalhador por uma hora custasse $40 em salários para a firma, mas ela receberia um subsídio do governo de 10% desse total, ou $4. Portanto, o custo líquido do salário para a firma seria de $36.
Como isso afetaria a curva de preço? Agora, os custos da firma caíram, mas, como vimos anteriormente, o markup ótimo que a firma vai usar para determinar seus preços não se alterou, então a firma reduzirá seus preços para recuperar o antigo markup. Quando todas as firmas fazem isso, os preços dos bens que o trabalhador consome caem, e os salários reais aumentam.
O efeito, como mostrado acima, é o deslocamento da curva de preços para cima. Em ambos os casos — educação e capacitação ou subsídio salarial — o efeito é levar o novo equilíbrio do mercado de trabalho para cima e para a direita ao longo da curva de salários, até um novo nível de salários mais altos e maior emprego na economia como um todo.
O efeito total de cada uma dessas políticas teria que levar em consideração como a educação e a capacitação ou o subsídio salarial foram financiados, mas, para permitir uma ilustração simples de como o modelo funciona, vamos assumir que os fundos necessários para esses programas poderiam ser aumentados sem afetar o mercado de trabalho.
O efeito de políticas que alteram a curva de salários
Um exemplo de como a política econômica afeta a curva de salários é mostrado na Figura 9.26. Ao longo desse exemplo, a taxa de desemprego é mantida constante em 12% e variamos o valor do auxílio desemprego ao qual o trabalhador tem direito. Um auxílio desemprego maior aumenta o salário de reserva e desloca a curva de melhor resposta para a direita: o salário de reserva mais alto com um maior auxílio desemprego é representado pelo ponto G. O empregador estabelece um salário mais alto (ponto C). Explore as etapas para ver o que acontece com a curva de salários e com o desemprego.
Existem políticas que afetariam a terceira curva na figura (a curva de oferta de trabalho). Já vimos como as políticas de imigração podem afetar a oferta de trabalho e, portanto, o funcionamento do mercado de trabalho. Outras políticas que afetam a oferta de trabalho incluem aquelas para aumentar oportunidades de emprego para mulheres, tais como creches subsidiadas, e ações de combate à discriminação contra minorias desfavorecidas. Essas políticas funcionam inicialmente aumentando o conjunto de pessoas sem emprego e, portanto, deslocam para baixo a curva de salários, como no caso da imigração.
9.12 Fazendo uma retrospectiva: baristas e mercados de pães
Dedicamos um capítulo inteiro ao mercado de trabalho por duas razões:
- Seu funcionamento é muito importante para o quão bem a economia serve aos interesses da população.
- É suficientemente diferente da maneira como muitos mercados conhecidos funcionam, o que é essencial para conhecer essas diferenças e entender como a economia funciona.
Uma boa forma de rever essas diferenças é comparando o mercado de pão que usamos para ilustrar o modelo de equilíbrio competitivo entre tomadores de preços no capítulo anterior com o mercado, digamos, de baristas (que, para leitores não familiarizados com cafeterias de inspiração italiana, são aqueles que fazem diferentes bebidas usando café expresso).
Tomadores de preços, formadores de preços
Lembre-se que, no equilíbrio do mercado de pães, nem os consumidores de pães nem as padarias que os vendiam podiam se beneficiar oferecendo-se para pagar um preço diferente ou estabelecendo um preço diferente daquele que prevalecia em outras transações do mercado. Em equilíbrio, os compradores e os vendedores eram tomadores de preços:
- Nenhum comprador poderia se beneficiar ao se oferecer para pagar menos do que o preço predominante no mercado: nenhuma padaria concordaria em vender seu pão.
- Nenhum comprador poderia se beneficiar ao se oferecer para pagar mais do que o preço corrente: com isso, estaria apenas jogando dinheiro fora. Os compradores no mercado de pão são tomadores de preços porque querem comprar pão ao menor preço possível.
- Nenhum vendedor (padaria) pode se beneficiar ao estabelecer um preço mais alto: não haveria compradores.
- Nenhum vendedor se beneficiaria ao oferecer um preço mais baixo: com isso, estaria apenas jogando dinheiro fora. Os vendedores podem ter tantos clientes quantos quiserem ao preço atual.
- salário de reserva
- O que um empregado receberia em um emprego alternativo, ou como auxílio-desemprego ou algum outro benefício, se ele ou ela não estivesse trabalhando em seu atual emprego.
Agora, pense sobre o comprador no mercado de trabalho: ele é um empregador que compra o tempo do empregado. O preço é o salário. Um empregador que age como um comprador de pão ofereceria ao empregado o menor salário que uma pessoa aceitaria para aquele trabalho. O salário mais baixo possível é o salário de reserva.
No Capítulo 6, vimos que um empregador que fizesse isso ficaria desapontado. O trabalhador que recebe apenas um salário de reserva não se preocupa em perder seu emprego e, por isso, tem pouco incentivo para se esforçar no trabalho. Por outro lado, vimos que os empregadores escolhem um salário para equilibrar os custos com salário contra os efeitos positivos que um salário mais alto tem na motivação do empregado para trabalhar.
Contratos completos e incompletos
No mercado de pão, o contrato de venda entre o comprador e o vendedor é por pão, e se você compra pão, recebe o que deseja. É um contrato completo (lembre-se, um contrato não precisa necessariamente estar escrito nem ser assinado para ser aplicável: o recibo é suficiente para obter um reembolso se a sacola que diz “pão fresco” parece conter um pão de uma semana atrás quando você chega em casa).
- contrato incompleto
- Contrato que não especifica, de forma exigível, cada aspecto da troca que afeta os interesses das partes envolvidas (ou de outros).
Por outro lado, no mercado de trabalho, o contrato de emprego geralmente se refere ao tempo de trabalho do empregado e não ao trabalho em si. Como é o trabalho do empregado que produz os bens da firma, e é essencial para o seu lucro, isso significa que esse é um contrato incompleto: algo importante para uma das partes da troca não está coberto pelo contrato.
Isso implica que, diferentemente do mercado de pão, para um comprador no mercado de trabalho, pagar mais que o necessário para comprar o tempo do empregado não é jogar dinheiro fora: é a forma como os empregadores obtêm o que querem (trabalho) e como eles lucram. Por isso, eles decidem sobre os preços (isto é, o salário) que oferecerão ao trabalhador. Os empregadores são formadores de preços e não tomadores de preços. É por isso que o modelo do Capítulo 8, de equilíbrio competitivo dos tomadores de preços, não funciona no mercado de trabalho.
Eficiência de Pareto e oportunidades não exploradas de ganhos mútuos
No Capítulo 4, você encontrou muitas situações em que o equilíbrio de Nash de algumas interações sociais não é Pareto eficiente. Os exemplos incluem o dilema dos prisioneiros e o jogo dos bens públicos.
- Usamos o equilíbrio de Nash: esse conceito nos ajuda a prever que resultados observaremos quando as pessoas interagem.
- Usamos a eficiência de Pareto: esse conceito avalia se existe outro resultado no qual todas as partes poderiam estar em melhor situação (ou pelo menos tão bem quanto).
Lembre-se do Capítulo 8, no qual o modelo que ilustramos com o mercado de pão não tinha oportunidades inexploradas para ganho mútuo em equilíbrio competitivo (no qual as curvas de demanda e de oferta se interceptam). Nessa situação, não é possível fazer com que um dos compradores ou vendedores passe a ter maior bem-estar — por exemplo, ao fazer com que um deles faça mais ou menos comércio com seus parceiros de troca — sem que um deles fique pior. O resultado, portanto, foi eficiente de Pareto.
Esse não é o caso do mercado de trabalho. A competição entre muitos compradores (firmas contratando empregados) e vendedores (pessoas procurando emprego) é um resultado de equilíbrio — salário w e nível de emprego N — que não é Pareto eficiente. Isso significa que existe algum outro resultado — diferentes níveis de salário e emprego que são factíveis do ponto de vista dos recursos disponíveis e da tecnologia — que tanto empregadores quanto empregados prefeririam.
Para visualizar isso, imagine que estamos no equilíbrio do mercado de trabalho e um dos trabalhadores desempregados (idênticos àqueles empregados) procura um empregador e diz: ”Olha só, vou trabalhar tanto quanto o resto dos seus trabalhadores, mas você pode me pagar um pouco menos.”
O empregador pensa: ”Se eu pagar a ele um salário um pouco menor, e se ele trabalhar tanto quanto os outros, meus lucros aumentarão.”
Para os trabalhadores desempregados, conseguir emprego faz muita diferença. Ele ou ela agora recebe uma renda de emprego que mede quão melhor é para a pessoa estar empregada ao invés de desempregada. O acordo é bom apesar da renda de emprego que recebe ser um pouquinho menor do que aquela recebida por outros trabalhadores (porque seu salário é um pouco menor).
Esse pequeno exemplo mostra que existe algum outro resultado factível — empregar N + 1 trabalhadores a um salário w para N deles e w menos um pouquinho para o último trabalhador contratado — que representaria uma melhoria da situação tanto do trabalhador empregado quando do empregador. Portanto, o resultado (N, w) não é um equilíbrio ótimo de Pareto.
Entretanto, se esse for o caso, por que o empregador não contrata uma pessoa desempregada? A resposta é que o acordo, embora tecnicamente possível, não é economicamente possível. Isso porque não existe uma maneira de garantir que a pessoa desempregada cumpra sua promessa e trabalhe tanto quanto as demais em troca de um salário um pouco menor. Lembre-se que w, na curva de salário, é o mínimo que a firma pode pagar para trabalhadores idênticos de modo a garantir que o esforço no trabalho seja o adequado. Assim, o problema volta a um fato fundamental sobre o relacionamento entre a firma e os empregados: o contrato é incompleto, pois não pode garantir um dado nível de esforço por parte dos trabalhadores. O equilíbrio de Nash no mercado de trabalho é Pareto ineficiente.
A política e a sociologia dos mercados
Aqui temos outra diferença entre o mercado de pães e o mercado dos baristas. O padeiro provavelmente não sabe o nome da pessoa que compra pão, nem qualquer coisa a respeito do comprador além de estar oferecendo o preço determinado pelo pão. O comprador provavelmente também pouco se importa com o padeiro para além do sabor do pão que ele faz.
Agora, pense na barista. Quais são as chances dela não saber o nome do seu superior imediato? E vice-versa?
Por que existe uma diferença? O mercado de pães tende a ser uma interação pontual entre quase desconhecidos, enquanto o mercado de trabalho é uma interação contínua entre pessoas que não apenas se conhecem pelo nome, mas também se preocupam com como de fato é outra pessoa.
O supervisor da barista se preocupa com como ela é porque sua personalidade, sua lealdade à marca e seu respeito a normas sociais como honestidade e esforço influenciarão a qualidade e a quantidade de trabalho que ela oferece ao emprego. O comprador do pão não se preocupa com esses aspectos do padeiro porque o que importa é a qualidade do pão, que pode ser facilmente determinada, e uma outra padaria pode ser facilmente encontrada se o pão não estiver bom.
Outra grande diferença é que o supervisor orienta o que a barista deve fazer — vestir-se de certa forma, chegar ao trabalho em determinado horário, e não perder tempo no trabalho — com a expectativa de que ela respeitará suas ordens. Por receber uma renda do emprego que perderia se fosse demitida, o supervisor pode exercer poder sobre a barista, levando-a a fazer coisas que não faria sem uma ameaça de demissão.
Esse não é o caso do mercado de pães. Se um comprador reclama da roupa que o padeiro usa, ele pode ser convidado a comprar em outro lugar. A diferença é que nem o comprador nem o vendedor no mercado de pães estão recebendo uma renda. Para cada um deles, a transação que estão fazendo gera benefícios virtualmente idênticos à sua melhor alternativa subsequente. Quando ambos podem abandonar a transação a um custo quase nulo, nenhum consegue exercer poder sobre o outro.
Essas são algumas das diferenças — tanto econômicas como políticas e sociológicas — entre o mercado de pães e o mercado dos baristas. Essas são também as razões pelas quais o modelo do mercado de pães com compradores e vendedores tomadores de preços e preços ajustando o mercado até atingir o equilíbrio não funciona para o mercado de trabalho. A tabela da Figura 9.27 resume as diferenças.
Mercado | Pães: equilíbrio de mercado quando agentes são tomadores de preço | Baristas: estabelecimento de preços pelo empregador e desemprego em equilíbrio |
---|---|---|
Compradores | Consumidores individuais | Firmas(empregadores) |
Vendedores | Firmas(lojas) | Trabalhadores individuais |
O que é vendido? | Pães | O tempo do trabalhador |
O que o comprador quer? | Pães | O esforço do empregado no trabalho; não o tempo do trabalhador |
Há competição entre vendedores? | Sim, muitas padarias competem para vender pão. | Sim, muitos baristas e aspirantes a baristas competem para vender seu tempo. |
O contrato é completo? | Sim, se a embalagem de pães não continha pães, você recebe seu dinheiro de volta. | Não, os lucros da firma dependem do esforço do trabalhador por hora/semana/mês trabalhado, o que não está no contrato. |
Compradores são tomadores de preços? | Sim, compradores individuais não podem barganhar um preço menor do que outros dispostos a pagar (e não iriam querer pagar mais) | Não, o comprador (a firma) estabelece o salário para minimizar o custo de colocar o trabalhador para trabalhar; ele não se beneficia ao oferecer o salário mais baixo pelo qual o trabalhador (o vendedor) aceitaria o emprego. |
Há excesso de oferta ou de demanda em equilíbrio? | Não, o mercado se ajusta. As vendas ocorrem ao menor preço que o vendedor aceitaria. | Sim, as firmas oferecem um salário maior do que o salário de reserva do trabalhador (preço mínimo que o vendedor aceitaria) para maximizar seus lucros. |
Figura 9.27 Diferenças entre o mercado de trabalho e os mercados competitivos de bens.
Questão 9.12 Selecione a(s) resposta(s) correta(s)
Qual(is) das seguintes afirmações está(ão) correta(s)?
- Em um mercado competitivo de bens, se o que você compra não é o que foi anunciado, você pode acionar o vendedor na justiça para garantir que o contrato seja cumprido. No mercado de trabalho, o contrato é pelo tempo de trabalho do empregado, não pelo próprio trabalho (ou pelo esforço) e, portanto, é incompleto.
- Em um mercado competitivo de bens, os compradores individuais não podem barganhar por um preço menor do que outros estão dispostos a pagar. Portanto, eles são tomadores de preços. Em um mercado de trabalho, as firmas estabelecem o salário para minimizar o custo de colocar o trabalhador para trabalhar, e não se beneficiariam ao oferecer o menor salário pelo qual o trabalhador (o vendedor) aceitaria o emprego. Assim, eles são formadores de preços.
- Em um mercado competitivo de bens, a melhor alternativa subsequente dos compradores é comprar em outra loja, enquanto a melhor alternativa subsequente do vendedor é vender para outro cliente. Nenhuma das partes pioraria ao se retirar e, portanto, elas não recebem rendas econômicas. Por outro lado, no mercado de trabalho, os vendedores (os empregados) estão em uma situação pior caso estejam desempregados, sua outra alternativa subsequente. Assim, eles recebem rendas de emprego.
- No mercado de bens, os contratos são garantidos, se necessário, por tribunais e não por normas. Por outro lado, nos mercados de trabalho, a ética de trabalho dos empregados e/ou o sentimento de reciprocidade em relação a seus empregadores afetam sua produtividade no trabalho.
9.13 Conclusão
O modelo do mercado de trabalho é bem diferente do modelo de equilíbrio de compradores e vendedores tomadores de preços do Capítulo 8. A diferença mais óbvia é que o mercado de trabalho não se ajusta (oferta e demanda não se igualam), mesmo em equilíbrio.
O desemprego involuntário no equilíbrio do mercado de trabalho é inevitável, pois:
- Os empregadores e trabalhadores têm um conflito de interesses: um conflito em torno de quanto esforço os empregados exercem em seu trabalho.
- Os empregadores não podem fazer um contrato completo com seus empregados: não podem especificar a qualidade ou a quantidade do esforço no trabalho que receberão.
A extensão do desemprego de equilíbrio é afetada por como o governo regula o trabalho e outros mercados. Nos Capítulos 16 e 17 veremos como essas políticas e o comportamento dos sindicatos e dos empregadores afetaram a experiência de diversos países em relação ao desemprego ao longo das últimas décadas.
O desemprego pode ser mais alto do que o desemprego de equilíbrio como resultado de uma queda na demanda por bens e serviços em toda a economia. No exemplo da família Grey na Austrália, isso ocorreu por causa de movimentos globais na demanda por commodities. Entretanto, muitos outros casos de flutuações na demanda agregada serão explorados nos próximos capítulos.
Quando o desemprego aumenta acima do nível de equilíbrio por causa da falta de demanda agregada, os governos e os bancos centrais podem usar políticas fiscais e monetárias para reduzi-lo. Isso pode funcionar melhor do que confiar nas firmas para fazer cortes de salários e preços, e esperar que as famílias e firmas reajam à queda de salários e preços aumentando suas compras.
- relação principal-agente
- Esse relacionamento existe quando uma parte (o principal) gostaria que a outra (o agente) agisse de certa forma ou tivesse algum atributo de interesse do principal cujo cumprimento não pode ser exigido ou garantido por um contrato vinculante. Ver também: contrato incompleto. Também conhecido como: problema principal-agente.
O modelo principal-agente de empregador e empregado que utilizamos neste capítulo aparecerá em um novo ambiente no próximo capítulo: o mercado de crédito. Enquanto no mercado de trabalho o principal é o empregador e o agente é o trabalhador, no mercado de crédito o principal é o credor e o agente é o devedor. Vimos aqui que, no equilíbrio do mercado de trabalho, haverá pessoas involuntariamente desempregadas procurando emprego e dispostas a trabalhar ao salário atual. Da mesma forma, veremos que, no mercado de crédito haverá pessoas procurando empréstimos e dispostas a pagar a taxa de juros atual, mas incapazes de obter crédito.
Conceitos introduzidos no Capítulo 9
Antes de seguir adiante, reveja essas definições:
9.14 Referências
- Bewley, T. 2007. ‘Fairness, Reciprocity and Wage Rigidity’. Behavioral Economics and its Applications, eds. Peter Diamond and Hannu Vartiainen, pp. 157–188. Princeton, NJ: Princeton University Press.
- Campbell, C. M., and K. S. Kamlani. 1997. ‘The Reasons For Wage Rigidity: Evidence From a Survey of Firms’. The Quarterly Journal of Economics 112 (3) (August): pp. 759–789.
- Carlin, Wendy and David Soskice. 2015. Macroeconomics: Institutions, Instability, and the Financial System. Oxford: Oxford University Press. Capítulos 2 e 15.
- Council of Economic Advisers Issue Brief. 2016. Labor Market Monopsony: Trends, Consequences, and Policy Responses.
- Freeman, Sunny. 2015. ‘What Canada can learn from Sweden’s unionized retail workers’. Huffington Post Canada Business. Atualizado em: 19 mar. 2015.
- Hirsch, Barry T. 2008. ‘Sluggish institutions in a dynamic world: Can unions and industrial competition coexist?’. Journal of Economic Perspectives 22 (1) (February): pp. 153–176.
-
T. Bewley. 2007. ‘Fairness, Reciprocity and Wage Rigidity’. Behavioral Economics and its Applications, edited by Peter Diamond and Hannu Vartiainen, pp. 157–188. Princeton, NJ: Princeton University Press. ↩
-
C. M. Campbell and K. S. Kamlani. 1997. ‘The reasons for wage rigidity: Evidence from a survey of firms’. The Quarterly Journal of Economics 112 (3) (August): pp. 759–789. ↩
-
Sunny Freeman. 2015. ‘What Canada can learn from Sweden’s unionized retail workers’. Huffington Post Canada Business. Atualizado em: 19 mar. 2015. ↩
-
Barry T. Hirsch. 2008. ‘Sluggish institutions in a dynamic world: Can unions and industrial competition coexist?’. Journal of Economic Perspectives 22 (1) (February): pp. 153–176. ↩