Capítulo 13 Flutuações econômicas e desemprego
Temas e Capítulos Temáticos
Como as economias flutuam entre expansões e recessões à medida que sofrem contínuos choques positivos e negativos
- As flutuações na produção total de uma nação (PIB) afetam o desemprego, que é uma situação difícil para as pessoas.
- Os economistas medem o tamanho da economia usando as contas nacionais, que quantificam as flutuações econômicas e o crescimento.
- As famílias reagem aos choques economizando, tomando empréstimos e compartilhando para suavizar seu consumo de bens e serviços.
- Devido aos limites na capacidade das pessoas de tomar empréstimo (restrições de crédito) e sua falta de vontade, essas estratégias não são suficientes para eliminar os choques no consumo.
- Os gastos das firmas em investimentos (de bens de capital) e das famílias (em casas novas) flutuam mais do que o consumo.
Dói perder o emprego. E isso causa estresse. Após a crise financeira global de 2008, o desemprego subiu, bem como o número de buscas no Google por medicamentos antiestresse. Plotando o aumento na intensidade de busca frente o aumento na taxa de desemprego nos diferentes estados dos EUA (Figura 13.1), vemos que os estados que tiveram o maior aumento nas taxas de desemprego entre 2007 e 2010 também tiveram um aumento nas buscas por medicamentos antiestresse. Isso sugere que um desemprego mais alto está relacionado com mais estresse. Dizemos que os dois estão correlacionados.
Figura 13.1 Mudanças no desemprego e bem-estar durante a crise financeira: Evidências nos estados dos EUA (2007–2010).
Yann Algan, Elizabeth Beasley, Florian Guyot e Fabrice Murtin. 2014. ‘Big Data Measures of Human Well-Being: Evidence from a Google Stress Index on US States’. Sciences Po Working Paper.
- linha de regressão linear
- Linha que melhor se ajusta a um conjunto de dados.
A linha ascendente resume os dados encontrando a linha que mais se adequa à dispersão dos pontos. A isso chamamos de ajuste ou linha de regressão linear. Quando uma linha de ajuste se inclina para cima, isso significa que os maiores valores da variável no eixo horizontal (neste caso, o aumento no desemprego) estão associados com valores maiores de variável no eixo vertical (neste caso, o aumento nas buscas por medicamentos antiestresse no Google).
Muitos tipos de evidências mostram que estar desempregado ou temer o desemprego são grandes fontes de tristeza para as pessoas. O desemprego se iguala a graves doenças e divórcio como eventos estressantes da vida.
Os economistas estimaram que estar desempregado produz mais tristeza do que apenas a perda de renda por estar sem emprego. Os economistas Andrew Clark e Andrew Oswald mediram o efeito de importantes eventos da vida sobre o quanto as pessoas afirmam estar felizes quando questionadas. Em 2002, eles calcularam que um britânico comum precisaria receber uma indenização de £15.000 ($22.500) por mês após perder o emprego para ficar tão feliz quanto estava quando empregado. Isso é muito mais do que a perda de renda (que naquela época estava em £2.000 por mês em média).1
A indenização necessária para recuperar o bem-estar é uma quantia enorme, muito maior do que o prejuízo monetário associado com o período de desemprego. O motivo é que o desemprego abaixa enormemente a autoestima e leva a uma redução muito maior na felicidade. Como vimos no Capítulo 1, o bem-estar depende de outros fatores além da renda.
Correlação pode não ser causalidade
- causalidade reversa
- Relação causal de duas vias na qual A afeta B e B também afeta A.
Podemos esboçar uma conclusão a partir dos dados na Figura 13.1 de que o desemprego mais alto causa um estresse mais alto? Talvez tenhamos colocado isso no sentido inverso e, na verdade, as buscas no Google provoquem desemprego. Os economistas chamam isso de causalidade reversa. Podemos descartar essa última hipótese porque é improvável que as buscas individuais no Google sobre os efeitos colaterais de antidepressivos possam provocar um aumento no desemprego no âmbito estadual. Entretanto, existem outras explicações possíveis para esse padrão.
O site Spurious Correlations mostra como é perigoso esboçar uma conclusão a partir desta correlação. James Fletcher. 2014. ‘Spurious Correlations: Margarine Linked to Divorce?’. BBC News.
- correlação
- Uma associação estatística na qual conhecer o valor de uma variável oferece informação sobre o valor provável da outra, por exemplo, valores altos de uma variável sendo comumente observados junto com valores altos da outra. Ela pode ser positiva ou negativa (é negativa quando os valores altos de uma variável são observados com valores baixos da outra). Isso não significa que exista uma relação causal entre as variáveis. Veja também: causalidade, coeficiente de correlação.
Um desastre natural como o Furação Katrina no estado da Louisiana nos EUA em 2005 poderia ter disparado um aumento tanto no estresse quanto no desemprego. Este é um exemplo em que um terceiro fator — nesse caso, as condições meteorológicas — podem responder por uma correlação positiva entre as buscas por antidepressivos e o desemprego. Isso nos alerta para sermos cuidadosos na conclusão de que uma correlação observada implica uma relação causal entre as variáveis.
Para estabelecer uma relação causal entre as variáveis, os economistas fazem experimentos (como aqueles no Capítulo 4) ou exploram experimentos naturais (como a comparação da Alemanha Oriental com a Ocidental no Capítulo 1 ou a estimativa do tamanho das rendas de emprego no Capítulo 6).
No Exercício 13.1, mostramos uma ferramenta que você pode usar para verificar suas ideias sobre como o bem-estar geral em um país pode ser comparado ao bem-estar em outros países. Qual é a receita para uma vida melhor no seu país? Qual é a importância do desemprego? Será que umas coisas são mais ou tão importantes quanto outras — por exemplo, boa educação, ar limpo, um nível alto de confiança entre os cidadãos, renda alta ou não haver muita desigualdade?
Nesta unidade aprendemos sobre o porquê das economias passarem por expansões, durante as quais o desemprego cai, e recessões, nas quais ele aumenta. Focamos nos gastos totais (por parte das famílias, firmas, governo e pessoas fora da economia doméstica) em bens e serviços produzidos por pessoas empregadas na economia doméstica.
Exercício 13.1 O Índice para uma Vida Melhor da OCDE
A OCDE é uma organização internacional com sede em Paris que tem 35 países membros, a maioria dos quais com altos níveis de PIB per capita. Ela foi fundada em 1948 para facilitar a reconstrução pós-guerra na Europa Ocidental. A OCDE é uma importante fonte estatística de comparação internacional sobre desempenho econômico e social.
O Índice para uma Vida Melhor foi criado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Ele possibilita esboçar uma medida da qualidade de vida em um país decidindo que peso colocar em cada componente do índice.
- Será que um índice para uma vida melhor deve incluir os seguintes elementos: renda, habitação, emprego, comunidade, educação, meio ambiente, engajamento cívico, saúde, satisfação com a vida, segurança e equilíbrio trabalho-vida? Para cada um desses elementos, explique por que sim ou por que não.
- Use a ferramenta Índice para uma Vida Melhor para criar seu próprio índice para o país em que você vive. Qual é a pontuação deste país nos itens que são importantes para você?
- Pontue os países na base de dados usando seu próprio e recém criado índice para uma vida melhor, e compare-o com uma pontuação baseada apenas em renda.
- Para ambos os índices, escolha dois países com pontuações divergentes e faça uma breve sugestão sobre qual seria a causa disso.
13.1 Crescimento e flutuações
As economias nas quais ocorreu a revolução capitalista cresceram no longo prazo, conforme ilustrado no gráfico de colunas para o PIB per capita no Capítulo 1.
- escala logarítmica
- Forma de medir a quantidade com base na função logarítmica, f(x) = log(x). A função logarítmica converte uma razão em uma diferença: log (a/b) = log a – log b. Isso é muito útil para trabalhar com taxas de crescimento. Por exemplo, se a renda nacional duplicar de 50 para 100 em um país pobre e de 1.000 para 2.000 em um país rico, a diferença absoluta no primeiro caso será de 50 e no segundo, de 1.000, mas log(100) – log(50) = 0,693 e log(2,000) – log(1,000) = 0,693. A razão em cada caso é 2 e log(2) = 0,693.
Mas o crescimento não foi constante. A Figura 13.2 mostra o caso da economia britânica, para o qual estão disponíveis dados para um longo período. O primeiro gráfico mostra o PIB por pessoa (per capita) da população em 1875. Esta é parte do gráfico de colunas do Capítulo 1. O gráfico próximo a ele mostra os mesmos dados, mas plota o logaritmo natural (‘log’) do PIB per capita. Esta é uma forma de apresentar a escala de razão que usamos no Capítulo 1.
Veja o Einstein ao final desta seção para explorar a relação entre plotar o log de uma variável e usar uma escala de razão no eixo vertical.
Author query: Please provide translations for ‘View interactive graph on a linear scale’ and ‘View interactive graph on a log scale’
Ao olhar para o gráfico de PIB per capita em nível no painel à esquerda da Figura 13.2, é difícil dizer se a economia estava crescendo a um ritmo constante, acelerado ou desacelerado ao longo do tempo. A transformação dos dados em logaritmos naturais no painel à direita permite responder mais facilmente à questão sobre o ritmo de crescimento. Por exemplo, para o período após a I Guerra Mundial, uma linha reta de 1921 a 2019 se adequa bem aos dados. Para um gráfico no qual o eixo vertical representa o log do PIB per capita, a inclinação da linha (a linha preta tracejada) representa a taxa média anual de crescimento da série. Imediatamente observamos que o crescimento foi constante de 1921 a 2019 (com uma pequena subida durante a II Guerra Mundial). Você pode ver que uma linha esboçada ao longo da série log de 1875 a 1914 é mais plana do que a linha de 1921, indicando que a taxa de crescimento foi menor.
Vamos explorar o crescimento no longo prazo nos Capítulos 16 e 17. Neste Capítulo focamos nas flutuações. Essas são desvios da linha preta pontilhada mostrando a taxa de crescimento no longo prazo na Figura 13.2.
- produto interno bruto (PIB)
- Medida do valor de mercado da produção de bens e serviços finais na economia em um dado período. O produto dos bens intermediários, que são insumos na produção de bens finais, é excluído para evitar dupla contagem.
O painel superior da Figura 13.3 plota a taxa de crescimento anual do PIB do Reino Unido entre 1875 e 2020. Como queremos focar no tamanho da economia e em como ela muda de um ano para outro, analisaremos o PIB total em vez do PIB per capita.
- recessão
- O Bureau Nacional de Pesquisa Econômica (NBER, na sigla em inglês) dos EUA a define como um período em que a produção está em declínio. Ela termina quando a economia começa a crescer novamente. Uma definição alternativa é o período em que o nível de produção está abaixo do seu nível normal, mesmo se a economia estiver crescendo. Ela não acaba até que a produção tenha crescido o suficiente para voltar ao normal. A última definição é problemática porque nível ‘normal’ é algo subjetivo.
Fica claro com os altos e baixos da série na Figura 13.3 que o crescimento econômico não é um processo constante. Normalmente ouvimos sobre economias que passam por um boom ou uma recessão à medida que o crescimento oscila de positivo para negativo, mas não existe uma definição padrão para esses termos. O Bureau Nacional de Pesquisa Econômica (NBER), uma organização americana, a define como: ‘Durante uma recessão, um declínio significativo na atividade econômica que se espalha pela economia e pode durar de poucos meses a mais de um ano.’ Uma definição alternativa diz que uma economia está em recessão durante um período em que o nível de produção está abaixo do seu nível normal. Então, temos duas definições de recessão:
- Definição da NBER: produção em declínio. Uma recessão termina quando a economia começa a crescer novamente.
- Definição alternativa: o nível de produção está abaixo do seu nível normal, mesmo se a economia estiver crescendo. Uma recessão não acaba até que a produção tenha crescido o suficiente para voltar ao normal.
Existe um problema prático com a segunda definição: é uma questão de julgamento, e às vezes, uma controvérsia, sobre qual poderia ser a produção normal de uma economia (voltaremos a essa questão nos próximos capítulos, nos quais veremos que uma ‘produção normal’ é geralmente definida como sendo consistente com uma inflação estável).
- ciclo econômico
- Períodos alternados de taxas de crescimento mais elevadas e mais reduzidas (ou mesmo negativas). A economia vai de um boom a uma recessão e volta ao boom. Veja também: equilíbrio no curto prazo.
O movimento de boom para recessão e de volta ao boom é conhecido como ciclo econômico. Na Figura 13.3 você verá que, além de uma mudança anual no PIB, no qual as recessões medidas por crescimento negativo parecem acontecer cerca de duas vezes a cada 10 anos, ocorrem episódios menos frequentes de flutuações muito maiores na produção. No século 20, os picos de baixa coincidiram com o fim da Primeira e Segunda Guerras Mundiais, e com a crise econômica da Grande Depressão. No século 21, a crise financeira global seguiu um período em que as flutuações foram limitadas.
Na parte inferior da Figura 13.3 você pode ver que a taxa de desemprego varia ao longo do ciclo econômico. Durante a Grande Depressão, o desemprego no Reino Unido foi mais alto do que nunca e estava excepcionalmente baixo durante as guerras mundiais.
Exercício 13.2 Definindo recessões
Uma recessão pode ser definida como um período em que a produção está declinando, ou como um período em que o nível de produção está abaixo do normal (por vezes denominado ‘nível potencial’). Veja este artigo, principalmente as Figuras 5, 6 e 7 para saber mais a esse respeito.
- Considere um país que esteja produzindo muito petróleo e suponha que, de um ano para o outro, seus poços de petróleo se esgotem. O país ficará mais pobre do que anteriormente. De acordo com as duas definições acima, ele está em recessão?
- Saber se um país está em recessão faz alguma diferença para os formuladores de políticas cujo trabalho é gerir a economia?
Questão 13.1 Escolha a(s) resposta(s) correta(s)
O gráfico a seguir é de um logaritmo natural do PIB real per capita do Reino Unido entre 1875 e 2020:
Com base nessa informação, qual(is) das afirmações está(ão) correta(s)?
- O gráfico mostra que o logaritmo natural do PIB per capita no Reino Unido em 1955 era de 8,9, ou seja, In(PIB per capita) = 8,9. Isso significa que o PIB per capita é = e8.9 = £7.332. (Na verdade, era e8.91 = £7.370.)
- Isso é mostrado na Figura 13.2, Seção 13.1.
- Embora o log do PIB real per capita estivesse mais baixo logo após 1921 do que antes de 1918, a inclinação do gráfico log é mais inclinada. Isso significa que a taxa de crescimento era mais alta após 1921 do que antes de 1918.
- O gráfico do PIB real per capita usando uma escala de razão seria igual ao gráfico do logaritmo natural do PIB real per capita em uma escala linear.
Einstein Escalas de razão e logaritmos
No Capítulo 1, fizemos uso frequente de uma escala de razão ou logarítmica no eixo vertical para mostrar os dados no longo prazo. Por exemplo, usamos as escalas de razão com as unidades sendo duplicadas na Figura 1.1b e aumentando dez vezes na Figura 1.2. A escala de razão também é chamada de escala logarítmica (ou log). Podemos escrever da seguinte forma uma escala na qual as marcas de seleção no eixo vertical se duplicam:
\[\begin{align*} 2^0, 2^1, 2^2, … \end{align*}\]Ou a escala em que eles aumentam dez vezes:
\[\begin{align*} 10^0, 10^1, 10^2, … \end{align*}\]A primeira é chamada de escala logarítmica na base 2; a segunda, é na base 10.
Como vimos nos gráficos no Capítulo 1, se os dados formam uma linha reta numa escala de razão (logarítmica), então a taxa de crescimento é constante. Um método diferente de usar esta propriedade de logaritmos é primeiramente converter os dados em logs naturais e depois plotá-los na escala que é linear em logs. Logs naturais usam base e, onde e é um número (aproximadamente 2,718) que tem propriedades matemáticas úteis.
Podemos usar uma calculadora ou um programa de planilha para converter níveis em logs naturais. Como você pode ver, quando aplicados a esses dados, converte-se a linha curva na Figura 13.2 no painel esquerdo em uma linha quase reta no painel à direita.
Usar as funções de tabela no Microsoft Excel pode ajudar a ilustrar a relação entre a plotagem dos dados e uma escala de razão no eixo vertical (Figura 13.4a, que usa a escala de duplicação ou base 2) e transformar os dados em logs naturais e plotá-los numa escala linear (nos logs) no eixo (Figura 13.4b). Observe que as marcas de seleção duplicam de 4.096 para 8.192 para 16.384 na Figura 13.4a e aumentam de 8,5 para 9 para 9,5 na Figura 13.4b.
![]()
Figura 13.4a A escala de razão e uma função exponencial.
![]()
Figura 13.4b A escala linear nos logs naturais e uma função linear.
Em cada tabela, aparece uma linha ao longo da série de dados. Usando o Excel, criamos a Figura 13.4a adicionando Linha de Tendência e depois selecionando ‘Exponencial’. O Excel encontra a linha ou curva que mais se adequa aos pontos dos dados: como essa é uma escala de razão, é mostrada uma linha reta. É dada a equação da linha. Outras planilhas ou softwares de gráficos oferecem funções semelhantes.
Podemos ver que a função exponencial usa o que chamamos de base e, em contraste com a base 2 (duplicação) ou a base 10 (aumento de 10 vezes). O expoente em e nos mostra a taxa de crescimento anual composta da série: 0,0203 × 100 = 2,03% por ano.
Na Figura 13.4b, se usarmos o Excel para selecionar a opção ‘Ajustar a uma função linear’, aparecerá uma linha reta. Desta vez, vemos uma equação para uma linha reta interceptada em 8,8032 com inclinação 0,0203. Agora, a inclinação na linha nos mostra o exponencial, a taxa de crescimento anual composta da série: 0,0203 × 100 = 2,03% ao ano.
Resumindo:
- Quando uma série de dados é plotada, tanto usando uma escala de razão quanto transformando os dados em logs naturais, e o resultado é aproximadamente linear, isso significa que a taxa de crescimento da série é aproximadamente constante. Esta taxa de crescimento constante é chamada de taxa de crescimento exponencial.
- A taxa de crescimento exponencial (conhecida também como taxa de crescimento anual composta ou CAGR, na sigla em inglês) é a inclinação da linha quando é plotado o logaritmo natural da série de dados.
- Observe o desvio contínuo da economia britânica da linha de tendência após a crise financeira de 2008.
13.2 Crescimento da produção e mudanças no desemprego
Vimos na Figura 13.3 que o desemprego diminui nos booms e aumenta nas recessões.
- Lei de Okun
- Regularidade empírica em que o crescimento do PIB é negativamente correlacionado com a taxa de desemprego. Veja também: Coeficiente de Okun.
A Figura 13.5 mostra a relação entre produção e flutuações de desemprego, conhecida como Lei de Okun. Arthur Okun, um conselheiro do Presidente Kennedy, observou que, quando o crescimento da produção de um país estava elevado, o desemprego tendia a reduzir. A lei de Okun tem sido uma relação empírica forte e estável na maioria das economias desde a Segunda Guerra Mundial.2
Figura 13.5 Lei de Okun para economias selecionadas.
OECD. 2021. OECD Statistics; The World Bank. 2021. World Development Indicators.
- Coeficiente de Okun
- Mudança prevista na taxa de desemprego (em pontos percentuais) em decorrência de uma mudança de 1% no PIB. Por exemplo, um coeficiente de Okun de −0,4 significa que uma queda na produção de 1% deve estar associada a um aumento na taxa de desemprego de 0,4 pontos percentuais. Veja também: Lei de Okun.
A Figura 13.5 plota a mudança na taxa de desemprego (eixo vertical) e a taxa de crescimento da produção (eixo horizontal) para seis países: o baixo crescimento da produção é claramente associado a um maior aumento no desemprego. Na tabela de cada país há uma linha descendente que melhor se ajusta aos pontos. Nos EUA, por exemplo, a inclinação da linha implica que, em média, uma queda de 1% na produção aumenta a taxa de desemprego em cerca de 0,37 pontos percentuais. Dizemos que o Coeficiente de Okun é −0,37 nos EUA.
O ponto de 2009 em cada gráfico na Figura 13.5 mostra as mudanças no PIB real e no desemprego que ocorreram entre 2008 e 2009, durante a recessão decorrente da crise financeira global. Podemos ver que, em 2009, todas as quatro economias avançadas passaram por suas piores contrações de produção em 50 anos. Como previsto pela lei de Okun, o desemprego aumentou na Espanha, no Japão e nos EUA.
Em cada um desses três países, entretanto, o aumento no desemprego foi maior do que a lei de Okun previa: o ponto vermelho está bem acima da linha preta de melhor ajuste. A Alemanha é bastante diferente: a lei de Okun previu um aumento no desemprego de 1,50 pontos percentuais na Alemanha, mas, como mostra o ponto vermelho, o desemprego por lá mudou pouco em 2009. Um formulador de política iria querer saber como a Alemanha conseguiu proteger os empregos diante do maior declínio na produção econômica em 50 anos. Neste capítulo, veremos por que isso ocorreu. Nosso Einstein ao final desta seção mostra como prever o aumento no desemprego associado com a mudança no PIB usando a relação de Okun.
Brasil e Malásia também passaram por contrações na produção e aumento no desemprego em 2009. Entretanto, tal como a maioria das economias em desenvolvimento, elas foram menos impactadas pela crise do que as economias desenvolvidas. Da mesma forma, a Malásia passou por contrações muito piores durante a crise asiática em 1998, quando o crescimento foi –7,4% — ruim o suficiente para não entrar no nosso gráfico.
Podemos resumir a relação entre produção, desemprego e bem-estar da seguinte forma:
Exercício 13.3 Lei de Okun
- Veja as linhas de regressão (as linhas de ajuste) na Figura 13.5. Que previsões a linha de regressão mostra para o desemprego quando a economia não está crescendo? Os resultados para todos os países são os mesmos?
- Suponha que a população na economia esteja crescendo. Você pode usar essa suposição para dar uma explicação para seus resultados na pergunta 1? O que mais pode explicar as diferenças entre os países?
Questão 13.2 Escolha a(s) resposta(s) correta(s)
O gráfico a seguir mostra a relação entre o crescimento real do PIB e a mudança no desemprego para os EUA entre 1961 e 2019.
A equação mostrada é o resultado da regressão da linha com melhor ajuste. Com base nessa informação, qual(is) das afirmações está(ão) correta(s)?
- O gráfico mostra um aumento da taxa de desemprego quando há crescimento real do PIB igual a zero. Na verdade, a interseção da linha com melhor ajuste com o eixo vertical é dada em 1,0827%.
- Coeficiente de Okun é -0,3671, ou seja, um aumento de 1% na produção reduz a taxa de desemprego em 0,37 pontos percentuais em média.
- Este é o resultado de regressão de melhor ajuste linear — em média, a taxa de desemprego caiu 0,37 pontos percentuais para cada 1% de aumento no PIB real. Isso não significa que com certeza vá ocorrer o mesmo no próximo ano.
- Isso pode ser inferido pela linha ou pela equação da linha. A mudança prevista na taxa de desemprego = 1,0827 + (-0,3671) × (-2,8) = 2,11 pontos percentuais.
Einstein Lei de Okun
A relação da lei de Okun é definida como:
\[\begin{align*} \Delta u_t = \alpha + \beta(\text{crescimento do PIB}_t) \end{align*}\]Δut é a mudança na taxa de desemprego no tempo t, (crescimento do PIBt) é o crescimento real do PIB no tempo t, α é o valor do intercepto e β é o coeficiente que indica o efeito previsto de crescimento real do PIB sobre as mudanças na taxa de desemprego. A lei de Okun é uma relação linear empírica que associa a mudança percentual no PIB do ano anterior com a mudança na taxa de desemprego do ano anterior em pontos percentuais. O coeficiente β, denominado coeficiente de Okun, é normalmente negativo, sugerindo que um crescimento real positivo do PIB será associado a uma queda na taxa de desemprego.
A relação estimada da lei de Okun para a Alemanha, para o período 1971–2019, tem um coeficiente β = –0,19 e α = 0,42.
Quando estimamos a linha de ajuste também medimos o R ao quadrado (R2), uma estatística que fica entre 0 e 1. Ela mede como os dados observados se ajustam à linha que esboçamos ao longo desses dados, com 1 sendo um ajuste perfeito e 0 representando nenhuma relação observável entre as observações e a previsão. No nosso caso, a estatística R2 mede quão bem a lei de Okun aproxima os dados de crescimento real do PIB e de mudanças no desemprego. A estatística R2 é 0,20 para a Alemanha para o período 1971–2019, muito mais baixa do que a equação estimada da lei de Okun para os EUA, que é de 0,60.
Para trabalhar a mudança percentual prevista no desemprego para a Alemanha em 2009 usando a equação da lei de Okun, simplesmente substituímos o valor do crescimento real do PIB para a Alemanha em 2009 e resolvemos a equação conforme abaixo:
\[\begin{align*} \Delta u_{2009} = 0.42 + (-0.19)\times(-5.7) = 1.50 \end{align*}\]A lei de Okun prevê que uma queda de 5,7% no PIB em 2009 na Alemanha deveria estar associada com um aumento de 1,50 pontos percentuais no desemprego.
13.3 Medindo a economia agregada
Os economistas usam o que chamamos de estatísticas agregadas para descrever a economia como um todo (conhecida como economia agregada, que significa a soma de suas partes).
- produção agregada
- Produção total em uma economia, de todos os setores e regiões.
Na Figura 13.5, a produção agregada (PIB) é produção de todos os produtores em um país, e não apenas de alguma região, firma ou setor. Lembre-se como Diane Coyle, uma economista especializada em como medir o PIB, descreveu isso no Capítulo 1:
Tudo, de pregos a escovas de dentes, tratores, sapatos, cortes de cabelo, consultorias, limpeza das ruas, aulas de ioga, pratos, ataduras, livros e os milhões de outros serviços e produtos na economia.
- contas nacionais
- Sistema usado para medir a produção e a demanda agregadas em um país.
- valor adicionado
- No processo produtivo, este é o valor da produção menos o valor de todos os insumos (chamados de bens intermediários). Os bens de capital e a força de trabalho usados na produção não são bens intermediários. O valor adicionado é igual aos lucros antes dos impostos mais os salários.
As contas nacionais são estatísticas publicadas pelos institutos nacionais de estatística que usam informações sobre comportamentos individuais para construir uma imagem quantitativa da economia como um todo. Existem três maneiras diferentes de estimar o PIB:
- Demanda: total gasto pelas famílias, firmas e governo e residentes de outros países em produtos na economia doméstica.
- Produção: total produzido por indústrias que operam na economia doméstica. A produção é medida pelo valor adicionado de cada indústria: isso significa que o custo dos bens e serviços usados como insumos para produzir é subtraído do valor da produção. Esses insumos serão computados no valor adicionado de outras indústrias, o que evita uma contagem duplicada ao mensurar a produção na economia como um todo.
- Renda: soma de todas as rendas recebidas, que inclui salários, lucros, rendas de autônomos e impostos recebidos pelo governo.
Na França do século 18, um grupo de economistas, chamados fisiocratas, estudou a economia e comparou a forma como ela funciona ao fluxo circular do sangue no corpo humano. Isso foi um precursor de como pensamos hoje em dia sobre o fluxo circular na economia que permite calcular o PIB. A moeda flui de quem gasta para quem produz, de quem produz para seus empregados ou acionistas e depois é gasta novamente em outra produção, continuando o ciclo.
A relação entre demanda, produção e renda na economia como um todo pode ser representada como um fluxo circular: a mensuração das contas públicas do PIB pode ser vista como o estágio de demanda, de produção ou de renda. Se fosse possível fazer uma medição precisa, a demanda, a produção e as rendas totais em um ano seriam as mesmas, não importando, assim, em que ponto a medição é feita.
Famílias e firmas recebem renda e a gastam. A Figura 13.6 mostra o fluxo circular entre as famílias e as firmas (ignorando o papel do governo e as compras do exterior e vendas para o exterior).
Figura 13.6 O modelo de fluxo circular: três maneiras de medir o PIB.
No modelo da economia na Figura 1.12, vimos os fluxos físicos entre as famílias, as firmas e a biosfera em vez de um fluxo circular de renda. No Capítulo 20 veremos como pode ser medida a interação de famílias e firmas com a biosfera.
O PIB pode ser definido de acordo com qualquer dessas três óticas.
Os três métodos para medir o PIB são mais bem entendidos usando uma economia muito simples que inclui apenas três setores. A economia produz um único bem, camisas de algodão, que são vendidas para consumidores a $100. O setor de camisas compra tecido por $80, que por sua vez, compra algodão da indústria de algodão cru por $50. O produto final ou PIB desta economia é igual a $100 porque esse é o valor de venda ao consumidor final.
O PIB também pode ser medido pelo valor agregado por setor produtivo: o valor agregado do setor de algodão cru é igual ao valor da sua produção, que é $50, porque ele não compra insumos; o valor agregado do setor de tecidos é 80−50 = $30, e o valor agregado do setor de camisas é 100−80 = $20. O valor agregado total na economia é $100, exatamente igual ao valor final da produção e igual à demanda final total.
As rendas são recebidas como salários e lucros. Para todos os setores na economia, os salários mais os lucros se igualam ao valor final da produção (que é igual ao valor adicionado total).
- importações (M)
- Bens e serviços produzidos em outros países e comprados por famílias, firmas e governos domésticos.
- exportações (X)
- Bens e serviços produzidos em um país específico e vendidos para famílias, firmas e governos de outros países.
Portanto, o PIB pode ser definido de acordo com qualquer uma dessas três perspectivas. Entretanto, temos que ser cautelosos na definição porque, embora sempre seja o caso de o gasto de uma pessoa ser a renda de outra, a globalização significa que, em geral, as duas pessoas estão em países diferentes. Esse é o caso com importações e exportações: alguém na China pode comprar arroz de alguém no Japão, o que implica que o gasto é chinês enquanto a renda é japonesa.
Como reagimos a essas transações? Uma vez que o PIB é definido como produto doméstico, ele conta como PIB japonês porque o arroz foi produzido (e vendido) pelo Japão. Então, as exportações estão incluídas no PIB porque são parte da produção doméstica, mas as importações não estão porque são produzidas em outro lugar. Por essa razão, o PIB é definido de forma a incluir as exportações e excluir as importações:
- como valor adicionado da produção doméstica ou como demanda da produção doméstica
- como renda devido à produção doméstica
O modelo de fluxo circular na Figura 13.6 considerou apenas famílias e firmas, mas o governo e os serviços públicos que ele fornece podem ser incorporados de forma semelhante. As famílias recebem alguns bens e serviços que são fornecidos pelos governos, para os quais elas não pagam no momento do consumo. Um bom exemplo é a educação primária.
O consumo e a produção desses serviços podem ser visualizados usando o modelo de fluxo circular:
- Famílias para governos: famílias pagam impostos.
- Governos para famílias: esses impostos pagam os serviços públicos usados pelas famílias.
Dessa forma, o governo pode ser visto como outro produtor, como uma firma — com a diferença que os impostos pagos por uma família específica pagam por serviços públicos em geral, e não necessariamente correspondem aos serviços recebidos por essa família. No Capítulo 19 veremos como o pagamento de impostos e o recebimento de serviços ou benefícios públicos variam entre as famílias. Como os serviços públicos não são vendidos no mercado, também temos que fazer outra suposição: de que o valor adicionado da produção do governo é igual ao custo do governo produzi-los.
Então, podemos dizer que, se, por exemplo, os cidadãos pagam em média $15.000 por ano em impostos (gasto), isso representa uma receita de $15.000 para o governo (renda), que a usa para produzir $15.000 em bens e serviços públicos (valor adicionado).
O fato da demanda, da produção e da renda serem todos iguais significa que podemos usar qualquer uma dessas perspectivas para nos ajudar a entender as outras. Descrevemos as recessões como períodos de crescimento negativo da produção. Mas isso significa que eles também precisam ser períodos de crescimento negativo da demanda (a produção diminuirá apenas se as pessoas estiverem comprando menos). Em geral, podemos até dizer que a produção diminui porque as pessoas estão comprando menos. Isso é muito útil porque sabemos muito a respeito do que determina a demanda, o que, por sua vez, nos ajuda a entender as recessões, como veremos no Capítulo 14.
13.4 Medindo a economia agregada: os componentes do PIB
A Figura 13.7 mostra os diferentes componentes do PIB pelo lado da demanda, conforme mensurado nas contas nacionais para economias de três continentes diferentes: EUA, Zona do Euro e China.
EUA | Zona do Euro (19 países) | China | |
---|---|---|---|
Consumo (C) | 68.4% | 55.9% | 37.3% |
Gastos governamentais (G) | 15.1% | 21.1% | 14.1% |
Investimento (I) | 19.1% | 19.5% | 47.3% |
Variação nos estoques | 0.4% | 0.0% | 2.0% |
Exportações (X) | 13.6% | 43.9% | 26.2% |
Importações (M) | 16.6% | 40.5% | 23.8% |
Figura 13.7 Composição do PIB em 2013 para EUA, Zona do Euro e China.
OECD. 2015. OECD Statistics; The World Bank. 2015. World Development Indicators. A OCDE relata uma discrepância estatística para a China igual a -3,1% do PIB.
Consumo (C)
- consumo (C)
- Gastos em bens de consumo, que incluem tanto bens e serviços de curta duração quanto bens de longa duração, os chamados bens de consumo duráveis.
O consumo inclui os bens e serviços comprados pelas famílias. Os bens são normalmente coisas tangíveis. Bens como carros, utensílios domésticos e móveis que duram três anos ou mais são denominados bens duráveis; aqueles que duram períodos menores são bens não duráveis. Serviços são coisas que as famílias compram e normalmente são intangíveis, tais como transporte, moradia (pagamento de aluguel), mensalidade na academia e tratamento médico. Os gastos das famílias em bens duráveis como carros e utensílios domésticos são contabilizados como consumo nas contas públicas, embora, como veremos, em termos econômicos a decisão de comprar esses itens de longa duração seja mais uma decisão de investimento.
A partir da tabela na Figura 13.7 veremos que, nos países avançados, o consumo é, de longe, o maior componente do PIB, perto de 56% na Zona do Euro e 68% nos EUA. Isso contrasta com a China, onde o consumo final das famílias responde por 37% do PIB.
Investimento (I)
- investimento (I)
- Gastos em bens de capital recém produzidos (máquinas e equipamentos) e edificações, incluindo novas residências.
- estoque
- Bens de uma firma antes da sua venda ou uso, incluindo matérias-primas e bens parcialmente acabados ou acabados destinados a venda.
Este é o gasto das firmas em novos equipamentos e novas construções comerciais e o gasto em estruturas residenciais (a construção de novas moradias).
O investimento em produção não vendida que as firmas produzem é outra parte do investimento registrado como um item separado nas contas nacionais. Ele é chamado de mudança nos estoques ou inventário. Incluir mudanças em inventário é essencial para garantir que, quando medimos o PIB pelo método da produção (o que é produzido), ele será igual ao PIB medido pelo método da demanda (o que é gasto, incluindo o investimento das firmas em estoques não vendidos).
O investimento representa uma parcela muito menor do PIB nos países da OCDE, aproximadamente um quinto do PIB nos EUA e na Zona do Euro. Por outro lado, o investimento responde por quase metade do PIB da China.
Gastos governamentais em bens e serviços (G)
- gastos governamentais (G)
- Gastos do governo para comprar bens e serviços. Quando usado como componente de demanda agregada, ele não inclui os gastos em transferências tais como pensões e auxílio desemprego. Veja também: transferências do governo.
- transferências do governo
- Gastos dos governos na forma de pagamento a famílias ou pessoas. Auxílio desemprego e pensões são alguns exemplos. As transferências não incluem gastos governamentais (G) nas contas nacionais. Veja também: gastos governamentais (G).
- balança comercial
- Valor das exportações menos o valor das importações. Também conhecido como: exportações líquidas. Veja também: déficit comercial, superávit comercial.
- déficit comercial
- Balança comercial negativa de um país (ele importa mais do que exporta). Veja também: superávit comercial, balança comercial.
- superávit comercial
- Balança comercial positiva de um país (ele exporta mais do que importa). Veja também: déficit comercial, balança comercial.
- demanda agregada
- Componentes de gasto na economia, somados para obter-se o PIB: Y = C + I + G + X – M. Quantidade total de demanda por (ou gasto com) bens e serviços produzidos em uma economia. Veja também: consumo, investimento, gastos governamentais, exportações, importações.
Representa os gastos com consumo e investimento do governo (que consiste nos governos central e locais, em geral chamado de ‘governo geral’). As compras de consumo do governo são os bens (tais como equipamentos de escritório, softwares e carros) e serviços (tais como salários de servidores civis, serviços de segurança, polícia, professores e cientistas). Os gastos de investimento do governo são ligados a construção de estradas, escolas e equipamentos de defesa. Muitos dos gastos governamentais em bens e serviços são destinados a saúde e educação.
As transferências do governo na forma de benefícios e aposentadorias, tais como Medicare nos EUA ou benefícios de seguridade social na Europa, não estão incluídos no G porque as famílias os recebem como renda: quando são gastos, são registrados em C ou I. Seria uma dupla contagem registrá-los também como gastos em G.
A parcela dos gastos do governo em bens e serviços é levemente maior na Europa (21,1%) do que nos EUA (15,1%). Lembre-se, isso exclui transferências (tais como benefícios e aposentadorias). A maior diferença no papel dos governos entre a Europa e os EUA está nas transferências. Em 2012, os gastos totais do governo incluindo transferências era de 57% do PIB na França, comparado com 40% no PIB dos EUA.
Exportações (X)
Bens e serviços produzidos em um país específico que são comprados por famílias, firmas e governos em outros países.
Importações (M)
Bens e serviços comprados por famílias, firmas e governos na economia doméstica que são produzidos em outros países.
Exportações líquidas (X − M)
Também denominada balança comercial, é a diferença entre os valores de exportações e importações (X – M).
Em 2010, os EUA tinham um déficit comercial de 3,4% do PIB e a China tinha um superávit comercial de 3,6% do PIB. A balança comercial está deficitária se o valor das exportações menos o valor das importações é negativo; é chamada de superávit comercial se for positiva.
PIB (Y)
Para calcular o PIB, que é a demanda agregada para o que é produzido em um país, adicionamos as compras por pessoas de outros países (exportações) e subtraímos as compras por residentes de bens e serviços produzidos no exterior (importações). Tomando a China como exemplo, seu PIB é a demanda agregada da produção chinesa, o que inclui as exportações menos as importações.
Trabalhar com dados das contas nacionais é uma forma de aprender sobre a economia, e uma maneira fácil de fazer isso é usando os dados do Federal Reserve Economic Data (FRED). Para aprender mais sobre o país onde você mora e como ele se compara a outros países, tente fazer o Exercício 13.4 sozinho.
Na maioria dos países, os gastos com consumo privado são a maior parte do PIB (observe a Figura 13.7 para checar isso). Os gastos com investimento respondem por uma parcela muito menor (o maior nível de investimento da China, mostrado na Figura 13.7, é excepcional). Usamos os dados das contas nacionais para calcular quanto cada componente de gasto contribui para as flutuações do PIB.
A equação abaixo mostra como o crescimento do PIB pode ser decomposto em contribuições feitas pelos componentes da demanda. Podemos ver que a contribuição de cada componente para o crescimento do PIB depende tanto de sua parcela no PIB quanto de seu crescimento em relação ao período anterior.
\[\begin{equation} \text{mudança percentual no PIB =} \begin{split} & \text{(mudança percentual no consumo} \ \times\\ & \text{parcela de consumo no PIB)} \\ & \qquad\qquad\qquad\qquad + \\ & \text{(percentual de mudança no investimento} \ \times\\ & \text{parcela de investimento no PIB)} \\ & \qquad\qquad\qquad\qquad + \\ & \text{(percentual de mudança nos gastos governamentais} \ \times\\ & \text{parcela de gastos governamentais no PIB)} \\ & \qquad\qquad\qquad\qquad + \\ & \text{(percentual de mudança nas exportações líquidas} \ \times\\ & \text{parcela de exportações líquidas no PIB)} \\ \end{split} \end{equation}\]A tabela na Figura 13.8 mostra a contribuição dos componentes de gastos para o crescimento do PIB americano. Os dados são de 2009, no meio da recessão provocada pela crise financeira global. Podemos ver que:
- Embora o investimento some menos de um quinto do PIB dos EUA, ele foi muito mais importante para explicar a contração na economia do que a queda nos gastos com consumo.
- Embora o consumo explique cerca de 70% do PIB dos EUA, o efeito do investimento do PIB foi mais de três vezes maior.
- Se comparado ao consumo e ao investimento, os gastos governamentais contribuíram positivamente para o crescimento no PIB. O governo dos EUA usou um estímulo fiscal para apoiar a economia enquanto a demanda do setor privado estava reprimida.
- As exportações líquidas também contribuíram positivamente para o PIB, o que reflete tanto um desempenho mais forte de economias emergentes como consequência da crise quanto o colapso na demanda de importação que decorreu da recessão.
PIB | Consumo | Investimento | Gastos governamentais | Exportações líquidas | |
---|---|---|---|---|---|
2009 | −2.8 | −1.06 | −3.52 | 0.64 | 1.14 |
Figura 13.8 Contribuições para a mudança percentual no PIB real nos EUA em 2009.
Federal Reserve Bank of St. Louis. 2015. FRED. Observe que, nas contas nacionais, o investimento do governo é contabilizado como gastos governamentais não como investimento.
Carências do PIB como medida
Precisamos ter três coisas em mente quando usamos o conceito de PIB:
- Ele é uma medida convencional do tamanho de uma economia: no Capítulo 1 vimos o que está incluído no PIB. No Capítulo 20 será introduzido o conceito de contabilidade ambiental, que mostra como calcular o tamanho da economia e seu crescimento levando em consideração a degradação ambiental.
- Distinguir PIB agregado de PIB per capita: isso é especialmente importante ao discutir crescimento. Nesta seção, o foco tem sido no PIB e nas contribuições dos diferentes componentes da demanda para o seu crescimento. Em outros contextos, o conceito relevante é uma medida per capita. Para ver a diferença, observe que o PIB no Reino Unido cresceu 7% entre 2007 e 2015, mas o PIB per capita cresceu apenas 0,8%. A explicação é que houve um grande aumento na imigração.
- O PIB per capita é uma medida imperfeita dos padrões de vida: lembre-se do Capítulo 1 em que o discurso de Robert Kennedy na Universidade do Kansas em 1968 enfatizou essas imperfeições (busque por ‘Produto Nacional Bruto’ no texto).
Exercício 13.4 Como usar o FRED
Se você quiser dados macroeconômicos em tempo real sobre a taxa de desemprego na Alemanha ou o crescimento da produção na China, não precisa aprender alemão ou chinês, ou lutar para lidar com os arquivos nacionais, porque o FRED faz isso para você! O FRED é uma fonte atualizada e abrangente mantida pelo Federal Reserve Bank de St. Louis nos EUA, que é parte do sistema bancário central americano. Ele contém as principais estatísticas macroeconômicas para quase todos os países desenvolvidos desde os anos 1960. O FRED também permite que você crie seus próprios gráficos e exporte dados para uma planilha.
Para saber como usar o FRED para achar dados macroeconômicos, siga esses passos:
- Visite o website do FRED.
- Use a barra de busca e digite ‘Real Gross Domestic Product’ (GDP) e o nome de uma grande economia global. Selecione a série anual para o PIB real (preços constantes) para esse país. Ele será obviamente denominado ‘Real Gross Domestic Product’ para o país escolhido por você.
- Clique no ícone ‘Edit graph’ acima no canto direito do gráfico.
- Clique no ícone ‘Add line’. Procure as séries anuais para o PIB nominal (preços atuais). Ele é denominado simplesmente ‘Gross Domestic Product’ para o país escolhido por você. Adicione esta série ao seu gráfico.
- Você pode usar o ícone ‘Edit graph’ para modificar a frequência dos seus dados, se não for anual.
Você também pode assistir esse breve tutorial para entender como o FRED funciona.
Use o gráfico que criou para responder a essas perguntas:
- Qual é o nível de PIB nominal este ano no país que você escolheu?
- O FRED diz que o PIB está ligado a um ano específico (isso significa que é avaliado em termos de preços constantes para aquele ano). Observe que as séries do PIB real e do PIB nominal se cruzam em certo ponto. Por que isso acontece?
Do gráfico do FRED, mantenha apenas a série do PIB real. Você pode excluir uma série de dados usando a ferramenta de edição do gráfico. O FRED mostra as recessões nas áreas sombreadas para a economia americana usando a definição do NBER, mas não mostra para outras economias. Para outras economias, assuma que a recessão é definida por dois trimestres consecutivos de crescimento negativo. Na ferramenta de edição do gráfico, mude as unidades da sua série, e selecione ‘Percentage change from Year Ago’. Agora a série mostra a mudança percentual em PIB real.
- Quantas recessões sofreu a economia que você escolheu ao longo dos anos plotados no gráfico?
- Quais são as duas maiores recessões em termos de extensão e magnitude?
Agora, adicione ao gráfico a taxa de desemprego trimestral para a economia escolhida (clique em ‘Add data series’ na parte de baixo do gráfico e procure ‘Unemployment’ e o nome do país escolhido).
- Como a taxa de desemprego reagiu durante as duas principais recessões que você identificou?
- Qual foi o nível da taxa de desemprego no primeiro e último trimestres de crescimento negativo para essas duas recessões?
- O que você conclui sobre a ligação entre recessão e variação no desemprego?
Observação: para ter certeza de que entendeu como esses gráficos FRED são criados, você pode extrair dados os para uma planilha e criar um gráfico que mostre a taxa de crescimento do PIB real e a evolução da taxa de desemprego desde 1948 para a economia americana.
Questão 13.3 Escolha a(s) resposta(s) correta(s)
Qual(is) das seguintes afirmações a respeito da mensuração do PIB está(ão) correta(s)?
- Essas três medidas diferentes do PIB são discutidas na Seção 13.4.
- A demanda externa por produção doméstica (exportações) é uma contribuição positiva para o PIB enquanto a demanda interna por produção externa (importações) deve ser subtraída para calcular o PIB. Portanto, é necessário ter informações sobre as duas.
- Serviços governamentais e públicos, como educação básica, estão incluídos.
- Serviços públicos, tais como educação básica, não são vendidos no mercado. Assim, assumimos que o valor agregado é igual à quantia que custa para o governo produzi-la.
Questão 13.4 Escolha a(s) resposta(s) correta(s)
Qual(is) das seguintes afirmações aumenta(m) o PIB?
- As importações representam gastos com bens e serviços estrangeiros, então a redução em importações implica que uma parcela maior de C, I e G, que é considerada constante, está sendo gasta na produção doméstica. Lembre-se que o PIB mede a demanda da produção doméstica.
- Isso aumentará a renda doméstica porque os residentes internos estão mais ricos, mas não implica um aumento na produção doméstica.
- Um aumento nos gastos do governo implica maiores gastos em produção doméstica.
- Uma redução nas exportações implica redução dos gastos por estrangeiros na produção doméstica e reduz o PIB.
13.5 Como as famílias lidam com as flutuações
As economias flutuam entre tempos bons e ruins. Até agora estudamos as economias industrializadas, mas isso também é verdadeiro nas economias baseadas na agricultura. A Figura 13.9a ilustra as flutuações na produção nas economias britânicas altamente agrárias entre 1550 e 1700. Da mesma forma como dividimos o PIB em diferentes componentes do lado da demanda, também podemos dividi-lo em diferentes setores do lado da produção. A Figura 13.9a mostra a taxa de crescimento do PIB real e dos três setores principais: agricultura, indústria e serviços. Siga a análise na Figura 13.9a para ver como os setores agrícolas impulsionaram as flutuações no PIB.
A Figura 13.9b mostra a taxa de crescimento do PIB real e da agricultura na Índia desde 1960. Em 1961, a agricultura representava 43% da economia, caindo para 18% em 2020. Devido, entre outros, a métodos agrícolas modernos, a agricultura na Índia moderna não é tão volátil como era na Grã-Bretanha antes de 1700. Mas ela ainda é duas vezes mais volátil do que o PIB como um todo.
Figura 13.9b O papel da agricultura nas flutuações da economia agregada na Índia (1961–2020).
The World Bank. 2021. World Development Indicators.
- choque
- Mudança exógena em alguns dados fundamentais usados em um modelo.
Para ajudar a pensar sobre os custos e as causas das flutuações econômicas, começamos com uma economia agrária. Em uma economia baseada em produção agrícola, as condições climáticas — junto com guerra e doenças — são a causa principal de anos bons e ruins. O termo choque é usado na economia para se referir a eventos inesperados, por exemplo, condições climáticas extremas ou uma guerra. Como sabemos, as pessoas pensam sobre o futuro e normalmente esperam que eventos imprevisíveis ocorram. Elas também agem baseadas nessas crenças. Em uma economia moderna, esta é a base do setor de seguros. Em uma economia agrária, as famílias também preveem que podem ocorrem tanto uma maré de azar quanto boas colheitas.
Como as famílias lidam com as flutuações que podem cortar suas rendas pela metade de uma época do ano para outra?
Podemos distinguir entre duas situações:
- Sorte ou azar atinge a família: por exemplo, quando doenças afetam os animais de uma família ou quando um membro da família que desempenha um papel importante na fazenda se machuca.
- Sorte ou azar atinge a economia como um todo: por exemplo, quando uma seca, doença, enchente, guerra ou terremoto afeta toda uma área.
Choques familiares
- autosseguro
- Economias de uma família para poder manter seu consumo quando houver uma queda temporária na renda ou para custear um gasto maior.
- cosseguro
- Meio de centralizar poupanças das famílias a fim de que uma família possa manter seu consumo quando passar por uma queda temporária na renda ou tiver necessidade de fazer uma despesa maior.
As pessoas usam duas estratégias para lidar com choques específicos a suas famílias:3
- Autosseguro: As famílias que obtêm uma renda excepcionalmente alta em algum período pouparão, de forma a poderem gastar essa economia quando estiverem sem sorte. Como vimos no Capítulo 10, elas também podem tomar empréstimos nos tempos ruins se conseguirem, dependendo de sua restrição de crédito. A isso chamamos autosseguro porque outras famílias não estão envolvidas.
- Cosseguro: As famílias que tiveram sorte durante um período específico podem ajudar uma família com má sorte. Às vezes isso é feito entre membros de famílias ampliadas ou entre amigos e vizinhos. Desde meados do século 20, principalmente em países ricos, o cosseguro assumiu a forma de cidadãos que pagam impostos, os quais são usados para apoiar as pessoas que estão temporariamente sem emprego, o chamado auxílio desemprego.
- altruísmo
- Disposição de arcar com um custo para beneficiar outras pessoas.
O cosseguro informal entre familiares e amigos baseia-se tanto na reciprocidade quanto na confiança: você está disposto a ajudar aqueles que o ajudaram no passado e acredita que as pessoas que ajuda farão o mesmo por você. O altruísmo com relação aos necessitados normalmente também está relacionado ao cosseguro, embora este possa funcionar sem ele.4
Essas estratégias refletem dois aspectos importantes de preferências de famílias.
- As pessoas preferem um padrão estável de consumo: como vimos no Capítulo 10, elas não gostam de flutuações no consumo em função de choques bons ou ruins, tais como uma lesão ou boas colheitas. Assim, elas farão autosseguro.
- As famílias não são exclusivamente egoístas: elas estão dispostas a oferecer apoio umas às outras para ajudar a amenizar os efeitos da sorte ou do azar. Em geral elas confiam que outras pessoas farão o mesmo por elas, mesmo que não tenham uma maneira de forçá-las. Preferências altruísticas e recíprocas permanecem importantes mesmo quando o cosseguro toma a forma de um auxílio desemprego baseado em impostos, porque esses estão entre os motivos para apoiar tais políticas públicas.
Choques em toda a economia
Cosseguro é menos eficaz se um choque ruim atingir todos ao mesmo tempo. Quando ocorre uma seca, enchente ou terremoto, é mais difícil para uma economia agrária proteger o bem-estar das pessoas afetadas. Por exemplo, normalmente não é possível estocar produtos de uma colheita abundante por tempo suficiente para passar pela próxima colheita ruim, o que pode levar vários anos para ocorrer.
Mas, quando esses choques nos atingem, o cosseguro pode ser ainda mais necessário, uma vez que a sobrevivência da comunidade exige que as famílias atingidas com menor intensidade ajudem as mais atingidas. Nas economias agrárias do passado que se baseavam em clima volátil, as pessoas praticavam o cosseguro com base na confiança, reciprocidade e altruísmo. Essas são normas, como a de justeza que discutimos no Capítulo 4, e provavelmente surgiram e persistiram porque ajudam as pessoas a sobreviver nessas regiões que normalmente foram atingidas por choques climáticos ruins. Pesquisas recentes sugerem que elas parecem ter persistido mesmo após o clima ter se tornado muito menos importante para as atividades econômicas.
A evidência para isso é que as pessoas nas regiões com alta variabilidade de chuva e temperatura de um ano para o outro nos últimos 500 anos agora demonstram altos níveis de confiança e, atualmente, existem instituições de cosseguro mais modernas, tais como pagamento de auxílio desemprego e ajuda governamental para deficientes e pobres.5
Exercício 13.5 Seguro saúde
- Pense sobre o sistema de seguros de saúde no seu país. Ele é um exemplo de cosseguro ou de autosseguro?
- Você consegue pensar em outros exemplos tanto de cosseguro quanto de autosseguro? Em casa caso, considere os tipos de choques que estão sendo segurados e como o seguro é financiado.
Questão 13.5 Escolha a(s) resposta(s) correta(s)
A Figura 13.9a plota a taxa de crescimento do PIB real, bem como as taxas de crescimento dos setores agrícola, industrial e de serviços na Grã-Bretanha entre 1550 e 1700.
Qual(is) das seguintes afirmações podem ser deduzidas do gráfico?
- Isso não pode ser deduzido do gráfico, que só permite comparar o nível das flutuações.
- Os picos são mais altos e os vales mais profundos no setor industrial.
- Os picos e vales no PIB seguem muito de perto os da agricultura.
- Na verdade, o setor agrícola cresceu enquanto o setor industrial encolheu. O setor de serviços ficou mais ou menos inalterado. O tamanho maior do setor agrícola levou a uma contração geral na economia.
13.6 Por que o consumo é suave?
Uma fonte básica de estabilização em qualquer economia vem do desejo das famílias de manter constante o seu nível de consumo de bens e serviços. Manter um nível constante de consumo significa que as famílias precisam planejar. Elas pensam sobre o que pode acontecer a suas rendas no futuro, e economizam e tomam empréstimos para estabilizar as oscilações na renda. Este é o autosseguro que discutimos acima.
Vimos que este comportamento ocorre em sociedades agrárias atingidas por choques climáticos ou guerra, mas que as famílias modernas também tentam suavizar seu consumo. Uma forma de visualizar este comportamento é focar em eventos previsíveis. Uma pessoa jovem que pensa sobre sua vida pode imaginar conseguir um emprego, desfrutar um período de vida laboral com renda mais alta do que o salário inicial, seguida por anos de aposentadoria quando a renda é mais baixa do que durante a vida laboral.
Como vimos no Capítulo 10, as pessoas preferem equalizar seu consumo porque os retornos marginais do consumo são reduzidos a qualquer momento específico. Então, ter muito consumo no futuro e pouco agora, por exemplo, é pior do que ter uma quantidade intermediária de consumo em dois períodos (Figura 10.3a).
A pessoa que espera uma promoção futura e planeja seus gastos estaria em uma posição parecida com a de Júlia no Capítulo 10 (Figura 10.2), que tinha recursos limitados no presente, mas sabia que teria mais no futuro e, dessa forma, se interessou em trazer parte do seu poder de compra futuro para o presente tomando empréstimo. O modelo de tomada de decisão para a pessoa que introduzimos nos Capítulos 3 e 10 é a base para pensar sobre o consumo ao longo da vida de uma pessoa. Ele prevê que, embora a renda flutue ao longo da nossa vida, nosso desejo é suavizar o consumo.
Podemos usar a Figura 13.10 para visualizar a tendência de uma pessoa de suavizar suas despesas. Neste simples exemplo, antes de começar a trabalhar, a renda da pessoa e suas despesas são as mesmas — assumimos, por exemplo, que os pais sustentem seus filhos até que eles comecem a trabalhar. Acompanhe a análise na Figura 13.10 para ver sua renda e consumo ao longo do tempo.
Uma característica notável da Figura 13.10 é que o consumo muda antes que a renda mude.
Como uma família de uma economia agrária que começa a economizar para o dote de uma filha antes que ela tenha idade para casar, a pessoa mostrada na Figura 13.10 prevê o recebimento de uma renda maior após ser promovida e ajusta o consumo para cima antecipadamente. Como vimos no Capítulo 10, aqui se assume que a pessoa pode tomar empréstimo. Talvez seja possível convencer o banco de que o emprego é seguro e as perspectivas são boas. Se for assim, a pessoa provavelmente poderá fazer uma hipoteca agora, e morar em uma casa mais confortável com um padrão mais alto de vida do que seria possível se os rendimentos de longo prazo permanecessem no salário inicial. O rótulo na Figura 13.10 mostra que uma pessoa toma empréstimo quando é jovem e a renda é baixa, economiza e paga a dívida quando fica mais velha e está ganhando mais e, finalmente, gasta as economias após sua aposentadoria, quando a renda cai novamente.
O modelo de tomada de decisão enfatiza o desejo das famílias de ter um caminho estável de consumo. A seguir, perguntamos o que acontece quando algo inesperado ocorre e perturba os planos de consumo ao longo da vida. E se a pessoa mostrada na figura se depara com um choque de renda inesperado? O modelo de estabilização de consumo sugere que:
- A pessoa fará uma avaliação: se o choque é temporário ou permanente.
- Se o choque for permanente: devemos ajustar a linha vermelha na Figura 13.10 para cima ou para baixo para refletir o novo nível de consumo no longo prazo que a pessoa adotará, consistente com o novo padrão de renda estimado.
- Se o choque for temporário: pouca coisa mudará. Uma flutuação temporária na renda quase não gera efeito nos planos de consumo ao longo da vida, porque faz apenas uma pequena mudança na renda.
Resumindo, quando as pessoas e as famílias se comportam da forma mostrada na Figura 13.10, os choques para a economia serão abrandados porque as decisões de gastos baseiam-se em considerações no longo prazo. Elas procuram evitar flutuações no consumo mesmo quando a renda flutua.
Em Portfolio of the Poor: em How the World’s Poor Live on $2 a Day, Daryl Collins, Jonathan Morduch, Stuart Rutherford e Orlanda Ruthven mostram como famílias pobres administram suas finanças para evitar viver literalmente sem se preocupar com o amanhã. ‘Smooth Operators’. The Economist. Atualizado em 14 de maio de 2009. Algumas das histórias podem ser lidas online.
O que limita a estabilização do consumo de uma família? Muitas pessoas e famílias não conseguem fazer ou implantar planos de consumo no longo prazo. Pode ser difícil fazer planos por causa da falta de informações. Mesmo se tivermos informação, podemos não ser capazes de usá-la para prever o futuro com segurança. Por exemplo, geralmente é muito difícil julgar se uma mudança nas circunstâncias é temporária ou permanente.
Outras três coisas restringem a forma como as famílias podem estabilizar seu consumo quando enfrentam choques de renda. As duas primeiras dizem respeito aos limites no autosseguro, a terceira é um limite no cosseguro.
- Restrições de crédito ou exclusão do mercado de crédito: introduzida no Capítulo 10, ela restringe a capacidade de uma família de tomar empréstimo a fim de manter o consumo quando a renda cai.
- Fraqueza de caráter: uma característica do comportamento humano que leva as pessoas a serem incapazes de realizar seus planos — por exemplo, economizando antes que ocorra um choque negativo de renda — apesar de saberem que sua situação melhoraria.
- Cosseguro limitado: implica que aqueles com queda na renda não podem esperar muito apoio de outros mais afortunados que eles para manter suas rendas.
Restrições de crédito
Como vimos no Capítulo 10, a quantia que uma família consegue tomar emprestada é limitada, principalmente se ela não é rica. As famílias com pouco dinheiro não podem tomar nenhum empréstimo ou os tomam somente a taxas de juros extremamente altas. Assim, as pessoas que mais precisam de crédito para estabilizar seu consumo em geral não conseguem crédito. As restrições de crédito e as exclusões no mercado de crédito discutidas nos Capítulos 10 e 12 explicam porque nem sempre é possível tomar empréstimo.
A Figura 13.11 mostra a reação de dois tipos diferentes de famílias a um aumento antecipado de renda. As famílias que podem tomar tanto empréstimo quanto quiserem estão no topo do painel. Famílias com restrição de crédito que não podem obter empréstimos ou sacar um cartão de crédito estão na base do painel. Siga a análise na Figura 13.11 para ver como as duas famílias reagem a dois eventos-chave:
- Recebem a notícia de que sua renda aumentará num momento previsível no futuro (por exemplo, uma promoção ou uma herança).
- A renda da família de fato aumenta (ocorre a promoção, recebe uma herança).
Podemos pensar sobre essas decisões usando o modelo de dois períodos de tomada e conceção de empréstimo do Capítulo 10, mostrado na Figura 13.12. Primeiramente, considere uma família que receba a mesma renda, y, neste período e no próximo, indicado pela dotação no ponto A na Figura 13.12. A taxa de juros é r, então, se a família pode tomar empréstimo e economizar, ela pode escolher qualquer ponto na restrição orçamentária, que tem uma inclinação −(1 + r). A restrição orçamentária é outro termo para a fronteira do conjunto de possibilidades com a inclinação −(1 + r) que usamos no Capítulo 10.
Aprendemos com esse exemplo que:
- Sem tomar ou conceder empréstimo, o ponto de dotação e o padrão de consumo coincidem.
- Comparado com a família que suaviza, a família com restrição de crédito consome menos neste período e mais no período seguinte.
Também podemos ver que a curva de indiferença que passa por A’ (não mostrada) é mais baixa do que a que passa por A’’. Então, a família que suaviza consumo por meio de empréstimo está melhor do que a família com restrição de crédito.
Uma mudança temporária na renda afeta o consumo atual de famílias com restrição de crédito mais do que aquelas sem restrição.
Falta de vontade
- falta de vontade
- Incapacidade de se comprometer com um curso de ação (fazer uma dieta ou renunciar a algum outro prazer momentâneo, por exemplo) do qual se arrependerá no futuro. Ela difere da impaciência, que também pode levar uma pessoa a favorecer prazeres no presente, mas não necessariamente agir de forma que possa se arrepender.
Na Figura 13.13, uma pessoa toma conhecimento que sua renda cairá no futuro. Isso pode ocorrer por causa de aposentadoria ou perda de emprego. Também pode ser porque a pessoa está ficando pessimista. Talvez os jornais prevejam uma crise econômica. No painel superior da Figura 13.13, mostramos novamente uma família se comportando com precaução para suavizar o consumo. O painel inferior mostra uma família com falta de vontade que consome toda sua renda hoje, mesmo que isso implique uma grande redução no consumo futuro.
Esta característica do comportamento humano é familiar a muitos de nós. Em geral temos pouca força de vontade.
O problema de não conseguir economizar obviamente difere do problema de não ser capaz de tomar empréstimo: economizar é uma forma de autosseguro e não envolve ninguém mais.
Como os economistas aprendem com os fatos Começo minha dieta amanhã
Os economistas conduziram experimentos para testar o comportamento que ajudaria a explicar por que não economizamos quando podemos. Por exemplo, Daniel Read e Barbara van Leeuwen fizeram um experimento com 200 funcionários de firmas em Amsterdã. Eles pediram aos funcionários que escolhessem o que achavam que poderiam comer na semana seguinte. A escolha foi entre frutas e chocolate.
Quando indagadas, 50% das pessoas responderam que iriam comer frutas na semana seguinte. Mas, quando a semana seguinte chegou, apenas 17% escolheram frutas para comer. O experimento mostra que, embora as pessoas planejem fazer algo que sabem ser benéfico para elas (comer frutas, economizar dinheiro), quando o momento chega, elas escolhem não fazer isso.
Leia: Daniel e Barbara van Leeuwen. 1998. ‘Predicting Hunger: The Effects of Appetite and Delay on Choice’. Organizational Behavior and Human Decision Processes 76 (2): pp. 189–205.
Cosseguro limitado
A maioria das famílias não tem uma renda familiar e amigos que possam ajudá-las de forma substancial ao longo de um período em que ocorrem choques de renda negativos. Como vimos, o auxílio desemprego oferece esse tipo de cosseguro — os cidadãos que têm sorte em um ano garantem o seguro para os azarados. Mas em muitas sociedades a cobertura dessas políticas é muito limitada.6
Uma demonstração vívida do valor de estabilizar por meio do cosseguro é a experiência da Alemanha durante a drástica redução de renda vivida por aquela economia em 2009 (veja a Figura 13.5). Quando a demanda por produtos das firmas caiu, as horas de trabalho dos trabalhadores foram cortadas, mas como resultado tanto de políticas governamentais quanto de acordos entre as firmas e os empregados, muito poucos alemães perderam seus empregos, e muitos dos que estavam trabalhando ainda foram pagos como se estivessem trabalhando muito mais horas do que de fato trabalharam. O resultado foi que, embora a renda agregada tenha caído, o consumo não caiu — e o desemprego não aumentou.
Evidências empíricas mostram que, mesmo quando a renda se altera de formas previsíveis, o consumo reage. Tullio Jappelli e Luigi Pistaferri. 2010. ‘The Consumption Response to Income Changes’. VoxEU.org.
Mas a maioria das evidências empíricas mostra que as restrições de crédito, a fraqueza de caráter e uma limitação nos cosseguros significam que, para muitas famílias, uma alteração na renda resulta em uma mudança igual no consumo. No caso de um choque de renda negativo, como a perda de emprego, isso significa que o choque de renda agora será passado para outras famílias que teriam produzido e vendido os bens de consumo que agora não são demandados.
Veremos no próximo capítulo que o choque inicial na renda pode ser multiplicado (ou ampliado) pelo fato das famílias estarem limitadas na sua capacidade de suavizar seu consumo. Por sua vez, isso nos ajuda a entender o ciclo econômico e como os formuladores de políticas podem ou não ajudar a administrá-lo.
Exercício 13.6 Mudanças na renda, mudanças no consumo
Considere um tipo de família com restrição de crédito e um tipo de família com consumo suavizado.
- Para cada tipo de família, use uma figura com o tempo no eixo horizontal e a renda e consumo no eixo vertical para explicar a relação entre mudança na renda e mudança no consumo quando a renda volta ao normal após uma queda temporária inesperada.
- Com base nesta análise, explique a relação prevista entre as mudanças temporárias na renda e no consumo para uma economia com uma mistura dos dois tipos de famílias.
Questão 13.6 Escolha a(s) resposta(s) correta(s)
A Figura 13.12 mostra a escolha de consumo de um consumidor ao longo de dois períodos. Sua dotação inicial é (y, y), ou seja, uma renda y em ambos os períodos, que é mostrada no ponto A. Se possível, o consumidor prefere consumir a mesma quantidade em ambos os períodos. A taxa de juros é r.
Agora, assuma que ocorreu um choque temporário, de forma que a renda no período 1 foi reduzida para y´, enquanto a renda do período 2 deve voltar para y. Assuma que um consumidor com restrição de crédito não pode tomar nenhum empréstimo. Com base nessa informação, qual(is) das afirmações está(ão) correta(s)?
- Se o consumidor estiver com restrição de crédito, terá que consumir sua dotação (y′, y). Assim, ele consome a mesma quantia que iria consumir sem o choque temporário.
- Mesmo se o consumidor puder tomar um empréstimo, só pode obter o empréstimo da sua renda y do período 2. Assim, ele definitivamente não poderá consumir (y, y).
- O consumidor tomará um empréstimo c′ − y′ para consumir c′ no período 1.
- A quantia de c’ definida por esta equação garante que c’ pode ser consumido em cada período e não sobrará nenhuma renda.
Questão 13.7 Escolha a(s) resposta(s) correta(s)
O diagrama a seguir mostra a trajetória da renda para uma família que recebe a notícia de um inesperado aumento e posterior queda na renda futura nos momentos mostrados.
Assuma que a família prefere equalizar seu consumo se puder. Com base nessa informação, qual(is) das afirmações está(ão) correta(s)?
- Se a família não tiver restrição de crédito, então ela equalizará o consumo nos próximos três períodos tomando empréstimo em t = 1, pagando a dívida quando a renda aumentar. Assim, ela não consumirá no mesmo nível após t = 1.
- O fato de a família ter restrição de crédito implica que ela não pode tomar empréstimo. O fato de ela ter fraqueza de caráter implica que não economizará. Então a renda será igual ao consumo em todos os momentos.
- Uma família com ‘fraqueza de caráter’ não economizará em t = 3.
- Uma família com restrição de crédito não será capaz de tomar empréstimo em t = 1.
13.7 Porque o investimento é volátil?
As famílias tendem a suavizar seu consumo gastando quando podem, mas não existe uma motivação semelhante para uma firma suavizar os gastos com investimentos. As firmas aumentam seu estoque de maquinário e equipamentos e fazem novos projetos quando percebem uma oportunidade para ter lucros. Mas, diferentemente de comer e da maioria dos gastos de consumo, os gastos com investimentos podem ser adiados. Existem diversas razões para que sejam feitos agrupamentos de muitos projetos de investimento em alguns momentos e para que, em outras ocasiões, sejam poucos os projetos.
No Capítulo 2, vimos como as firmas reagiram a oportunidades de lucro na Revolução Industrial fazendo inovações. Isso ajuda a explicar por que os investimentos ocorrem em ondas. Quando uma inovação como o tear mecânico é introduzida, as firmas que usam a nova tecnologia podem produzir a custos mais baixos ou ter uma produção de mais alta qualidade. Elas expandem sua parcela de mercado. As firmas que não as acompanham podem ser forçadas a sair do mercado porque não conseguem obter lucro usando a tecnologia antiga. Mas, ter novas tecnologias significa que as firmas precisam instalar novas máquinas. À medida que fazem isso, ocorre um boom de investimento. Ele será ampliado se as firmas que produzem as máquinas e equipamentos precisarem expandir suas próprias fábricas para reagir à demanda adicional estimada.
Nesse caso, os investimentos por uma firma impulsionam outras firmas a investir: se não investirem, podem perder fatia de mercado ou serem incapazes de cobrir seus custos e até mesmo terem que sair do setor. Mas o investimento de uma firma também pode impulsionar outras firmas a investirem ajudando a aumentar seu mercado e lucros potenciais.
Um exemplo de alavancagem de investimento é o boom de investimento em alta tecnologia nos EUA. A partir de meados de 1990, novas tecnologias de informação e comunicação (TIC) foram introduzidas em larga escala na economia americana. A Figura 13.14 mostra o crescimento sustentado do investimento em novas tecnologias ao longo da segunda metade da década de 1990.
Figura 13.14 Investimento em novas tecnologias e a bolha pontocom (1991–2020).
US Bureau of Economic Analysis. 2021. Fixed Assets Accounts Tables. Observação: as séries estão em dólares americanos atuais. O valor da Nasdaq é a média anual do valor de preço de fechamento na Nasdaq. O investimento em novas tecnologias é o investimento em equipamentos de processamento de informação, computadores e equipamentos periféricos, de comunicação e estruturas de comunicação, e investimento do IPPR (Institute for Public Policy Research) em softwares, semicondutores e outros componentes eletrônicos e computadores.
Como vimos no Capítulo 11, o investimento em novas tecnologias pode levar a uma bolha do mercado de ações e a um investimento excessivo em máquinas e equipamentos. O gráfico mostra em verde o comportamento do índice do mercado de ações no qual as empresas hi-tech estão listadas. Este é o índice Nasdaq, introduzido no Capítulo 11.
Robert Shiller explicou no VoxEU podcast como espírito animal contribui para a volatilidade dos investimentos.
O índice aumentou fortemente de meados de 1990 para o pico de todos os tempos, em 1999, à medida que aumentava a confiança dos investidores do mercado de ações na lucratividade das novas firmas de tecnologia. Como resultado, o investimento em equipamentos de TI (linha vermelha) cresceu rapidamente, mas caiu fortemente após a reversão dessa confiança, que provocou a queda do índice do mercado de ações. Isso sugere que o investimento excessivo em maquinário e equipamentos havia ocorrido: o investimento não voltou a subir até 2003. O economista Robert Schiller defendeu que o índice Nasdaq era impulsionado para cima pelo que chamou de ‘exuberância irracional’, como você deve se lembrar do Capítulo 11. As crenças no futuro da alta tecnologia levaram não apenas ao aumento dos preços das ações a níveis insustentáveis, mas também a um investimento excessivo em maquinários e equipamentos no setor de alta tecnologia.
Restrições de crédito são outra razão para o agrupamento de projetos de investimento e para a volatilidade de investimento agregado. Em uma economia aquecida, os lucros são altos e as firmas podem usá-los para financiar projetos de investimento. O acesso a financiamento externo de fontes externas à firma também é mais fácil: no boom hi-tech americano, por exemplo, a expansão da bolsa Nasdaq refletiu o apetite dos investidores por oferecer financiamento comprando ações de firmas das indústrias TIC emergentes.
- taxa de utilização de capacidade
- No definition available.
Para entender como o investimento de uma firma induz outra a investir, pense em uma economia local composta por duas firmas. Os maquinários e equipamentos da firma A não são totalmente utilizados, então a firma pode produzir mais se contratar mais empregados. Mas não existe demanda suficiente para vender os produtos que ela produzirá. Essa situação é chamada de utilização da capacidade. Os proprietários da Firma A não têm incentivos para contratar mais trabalhadores ou para instalar máquinas extras (ou seja, para investir).
A firma B tem o mesmo problema. Por causa de uma baixa capacidade de utilização, os lucros são baixos para ambas. Então, quando pensamos nas firmas juntas, temos um círculo vicioso:
Figura 13.15 Expectativas negativas de demanda futura criam um círculo vicioso.
Se os proprietários tanto de A quanto de B decidirem investir e contratar ao mesmo tempo, empregariam mais trabalhadores, que gastariam mais, aumentando a demanda por produtos de ambas as firmas. Os lucros delas aumentariam e teríamos um círculo virtuoso.
Figura 13.16 Expectativas positivas de demanda futura criam um círculo virtuoso.
Os dois círculos enfatizam o papel das expectativas de demanda futura, que dependem do comportamento de outros atores. Um jogo semelhante aos estudados no Capítulo 4 pode ilustrar como sair do círculo vicioso e entrar no círculo virtuoso. Como ocorre em qualquer jogo, especificamos:
- Os atores: as duas firmas.
- As ações que podem tomar: investir ou não investir.
- A informação que têm: decidem simultaneamente, então não sabem o que a outra fez.
- O payoff: os lucros resultantes de cada um dos quatro pares de ações que poderiam adotar.
Os quatro resultados possíveis da interação e os payoffs são dados na Figura 13.17.
A partir desta figura podemos ver o que acontece quando ocorrem os círculos virtuoso (ambos investem) e vicioso (ninguém investe). Observe o que acontece se uma das firmas investe, mas a outra não. Se a Firma A investe e a B não (a célula superior direita na figura), então A paga para instalar novos equipamentos e dependências, mas, como a outra firma não investiu, não há demanda por produtos que a nova capacidade poderia produzir; então A tem prejuízo. Mas, se B soubesse que A iria investir, então B teria obtido um lucro maior investindo também (obtendo 100 e não apenas 80). Por outro lado, se B soubesse que A não iria investir, então teria sido melhor não investir também.
Figura 13.17 Decisões de investimento como um jogo coordenado.
Neste jogo, as duas firmas ficarão melhor se fizerem a mesma coisa, e o melhor resultado ocorre quando ambas investem. Este é outro motivo por que o investimento tende a flutuar muito. Se os proprietários das firmas pensam que outras firmas não irão investir, então eles também não investirão, confirmando o pessimismo dos outros proprietários. É por isso que o círculo vicioso se autossustenta. O círculo virtuoso se autossustenta pela mesma razão. O otimismo sobre o que outras firmas farão leva a um investimento, que sustenta o otimismo.
- equilíbrio de Nash
- Conjunto de estratégias, uma para cada jogador, em que a estratégia de cada jogador deve ser a melhor resposta às estratégias escolhidas por todos os outros.
Existem dois equilíbrios de Nash neste jogo (superior esquerdo e inferior direito). Para encontrar os equilíbrios de Nash, use o método do ‘ponto’ e ‘círculo’ do Capítulo 4, começando com a melhor resposta de A para as escolhas de B. Se B investe, a melhor reação de A é investir também, então um ponto vai para a célula superior esquerda. Se B não investe, A escolhe também não investir, então colocamos um ponto na célula inferior do lado direito. Observe que A não tem uma estratégia dominante. Agora, considere a melhor resposta de B. Se A investe, a melhor resposta de B é investir e se A não investe, B escolhe não investir. Os círculos mostrando a melhor resposta de B coincidem com os pontos: B também não tem uma estratégia dominante. Onde os pontos e círculos coincidem, temos equilíbrios de Nash.
Author query: Please provide a glossary definition for ‘jogo de coordenação’.
O equilíbrio de Nash (inferior direito) no qual ambas as firmas têm baixa capacidade de utilização, baixa contratação e baixo investimento não é Pareto eficiente, porque ocorre uma mudança na qual ambos têm lucros mais altos, ou seja, se ambas as firmas decidirem investir. Esta situação é como o jogo de dirigir do lado direito ou esquerdo da rua, discutido no Capítulo 4, ou a interação descrita na Figura 4.15 a respeito da especialização em culturas diferentes ou da mudança global do clima descrita na Figura 4.17b. Todos esses são chamados de jogos de coordenação.
Jogo de coordenação
Um jogo com dois equilíbrios de Nash no qual um pode ser Pareto superior ao outro é chamado de jogo de coordenação.
- Dirigir no lado direito ou esquerdo é um jogo de coordenação no qual nenhum equilíbrio é preferível para nenhum jogador.
- No jogo de coordenação de especialização de cultura do Capítulo 4 (Figura 4.15), a especialização na cultura ‘certa’ (uma cultura diferente para os dois agricultores, para a qual sua terra é mais adequada) é melhor para ambos do que a ‘especialização errada’.
- No jogo de coordenação de investimento (Figura 13.17), o resultado no qual ambos investem é melhor para ambos do que aquele em que ninguém investe.
O nome é muito adequado aqui porque, para se mover de um círculo vicioso para um virtuoso, as firmas precisam estar coordenadas de alguma forma (ambas concordarem em investir) ou desenvolver crenças otimistas sobre o que a outra vai fazer. Esse tipo de otimismo é normalmente denominado confiança empresarial e tem um papel importante nas flutuações na economia como um todo. Como vamos ver no próximo capítulo, sob determinadas circunstâncias, a política do governo também pode ajudar a alterar uma economia de um resultado Pareto ineficiente para um Pareto eficiente.
Podemos generalizar o argumento sobre o papel da coordenação no investimento para dizer que os gastos com investimento das firmas responderão positivamente ao crescimento da demanda na economia. Quando ocorre um aumento em gastos agregados na produção doméstica de bens e serviços (ou seja, em C + I + G + X – M), isso ajuda a coordenar os planos prospectivos de firmas sobre suas necessidades de capacidade futura e estimula os gastos em investimentos.
A Figura 13.18 ilustra a relação entre o crescimento de demanda agregada (excluindo investimento), confiança empresarial e investimento para a Zona do Euro. O indicador de confiança empresarial se move juntamente com a demanda agregada (excluindoinvestimento) e o investimento.
Figura 13.18 Investimento e confiança empresarial na Zona do Euro (1996–2020).
Eurostat. 2021. Confidence Indicators by Sector. Federal Reserve Bank of St. Louis. 2021. FRED.
Portanto, esperamos que os dados das contas nacionais confirmem que os gastos de consumo são mais suaves e os gastos com investimento mais voláteis do que o PIB na economia como um todo.
Como esperado, as Figuras 13.19a e 13.19b mostram que o investimento é muito mais volátil do que o consumo em dois países ricos (Reino Unido e EUA) e em dois países de renda média (México e África do Sul). Os picos ascendentes e descendentes nas séries vermelhas para investimento são maiores do que aqueles para as séries verdes de consumo.
Uma avaliação detalhada dos gráficos para os países ricos também mostra que, como previsto, o consumo é menos volátil do que o PIB. Os picos e vales em lilás para o PIB são mais amplos do que os verdes para o consumo. Isso é menos evidente nos países de renda média, talvez porque as famílias tenham mais restrição de crédito e, portanto, sejam menos capazes de tomar empréstimos para estabilizar seu consumo.
Figura 13.19a Taxas de crescimento de consumo, investimento e PIB no Reino Unido e EUA, percentual por ano (1956–2020).
Federal Reserve Bank of St. Louis. 2021. FRED.
Figura 13.19b Taxas de crescimento de consumo, investimento e PIB no México e na África do Sul (1961–2020).
OECD. 2021. OECD Statistics; The World Bank. 2021. World Development Indicators.
Quão volátil são os gastos governamentais? Ao contrário do investimento, os gastos governamentais (o G nas contas nacionais) não respondem a inovações ou flutuam com a confiança empresarial. Podemos prever que seja menos volátil do que o investimento. E as exportações líquidas? A demanda por exportações flutuará com o ciclo econômico em outros países e será mais afetada pelos booms e recessões dos países que são grandes mercados exportadores. Descubra mais sobre a volatilidade dos gastos governamentais e as exportações líquidas consultando o FRED.
Exercício 13.7 Consultando o FRED
Considerando o seu próprio país, use os dados de FRED para construir gráficos para a taxa de crescimento do PIB real, consumo, investimento, exportações líquidas e gastos governamentais.
Por exemplo, para os EUA, essas séries são, respectivamente: ‘Produto Interno Bruto Real’ (GDPC1), ‘Despesas de Consumo Pessoal’ (PCE), ‘Investimento Interno Privado Bruto’ (IPIB), ‘Exportações Líquidas de Bens e Serviços’ (NETEXP), ‘Despesas de Consumo e Investimento Bruto do Governo’ (GCE). Para PCE, IPIB, NETEXP e GCE simplesmente adicione o “Real’ para obter as séries equivalentes em termos reais. Para todas essas séries, você deve encontrar outras equivalentes para o seu país.
Assista esse breve tutorial para entender como o FRED funciona.
- Como os gastos governamentais evoluíram no seu país ao longo do período para o qual esses dados estão disponíveis?
- Comente sobre a relação entre a taxa de crescimento de produção e os gastos governamentais durante o período.
- Descreva a volatilidade de gastos governamentais e as exportações líquidas em relação àquela do PIB e sugira uma explicação para os padrões que observou.
Questão 13.8 Escolha a(s) resposta(s) correta(s)
Considere a economia local que abrange apenas duas firmas, Firma A e Firma B. Atualmente ambas as firmas têm baixa capacidade de utilização. A tabela a seguir mostra os lucros (ou prejuízos, se negativo) quando as firmas investem ou não investem:
Com base nessa informação, qual(is) das afirmações está(ão) correta(s)?
- Quando uma firma investe, a melhor estratégia de resposta da outra firma é investir. Da mesma forma, quando a primeira firma não investe, a melhor estratégia de resposta da outra firma é não investir. Portanto, não existe uma estratégia dominante.
- Não investir para ambas as firmas também é um equilíbrio de Nash.
- A Firma A investir e a Firma B não investir é Pareto ineficiente, mas não é um equilíbrio de Nash.
- O equilíbrio de Nash Pareto eficiente ocorre quando ambas as firmas investem e, para alcançar este resultado, ambas precisam acreditar que a outra firma irá investir. Se cada uma pensasse que a outra não iria investir, então ela também não investiria.
13.8 Medindo a economia: inflação
Nas Figuras 13.20a e 13.20b repetimos os gráficos da Figura 13.3, que mostram a taxa de crescimento do PIB e a taxa de desemprego no Reino Unido de 1875 a 2020.
- inflação
- Aumento no nível geral de preços na economia. Normalmente medido ao longo de um ano. Veja também: deflação, desinflação.
- deflação
- Redução no nível geral de preços. Veja também: inflação.
Na Figura 13.20c mostramos a taxa de inflação ao longo deste período. Inflação é um aumento no nível geral de preços na economia, normalmente medido ao longo de um ano. Para a economia britânica, a inflação varia de um nível baixo, com preços realmente em queda (chamado deflação) para a maior parte do período entre guerras (antes e depois da Grande Depressão), para um pico de quase 25% ao ano em 1975.
Vimos anteriormente que os picos descendentes de crises econômicas foram associados a picos ascendentes de desemprego; agora vemos que a inflação foi especialmente baixa na década de 1930 e especialmente alta na de 1970. O pico na inflação seguiu o primeiro dos dois choques de preços de petróleo (1973 e 1979), que foram grandes turbulências para a economia global.
Figura 13.20a Crescimento do PIB no Reino Unido (1875–2020).
Ryland Thomas and Nicholas Dimsdale. (2017). ‘A Millennium of UK Data’. Bank of England OBRA dataset; UK Office for National Statistics. (2021). UK Economic Accounts time series.
Figura 13.20b Taxa de desemprego no Reino Unido (1875–2020).
Ryland Thomas and Nicholas Dimsdale. (2017). ‘A Millennium of UK Data’. Bank of England OBRA dataset; UK Office for National Statistics. (2021). UK Economic Accounts time series.
Figura 13.20c Taxa de inflação no Reino Unido (1875–2020).
Ryland Thomas and Nicholas Dimsdale. (2017). ‘A Millennium of UK Data’. Bank of England OBRA dataset; UK Office for National Statistics. (2021). UK Economic Accounts time series.
A Figura 13.21 mostra as taxas médias de inflação em diferentes regiões do mundo e como mudaram ao longo do tempo. Picos ascendentes na inflação tendem a ocorrer em períodos de crise econômica, mas a tendência mundial geral desde a década de 1970 tem sido de queda nas taxas de inflação. A figura também mostra que a inflação tende a ser mais alta nos países pobres do que nos ricos. Por exemplo, desde 2000, a inflação tem registrado uma média de 6,0% nos países africanos subsaarianos e 6,6% nos do sul da Ásia, comparado a apenas 2,2% nos países de alta renda da OCDE.
Figura 13.21 Níveis de inflação e volatilidade em economias de alta e baixa renda.
The World Bank. 2021. World Development Indicators.
O que é inflação?
Pegue sua barra de chocolate favorita. Se o preço dela sobe ao longo de um ano de 50 para 55 centavos, como você sabe que isso é um sintoma de inflação na economia? Poderia ser apenas que a barra de chocolate tenha ficado mais cara em relação a qualquer outra coisa, como resultado de uma mudança para a direita na curva de demanda ou para a esquerda na curva de oferta, como estudamos no Capítulo 8. Para ver o que ocorreu com os preços ao longo da economia, pegue uma cesta gigante de compras e encha-a com todos os produtos e serviços que você comprar em janeiro. Comparativamente ao preço em janeiro do ano seguinte, o preço dessa mesma cesta gigante aumentou? E as cestas de outras pessoas?
- índice de preços ao consumidor (IPC)
- Medida do nível geral de preços que os consumidores têm que pagar por bens e serviços, incluindo impostos sobre o consumo.
O Índice de Preços ao Consumidor mede o nível geral de preços que os consumidores têm que pagar por bens e serviços, incluindo impostos sobre consumo. A cesta de bens e serviços é escolhida para refletir os gastos de uma família típica na economia. Por esta razão, a mudança no IPC, ou a inflação no IPC, em geral é considerada para medir mudanças no ‘custo de vida’.
O IPC baseia-se no que os consumidores realmente compram. Inclui os preços de comidas e bebidas, habitação, roupas, transporte, lazer, educação, comunicações, cuidados médicos e outros bens e serviços. Os bens e serviços na cesta recebem pesos de acordo com sua participação nos gastos familiares. O IPC exclui exportações, que são consumidas por residentes estrangeiros, mas inclui importações, que são consumidas por famílias na economia doméstica. A mudança do IPC ao longo do ano anterior é normalmente usada como medida de inflação.
- deflator do PIB
- Medida do nível de preços de produção doméstica. É a razão entre PIB nominal (ou em preços correntes) e PIB real (ou em preços constantes).
O deflator do PIB é um índice de preços como o IPC, mas ele mede a mudança nos preços de todos os bens e serviços finais produzidos internamente. Ao invés de uma cesta de bens e serviços, o deflator do PIB mensura as mudanças de preços dos componentes do PIB doméstico, ou seja, do C + I + G + X – M (o deflator do PIB inclui exportações, que são produzidas pela economia doméstica, mas exclui importações, que são produzidas no exterior).
O deflator do PIB também pode ser expresso como a razão entre PIB nominal (ou em preços correntes) e PIB real (ou em preços constantes). A série de deflator do PIB é mais comumente usada para transformar uma série de PIB nominal em uma série de PIB real. Como vimos na Seção 1.2 e no Einstein do Capítulo 1, a série de PIB real mostra como o tamanho de uma economia doméstica muda ao longo do tempo levando em consideração as mudanças no preço de bens e serviços produzidos domesticamente.
Exercício 13.8 Medindo a inflação
Acesse o website do Office for National Statistics (ONS), role o cursor até ‘2. The shopping basket’ (A cesta de compras) e responda a essas perguntas:
- Como um instituto de estatística nacional como o ONS no Reino Unido monta uma cesta de compras gigante representativa de toda uma população?
- Se a inflação este ano é de 2,5%, então qual é o preço atual da cesta de compras representativa que custava £100 no ano passado?
A taxa de inflação nacional oficial não reflete necessariamente a sua taxa de inflação pessoal. Se você quiser calcular sua própria taxa de inflação e como ela se desvia da taxa nacional, alguns institutos nacionais de estatística oferecem uma calculadora de inflação pessoal, tais como Statistics Netherlands ou Statistics South Africa. O órgão de estatísticas do seu país também deve ter uma calculadora de inflação pessoal.
- Usando uma calculadora de inflação pessoal, calcule sua taxa de inflação pessoal e comente como e por que ela difere da taxa de inflação oficial do seu país.
Exercício 13.9 O IPC e o deflator do PIB
- Use os dados do FRED para construir gráficos para o crescimento real anual do PIB (GDPC1), a taxa de desemprego (UNRATE) e a taxa de inflação (CPIAUCSL. Dica: como é calculada a taxa de inflação a partir do Índice de Preços ao Consumidor?) para os EUA. Selecione o período de 1960 até o ano mais recente disponível. Além disso, baixe os dados do deflator do PIB americano (procure por GDPDEF). Observe se todas as suas séries estão em frequência anual. Você pode mudar a frequência usando o ‘Edit graph’ acima no canto direito do seu gráfico. Assista esse breve tutorial para entender como o FRED funciona.
Use os dados que você baixou para responder às seguintes perguntas (lembre-se que o IPC é calculado a partir do preço dos bens consumidos no seu país, enquanto que o deflator do PIB é calculado a partir do preço dos bens produzidos no seu país):
- A principal diferença na evolução da série para o IPC e o deflator do PIB ocorre em 1974–75 e em 1979–1982. O que pode explicar esse padrão? (Dica: pense sobre o possível impacto da crise do petróleo sobre os preços de bens importados e, especialmente, sobre as tarifas de transporte e combustível).
- O que você observa sobre a evolução do desemprego e da inflação no início dos anos 1980?
- Agora construa o mesmo gráfico para o seu país. Escreva um breve relatório sobre a evolução da inflação, desemprego e taxa de crescimento real do PIB ao longo do mesmo período.
13.9 Conclusão
Neste capítulo, introduzimos duas ferramentas essenciais para entender a economia: as contas nacionais usadas para medir a atividade econômica agregada e um conjunto de modelos que nos permitem organizar os dados de forma que esclareçam as flutuações econômicas. Geralmente, pede-se aos economistas que façam previsões sobre o futuro desenvolvimento da economia, e eles usam tanto dados quanto modelos para fazer isso. Aprendemos neste capítulo que as famílias e as firmas fazem previsões quando decidem sobre seus gastos.
Nos dois capítulos seguintes, focaremos na política governamental. Veremos que, para fazer boas previsões e boas políticas públicas, o governo e o banco central precisam levar em consideração como as famílias e as firmas pensam sobre o futuro e o que pode atrapalhar seus planos.
Conceitos introduzidos no Capítulo 13
Antes de passar adiante, reveja essas definições:
13.10 Referências
- Ball, Laurence, Daniel Leigh and Prakash Loungani. 2017. ‘Okun’s Law: Fit at 50?’. Journal of Money, Credit and Banking 49 (7): pp. 1413-1441
- Ball, Laurence, Davide Furceri, Daniel Leigh and Prakash Loungani. 2019. ‘Does One Law Fit All? Cross-Country Evidence on Okun’s Law’. Open Economies Review 30: pp. 841-874
- Carlin, Wendy and David Soskice. 2015. Macroeconomics: Institutions, Instability, and the Financial System. Oxford: Oxford University Press. Chapters 1 and 10.
- Clark, Andrew E., and Andrew J. Oswald. 2002. ‘A Simple Statistical Method for Measuring How Life Events Affect Happiness’. International Journal of Epidemiology 31 (6): pp. 1139–1144.
- Collins, Daryl, Jonathan Morduch, Stuart Rutherford, and Orlanda Ruthven. 2009. Portfolios of the Poor. Princeton: Princeton University Press.
- Durante, Ruben. 2010. ‘Risk, Cooperation and the Economic Origins of Social Trust: An Empirical Investigation’. Sciences Po Working Paper.
- Fletcher, James. 2014. ‘Spurious Correlations: Margarine Linked to Divorce?’. BBC News.
- Jappelli, Tullio, and Luigi Pistaferri. 2010. ‘The Consumption Response to Income Changes’. VoxEU.org.
- Naef, Michael, and Jürgen Schupp. 2009. ‘Measuring Trust: Experiments and Surveys in Contrast and Combination’. IZA discussion Paper No. 4087.
- OECD. 2010. Employment Outlook 2010: Moving Beyond the Jobs Crisis.
- Shiller, Robert. 2009. ‘Animal Spirits’. VoxEU.org podcast. Updated 14 August 2009.
- The Economist. 2009. ‘Smooth Operators’. Updated 14 May 2009.
- The Economist. 2012. ‘New Cradles to Graves’. Updated 8 September 2012.
-
Andrew E. Clark and Andrew J. Oswald. 2002. ‘A Simple Statistical Method for Measuring How Life Events Affect Happiness’. International Journal of Epidemiology 31 (6): pp. 1139–1144. ↩
-
Edward S. Knotek, II, 2007. ‘How useful is Okun’s law?’ Economic review (Kansas City), 92(4), p. 73. ↩
-
‘New Cradles to Graves’. The Economist. Updated 8 September 2012. ↩
-
Michael Naef and Jürgen Schupp report comparisons between surveys and experiments using trust. Michael Naef and Jürgen Schupp. 2009. ‘Measuring Trust: Experiments and Surveys in Contrast and Combination’. IZA Discussion Paper No. 4087. ↩
-
Ruben Durante. 2010. ‘Risk, Cooperation and the Economic Origins of Social Trust: An Empirical Investigation’. Sciences Po Working Paper. ↩
-
OECD. 2010. Employment Outlook 2010: Moving Beyond the Jobs Crisis. ↩