Capítulo 14 Desemprego e política fiscal
Temas e Capítulos Temáticos
Como os governos podem atenuar custosas flutuações no emprego e na renda
- As flutuações na demanda agregada afetam o crescimento do PIB por meio de um processo multiplicador, porque as famílias enfrentam limites em sua capacidade de poupar, tomar empréstimos e compartilhar riscos.
- O aumento no tamanho do governo após a Segunda Guerra Mundial coincidiu com flutuações econômicas menores.
- Os governos podem usar as mudanças em impostos ou gastos governamentais para estabilizar a economia, mas políticas econômicas de má qualidade podem desestabilizá-la.
- Se uma única família poupar, sua riqueza necessariamente aumentará, mas se todas as famílias pouparem, isso poderá não ocorrer, porque se não houver gastos adicionais realizados pelo governo ou pelas firmas que compensem a queda na demanda, a renda agregada cairá.
- Cada economia nacional está inserida na economia mundial. Isso é uma fonte de choques, tanto bons quanto ruins, e impõe restrições sobre os tipos de política econômica que podem ser eficazes.
Em agosto de 1960, três meses antes de ser eleito presidente dos EUA, o senador John F. Kennedy, então com 43 anos, passou o dia cruzando o estreito de Nantucket em seu barco, o Marlin. Sua tripulação nesse dia incluía John Kenneth Galbraith e Seymour Harris, ambos economistas de Harvard, além de Paul Samuelson, economista do MIT, posteriormente laureado com o Nobel. Eles não tinham sido chamados devido às suas habilidades náuticas. Na verdade, exceto por Harris, o senador sequer os conhecia.
O futuro presidente queria aprender sobre ‘a nova economia’, que John Maynard Keynes, um economista sobre quem falaremos na Seção 14.6, tinha formulado em resposta à Grande Depressão. Quando Kennedy era adolescente, na década anterior à Segunda Guerra Mundial, os EUA e diversos outros países passaram por uma queda drástica na produção (podemos ver essa retração nos EUA na Figura 14.1) e um desemprego em massa que persistiu por mais de 10 anos.
Kennedy tinha muito a aprender. Ele admitiu que mal havia passado no único curso de economia que tinha feito em Harvard. Posteriormente, passaria um dia na regata a vela America’s Cup sendo orientado por Harris, que lhe deu alguns textos para ler. Depois disso, Harris deu aulas particulares ao senador, indo e voltando de avião de Boston, onde trabalhava, para Washington (DC).
Samuelson havia escrito Economia em 1948, o primeiro grande manual a ensinar essas novas ideias. Harris promoveu as mesmas ideias econômicas em um livro que editou em 1948, chamado Saving American Capitalism, uma coleção de 31 ensaios escritos por 24 colaboradores. Naquela época, parecia que o capitalismo precisava ser salvo: o modelo promovido pelas economias centralmente planejadas da União Soviética e seus aliados como alternativa ao capitalismo havia evitado completamente os efeitos da Grande Depressão. Kennedy precisava estudar economia para entender as políticas que poderiam promover o crescimento econômico, reduzir o desemprego, mas também evitar a instabilidade econômica.
Vimos, no Capítulo 13, que a instabilidade na economia como um todo é uma característica não apenas de economias predominantemente agrícolas, mas também de economias capitalistas. A Figura 14.1 mostra o crescimento anual do PIB real na economia americana desde 1870.
Figura 14.1 Flutuações na produção e o tamanho dos governos nos Estados Unidos (1870–2019).
The Maddison Project. 2020. 2020 Version; US Bureau of Economic Analysis. 2020. GDP & Personal Income; FRED; Wallis, John Joseph. 2000. ‘American Government Finance in the Long Run: 1790 to 1990’. Journal of Economic Perspectives 14 (1) (February): pp. 61–82.
Houve forte redução na intensidade dos ciclos econômicos após o fim da Segunda Guerra Mundial. A Figura 14.1 mostra outro desenvolvimento importante naquele período: o crescente papel do governo na economia. A linha vermelha mostra a receita de impostos dos governos federal (nacional), local e estadual como porcentagem do PIB. Esta é uma boa medida do tamanho dos governos em relação à economia como um todo.
A participação do emprego agrícola que, como vimos, era causa de volatilidade econômica, caiu de 50% nos anos 1870 para 20% no início da Segunda Guerra Mundial, embora não houvesse sinais de maior estabilidade econômica nesse período. Como já vimos, as famílias tentam suavizar as flutuações em seu consumo, mas nem sempre são bem-sucedidas, em parte porque existem limites na quantidade de empréstimo que podem tomar.
O fato de as flutuações no crescimento da produção terem se reduzido drasticamente enquanto o tamanho dos governos se expandiu não significa que o aumento das despesas governamentais tenha estabilizado a economia (lembre-se: correlações estatísticas não significam causalidade). Mas há boas razões para pensar que o aumento na linha vermelha foi parte do motivo para suavização da linha preta. Neste capítulo, analisamos por que o aumento no papel do governo na economia é parte da explicação para uma economia mais estável na segunda metade do século XX.
O que Harris ensinou a Kennedy foi influenciado pelo contraste entre a volatilidade da economia antes da Segunda Guerra Mundial e o posterior crescimento mais estável e sem recessões profundas. Por que as economias têm desemprego, inflação e instabilidades na produção e que tipos de políticas podem lidar com esses problemas?
- grande moderação
- Período de baixa volatilidade na produção agregada em economias avançadas entre os anos 1980 e a crise financeira de 2008. O nome foi sugerido pelos economistas James Stock e Mark Watson, e se popularizou com Ben Bernanke, então presidente do Federal Reserve.
No Capítulo 13, adotamos o ponto de vista das famílias sobre o ciclo econômico, o que nos permitiu determinar por que as flutuações no emprego e na renda são custosas e como as famílias tentam limitar as consequências para seu bem-estar. Neste Capítulo, vamos ver o ponto de vista dos formuladores de política pública. Como vimos na Figura 14.1, o grande aumento no tamanho do governo após a Segunda Guerra Mundial foi acompanhado por uma redução no tamanho das flutuações do ciclo econômico. Após 1990, o ciclo econômico nas economias avançadas se tornou ainda mais suave até a crise financeira global de 2008. Esse período, entre o início da década de 1990 e o final da década de 2000, foi chamado de a grande moderação.
14.1 A transmissão de choques: o processo multiplicador
Numa economia capitalista, o gasto com investimento privado é orientado por expectativas sobre lucros futuros após os impostos. Como vimos no Capítulo 13, as despesas em projetos de investimento tendem a ocorrer em grupo. São dois os motivos para essa observação:
- As firmas podem adotar novas tecnologias simultaneamente.
- As firmas podem ter crenças semelhantes sobre a demanda futura esperada.
Precisamos de uma ferramenta para nos ajudar a entender como as decisões das firmas (e das famílias) de aumentar ou diminuir os gastos com investimento afetarão a economia como um todo. Você deve se lembrar que algumas famílias podem suavizar completamente abalos temporários em sua renda, mas em famílias com restrição de crédito, o aumento de renda provindo da obtenção de um emprego ou da mudança de um trabalho em tempo parcial para um em tempo integral levarão a um gasto de consumo maior.
- demanda agregada
- Componentes de gasto na economia, somados para obter-se o PIB: Y = C + I + G + X – M. Quantidade total de demanda por (ou gasto com) bens e serviços produzidos em uma economia. Veja também: consumo, investimento, gastos governamentais, exportações, importações.
Como resultado, as mudanças na renda corrente influenciam os gastos, afetando a renda de outros, de modo que os efeitos indiretos na economia amplificam o efeito direto de um choque na demanda agregada (em geral abreviado como DA) criado por um boom de investimento.
Mostraremos como os economistas respondem perguntas como ‘que tamanho teria o impacto total direto e indireto provindo de um aumento nos gastos de investimento?’ ou, ‘qual seria o efeito de gastos governamentais mais baixos’.
Uma estatística chamada multiplicador oferece uma forma de responder a essas perguntas. Imagine que surja uma nova tecnologia, o que resulta em novos gastos na economia. A produção de novos bens de capital aumenta, bem como a renda das pessoas que os produzem. O fluxo circular de gasto, renda e produção previamente mostrado na Figura 13.6 ilustra esse processo.
- Se o aumento total no PIB é igual ao aumento inicial nas despesas: dizemos que o multiplicador é igual a 1.
- Se o aumento total no PIB é maior ou menor do que o aumento inicial nas despesas: dizemos que o multiplicador é maior ou menor do que 1, respectivamente.
- processo multiplicador
- Mecanismo por meio do qual os efeitos direto e indireto de uma mudança no gasto autônomo afetam a produção agregada. Veja também: multiplicador fiscal, modelo do multiplicador.
- função de consumo (agregado)
- Equação que mostra como o gasto de consumo na economia como um todo depende de outras variáveis. Por exemplo, no modelo do multiplicador, as outras variáveis são a renda disponível corrente e o consumo autônomo. Veja também: renda disponível, consumo autônomo.
Para ver por que o PIB pode subir mais do que o aumento inicial nos gastos de investimento, explicamos o que os economistas chamam de processo multiplicador. Fazemos isso combinando os comportamentos muito diferentes de famílias que suavizam e que não suavizam o consumo para representar os gastos de consumo para a economia como um todo. Nessa função de consumo agregado, o consumo depende, entre outras coisas, da renda corrente. Lembre-se que, no modelo do Capítulo 13, as famílias que suavizam o consumo não aumentarão seu consumo na proporção de um para um ou sequer elevarão o consumo em resposta a um aumento temporário de €1 em sua renda. Famílias com restrição de crédito e outras que não suavizam seus gastos, por sua vez, aumentarão seu consumo corrente em €1 em resposta a um aumento temporário de €1 em sua renda.
Em 2008, quando os governos consideraram aumentos temporários nos gastos governamentais e cortes de impostos em resposta à recessão que se seguiu à crise financeira global, o tamanho do multiplicador se tornou tema de debate entre formuladores de políticas públicas e economistas. Voltaremos a esse debate posteriormente neste capítulo.
Como veremos, o multiplicador é maior do que 1 se a despesa de consumo adicional, resultante de um aumento temporário de €1 na renda, for maior do que zero mas menor do que €1 (por exemplo, 60 centavos).
Após explicar como isso é uma consequência do processo multiplicador, mostraremos que a validade dos pressupostos que fazemos no modelo do multiplicador dependem do estado da economia.
14.2 O modelo do multiplicador
- consumo (C)
- Gastos em bens de consumo, que incluem tanto bens e serviços de curta duração quanto bens de longa duração, os chamados bens de consumo duráveis.
- investimento (I)
- Gastos em bens de capital recém produzidos (máquinas e equipamentos) e edificações, incluindo novas residências.
Começamos com um modelo simples que exclui o governo e o comércio exterior. Neste modelo, existem dois tipos de gastos:
- consumo
- investimento
Assumimos que o gasto de consumo agregado tem duas partes:
- Uma quantidade fixa: quanto as pessoas gastarão, independentemente de sua renda. Essa quantidade fixa, também conhecida como consumo autônomo, é mostrada como c0 no eixo vertical da Figura 14.2.
- Uma quantidade variável: depende da renda corrente e é representada por uma linha vermelha inclinada para cima na Figura 14.2.
- consumo autônomo
- Consumo independente da renda corrente.
Então, podemos expressar o gasto de consumo na forma de uma equação, que chamaremos de função de consumo agregado:
\[\begin{align*} \text{consumo agregado} &= \text{consumo autônomo} \\ &+ \text{consumo que depende da renda} \\ \\ C &= c_0 + c_1Y \end{align*}\]- propensão marginal a consumir (PMC)
- Mudança no consumo quando a renda disponível se altera em uma unidade.
O termo c1 representa o efeito de uma unidade adicional de renda sobre o consumo, chamada de propensão marginal a consumir (PMC). Na Figura 14.2, a inclinação da reta de consumo é igual à propensão marginal a consumir. Uma reta de consumo mais inclinada significa uma resposta mais intensa do consumo a uma mudança na renda. Uma reta mais plana significa que as famílias estão suavizando seu consumo para que ele não varie muito com a mudança da renda. Assumimos que a propensão marginal a consumir é positiva, mas menor do que um. Isso significa que apenas uma parte de um aumento na renda é consumido; o restante é poupado.
Author query: Please provide a translation for ‘Autonomous consumption and investment c0+I’ for Figura 14.2.
Trabalharemos com uma função de consumo agregado na qual a propensão marginal a consumir, c1, é igual a 0,6. Isso significa que uma unidade adicional de renda (Euros, no caso) aumenta o consumo em €1 × 0,6 = 60 centavos.
Naturalmente, esse número médio esconde uma grande variação entre as famílias, que diferem em riqueza e nas restrições de crédito que enfrentam. A maioria das famílias tem pouca riqueza e, mesmo em países ricos, cerca de uma em cada quatro famílias tem restrição de crédito. Como vimos no Capítulo 13, a falta de vontade também desempenha seu papel. Então, tanto para famílias com restrição de crédito quanto para aquelas que não poupam previamente a reduções de renda previstas, o consumo acompanha de perto a renda.
As famílias com pouca riqueza suavizam o consumo muito pouco se sua renda cai bruscamente. A propensão marginal a consumir para este grupo está perto de 0,8. Para uma pequena fração de famílias que detêm a maior parte da riqueza, entretanto, a renda corrente desempenha um papel muito pequeno na determinação do consumo e sua propensão marginal a consumir está perto de zero. Isso significa que, para famílias ricas, um aumento na renda corrente de €1 aumentaria seu consumo em apenas alguns centavos.
O termo c0 na função de consumo agregado captura todas as outras influências sobre o consumo que não estão relacionadas à renda corrente. Entendido em termos literais, é o quanto uma pessoa sem renda consumiria, mas essa não é a melhor maneira de pensar. Este termo é apenas o consumo que independe da renda e, por isso, o chamamos de consumo autônomo.
Como a função de consumo inclui explicitamente apenas a renda corrente, as expectativas sobre renda futura serão incluídas no consumo autônomo. Para ver o que isso significa na prática, lembre-se do Capítulo 13 em que o consumo mudará como resultado do maior ou menor otimismo das pessoas sobre seu emprego futuro ou suas perspectivas de rendimentos.
A Figura 14.3 ilustra como as expectativas afetaram o consumo na crise financeira de 2008 e ressalta a natureza excepcional desse episódio. A figura mostra como a confiança do consumidor mudou nos Estados Unidos ao longo da crise. O índice de sentimento do consumidor que usamos é o University of Michigan Surveys of Consumers. Ele se baseia em entrevistas mensais com 500 famílias e pergunta como elas enxergam as perspectivas para sua própria situação financeira e para a economia como um todo no curto e no longo prazos. A figura também mostra a evolução de alguns indicadores macroeconômicos-chave: renda disponível, consumo de bens duráveis como carros e móveis e consumo de bens não duráveis, como alimentos. Todas as séries na Figura 14.3 são mostradas como números-índice, tendo o primeiro trimestre de 2008 como ano-base.
Figura 14.3 Receio e consumo das famílias nos Estados Unidos durante a crise financeira global (1º trim. 2008 – 4º trim. 2009).
Federal Reserve Bank of St. Louis. 2015. FRED.
Observamos que:
- O consumo de bens não duráveis caiu pouco mais do que a renda disponível: caiu 3% no período. Ao contrário das previsões de que o consumo seria suavizado, as famílias estavam tão preocupadas com suas perspectivas futuras que fizeram ajustes nas despesas de não duráveis.
- O consumo de duráveis se reduziu bem mais que a renda disponível: caiu 10% no primeiro ano.
Qual é o motivo da repentina queda no consumo de bens duráveis? Um motivo importante é que as famílias ficaram temerosas sobre o futuro de seus empregos, conforme mostrado pelo forte declínio no índice de sentimento do consumidor na Figura 14.3. O colapso do banco de investimento Lehman Brothers em setembro de 2008, preocupações sobre a estabilidade do sistema bancário e o maior peso do endividamento das famílias devido à queda dos preços das casas levou as famílias com financiamentos imobiliários a adiar compras de itens caros como carros e geladeiras. É importante lembrar que as despesas com bens de consumo duráveis podem ser facilmente adiadas. Neste sentido, é uma escolha mais parecida com uma decisão de investimento do que de consumo (mesmo que os bens de consumo duráveis sejam contabilizados como parte do consumo nas contas nacionais). Como resultado disso, esperamos que a série de bens de consumo duráveis seja mais volátil do que o consumo de não duráveis.
Agora mostramos como um choque é transmitido ao longo da economia. Na Figura 14.4 mostramos a quantidade produzida (no eixo horizontal) e a demandada (no eixo vertical). Tudo é medido em termos reais porque estamos interessados em como as mudanças na demanda agregada geram mudanças na produção e no emprego.
A reta de 45 graus a partir da origem mostra todas as combinações nas quais a produção é igual à demanda agregada. Isso corresponde ao fluxo circular discutido no Capítulo 13, no qual vimos que os gastos em bens e serviços na economia (demanda agregada) são iguais à produção de bens e serviços na economia (produção agregada). Observamos isso com uma reta de 45 graus, pois a distância horizontal (produção) é igual à distância vertical (demanda agregada). Podemos então dizer que:
\[\begin{align*} \text{produção} &= \text{demanda agregada para os bens produzidos na economia doméstica} \\ Y &= \text{DA} \end{align*}\]- equilíbrio no mercado de bens
- Ponto em que a produção se iguala à demanda agregada para bens produzidos na economia doméstica. A economia continuará com esse nível de produção a menos que algo mude o comportamento das despesas. Veja também: demanda agregada.
- taxa de utilização da capacidade
- Medida do grau que uma firma, indústria ou economia como um todo está produzindo frente àquilo que seu estoque de bens de capital e conhecimento disponível permitiriam.
Mas, como podemos saber onde a economia se encontra na reta de 45 graus? Está em uma posição de baixa produção, que significaria alto desemprego ou está em uma posição de alta produção, que significaria baixo desemprego?
Determinamos essa posição analisando os componentes individuais da demanda agregada. Assumimos que as firmas estão dispostas a ofertar qualquer quantidade de bens demandada pelos compradores; elas não estão operando em plena utilização da capacidade. Como assumimos que não há gastos do governo ou comércio com outras economias, este modelo tem apenas dois componentes de despesa agregada:
- Consumo: utilizemos a reta de consumo apresentada na Figura 14.2. Como a propensão marginal a consumir é menor do que um, a reta de consumo é mais plana do que a reta de 45 graus, que tem inclinação igual a um.
- Investimento: assumimos que o investimento não depende do nível de produção.
A equação de demanda agregada é, portanto:
\[\begin{align*} \text{demanda agregada} &= \text{consumo} + \text{investimento}\\ \text{DA} &= C + I \\ &= c_0 + c_1Y + I \end{align*}\]Portanto, adicionar investimento à reta de consumo causa somente um deslocamento paralelo para cima. Nesse sentido, o investimento é semelhante ao consumo autônomo. Podemos ver na Figura 14.4 que a reta de demanda agregada tem um intercepto de c0 + I, uma inclinação de c1, e é mais plana que a reta de 45 graus.
Temos na Figura 14.4 uma representação de como o nível de produção na economia é determinado. A produção é igual à demanda agregada (a reta de 45 graus) e a demanda agregada é igual a c0 + c1Y + I (a reta mais plana), de modo que a economia deve estar no ponto A, onde as duas linhas se cruzam.
A mesma figura nos mostra o efeito de uma mudança no consumo autônomo (c0) ou no investimento. Analisamos essa mudança exatamente como fizemos com as alterações na oferta e na demanda no Capítulo 11: observamos como a mudança torna o resultado original incompatível com o equilíbrio e identificamos o novo equilíbrio. O movimento do equilíbrio original para o novo equilíbrio equivale à mudança esperada.
Mudanças no consumo autônomo ou no investimento deslocam o antigo equilíbrio porque alteram a demanda agregada, o que, por sua vez, altera o nível de produção e emprego. Na Figura 14.5, utilizamos o diagrama do multiplicador e reduzimos o investimento. Escolhemos uma redução no investimento de €1,5 bilhões. Siga os passos na Figura 14.5 para ver o que ocorre.
Traçamos o efeito da queda do investimento na economia na Figura 14.5. O efeito da primeira rodada é que a queda no investimento corta a demanda agregada em €1,5 bilhões. Mas uma despesa mais baixa também significa menores produção e renda e, como consequência, as firmas demitirão trabalhadores, levando a uma queda adicional nas despesas. Pense nas famílias com restrição de crédito nas quais alguns membros perdem o emprego: elas gostariam de manter o consumo estável, mas quando suas rendas caem elas não conseguem tomar empréstimo suficiente para sustentar o nível de consumo, então, reduzem as despesas, o que leva a mais cortes na produção e na renda. A equação de consumo nos diz que esse tipo de comportamento leva a uma queda no consumo agregado de 0,6 vezes a queda na renda. O processo continuará até que a economia atinja o ponto Z.
Após o choque de investimento, o intercepto da reta se moveu para baixo em €1,5 bilhões, provocando uma mudança paralela na reta de demanda agregada. A produção caiu em €3,75 bilhões, mais do que a queda no investimento de €1,5 bilhões: esse é o processo multiplicador.
Nesse caso, o multiplicador é igual a 2,5 porque a mudança total na produção é 2,5 vezes maior do que a mudança inicial no investimento. Um multiplicador de 2,5 é irrealisticamente grande. Como veremos na próxima seção, uma vez que os impostos e importações são introduzidos no modelo, o multiplicador diminui.
- modelo do multiplicador
- Um modelo de demanda agregada que inclui o processo multiplicador. Veja também: multiplicador fiscal, processo multiplicador.
Chamamos o modelo de demanda agregada que inclui o processo multiplicador de modelo do multiplicador. Este é um resumo:
- Uma queda na demanda leva a uma queda na produção e a uma diminuição equivalente na renda: isso leva a uma outra queda (menor) na demanda, que leva a outra diminuição na produção e assim por diante.
- O multiplicador é a soma de todas as reduções sucessivas na produção: por fim, a produção cai numa quantidade maior do que a mudança inicial na demanda. A produção é um múltiplo da mudança inicial.
- A produção se ajusta à demanda: as firmas ofertam a quantidade de bens demandada ao preço vigente. Quando a demanda cai, as firmas ajustam a produção para baixo. O modelo assume que elas não ajustam seus preços.
Observe que na economia que estamos estudando assumimos que haja recursos não utilizados na forma de capacidade ociosa nas plantas de produção e na força de trabalho subempregada. Também assumimos que os salários não são afetados pelas mudanças no nível de produção. Pressupor capacidade ociosa e salários fixos significa que os custos não aumentarão quando a produção aumentar, de modo que as firmas estarão dispostas a ofertar a produção adicional demandada sem ajustar os preços. Do contrário, parte dos gastos mais elevados se traduzirá em preços ou salários mais altos e não em produto real mais alta — como discutiremos no próximo capítulo.
Se a economia não se caracteriza por capacidade ociosa e salários constantes, o multiplicador será menor do que o encontrado aqui.
Também podemos mostrar o efeito sobre a produção combinando as duas equações que determinam as retas no diagrama do multiplicador. A reta de 45 graus é simplesmente a equação Y = DA. Combinando-a com a equação DA, temos:
\[\begin{align*} Y &= \text{DA} = C+I\\ &= c_0 + c_1Y + I \end{align*}\]Isolando termos no lado esquerdo,
\[\begin{align*} Y(1-c_1) = c_0 + I \end{align*}\]Então dividimos por (1 − c1):
\[\begin{align*} Y = \frac{1}{1-c_1} \times (c_0 + I) \end{align*}\]- demanda autônoma
- Componentes de demanda agregada que são independentes da renda corrente.
Agora podemos calcular quanto a produção irá aumentar ou diminuir usando o valor do multiplicador vezes a mudança na demanda autônoma.
Descubra outra forma de resumir nossos achados a partir do diagrama algébrico no Einstein ao final desta seção.
A mudança na produção na Figura 14.5 é 2,5 vezes maior do que o choque inicial no investimento, o que significa que o choque foi amplificado. Em álgebra, podemos representar esse efeito como ΔY = kΔI, e lemos como ‘delta Y (a mudança na produção) é igual a k, o multiplicador, vezes delta I (a mudança no investimento)’.
Questão 14.1 Escolha a(s) resposta(s) correta(s)
A Figura 14.2 mostra uma função de consumo de uma economia, na qual C é a despesa de consumo agregado e Y é a renda corrente da economia.
Com base nessa informação, qual(is) das afirmações está(ão) correta(s)?
- A PMC é a proporção da renda adicional recebida que é gasta em consumo. Aqui ela é dada por c1. C/Y é a propensão média a consumir.
- A inclinação da reta nos dá a PMC.
- As famílias que suavizam o consumo aumentarão seus gastos em uma quantidade menor do que a elevação de sua renda.
- C é c0 + c1Y, ou seja, $60 trilhões mais o consumo fixo (ou autônomo) c0.
Questão 14.2 Escolha a(s) resposta(s) correta(s)
O diagrama a seguir mostra a mudança no equilíbrio do mercado de bens agregados quando ocorre um aumento de €2 bilhões no investimento.
A propensão marginal a consumir da economia é 0,5. Com base nessa informação, qual(is) das afirmações está(ão) correta(s)?
- O equilíbrio está onde a reta de consumo agregado cruza com a reta de 45 graus. Portanto, o novo equilíbrio está em Z.
- O diagrama mostra que o aumento no investimento resulta em um aumento de €4 bilhões na demanda agregada.
- O multiplicador é igual a 1/(1 − 0,5) = 2.
- A distância entre A e B é o aumento inicial no investimento de €2 bilhões. Em C, a produção Y se elevou em €2 bilhões se comparado com B, que resulta em um aumento na demanda agregada de ΔY (mudança em Y) × PMC, ou seja, €2 bilhões × 0,5 = €1 bilhão.
Einstein Calculando o multiplicador
Consideramos o efeito do aumento no investimento de €1,5 bilhões. Podemos resumir nossos achados do diagrama do multiplicador fazendo algumas contas. Para obter o multiplicador, podemos calcular o aumento total na produção após n + 1 rodadas do processo. Cada rodada do processo corresponde ao diagrama do fluxo circular. O aumento na demanda e na produção na primeira rodada é de €1,5 bilhões. O aumento na demanda e na produção na segunda rodada é de (c1 × €1,5 bilhões), o aumento na demanda e na produção na terceira rodada é de c1 × (c1 × €1,5 bilhões) = (c12 × €11,5 bilhões), e assim por diante.
Após este exercício lógico, o aumento total na demanda e na produção após n +1 rodadas é a soma total dessas mudanças:
\[\begin{align*} 1,5 + c_1(1,5) + c_1^2(1,5) + … + c_1^n(1,5) = 1,5(1+ c_1 + c_1^2 + … + c_1^n) \end{align*}\]Como a propensão marginal a consumir é menor que um, podemos mostrar que a soma total entre parênteses atinge um limite de 1/(1 − c1) à medida que n fica maior. Isso ocorre porque o termo entre parênteses é, matematicamente, uma série geométrica. Mostramos isso como se segue:
Se k é o multiplicador, temos:
\[\begin{align*} k = (1+c_1 + c_1^2 + … + c_1^n) \end{align*}\]Agora, multiplique ambos os lados por (1 – c1) para obter:
\[\begin{align*} k(1-c_1) &= (1 + c_1 + c_1^2 + … + c_1^n)(1-c_1) \\ &= (1 + c_1 + c_1^2 + … + c_1^n) - (c_1 + c_1^2 + c_1^3 + … + c_1^{n+1}) \\ &= 1 - c_1^{n+1} \end{align*}\]Então divida por (1 − c1):
\[\begin{align*} k = \frac{(1 - c_1^{n+1})}{(1 - c_1)} \end{align*}\]À medida que n aumenta, assumindo que c1 < 1, o numerador tende a 1. Então, no limite:
\[\begin{align*} k = \frac{1}{1-c_1} \end{align*}\]No exemplo, a propensão marginal a consumir é, em média, 0,6. Isso implica que o multiplicador é igual a:
\[\begin{align*} \frac{1}{1-c_1} = \frac{1}{1-0,6} = 2,5 \end{align*}\]Então, podemos aplicar o multiplicador à mudança inicial no investimento de €1,5 bilhões para encontrar a soma de todos os aumentos sucessivos na produção provocados pela subida inicial no investimento e na demanda agregada. 2,5 × €1,5 bilhões = €3,75 bilhões.
14.3 Objetivo de riqueza das famílias, colateral e despesas de consumo
Como vimos no Capítulo 13, sabemos que o consumo é o maior componente do PIB na maioria das economias. Portanto, uma parte importante do entendimento das mudanças na produção e no emprego é saber por que o consumo muda.
Vimos que um choque no investimento muda a curva de demanda agregada e é transmitido pela economia conforme as famílias ajustam seus gastos em reação às mudanças na renda. Enfatizamos a suavização incompleta do consumo, como as restrições de crédito. Esse comportamento reflete-se no tamanho dos multiplicadores e na inclinação da curva de demanda agregada. Mas o comportamento do consumo e da poupança também pode deslocar a curva de demanda agregada.
O deslocamento da demanda agregada pode ser causado por uma mudança no consumo autônomo, representada pelo termo c0 na função de consumo agregado, C = c0 + c1Y. Uma mudança em c0 por sua vez produzirá uma resposta do multiplicador de produção e emprego por meio do fluxo circular de gastos, produção, e renda da mesma forma que a queda no investimento na seção anterior foi multiplicada.
- hipoteca (ou financiamento imobiliário)
- Empréstimo contratado por famílias e empresas para comprar uma propriedade sem pagar o valor total imediatamente. Ao longo de muitos anos, o tomador paga o empréstimo, com juros. A dívida é garantida pela própria propriedade, denominada colateral. Veja também: colateral.
- poupança precaucional
- Aumento na poupança para restabelecer a riqueza ao seu nível desejado. Veja também: objetivo de riqueza.
- objetivo de riqueza
- Nível de riqueza que uma família procura ter, com base nos seus objetivos (ou preferências) econômicos e expectativas. Assumimos que as famílias tentam manter, enquanto puderem, este nível de riqueza face a mudanças em sua situação econômica.
Pense em uma família com uma hipoteca de sua casa. Se o preço das casas cair, a família também se preocupará com a redução de sua riqueza. Uma provável reação é que a família poupe mais. Isso é chamado de poupança precaucional. Uma forma de analisar esse comportamento é assumir que as famílias têm em mente um objetivo de riqueza que tentam manter.
Quando algo afeta o estoque de riqueza da família em relação ao seu objetivo, ela reage aumentando ou diminuindo sua poupança para restabelecer a riqueza ao nível desejado. Se esse ajuste envolver poupança precaucional, será modelado como uma queda no consumo autônomo.
- Grande Depressão
- Período de intensa queda na produção e no emprego em muitos países nos anos 1930.
Em 1929, uma desaceleração da economia americana, que inicialmente se assemelhava a outras fases de baixa do ciclo ocorridas na década anterior, se transformou em um desastre econômico de larga escala — a Grande Depressão.1
A queda na produção e no emprego durante a Grande Depressão ressalta dois modos pelos quais o consumo agregado pode cair — restrições de crédito no processo multiplicador e alterações na riqueza em relação ao objetivo de riqueza.
Para entender os mecanismos econômicos em funcionamento na Grande Depressão, usamos o diagrama do multiplicador mostrado na Figura 14.6. O ponto A mostra a situação inicial da economia no terceiro trimestre de 1929. Houve, na ocasião, uma queda no investimento, que deslocou a curva de demanda agregada do nível pré-crise para o nível da crise. A linha pontilhada do ponto B mostra o nível de produção que teria sido observado no vale do ciclo econômico se o processo multiplicador normal estivesse funcionando. Haveria uma recessão, mas não uma Grande Depressão. Mas a desaceleração foi muito pior devido à queda na demanda por bens de consumo, mesmo por aqueles que mantiveram seus empregos.
O consumo foi cortado devido a dois mecanismos:
- O deslocamento de A para B: conforme a produção e o emprego caíram, algumas famílias cortaram as despesas com habitação e bens de consumo duráveis porque tinham restrição de crédito e, portanto, não podiam tomar empréstimos em condições adversas. Alguns economistas estimaram que o tamanho do multiplicador na época era de cerca de 1,8.
- O deslocamento de B para C: mesmo famílias que mantiveram o emprego fizeram cortes nas despesas porque ficou cada vez mais claro que a recessão era a nova realidade, não um choque temporário. Isso deslocou a função de consumo para baixo e empurrou a economia para uma depressão ainda maior de B para C na Figura 14.6.
Pesquisas realizadas desde a Grande Depressão (que analisamos com mais profundidade no Capítulo 17) fornecem uma série de explicações para a queda do consumo autônomo nos Estados Unidos:
- Incerteza: a incerteza sobre o estado da economia provocado pela dramática quebra do mercado de ações em outubro de 1929 fez com que as firmas e as famílias fossem mais cautelosas, incentivando-as a adiar compras de máquinas e equipamentos e bens de consumo duráveis.
- Pessimismo e o desejo de poupar mais: as famílias também se tornaram mais pessimistas a respeito da sua capacidade de manter os níveis correntes de gastos, à medida que temiam o desemprego e rendimentos mais baixos no futuro. A avaliação de sua riqueza material também foi afetada à medida que os preços de casas e ativos financeiros caía. Os anos 1920 viram uma intensificação das dívidas das famílias, que pela primeira vez puderam utilizar acordos de parcelamento para comprar bens de consumo duráveis.
- A crise bancária e o colapso do crédito: um terceiro fator que deslocou a reta de demanda agregada para baixo para o nível denominado ‘vale’ foi a crise bancária de 1930 e 1931, que afetou tanto o consumo quanto o investimento. Houve uma onda de falências de pequenos bancos fracos, em grande parte não regulados, por todos os Estados Unidos. O sistema de pequenos bancos ficou vulnerável ao pânico. Os poupadores começaram a temer que não conseguiriam ter acesso aos seus depósitos. Como explicado no Capítulo 10, conforme o pânico se espalhou de um banco para outro, corridas bancárias afetaram todo o sistema bancário. Com o colapso do sistema bancário, as famílias perderam depósitos e pequenas empresas perderam acesso ao crédito.
- capital humano
- Estoque de conhecimento, habilidades, atributos comportamentais e características pessoais que determinam a produtividade do trabalho ou o rendimento do trabalho de um indivíduo. Investimento em capital humano por meio de educação, treinamento e socialização pode aumentar o estoque e tal investimento é uma das fontes de crescimento econômico. Parte da dotação de um indivíduo. Veja também: dotação.
Para ilustrar porque as famílias não afetadas por restrições de crédito também cortaram seu consumo, vamos analisar a composição da riqueza ou os ativos de uma família. No Capítulo 10 introduzimos o conceito de riqueza comparando-o com o volume de água em uma banheira. Naquele momento, enfatizamos a riqueza material. Na Figura 14.7 ampliamos o conceito de riqueza àquela mais ampla de modo a incluir os rendimentos futuros esperados de uma família com o emprego, conhecido como valor do seu capital humano.
Acompanhe a análise na Figura 14.7 para ver a composição da riqueza ampla de uma família, que é igual ao valor de todos os seus ativos, menos suas dívidas (que assumimos ser uma hipoteca da casa).
- capital próprio
- Investimento do próprio indivíduo em um projeto. É registrado no balanço de um indivíduo ou firma como patrimônio líquido. Veja também: patrimônio líquido. Um uso totalmente diferente do termo é sinônimo de equidade.
Como veremos:
- Se o objetivo de riqueza está acima da riqueza esperada: a família aumentará sua poupança e reduzirá seu consumo.
- Se o objetivo de riqueza está abaixo da riqueza esperada: a família reduzirá sua poupança e aumentará seu consumo.
No início de 1929, como uma família com a situação de riqueza mostrada na coluna A da Figura 14.8 interpretaria as notícias sobre o fechamento de fábricas, o colapso do mercado acionário e a falência de bancos? Como ela teria ajustado seus gastos com bens de consumo duráveis, moradia e bens de consumo não duráveis? As respostas para essas perguntas nos mostram por que ocorreu a Grande Depressão.
- acelerador financeiro
- Mecanismo pelo qual a capacidade das firmas e famílias de tomar empréstimos aumenta quando o valor do colateral com que se comprometeram com o credor (em geral um banco) aumenta.
- Antes da Depressão: observado a partir do início de 1929 (coluna A na Figura 14.8), as famílias tomam decisões de consumo alinhadas com suas expectativas: riqueza total igual ao objetivo de riqueza.
- A Depressão: no final de 1929 (coluna B), a recessão estava ocorrendo e as crenças tinham mudado. Com a perda de empregos em toda a economia, as famílias revisaram para baixo seus rendimentos esperados. Preços de ativos em queda (de ações e casas) reduziram o valor da riqueza material das famílias. O resultado foi um hiato entre o objetivo de riqueza das famílias e a riqueza esperada. Isso ajuda a explicar a redução no consumo das famílias que poderia (e numa recessão comum, iria) ajudar a suavizar uma queda temporária na demanda agregada. Em vez disso, as famílias aumentaram sua poupança. Essa queda no consumo autônomo é parte da explicação para o deslocamento para baixo da curva de demanda agregada da crise para o vale na Figura 14.6.
- O acelerador financeiro, o colateral e as restrições de crédito: as mudanças na riqueza das famílias afetam o consumo por outro canal. No Capítulo 10, vimos que ter colateral pode permitir que uma família tome empréstimos. Um exemplo importante é o caso de empréstimos imobiliários, nos quais o banco aumenta um empréstimo usando o valor da casa como colateral. Se o valor de sua casa diminui, o banco estará disposto a emprestar menos, aumentando sua restrição de crédito, o que pode reduzir seu consumo.
Os mesmos mecanismos estão em funcionamento se os preços das casas aumentam, o que tenderá a aumentar o consumo:
- Para aqueles que não têm restrição de crédito: se o valor de sua casa aumenta, isso melhora seu patrimônio líquido e aumenta sua riqueza em relação ao objetivo. Poderíamos prever que isso reduziria a poupança precaucional, aumentando o consumo.
- Para aqueles que têm restrição de crédito: um aumento no preço de sua casa pode levá-lo a aumentar seus gastos de consumo porque os colaterais mais altos permitem que você tome mais empréstimo.
Exercício 14.1 O balanço de uma família
Pense em uma família constituída por um casal com dois filhos cuja casa está hipotecada. Ela pagou metade da hipoteca. A família também tem um carro e um portfólio de ações de empresas. Ela gasta sua renda com alimentação, vestuário e mensalidades de escolas privadas e tem uma poupança para a aposentadoria em um fundo de pensão.
- Qual desses itens estaria no balanço de uma família?
- Usando o exemplo do balanço do banco na Figura 10.16 como guia, construa um balanço anual para sua família hipotética. Você pode querer fazer uma pesquisa dos valores habituais desses itens para uma família desse tipo.
Exercício 14.2 Moradias na França e na Alemanha
Na França e na Alemanha, é difícil para uma família aumentar seus empréstimos baseado no aumento do valor de mercado da sua casa. Além disso, grandes adiantamentos (como um percentual do preço da casa) são necessários para comprar um imóvel.
- Com base nessa informação, como você espera que um aumento no preço de casas na França e na Alemanha afete as despesas das famílias?
- Nos Estados Unidos e no Reino Unido é mais fácil obter empréstimos com base em um aumento do patrimônio imobiliário e somente um pequeno adiantamento é necessário. Como você esperaria que sua resposta para a pergunta 1 mudasse ao considerar os Estados Unidos e o Reino Unido?
- O que você conclui sobre o papel dos aceleradores financeiros na França e na Alemanha comparado com os do Reino Unido e dos Estados Unidos?
Observação: um artigo da VoxEu de dezembro de 2014, ‘Combatting Eurozone deflation: QE for the people’, fala sobre a influência de uma mudança nos preços de imóveis sobre os gastos na Europa e nos Estados Unidos.
Questão 14.3 Escolha a(s) resposta(s) correta(s)
Qual(is) das seguintes afirmações está(ão) correta(s) a respeito da riqueza das famílias?
- A riqueza material é o patrimônio líquido, ou seja, a riqueza financeira mais o valor da casa menos sua dívida.
- Esta é a definição de riqueza ampla.
- Uma família ajusta sua poupança precaucional como reação a hiatos (positivos ou negativos) entre sua riqueza corrente e seu objetivo.
- Se o objetivo de riqueza estiver acima de sua riqueza esperada, então a família aumentará sua poupança para fechar o hiato, reduzindo seu consumo.
14.4 Gastos de investimento
No Capítulo 13, comparamos a volatilidade do investimento com a suavização dos gastos de consumo. Mas, como as firmas tomam decisões de investimento? Pense no gerente ou proprietário de uma firma decidindo o que fazer com seus lucros retidos. Ele tem quatro escolhas:
- Dividendos: alocar os fundos em salários gerenciais ou de empregados ou em dividendos para os proprietários.
- Poupança: comprar um ativo financeiro remunerado por juros como um título ou resgatar (pagar) dívidas existentes.
- Investimento no exterior: formar nova capacidade produtiva em outro país.
- Investimento no país: formar nova capacidade no próprio país.
A quarta escolha é chamada de investimento no nosso modelo (a terceira escolha também é investimento, mas como ele é realizado em outro país, é medido nas contas nacionais do país estrangeiro como parte do seu I, não nas contas do país de origem dos recursos).
Se assumirmos que não existe motivo para mudar os salários, então também podemos decompor a decisão do proprietário como fizemos com a decisão de Marco no Capítulo 10:
- O proprietário tem a opção de consumir agora ou futuramente: converter a receita em dividendo significa que o proprietário pode, se quiser, simplesmente consumir a renda extra imediatamente.
- Se a decisão for de consumir futuramente: o proprietário pode tanto poupar (emprestar comprando um ativo financeiro, como um título, ou resgatar uma dívida) ou investir em um novo projeto.
- Se a decisão for investir: se o proprietário faz isso no próprio país ou no exterior, isso dependerá da taxa de lucro esperada para os projetos de investimento potenciais nas duas localidades.
O grau de desejo em consumir mais agora e não no futuro depende da taxa de desconto do proprietário (ρ), como discutido no Capítulo 10. O proprietário irá comparar essa opção ao retorno que pode obter ao não consumir agora. Se a firma poupa comprando um ativo financeiro, então o retorno é a taxa de juros r. Se a firma investe em capacidade produtiva, então o retorno será a taxa de lucro sobre o investimento, que chamaremos de Π, como no Capítulo 10:
- Se ρ for maior do que r e Π: o proprietário manterá os recursos e aumentará os gastos com consumo.
- Se r for maior do que ρ e Π: o proprietário decidirá pagar dívida ou comprar um ativo financeiro.
- Se Π for maior do que ρ e r: o proprietário investirá (tanto no país quanto no exterior).
- política monetária
- Ações do banco central (ou do governo) com o propósito de influenciar a atividade econômica mudando a taxa de juros ou os preços de ativos financeiros. Veja também: quantitative easing. Também conhecido como: relaxamento quantitativo, afrouxamento quantitativo, flexibilização quantitativa.
Por conta dessas opções, a taxa de juros é um dos fatores determinantes do investimento. Vimos no Capítulo 10 que isso pode ser alterado pela política do banco central (política monetária). A taxa de juros é o custo de oportunidade das compras de máquinas, equipamentos e estruturas que aumentam o estoque de capital — se você tem dinheiro disponível, pode poupá-lo com um retorno de r ao invés de investi-lo. De outra forma, se você não tem dinheiro disponível, o custo de tomar um empréstimo para investir também é r. Se classificarmos os projetos de investimento pela sua taxa de lucro esperada após os impostos, uma taxa de juros mais baixa aumenta o número de projetos nos quais a taxa de lucro esperada é maior do que a taxa de juros. Vimos isso quando Marco enfrentou a decisão de investir ou não (Figura 10.10). Portanto, uma taxa de juros mais alta reduz o investimento e uma taxa de juros mais baixa o aumenta.
A Figura 14.9 ilustra esse fato para uma economia constituída por duas firmas, A e B. Para cada firma neste exemplo existem três projetos de investimento com escalas e taxas de retorno diferentes. Eles são mostrados em ordem decrescente da taxa de lucro esperada. Acompanhe a análise na Figura 14.9 para ver como a taxa de juros determina quais projetos de investimento devem prosseguir. O painel inferior agrega as duas firmas para mostrar como o investimento na economia como um todo responde a uma mudança na taxa de juros.
Nas Figuras 14.10a–c, vemos como uma mudança nas expectativas de lucro afetam o investimento.
Na economia de duas firmas na figura 14.10a, a taxa de lucro esperada para cada projeto aumenta devido a uma melhoria nas condições pelo lado da oferta da economia. A altura de cada coluna aumenta e resulta em mais investimento a determinada taxa de juros.
Uma mudança para cima pode ser provocada por uma queda nos preços esperados dos insumos como uma previsão de queda no preço da energia ou nos salários ou uma queda na tributação ao longo da vida útil do projeto.
- risco de expropriação
- Probabilidade de que um ativo seja tomado do seu proprietário pelo governo ou por algum outro ator.
Outro exemplo de efeito de oferta positivo é uma melhoria na garantia dos direitos de propriedade de modo que haja menor probabilidade de que o governo ou outro ator poderoso (um proprietário de terra, como Bruno no Capítulo 5, que possa ameaçar um proprietário de pequeno porte) se aproprie de um projeto de investimento. A isso se denomina queda no risco de expropriação e é um exemplo de melhoria no ambiente de negócios.
Na Figura 14.10b, a altura das colunas permanece inalterada, mas sua largura (representando a quantidade de investimento que é rentável em vários projetos) aumentou, resultado do aumento permanente na demanda e da falta de capacidade suficiente para atender as previsões de vendas.
- função de investimento (agregado)
- Equação que mostra como as despesas de investimento na economia como um todo dependem de outras variáveis, mais especificamente, da taxa de juros e das expectativas de lucros. Veja também: taxa de juros, lucro.
Em uma economia com milhares de firmas, uma reta inclinada para baixo (como na Figura 14.10c) representa os projetos de investimento potenciais, que chamamos de função de investimento agregado. A resposta do investimento a uma mudança na taxa de juros é representada por um deslocamento de C para E. A Figura 14.10c também mostra o efeito de uma mudança na lucratividade do investimento, que surge dos efeitos de oferta e demanda e aumenta os investimentos de C para D para a mesma taxa de juros.
A evidência empírica sugere que os gastos corporativos em máquinas e equipamentos não são muito sensíveis à taxa de juros. O efeito limitado das mudanças na taxa de juros sobre os investimentos corporativos (ilustrado pela inclinação das linhas na figura) enfatiza a importância dos fatores pelo lado da oferta e da demanda que deslocam a função de investimento (Figuras 14.10a e 14.10b).
A taxa de juros afeta o gasto com investimento fora do setor corporativo por meio de seus efeitos sobre as decisões das famílias de comprar casas novas ou maiores, que influencia a construção residencial. A taxa de juros também tem efeitos substanciais sobre a demanda por bens de consumo duráveis, tais como carros e eletrodomésticos, cuja compra frequentemente utiliza crédito.
Questão 14.4 Escolha a(s) resposta(s) correta(s)
A Figura 14.9 representa possíveis projetos de investimento para as Firmas A e B.
Com base nessa informação, qual(is) das afirmações está(ão) correta(s)?
- Para a Firma B, a taxa de lucro esperada de seu projeto 1 é menor do que 5%. Portanto, apenas a Firma A realiza seu projeto 1.
- A uma taxa de juros de 1,5%, a Firma A não realizará o projeto 3.
- Com um choque de demanda positivo permanente, a altura das colunas permanece inalterada, mas a quantidade de investimentos rentáveis aumenta, o que aumenta a largura das colunas, levando a maiores investimentos (para qualquer taxa de juros).
- O aumento nos preços de energia eleva os custos das firmas e os lucros esperados diminuem, o que implica que menos projetos têm uma taxa de lucro esperada maior do que a taxa de juros.
Questão 14.5 Escolha a(s) resposta(s) correta(s)
A Figura 14.10c mostra a função de investimento agregado de uma economia
Com base nessa informação, qual(is) das seguintes afirmações está(ão) correta(s)?
- A reta de investimento representa a relação entre o investimento e a taxa de juros, “tudo o mais constante”. Portanto, a queda no investimento seria representada por um movimento para cima da reta original (de E para C, por exemplo), não por um deslocamento da linha.
- Um aumento nos impostos sobre empresas diminuiria a taxa de lucro esperada, deslocando a reta de investimento para dentro, o que resultaria em uma queda no investimento.
- Uma demanda mais alta torna rentável investir em projetos maiores, aumentando o investimento a determinada taxa de juros.
- Uma reta mais inclinada significa menores mudanças no investimento quando a taxa de juros se altera, ou seja, menor sensibilidade do investimento à taxa de juros.
14.5 O modelo do multiplicador: incluindo o governo e as exportações líquidas
Aqui adicionamos os governos e os bancos centrais ao modelo para que possamos mostrar como eles podem estabilizar (ou desestabilizar) a economia após um choque. Assumimos, como antes, que as firmas estão dispostas a ofertar qualquer quantidade de bens demandada, então:
\[\begin{align*} \text{produção} &= \text{demanda agregada} \\ Y &= \text{DA} \end{align*}\]Vimos no Capítulo 13 que, quando incluímos o governo e as interações com o resto do mundo por meio das exportações e importações, a demanda agregada pode ser dividida entre esses componentes:
\[\begin{align*} \text{demanda agregada} &= \text{consumo} \\ &+ \text{investimento} \\ &+ \text{gastos do governo} \\ &+ \text{exportações líquidas} \end{align*}\]Para entender a função de demanda agregada como mostrado anteriormente, deve-se analisar cada um desses componentes:
Consumo
Os gastos de consumo das famílias dependem da renda após os impostos. O governo cobra impostos correspondentes a t, que entendemos ser proporcional à renda. A renda que resta após o pagamento de impostos, (1 - t)Y, é chamada de renda disponível. A propensão marginal a consumir, c1, é a fração da renda disponível (não a renda antes dos impostos) consumida. Isso significa que, na função de consumo agregado:
- Os gastos de consumo são expressos como: C = c0 + c1(1 − t)Y.
- Todas as influências sobre o consumo que não a renda disponível corrente estão incluídas no consumo autônomo, c0 e, portanto, deslocarão a função consumo no diagrama do multiplicador, que incluem a riqueza e o objetivo de riqueza, os efeitos do colateral e as mudanças na taxa de juros.
Investimento
Acabamos de ver que os gastos com investimento serão influenciados pela taxa de juros e pela taxa de lucro esperada após os impostos. Na função de investimento agregado:
- O gasto com investimento é uma função da taxa de juros e da taxa de lucro esperada após os impostos.
- “Tudo o mais constante”, a taxa de juros maior reduz o gasto com investimento, deslocando para baixo a curva de demanda agregada.
- Uma taxa de lucro esperada após os impostos mais alta aumenta o gasto com investimento, deslocando a curva de demanda agregada para cima.
Gastos governamentais
- exógenos
- No definition available.
Muitas despesas governamentais (excluindo as transferências) são feitas em serviços públicos gerais, saúde e educação. As despesas governamentais não mudam de modo sistemático com alterações na renda e são denominadas exógenas.
Um aumento nos gastos do governo desloca a curva de demanda agregada para cima no diagrama do multiplicador.
Exportações líquidas
- propensão marginal a importar
- Mudança nas importações totais associada a alterações na renda total.
A economia doméstica vende bens e serviços para o exterior, que são suas exportações. A quantidade de bens estrangeiros que a economia doméstica demanda (suas importações) dependerá da renda doméstica. A fração de cada unidade adicional de renda que é gasta em importações é denominada propensão marginal a importar (m), que deve estar entre 0 e 1. Dessa forma, temos:
\[\begin{align*} \text{exportações líquidas} &= X - M \\ &= X - mY \end{align*}\]- taxa de câmbio
- Número de unidades de moeda local que pode ser trocado por uma unidade de moeda estrangeira. Por exemplo, o número de dólares australianos (AUD) necessários para comprar um dólar americano (USD) é definido como o número de AUD por USD. Um aumento nesta taxa é uma depreciação do AUD e uma redução é uma apreciação de AUD.
Se os custos de produção de um país caem de forma que ele possa vender seus produtos a um preço mais baixo nos mercados mundiais em comparação com os preços de outros países, a demanda por suas exportações crescerá e a demanda doméstica por importações diminuirá. Veremos no próximo capítulo que a taxa de câmbio afeta os preços dos bens de um país nos mercados mundiais. O crescimento dos mercados mundiais também aumenta as exportações. Entretanto, vamos ignorar esses efeitos por ora e assumir que as exportações também são exógenas.
Colocando os componentes da demanda agregada juntos, temos:
\[\begin{align*} \text{DA} &= c_0 + c_1(1-t)Y + I + G + X - mY \end{align*}\]Tanto os impostos quanto as importações reduzem o tamanho do multiplicador. Lembre-se que o multiplicador nos diz em que magnitude um aumento de gastos (como o aumento no consumo autônomo, investimento, despesas governamentais ou exportações) eleva o PIB em uma economia. Quando incluímos os impostos e as importações no modelo, o efeito multiplicador indireto de determinado aumento dos gastos sobre o PIB é menor, pois parte da renda familiar vai direto para o governo na forma de impostos e parte é usada para comprar bens e serviços produzidos no exterior. Como assumimos que o governo não aumenta seus gastos quando os impostos se elevam e os compradores no exterior não importam mais dos nossos bens quando importamos mais deles, isso significa que parte de um aumento autônomo na renda não leva a aumentos indiretos posteriores da renda na economia doméstica. Assim como a poupança, os impostos e as importações também são conhecidos como vazamentos do fluxo circular da renda. O resultado é a redução dos efeitos indiretos de uma mudança autônoma nos gastos da demanda agregada, da produção e do emprego.
Resumindo:
- Uma propensão marginal a importar maior reduz o tamanho do multiplicador: isso torna a curva de demanda agregada mais plana.
- Um aumento nas exportações desloca a curva de demanda agregada para cima no diagrama do multiplicador.
- Um aumento na taxa de impostos reduz o tamanho do multiplicador: isso torna a curva de demanda agregada mais plana.
O Einstein ao final desta seção mostra como calcular o tamanho do multiplicador no modelo após incluir a taxa de impostos e as importações. Para ilustrar, assumimos uma taxa de impostos de 20% (0,2) e uma propensão marginal a importar de 0,1. Antes de introduzirmos o governo, definimos uma propensão marginal a consumir, c1, de 0,6. Se usamos esses números na fórmula para o multiplicador que calculamos no Einstein, obtemos um resultado de que o valor do multiplicador é k = 1,6, comparado com 2,5 sem incluir os impostos e as importações. Na próxima seção veremos como os economistas têm estimado o tamanho do multiplicador a partir dos dados, por que suas estimativas diferem e por que isso é importante.
Exercício 14.3 O modelo do multiplicador
Considere o modelo do multiplicador discutido acima.
- Compare duas economias, que diferem apenas na fração de famílias com restrição de crédito, mas são idênticas em todos os outros aspectos. Em qual economia o multiplicador é maior? Ilustre sua resposta usando um diagrama.
- Com base em sua comparação das duas economias, você esperaria que o multiplicador em uma economia variasse dependendo do seu ciclo econômico?
- Alguns economistas estimaram o tamanho do multiplicador na Grande Depressão igual a 1,8. Explique como as seguintes características da economia dos Estados Unidos na época poderiam ter afetado seu valor:
- o tamanho do governo (veja a Figura 14.1)
- o fato de não haver auxílio desemprego
- o fato de a participação de importações ser pequena
Questão 14.6 Escolha a(s) resposta(s) correta(s)
A demanda agregada de uma economia aberta é dada pelo consumo doméstico após os impostos C, pelo investimento I (que depende da taxa de juros r), das despesas governamentais G e das exportações líquidas X − M:
\[\begin{align*} \text{DA} &= C + I + G + X - M \\ &= c_0 + c_1(1-t)Y + I(r) + G + X - mY \end{align*}\]c0 é o consumo autônomo, c1 é a propensão marginal a consumir, e m é a propensão marginal a importar. No equilíbrio da economia isso é igual à sua produção: DA = Y. Resolvendo para Y, temos:
\[\begin{align*} Y = (\frac{1}{1-c_1(1-t)+m})(c_0 + I(r) + G + X) \end{align*}\]Dada essa equação, qual das seguintes alternativas aumenta o multiplicador?
- G afeta o nível de DA, mas não o multiplicador.
- r afeta I(r) que, por sua vez, afeta o nível de DA, mas não o multiplicador.
- Uma queda em m aumenta o multiplicador, pois reduz os vazamentos na economia.
- Um aumento em t reduz o multiplicador.
Einstein O multiplicador em uma economia com governo e comércio exterior
Novamente podemos usar o fato de haver um equilíbrio no mercado de bens quando a produção é igual à demanda agregada para encontrar o multiplicador (o equilíbrio ocorre quando a reta de demanda agregada cruza a reta de 45 graus no diagrama do multiplicador). A equação de demanda agregada pode ser reorganizada para ser resolvida para a produção e, consequentemente, o multiplicador:
\[\begin{align*} \text{produção} &= \text{demanda agregada} \\ \text{produção} &= \text{consumo} \\ &+ \text{investimento} \\ &+ \text{despesas governamentais} \\ &+ \text{exportações líquidas} \end{align*}\]Portanto:
\[\begin{align*} Y &= c_0 + c_1(1-t)Y + I(r) + G + X - mY \\ Y(1-c_1(1-t) + m) &= c_0 + I(r) + G + X \\ Y &= \underbrace{\frac{1}{(1 - c_1(1-t) + m)}}_\text{multiplicador} \times \underbrace{(c_0 + I(r) + G + X)}_\text{demanda que não depende da renda} \end{align*}\]Podemos ver que o multiplicador é menor quando introduzimos o governo e o comércio exterior:
\[\begin{align*} \frac{1}{(1-c_1(1-t) + m)} < \frac{1}{(1-c_1)} \end{align*}\]O motivo é que o denominador do lado esquerdo é maior do que o do lado direito:
\[\begin{align*} 1-c_1(1-t) + m > 1-c_1 \end{align*}\]
14.6 Política fiscal: como os governos podem atenuar e ampliar as flutuações
Existem três formas principais pelas quais as despesas governamentais e os impostos podem atenuar as flutuações na economia:
- O tamanho do governo: diferentemente do investimento privado, as despesas governamentais sobre o consumo e o investimento em geral são estáveis. Os gastos com saúde e educação, que são os dois maiores itens dos orçamentos públicos da maioria dos países, não flutuam com a utilização de capacidade ou com a confiança empresarial. Esses tipos de despesas governamentais estabilizam a economia. Como também vimos, uma taxa de impostos maior atenua as flutuações porque reduz o tamanho do multiplicador.
- Os governos oferecem auxílio desemprego: embora as famílias poupem para suavizar as flutuações na renda, poucas famílias poupam o suficiente (ou seja, fazem autosseguro) para enfrentar um longo período de desemprego. Portanto, os auxílios desemprego ajudam as famílias a suavizar o consumo. Outros programas de redistribuição de renda aos pobres têm o mesmo efeito suavizador.
- O governo pode intervir: ele pode intervir deliberadamente para estabilizar a demanda agregada usando a política fiscal.
- política fiscal
- Mudanças em impostos ou gastos governamentais para estabilizar a economia. Veja também: estímulo fiscal, multiplicador fiscal, demanda agregada.
- cosseguro
- Meio de centralizar poupanças das famílias a fim de que uma família possa manter seu consumo quando passar por uma queda temporária na renda ou tiver necessidade de fazer uma despesa maior.
- ações ocultas (problema das)
- Ocorre quando alguma ação tomada por uma parte em uma troca não é conhecida ou não pode ser verificada pela outra. Por exemplo, o empregador não pode saber (ou não pode verificar) com quanto afinco o trabalhador que contratou está realmente trabalhando. Também conhecido como: risco moral. Ver também: atributos ocultos (problema dos).
Os trabalhadores podem se assegurar de forma privada contra a perda de emprego? Também são três os motivos pelos quais o mercado privado falha e, portanto, os governos oferecem seguro desemprego na forma de auxílio:
- Risco correlacionado: em uma recessão, a perda de emprego será generalizada, o que significa que haverá aumento das indenizações em toda a economia e um fornecedor privado pode não conseguir pagar na escala necessária. Isso também significa que o cosseguro entre um grupo de vizinhos ou membros de uma família pode ser pouco útil, pois a necessidade de ajuda pode surgir em várias famílias ao mesmo tempo.
- Ações ocultas: como vimos no Capítulo 12, a companhia de seguro não pode observar os motivos para a perda de emprego, de modo que teria de segurar um empregado contra uma firma que fizesse cortes devido à falta de demanda, bem como os trabalhadores demitidos por trabalho inadequado, o que gera risco moral, pois é esperado que uma pessoa bem-assegurada faça menos esforço no trabalho.
- Atributos ocultos: suponha que você fique sabendo que sua firma está com dificuldades, mas a companhia de seguro não sabe disso. Este é outro exemplo de informação assimétrica. Você adquirirá um seguro quando souber do provável fechamento da firma e ele será ofertado a uma boa taxa porque a companhia de seguro não sabe que você provavelmente requisitará a indenização. Os trabalhadores que sabem que as firmas onde trabalham estão indo bem não comprarão seguro. O problema dos atributos ocultos será verdadeiro para indivíduos (trabalhadores ou preguiçosos) bem como para as firmas (bem-sucedidas ou falimentares). Aqueles com boas perspectivas (que gostam de trabalhar arduamente, por exemplo) evitarão o seguro e a seguradora ficará com aqueles que provavelmente enfrentarão maiores riscos de perderem seus empregos.
O sistema de auxílio desemprego é parte da estabilização automática que caracteriza as economias modernas. Já vimos outro estabilizador automático: um sistema de impostos proporcional reduz o tamanho do multiplicador e atenua o ciclo econômico.
- risco moral
- Esse termo se originou na indústria de seguros para expressar o problema que as seguradoras enfrentam, qual seja, a pessoa com seguro residencial pode tomar menos cuidado para evitar incêndios ou outros danos a sua casa, aumentando, assim, o risco para além do que correria se não tivesse seguro. O termo agora se refere a qualquer situação em que uma parte de uma interação está decidindo sobre uma ação que afeta os lucros ou o bem-estar da outra, mas que a parte afetada não pode controlar por meio de um contrato, em geral porque a parte afetada não tem informações adequadas sobre a ação. Também é denominado problema de ‘ações ocultas’. Veja também: ações ocultas (problema das), contrato incompleto, grande demais para quebrar (too big to fail).
- atributos ocultos (problema dos)
- Ocorre quando algum atributo da pessoa envolvida em uma troca (ou o produto ou serviço oferecido) não é conhecido pela outra parte. Um exemplo é a pessoa que compra seguro de saúde e conhece seu próprio estado de saúde, mas a companhia de seguro não. Também conhecido como: seleção adversa, ações ocultas (problema das).
- informação assimétrica
- Informação relevante para todos os participantes em uma interação econômica, que é conhecida por algumas partes envolvidas, mas não por outras. Veja também: seleção adversa, risco moral.
- estabilizadores automáticos
- Característica do sistema de impostos e transferências em uma economia que tem o efeito de compensar uma expansão ou contração da economia. Um exemplo é o sistema de auxílio desemprego.
- paradoxo da parcimônia
- Se um único indivíduo consumir menos, sua poupança aumentará, mas se todo mundo consumir menos, o resultado poderá ser uma poupança geral menor e não maior. A tentativa de aumentar a poupança é frustrada se o aumento na taxa de poupança não for acompanhado pelo aumento no investimento (ou outra fonte de demanda agregada como despesas governamentais sobre bens e serviços). O resultado é uma redução na demanda agregada e uma menor produção de modo que os níveis efetivos de poupança não aumentam.
- falácia da composição
- Inferência equivocada de que o que é verdadeiro para as partes (por exemplo, para uma família) deve ser verdadeiro para o todo (neste caso a economia como um todo). Veja também: paradoxo da parcimônia.
Em nossa lista, o terceiro papel do governo no amortecimento das flutuações é o uso de política fiscal em políticas públicas deliberadas de estabilização: um aumento nas despesas governamentais ou cortes nos impostos para sustentar a demanda agregada em uma recessão; ou diminuição dos gastos e aumento de impostos para refrear um boom. Pode ser difícil aprovar medidas de política fiscal no parlamento, que tem poder sobre as decisões orçamentárias. Essa é umas das razões pelas quais políticas de estabilização normalmente são implementadas por meio de política monetária em vez de por política fiscal. Mas a política fiscal também pode desempenhar um papel importante na estabilização, como veremos agora, principalmente em grandes recessões.
O paradoxo da parcimônia e a falácia da composição
Comparando uma família com a economia como um todo, entendemos melhor a natureza de um aumento no déficit do governo em uma recessão. Ao enfrentar um déficit no orçamento, uma família preocupada com a queda em sua riqueza corta gastos e poupa mais. Vimos exatamente este comportamento na Figura 14.8, quando as famílias aumentaram sua poupança em 1929. Keynes mostrou que a sabedoria da família com a poupança precaucional não se aplica ao governo quando a economia está em recessão.
Compare a tentativa de poupar mais por uma única família e por todas as famílias na economia simultaneamente. Pense em uma única família cortando despesas e guardando sua poupança adicional debaixo do colchão. O dinheiro estará lá para quando a família decidir que é adequado gastá-lo.
Assuma agora que todas as famílias cortem gastos e guardem mais poupança debaixo do colchão. Supondo que nada mais se altere na economia, a poupança adicional implica menores despesas de consumo agregado na economia. O que acontece? Baseado na seção anterior, podemos modelar esse caso como uma queda no consumo autônomo, c0: a curva da demanda agregada se desloca para baixo. A economia se move pelo processo multiplicador para um nível mais baixo de produção, renda e emprego. A tentativa agregada de aumentar a poupança leva a uma queda na renda agregada, que é conhecida como o paradoxo da parcimônia. O fato de algo verdadeiro para uma parte da economia não ser verdadeiro para toda a economia é conhecido como falácia da composição.
Uma única família pode aumentar sua poupança ao antecipar uma situação desfavorável e, se tiver falta de sorte, a poupança estará disponível — por exemplo, se alguém ficar doente ou perder o emprego. Entretanto, se todas as famílias fizerem isso quando a economia estiver em recessão, este comportamento causará a falta de sorte: mais pessoas perderão seus empregos. O motivo é que, na economia como um todo, as despesas e os rendimentos andam juntos. Meu gasto é sua renda. Seu gasto é minha renda.
O que pode ser feito? O governo pode permitir que os estabilizadores automáticos funcionem e ajudem a absorver o choque. Além disso, ele pode oferecer um estímulo econômico (como um aumento temporário nas despesas governamentais ou um corte temporário nos impostos) até que a confiança dos empresários e dos consumidores se recomponha e o setor privado retome sua disposição para gastar. Aumentam os déficits orçamentários, mas isso evita uma recessão profunda, como Keynes percebeu.
- estímulo fiscal
- Uso pelo governo de política fiscal (por meio de uma combinação de cortes de impostos e aumento de gastos) com a intenção de aumentar a demanda agregada. Veja também: multiplicador fiscal, política fiscal, demanda agregada.
Quando um governo corta impostos ou aumenta as despesas governamentais G em uma recessão, a isso se denomina estímulo fiscal. A finalidade é combater a queda na demanda agregada do setor privado. Um corte nos impostos destina-se a encorajar o setor privado a gastar mais, enquanto um aumento em G é um acréscimo direto à demanda agregada. A Figura 14.11a mostra como um aumento em G pode compensar uma redução no consumo privado, como aquele descrito pelo paradoxo da parcimônia. Como um aumento exógeno no investimento, o aumento em G funciona por meio do multiplicador, de modo que o aumento na produção será comumente maior do que o aumento em G.
Grandes economistas John Maynard Keynes
John Maynard Keynes (1883–1946) e a Grande Depressão da década de 1930 mudaram o curso do pensamento econômico. Até então, a maioria dos economistas via o desemprego como resultado de algum tipo de imperfeição no mercado de trabalho. Se esse mercado funcionasse de maneira ótima, equipararia a oferta e a demanda de trabalhadores. O desemprego elevado e persistente na década anterior à Segunda Guerra Mundial levou Keynes a olhar novamente para o problema de falta de emprego.
Keynes nasceu em uma família de acadêmicos em Cambridge, Reino Unido. Ele cursou matemática no King´s College, em Cambridge, e depois se tornou economista e proeminente seguidor do renomado professor de Cambridge, Alfred Marshall. Antes da Primeira Guerra Mundial, Keynes era uma autoridade mundial na teoria quantitativa da moeda e no padrão-ouro e tinha pontos de vista conservadores sobre política econômica, defendendo um papel limitado do governo. Mas seu ponto de vista logo mudaria.
Em 1919, após o final da Primeira Guerra Mundial, Keynes publicou As Consequências Econômicas da Paz, uma rejeição ao acordo de Versailles que pôs fim à guerra.2 Esse livro o transformou imediatamente em uma celebridade global. Keynes defendeu corretamente que a Alemanha não poderia pagar grandes reparações de guerra e que uma tentativa de fazê-la pagar ajudaria a provocar uma crise econômica mundial. Em 1925, Keynes se opôs ao retorno da Grã-Bretanha ao padrão-ouro, defendendo que essa política levaria a uma contração econômica. Em 1929 ocorreu o colapso financeiro e a crise global, seguido pela Grande Depressão. Em 1931, a Grã-Bretanha saiu do padrão-ouro.
Em resposta a esses eventos dramáticos, Keynes explicou que as políticas monetárias ortodoxas exigidas pelo padrão-ouro agravariam a depressão e que o mundo precisava de políticas que elevassem a demanda agregada. Em 1936, ele publicou A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, no qual estabeleceu um modelo econômico para explicar esses pontos de vista.3 A Teoria Geral imediatamente se tornou mundialmente famosa, especialmente por causa da ideia do multiplicador, que é explicada neste capítulo. Na Teoria Geral, Keynes ponderou que se as taxas de juros já estivessem muito baixas, a expansão fiscal seria necessária para aliviar a depressão. A influência duradoura de sua obra foi tão grande que, em muitos países, a reação inicial à crise econômica global de 2008 consistiu em aplicar essas políticas keynesianas.
Durante a Segunda Guerra Mundial, Keynes se voltou para a reconstrução do pós-guerra, determinado a garantir que os erros incorridos após a Primeira Guerra Mundial não seriam repetidos. Em 1944, com Harry Dexter White dos Estados Unidos, ele liderou uma conferência internacional em Bretton Woods, New Hampshire, que resultou na criação de um novo sistema monetário internacional, gerido pelo Fundo Monetário Internacional, o FMI. O sistema de Bretton Woods foi elaborado para evitar os erros sobre os quais Keynes havia alertado sem sucesso após a Primeira Guerra Mundial e garantir que um país que estivesse em recessão (e tivesse dificuldades de balanço de pagamentos) não precisasse seguir as políticas contracionistas exigidas pelo padrão-ouro. Um país nessa situação poderia recorrer à política fiscal para buscar o pleno emprego, enquanto, ao mesmo tempo, poderia desvalorizar sua taxa de câmbio para estimular as exportações, reduzir as importações e alcançar uma posição satisfatória de balanço de pagamentos.
Keynes teve uma vida extraordinariamente variada. Ele foi acadêmico, alto servidor público, proprietário da revista New Statesman, especulador financeiro, presidente de uma companhia de seguros e membro da Câmara dos Lordes britânica. Também foi fundador do Conselho de Artes da Grã-Bretanha e presidente da Companhia de Ópera Covent Garden. Foi casado com a bailarina russa Lydia Lopokova e membro-chave do Grupo Bloomsbury, um círculo notável de amigos de artes e literatura em Londres, que incluía a romancista Virgina Woolf.
Em 1926, em um panfleto intitulado O Fim do Laissez-Faire,4 escreveu:
De minha parte. De minha parte, acho que, sabiamente administrado, o capitalismo provavelmente pode se tornar mais eficiente para atingir objetivos econômicos do que qualquer sistema alternativo conhecido, mas que, em si, ele é de muitas maneiras sujeito a inúmeras objeções. Nosso problema é o de criar uma organização social tão eficiente quanto possível, sem ofender nossas noções de um modo satisfatório de vida.
Como os governos podem ampliar as flutuações
A defesa de Keynes se refere à alternativa no canto direito inferior da Figura 14.12 no final desta seção: uma política equivocada que amplifica o ciclo econômico.
- resultado orçamentário do governo
- Diferença entre receita de impostos governamentais e despesas governamentais (incluindo as compras do governo de bens e serviços, gastos de investimento e despesas com transferências tais como pensões e auxílio desemprego. Veja também: déficit orçamentário do governo, superávit orçamentário do governo.
- déficit orçamentário do governo
- Quando o resultado orçamentário do governo é negativo. Veja também: resultado orçamentário do governo, excedente orçamentário do governo.
- superávit orçamentário do governo
- Quando o resultado orçamentário do governo é positivo. Veja também: resultado orçamentário do governo, déficit orçamentário do governo.
Às vezes o governo escolhe aumentar os impostos ou cortar gastos durante uma recessão porque está preocupado com o efeito da recessão sobre seu resultado orçamentário. O resultado orçamentário do governo é a diferença entre a receita governamental líquida das transferências, T, e as despesas governamentais, G, ou seja, (T − G). Como vimos, se a economia está em recessão, as transferências do governo, como os auxílios desemprego, aumentam enquanto as receitas de impostos caem, de modo que o resultado orçamentário do governo se deteriora e pode se tornar negativo.
Denominamos déficit orçamentário do governo quando o resultado orçamentário do governo é negativo — as despesas governamentais de bens e serviços, incluindo gastos de investimento, mais gastos com transferências (tais como pensões e auxílio desemprego) é maior do que a receita de impostos do governo. Um superávit orçamentário do governo é quando a receita de impostos é maior do que as despesas governamentais. Resumindo:
- Orçamento equilibrado: G = T
- Déficit orçamentário: G > T
- Excedente orçamentário: G < T
A piora da posição orçamentária do governo em uma recessão é parte de seu papel estabilizador. Por outro lado, quando o governo escolhe não utilizar os estabilizadores a fim de reduzir seu déficit, isso pode ampliar as flutuações na economia.
Suponha que o governo tente melhorar sua posição orçamentária em uma recessão cortando despesas. Assim como um aumento de impostos, isso é chamado de política de austeridade. Acompanhe a análise na Figura 14.11b para entender como a política de austeridade pode reforçar uma recessão ao reduzir ainda mais a demanda agregada.
Esse argumento significa que os governos nunca deveriam impor austeridade a fim de reduzir um déficit fiscal? Não, apenas que a recessão não é um bom momento para fazer isso. Incorrer em déficits governamentais em condições econômicas desfavoráveis pode ser prejudicial. Em um arcabouço político bem estruturado há restrições às ações governamentais, como veremos na Seção 14.8.
- feedback negativo (processo)
- Processo pelo qual algumas mudanças iniciais põem em movimento um processo que atenua a mudança inicial. Veja também: feedback positivo (processo)
- feedback positivo (processo)
- Processo pelo qual algumas mudanças iniciais dão início a um processo que intensifica a mudança inicial. Veja também: feedback negativo (processo)
A tabela na Figura 14.12 resume as lições até aqui. A primeira linha traz exemplos de como o comportamento das famílias pode tanto suavizar quanto desestabilizar a economia. Os termos feedback negativo e positivo são usados para se referir a mecanismos de atenuação e amplificação do ciclo econômico.
Os mecanismos de atenuação compensam os choques (estabilizadores) | Os mecanismos de amplificação reforçam os choques (podem ser desestabilizadores) | |
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Decisões do setor privado |
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Decisões do governo e do banco central |
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Figura 14.12 O papel do setor privado e do governo no ciclo econômico.
Exercício 14.4 Corte de gastos em uma recessão
Assuma que o governo está inicialmente em equilíbrio orçamentário.
- O resultado orçamentário do governo melhora, se deteriora ou permanece inalterado se, “tudo o mais constante”, o governo cortar gastos durante uma recessão? Para responder a essa pergunta, use o exemplo na Figura 14.11b. Assuma que o orçamento estava em equilíbrio no ponto A. Quando estiver em B, o governo corta G em uma tentativa de melhorar seu equilíbrio orçamentário. Assuma que não existam auxílios desemprego e impostos lineares.
- Avalie a política governamental.
Questão 14.7 Escolha a(s) resposta(s) correta(s)
Qual(is) das seguintes afirmações está(ão) correta(s)?
- Se o governo mantém o equilíbrio fiscal, não está compensando a redução na demanda privada.
- Os estabilizadores automáticos referem-se a políticas governamentais que suavizam a renda disponível das famílias, tais como impostos e auxílio desemprego.
- O multiplicador, como o definimos até o momento, assume que há capacidade ociosa na economia. Ele será baixo ou zero se houver pouca ou nenhuma capacidade ociosa.
- Um aumento em G eleva a demanda agregada diretamente enquanto um corte nos impostos pode aumentar C e/ou I, representando um aumento na demanda do setor privado.
14.7 O multiplicador e a política econômica
No modelo do multiplicador usamos maneiras simples de modelar o consumo agregado, o investimento, o comércio e a política fiscal do governo. Isso significa que existe um pequeno número de variáveis das quais o tamanho do multiplicador é calculado (a propensão marginal a consumir, a propensão marginal a importar e a taxa de impostos). Quando aplicamos o modelo ao mundo real, é importante perceber que não existe um multiplicador único que se aplique em todos os momentos.
Crowding out
Efeito de um aumento das despesas governamentais na redução de gastos privados, como se esperaria, por exemplo, em uma economia funcionando a plena capacidade de utilização ou quando uma expansão fiscal está associada a um aumento na taxa de juros.
- deslocamento (crowding out)
- Há dois usos distintos do termo. Um é o efeito negativo observado quando os incentivos econômicos deslocam as motivações éticas ou de outra natureza das pessoas. Em estudos de comportamento individual, os incentivos podem ter um efeito deslocamento sobre as preferências sociais. Um segundo uso do termo se refere ao efeito de um aumento das despesas governamentais na redução de gastos privados, como se esperaria, por exemplo, em uma economia funcionando a plena capacidade de utilização ou quando uma expansão fiscal está associada a um aumento na taxa de juros.
O multiplicador será de um tamanho diferente se a economia estiver operando em plena capacidade de utilização e o desemprego estiver menor do que em uma recessão. Com recursos totalmente empregados, um aumento de 1% nas despesas governamentais afastaria ou deslocaria alguns gastos privados na economia (crowding out). Pensando em um caso extremo, se todos os trabalhadores estiverem empregados, um aumento no emprego público só poderia ocorrer retirando trabalhadores do setor privado. Se o aumento da produção do governo fosse exatamente compensado pela redução da produção do setor privado, o multiplicador seria zero.
Normalmente não esperaríamos que o governo promovesse uma expansão fiscal quando o desemprego estivesse muito baixo — embora ele possa fazê-lo em circunstâncias excepcionais, como uma guerra, como os Estados Unidos fizeram nos últimos anos da Segunda Guerra Mundial e na Guerra do Vietnam.
O tamanho do multiplicador também dependerá das expectativas das firmas e dos negócios. A economia não é como um pneu de bicicleta, que se pode encher de ar ou esvaziar para manter a pressão no nível certo. Famílias e firmas reagem às mudanças políticas, mas elas também as antecipam. Por exemplo, se as firmas antecipam que o governo estabilizará a economia após um choque negativo, isso reforçará a confiança empresarial e os formuladores de política poderão realizar um estímulo menor. De outro modo, se as famílias pensam que despesas governamentais mais altas acompanharão impostos mais altos, aqueles que podem poupar podem reservar mais dinheiro para pagar impostos adicionais. Se isso ocorresse, reduziria o impacto do estímulo.
Quando a crise financeira de 2008 levou à maior queda no PIB em muitas economias desde a Grande Depressão, os formuladores de políticas de todo o mundo esperaram uma reação dos economistas: a política fiscal ajudaria a estabilizar a economia? O modelo do multiplicador, inspirado na análise de Keynes da Grande Depressão, sugeria que sim. Mas, em 2008, muitos economistas duvidaram que o modelo keynesiano ainda fosse relevante. A crise reacendeu o interesse nele e levou a um maior consenso, embora não total, entre os economistas sobre o tamanho do multiplicador (veja abaixo).
Em 2012, um estudo publicado pelos economistas Alan Auerbach e Yuriy Gorodnichenko mostrou como o multiplicador varia de tamanho se a economia está em recessão ou em expansão.5 Esse era o insight que os formuladores de políticas precisavam em 2008.
Esse estudo sugeriu que um aumento de $1 nas despesas governamentais nos Estados Unidos aumentaria a produção em cerca de $1,50 a $2,00 durante uma recessão, mas apenas em $0,50 em uma expansão. Auerbach e Gorodnichenko estenderam sua pesquisa para outros países e encontraram resultados semelhantes. Eles também descobriram que o efeito de aumentos autônomos nos gastos de um país tinha efeitos de transbordamento sobre os países com os quais comercializavam. Esses efeitos tinham a mesma magnitude que os efeitos indiretos de segunda, terceira e outras rodadas de gastos no seu próprio país.
Como os economistas aprendem com os fatos A máfia e o multiplicador
- experimento natural
- Estudo empírico que explora controles estatísticos que ocorrem naturalmente no qual os pesquisadores não têm a capacidade de alocar participantes para grupos de tratamento e de controle, como no caso dos experimentos convencionais. Ao invés disso, diferenças na lei, política, clima ou outros eventos podem oferecer a oportunidade de analisar as populações como se fossem parte de um experimento. A validade de tais estudos depende da premissa de que a alocação de sujeitos para grupos de controle ou de tratamento que ocorrem naturalmente é aleatória.
- causalidade reversa
- Relação causal de duas vias na qual A afeta B e B também afeta A.
Você pode ficar surpreso com o fato de que economistas tenham usado a luta do governo italiano contra a Máfia para descobrir o tamanho do multiplicador, mas foi isso que Antonio Acconcia, Giancarlo Corsetti e Saverio Simonelli fizeram.6 Ao adotar o método de experimento natural para abordar o problema de causalidade reversa, eles usaram os dados sobre demissões de políticos locais relacionados à Máfia para isolar a variação nas despesas públicas não provocadas por variações na produção.
Após mudanças jurídicas em 1991, o governo central italiano destituiu conselhos provinciais que tinham ligações íntimas com a Máfia e indicou novos servidores em seus lugares. Esses tecnocratas cortaram, em média, 20% dos gastos locais. A mudança nos gastos públicos ocorreu por conta das conexões da Máfia, devido ao seu efeito sobre a substituição de servidores do governo. Por não ter uma conexão causal direta da proximidade com a Máfia com a variação na produção, a proximidade da Máfia pode ser usada para revelar o efeito causal da mudança dos gastos públicos sobre a produção. Esta situação é ilustrada na Figura 14.13.
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Figura 14.13 Usando a proximidade da Máfia para estimar o multiplicador.
Usando esse método, os pesquisadores puderam estimar multiplicadores de 1,5 no nível local.
Os economistas têm usado sua engenhosidade para encontrar métodos para estimar o tamanho do multiplicador e a implicação do seu funcionamento sobre os empregos. Usando o programa de estímulo dos Estados Unidos que foi implementado na esteira da crise financeira (a Lei Americana de Recuperação e Reinvestimento de 2009, a $787 billion fiscal stimulus), um estímulo fiscal de $787 bilhões), esperaríamos que os estados americanos que foram mais gravemente atingidos pela crise financeira tivessem maior desemprego e atraíssem mais gastos de estímulo por parte do governo. Dessa forma, o desemprego provocaria mais gastos nesses estados. Isso torna difícil estimar o efeito de gastos maiores sobre a produção e o desemprego, o que queremos fazer se pretendemos conhecer o tamanho do multiplicador.
Uma abordagem para contornar esse problema de causalidade reversa é usar o fato de que alguns gastos no programa de estímulo dos Estados Unidos foram distribuídos para estados americanos usando uma fórmula que não estava relacionada com a gravidade da recessão que cada estado vivenciou. Por exemplo, alguns gastos com conserto de estradas financiados pelo pacote de estímulo se baseavam na extensão da rodovia em cada estado.7
Dada a fórmula para alocar recursos de construção de estradas e o fato de que mais quilômetros de rodovias não têm efeito direto na mudança do desemprego, isso nos permite responder à pergunta: foram criados mais empregos nos estados que receberam mais gastos de estímulo?8
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Figura 14.14 Usando os gastos de estímulo em rodovias nos Estados Unidos para estimar o multiplicador.
Os resultados de estudos usando esta abordagem estimaram um multiplicador de 2 e sugeriram que a Lei Americana de Recuperação e Reinvestimento tenha criado entre 1 e 3 milhões de novos empregos.
Apesar do ceticismo entre alguns economistas antes da crise de 2008 de que o multiplicador era maior do que um, os formuladores de políticas em todo o mundo aderiram a programas de estímulo fiscal em 2008–2009. Foi reconhecido que o estímulo fiscal ajudou a prevenir outra Grande Depressão, como veremos no Capítulo 17.
Quando os economistas discordam Quão reativa é a economia às despesas governamentais?
Poucas questões em política econômica foram discutidas tão acaloradamente desde a crise financeira de 2008 como o tamanho do multiplicador fiscal: qual é o efeito sobre o PIB de 1% de aumento nas despesas governamentais?
Muito desse calor é gerado por diferenças políticas entre os envolvidos. As pessoas que privilegiam os gastos governamentais tendem a pensar que o multiplicador é grande, enquanto aquelas que gostariam de um governo menor tendem a pensar que ele é pequeno. (Não sabemos se esta correlação se deve às suas crenças sobre o governo influenciarem suas estimativas de tamanho do multiplicador ou se é o contrário.)
Esse debate tem se repetido desde a primeira formulação teórica do multiplicador por John Maynard Keynes na década de 1930. A recente crise econômica a revitalizou por dois motivos:
- A política monetária não poderia ser usada: após a crise financeira, várias grandes economias permaneceram em recessão apesar dos bancos centrais terem cortado as taxas de juros para muito próximo a zero. Como veremos no próximo capítulo, a taxa de juros não pode ser cortada abaixo de zero, então, os governos queriam saber se o estímulo fiscal de um aumento nas despesas do governo ajudaria a estabilizar a economia.
- Considerações sobre se a austeridade funcionaria: após a crise da Zona do Euro, em 2010, muitos países europeus que estavam em recessão adotaram medidas de austeridade, de corte de despesas governamentais, com o objetivo de trazer as finanças públicas de volta ao equilíbrio.
Tanto em estímulo quanto em austeridade, o sucesso da política depende do tamanho do multiplicador. Se o multiplicador for negativo — o que poderia ocorrer se um déficit fiscal crescente provocasse uma grande redução na confiança — um pacote de estímulo levaria a uma redução no PIB e uma política de austeridade provocaria um aumento no PIB. Se o multiplicador for positivo, mas menor do que 1, um estímulo fiscal aumentaria o PIB, mas menos do que o aumento nas despesas governamentais. Se, como no nosso modelo do multiplicador, o multiplicador for maior do que 1, um estímulo fiscal aumentaria o PIB mais do que o aumento nas despesas governamentais e uma política de austeridade reforçaria as condições de recessão.
Dependendo da metodologia e das pressuposições, os economistas sugerem estimativas diferentes de multiplicadores, desde números negativos a valores maiores do que 2. Por exemplo, os membros do Conselho de Assessores Econômicos do Presidente Obama estimaram um multiplicador de 1,6 quando eles preparavam a Lei Americana de Recuperação e Reinvestimento de 2009. O Fundo Monetário Internacional apresentou estimativas em 2012 em que os multiplicadores em economias avançadas, após a crise, estavam entre 0,9 e 1,7.9
Para ser eficaz, as despesas governamentais precisam destinar recursos que, de outra forma, estariam ociosos em uso produtivo. Esses recursos podem ser trabalhadores empregados (ou subempregados), bem como escritórios, lojas ou fábricas funcionando com capacidade ociosa. Quando a economia funciona a plena capacidade (sem sobra de recursos), as despesas governamentais extraordinárias deslocam os gastos privados.
Os economistas Robert Barro e Paul Krugman discordaram sobre o tamanho do multiplicador nas semanas que se seguiram à promulgação da Lei Americana de Recuperação e Reinvestimento no início de 2009. Usando dados dos gastos de defesa do governo durante a Segunda Guerra Mundial, Barro concluiu que o multiplicador não era maior do the 0,8. Ou seja, o gasto de $1 em equipamentos militares gerava apenas 80 centavos de produção. Entretanto, Krugman respondeu que, em tempos de guerra não existem recursos de produção ociosos sobre os quais se possa tirar vantagem. As pessoas em idade produtiva sustentam o esforço de guerra nas fábricas e o governo usa o racionamento para reprimir o consumo privado.10
Nas recessões que se seguiram à crise na Zona do Euro em 2010, quando novas pesquisas econômicas estavam encontrando evidências de que os multiplicadores nas recessões estavam bem acima de um, muitos governos europeus implementaram a austeridade fiscal para equilibrar seus orçamentos. Esses países tinham resultados de crescimento insatisfatórios — outro sinal de que, em recessões profundas, o multiplicador é maior do que um. Mas alguns países da Zona do Euro não tinham escolha a não ser adotar políticas de austeridade. Como veremos na próxima seção, eles tinham perdido a capacidade de tomar empréstimo.
Exercício 14.5 Métodos para estimar o multiplicador
Considere os três métodos discutidos neste capítulo que têm sido usados para estimar o tamanho do multiplicador: as demissões relacionadas à Máfia na Itália, os gastos de estímulo da economia em rodovias nos Estados Unidos e os gastos com defesa em tempos de guerra nos Estados Unidos
Por que você acha que essas estimativas do tamanho do multiplicador variam? Use o material neste capítulo como suporte para suas explicações.
Exercício 14.6 Contribuições para a variação do produto interno bruto real ao longo do ciclo econômico
Na tabela da Figura 13.8 mostramos a contribuição dos principais componentes do gasto (C, I, G, e X − M) no crescimento do PIB americano durante a recessão de 2009. Podemos usar o FRED para ver se essas contribuições mudaram durante a fase de recuperação da recessão.
Visite o website do FRED. Você pode assistir esse breve tutorial para entender como o FRED funciona. Procure por “Contribution to GDP’ usando a barra de busca e selecione esta série anual:
- Contribuições para a variação percentual do produto interno bruto real: gastos de consumo pessoal
Verifique se a frequência é trimestral. Para mudar a frequência da sua série, clique no botão ‘Edit graph’ no canto direito superior do gráfico.
Este botão também permite adicionar outras séries ao seu gráfico. Clique em “Add line” e procure as seguintes séries:
- Contributions to percentage change in real gross domestic product: Gross private domestic investment (Contribuições para a variação percentual do produto interno bruto real: investimento doméstico privado bruto)
- Contributions to percentage change in real gross domestic product: Government consumption expenditures and gross investment (Contribuições para a variação percentual do produto interno bruto real: gastos de consumo e investimento bruto do governo)
- Contributions to percentage change in real gross domestic product: Net exports of goods and services (Contribuições para a variação percentual do produto interno bruto real: exportações líquidas de bens e serviços)
Por fim, acrescente a série do PIB real (‘Produto Interno Bruto real’). Verifique se você selecionou a frequência trimestral para todas as séries do seu gráfico.
- A soma das contribuições do PIB coincide aproximadamente com o crescimento do PIB?
Utilize os dados que você baixou para fazer as seguintes tarefas para o período 2007 a 2014:
- Descreva as contribuições para o crescimento do PIB dos Estados Unidos na recessão (T1 2008 a T2 2009) e na fase de recuperação do T3 2009 do ciclo econômico. Se você analisar os dados utilizando o gráfico do FRED, verá a recessão sombreada no gráfico. Construa uma tabela como a da Figura 13.8.
- O que pode explicar as diferenças vistas no papel do consumo e investimento durante as fases de recessão e recuperação do ciclo econômico?
- A partir da contribuição das despesas de consumo e investimento do governo para o crescimento do PIB, o que se pode inferir sobre a política fiscal do governo dos Estados Unidos durante as crises?
Observação: para ter certeza de que entendeu como esses gráficos do FRED são criados, transfira os dados para uma planilha e reproduza a série.
Exercício 14.7 O declínio da França
No artigo de agosto de 2014, ‘The Fall of France’, Paul Krugman criticou a política de austeridade implementada na França.
Use o que você aprendeu sobre o multiplicador fiscal para explicar por que, na opinião de Krugman, a austeridade fiscal na França (e de forma geral, na Europa) fracassaria (explique cuidadosamente o que você pensa que Krugman quiz dizer com ‘fracassaria’).
Exercício 14.8 Estímulo sem dívida adicional
Leia ‘Stimulus, Without More Debt’ de Robert Shiller.
Assuma que a economia está em recessão. O governo tem um alto nível de endividamento e quer estabelecer um orçamento equilibrado, ou seja, G = T. Como o governo pode obter um efeito de estímulo fiscal sobre o PIB enquanto mantém o equilíbrio orçamentário?
Para responder a essa pergunta, siga esses passos:
- Mostre como isso é possível em um diagrama do multiplicador, certificando-se de rotular as intercessões e ângulos relevantes. Faça um diagrama suficientemente preciso de modo que o tamanho exato do multiplicador seja visível.
- Explique em palavras como o governo pode alcançar tal efeito de estímulo fiscal enquanto mantém o equilíbrio orçamentário.
- Calcule o multiplicador do orçamento equilibrado utilizando matemática. (Dica: você precisará escrever as expressões para a variação do PIB associada à variação tanto do G quanto do T e defini-las como iguais.)
- Comente brevemente sobre as desvantagens do uso deste estímulo fiscal de orçamento equilibrado.
Você pode fazer os seguintes pressupostos:
- Assuma um imposto de taxa única (lump sum). Isso significa que o imposto não depende do nível de renda, T = T, em vez de nosso pressuposto usual de que T = tY.
- Assuma também que o país não tenha importações ou exportações.
Questão 14.8 Escolha a(s) resposta(s) correta(s)
Qual(is) das seguintes afirmações está(ão) correta(s)?
- As estimativas do multiplicador variam amplamente.
- Se mais estímulo fiscal for dado às economias com desemprego mais alto, a causalidade reversa pode ser um problema para as estimativas do multiplicador.
- Nesse caso, as famílias podem aumentar a poupança no período corrente a fim de pagar pelo aumento dos impostos previsto, reduzindo sua propensão marginal a gastar e, portanto, reduzindo o multiplicador.
- As firmas aumentarão o investimento se acreditarem que a economia se recuperará rapidamente, aumentando a demanda.
14.8 As finanças governamentais
- dívida pública
- Montante total de recursos devidos pelo governo em um ponto específico no tempo.
A partir do paradoxo da parcimônia aprendemos que em uma recessão é contraprodutivo para o governo contrabalançar a estabilização automática da economia. Também aprendemos que é possível justificar o estímulo fiscal para promover a demanda agregada em uma recessão profunda em condições nas quais o multiplicador é maior do que um. Então, por que as políticas de estímulo em geral são seguidas por políticas de austeridade? Para reagir à dívida pública. Para entender o porquê, vamos analisar a receita do governo e suas despesas.
Receita
Os governos aumentam sua receita na forma de impostos sobre a renda e sobre os gastos, frequentemente chamados de Imposto sobre Valor Agregado (IVA) ou imposto sobre vendas. Também obtêm recursos de diversas outras fontes, incluindo impostos sobre a riqueza (como impostos sobre herança) e sobre produtos como álcool, tabaco e petróleo.
Despesas
As despesas governamentais incluem saúde, educação e defesa, bem como investimento público em estradas e escolas.
A receita do governo também é usada para financiar transferências de seguridade social, que incluem auxílio desemprego, pensões e benefícios por invalidez. O governo também tem que pagar juros sobre suas dívidas. As transferências e os pagamentos de juros são feitos com as receitas do governo, mas eles não são contabilizados em G porque o governo não está gastando em bens e serviços.
Déficit primário do governo
- déficit primário
- Déficit governamental (sua receita menos sua despesa) excluindo-se o pagamento de juros sobre a dívida. Veja também: dívida pública.
O déficit do governo, excluindo o pagamento de juros sobre a dívida, é chamado de déficit orçamentário primário e é medido por G − T, onde T é a receita com impostos menos as transferências (assumido como tY no modelo do multiplicador com uma taxa de impostos proporcional, t). Se a situação inicial é de déficit primário nulo, ela piorará automaticamente em uma desaceleração do ciclo econômico. Quando a recessão se reverte, o déficit orçamentário primário do governo se reduzir e, na fase de expansão, o governo terá receitas maiores do que gastos.
Quando há um déficit orçamentário, isso significa que o governo deve tomar empréstimo para cobrir o hiato entre sua receita e sua despesa. O governo toma empréstimo vendendo títulos públicos. As firmas e famílias compram esses títulos. Comumente, as famílias os adquirem indiretamente, pois são comprados por fundos de pensão, dos quais as famílias adquirem as pensões. A venda dos títulos públicos soma-se à dívida do governo.
Devido à existência de mercados financeiros globais, os estrangeiros também podem comprar títulos públicos do país. Os títulos da dívida pública são atraentes para investidores porque pagam uma taxa de juros fixa e porque geralmente são considerados um investimento seguro: o risco de inadimplência dos títulos da dívida pública é, em geral, baixo. É provável que os investidores queiram manter uma combinação de ativos seguros e arriscados e os títulos do governo normalmente estão no lado seguro desse espectro.
- crise da dívida soberana
- Situação na qual os títulos da dívida pública são considerados tão arriscados que o governo pode não conseguir tomar empréstimo. Se isso ocorrer, o governo não pode gastar mais do que a receita de impostos que recebe.
Uma crise da dívida soberana é uma situação na qual os títulos da dívida pública são considerados arriscados. Tais crises não são incomuns em economias em desenvolvimento e emergentes, mas são raras em economias avançadas. Entretanto, em 2010, houve um aumento nas taxas de juros sobre os títulos públicos emitidos pelos governos irlandês, grego, espanhol e português, que foi o sinal de um aumento brusco no risco de inadimplência — a probabilidade de que o governo não seria capaz de fazer os pagamentos necessários das suas dívidas. Esse episódio marcou o início da crise da Zona do Euro. Os governos de países que passam por uma crise da dívida soberana podem não ter alternativa senão as políticas de austeridade caso não possam tomar mais empréstimos, pois não poderiam gastar mais do que a sua receita.
Um elevado estoque de dívida em relação ao PIB pode ser um problema porque, como uma família, o governo tem que pagar juros sobre suas dívidas e tem que levantar recursos para pagar os juros, o que pode exigir um aumento da taxa de impostos. Entretanto, os governos não são como famílias no sentido de que não existe um ponto no qual eles precisam pagar todo seu estoque de dívida — à medida que um conjunto de títulos públicos vence, normalmente os governos emitem mais títulos, mantendo um estoque de dívida (isso se chama rolar a dívida, o que as firmas também costumam fazer para financiar suas operações). Na verdade, como os títulos da dívida pública são vistos como um ativo seguro fora de períodos de crise, em geral existe demanda de investidores privados por dívida pública. Como os dados de longo prazo para o Reino Unido na Figura 14.15 deixam claro, não existe uma regra geral sobre um patamar de dívida seguro para os governos.
Figura 14.15 Dívida pública do Reino Unido como porcentagem do PIB (1700–2020).
Ryland Thomas and Nicholas Dimsdale. (2017). ‘A Millennium of UK Data’. Bank of England OBRA dataset; UK Office for National Statistics. (2021). Government deficit and debt return.
A Figura 14.15 mostra a trajetória da dívida pública do Reino Unido de 1700 a 2020. O nível de endividamento de um governo é medido em relação ao tamanho da sua economia, ou seja, como uma porcentagem do PIB. Os dois grandes picos na relação dívida/PIB britânica no século 20 foram provocados pela necessidade do governo tomar empréstimo para financiar esforços de guerra.
As crises financeiras também aumentam a dívida pública. Os governos tomam empréstimos para resgatar bancos em falência e para apoiar a economia nas longas recessões que ocorrem após crises financeiras. A relação dívida/PIB do Reino Unido dobrou rapidamente para mais de 80% após a crise financeira global de 2008 e superou 100% em resposta à pandemia de COVID-19.
Observe que, embora o governo do Reino Unido tenha saído da Segunda Guerra Mundial com um nível muito alto de dívida, esse nível caiu rapidamente nas décadas seguintes: de 260% do PIB para 50% nos anos 1980. Por quê? Exceto por um ano, o governo britânico manteve superávit primário durante todo o período entre 1948 e 1973, o que ajudou a reduzir a relação dívida/PIB. Mas essa relação também pode cair mesmo quando há déficit primário, contanto que a taxa de crescimento da economia seja mais alta do que a taxa de juros. Durante o período de rápida redução do índice de endividamento britânico, além dos superávits primários, houve crescimento moderado, baixas taxas de juros nominais definidas pelo governo e inflação moderada.
Por que a inflação ajuda um país a reduzir seu índice de endividamento? Porque o valor de face dos títulos da dívida pública (o nível da dívida) é denominado em termos nominais. Por exemplo, a emissão de títulos públicos de 10 anos em 1950 prometia pagar £1 milhão em 1960. Então, se a inflação fosse moderadamente alta durante a década de 1950, o PIB nominal cresceria rapidamente enquanto esse £1 milhão devido em 1960 permaneceria constante, o que significa que a dívida encolheria em relação ao PIB. Como discutiremos no Capítulo 15, a inflação reduz o valor real da dívida.
Muitas economias avançadas têm passado por longos períodos nos quais a taxa de crescimento tem sido mais alta do que a taxa de juros. O economista Brad DeLong sugeriu que esse tem sido o caso dos Estados Unidos por quase todo o período dos últimos 125 anos.11
- melhoria de Pareto
- Mudança que beneficia pelo menos uma pessoa sem deixar ninguém em situação pior. Ver também: dominância de Pareto.
- equidade
- Forma de avaliar uma alocação com base no conceito de justiça da pessoa.
Exercício 14.9 Eficiência e equidade
Como você usaria os critérios de melhoria de Pareto e equidade para avaliar o uso de políticas de estímulo e resgate financeiro dos bancos após a crise financeira global de 2007–2008?
Dica: você pode rever as Seções 5.2 e 5.3 no Capítulo 5, nas quais são explicados esses conceitos.
Os países cuja população está envelhecendo têm tendências demográficas que pressionam a relação dívida/PIB para cima, pois a proporção de receita governamental gasta com pensões públicas, cuidados de saúde e assistência social para os idosos aumentará. Muitos governos e eleitores estão enfrentando uma decisão difícil: limitar benefícios ou aumentar impostos?12
As lições da nossa discussão de política fiscal e dívida pública são:
- Estabilizadores automáticos são úteis: ao longo do ciclo econômico, eles contribuem para o bem-estar econômico.
- Se estímulos fiscais adicionais forem usados, isso pode ser revertido no futuro: essa reversão pode ocorrer quando a economia estiver crescendo novamente. Se um estímulo não for revertido, a relação dívida/PIB do governo aumentará.
- Crises financeiras e guerras aumentam a dívida pública.
- A inflação reduz o peso da dívida do governo: da mesma forma, a deflação o eleva.
- Um índice de endividamento crescente é insustentável: mas não existe uma regra que determine exatamente qual nível de dívida é problemático.
- Se a taxa de crescimento estiver abaixo da taxa de juros, é preciso manter superávits primários, pois eles estabilizam o índice de endividamento: entretanto, tentar reduzir a proporção da dívida rapidamente é contraprodutivo se o crescimento for reduzido.
Para se ter uma ideia dos efeitos das intervenções políticas, a revista The Economist fornece uma ferramenta modelagem em que se pode atuar como um hipotético formulador de políticas. Experimente diferentes combinações de equilíbrio orçamentário primário, taxa de crescimento, taxa de juros nominal e taxa de inflação como formas de evitar que a proporção da dívida cresça continuamente em um país de sua escolha.
14.9 Política fiscal e o resto do mundo
No Capítulo 13 vimos que as economias agrárias sofreram choques de guerras, de doenças e do clima. No Capítulo 11, vimos que a Guerra Civil Americana afetou economias como Brasil, Índia e Reino Unido. Nas economias modernas, o que acontece no resto do mundo é uma fonte de choques e afeta como as políticas econômicas domésticas funcionam. Para evitar equívocos, os formuladores de políticas precisam conhecer essas interações.
Os mercados externos são importantes
As flutuações no crescimento em mercados importantes no exterior podem explicar por que a economia passa por altos e baixos via mudanças nas exportações líquidas (X − M), um dos componentes da demanda agregada. A China, por exemplo, é um mercado muito importante para as exportações australianas (32% das exportações da Austrália destinavam-se à China em 2013, respondendo por 6,5% da demanda agregada australiana). Quando a economia chinesa se desacelerou, passando de uma taxa de crescimento de 10,6% em 2010 para 7,8% em 2013, isso se refletiu diretamente em uma desaceleração do crescimento na Austrália devido à queda nas exportações líquidas.
De forma similar, a desaceleração na Zona do Euro por conta da crise de 2010 que se seguiu à crise financeira global de 2008 foi um importante motivo para a lentidão com que a economia britânica saiu da recessão, pois uma significativa parcela das exportações do Reino Unido vai para a União Europeia. Por exemplo, 44% das exportações do Reino Unido destinavam-se à União Europeia em 2013, respondendo por 13% da demanda agregada do Reino Unido.
Importações atenuam as flutuações domésticas
Como vimos, o tamanho do multiplicador é reduzido pela propensão marginal a importar. Quando a demanda autônoma cresce, ela estimula os gastos e alguns dos produtos comprados são produzidos no exterior. Isso atenua o crescimento doméstico.
O comércio exterior restringe o uso de estímulo fiscal
O comércio com outros países restringe a capacidade dos formuladores de políticas fiscais domésticas de usar as políticas de estímulo na recessão. O exemplo da França na década de 1980 é marcante. No início dos anos 1980, a economia francesa continuava fraca após os choques do petróleo da década de 1970, que haviam abalado a economia mundial. Em 1981, o candidato socialista François Mitterand venceu as eleições presidenciais e o primeiro-ministro indicado por ele, Pierre Mauroy, implementou um programa para estimular a demanda agregada pelo crescimento das despesas governamentais e corte de impostos (no modelo do multiplicador, isso representa um aumento em G e uma queda em t, a taxa de impostos).
Na figura 14.16, mostramos o que ocorreu na França e no seu maior parceiro comercial, a Alemanha. As barras em roxo mostram os resultados para a França e as em laranja, os resultados para a Alemanha. A figura representa os resultados de três anos. No primeiro ano, não houve estímulo; no segundo, houve um estímulo fiscal na França; e o terceiro foi o ano posterior ao estímulo.
Figura 14.16 Sucessos e fracassos do estímulo fiscal francês (1980–1983).
OECD. 2015. OECD Statistics.
Se você observar a Figura 14.16, notará que o resultado orçamentário na França (medido como (T − G)/Y) se torna negativo. A partir de um orçamento equilibrado em 1980, houve um déficit orçamentário de quase 3% do PIB em 1982, o que aumentou ainda mais em 1983.
Enquanto isso, na Alemanha, o orçamento permaneceu próximo ao equilíbrio ao longo dos três anos. Os superávits orçamentários foram 0%, 0% e 0,2%, respectivamente.
A política de demanda expansionista na França foi uma exceção na Europa. Houve um impulso inicial no crescimento francês em 1982 (de 1,6% para 2,4%), mas ele desapareceu rapidamente com o crescimento caindo para 1,2% em 1983. Por quê?
A recuperação da economia francesa levou as famílias da França a aumentarem seus gastos, mas muito disso se destinou a bens estrangeiros. O estímulo francês vazou para países com produtos mais competitivos, como o Japão (bens eletrônicos) e a Alemanha (carros). Houve crescimento das importações para a França: se medidas em relação ao nível em 1979, as importações estavam 17,9% mais altas, como mostrado na Figura 14.16. As exportações da Alemanha estavam 17,1% mais altas em 1982 e quase 14% em 1983. Como consequência, o crescimento do PIB foi maior na Alemanha do que na França em 1983. A política de estímulo francesa beneficiou principalmente seus parceiros comerciais, que tinham produtos mais competitivos. A França ficou defasada em relação aos outros países europeus, com menor crescimento e um elevado déficit orçamentário do governo (acima de 3% em 1983).
O fracasso da política de Mitterrand se refletiu em termos econômicos na pressão sobre o franco francês (a unidade monetária daquele período). Entre 1981 e 1983, o governo francês teve que desvalorizar o franco três vezes num esforço para tornar os produtos franceses mais competitivos com os produzidos no exterior. Mauroy renunciou em 1984 e o novo primeiro-ministro introduziu uma política de austeridade.
O experimento de Mitterrand destaca os limites do uso de um estímulo fiscal para estabilizar uma recessão profunda com sucesso. No caso da França, a política foi mal projetada e atrasou o ajuste da economia francesa aos choques que a afetaram na década de 1970. Observe que o problema na França não foi apenas o alto desemprego. Injetar mais demanda agregada estimulou os gastos, mas não os gastos em produtos franceses.
Um estímulo fiscal pode não ser a única (ou melhor) opção de política na recessão: Olivier Blanchard, ex-economista-chefe do FMI, explica como a consolidação fiscal funcionou no caso da Latvia em 2008, embora inicialmente tenha sido contrário ao plano.13
O multiplicador era muito baixo e os efeitos de transbordamento para outras economias significa que a maioria do estímulo vazou para fora da França. Se as principais economias europeias tivessem adotado políticas fiscais expansionistas simultaneamente, os resultados teriam sido diferentes, pois os efeitos de transbordamento da Alemanha, por exemplo, teriam estimulado a economia francesa. Este é um exemplo de política pública mal formulada devido à dificuldade em se compreender as relações do país com o resto do mundo. Ela se encaixaria na linha final da terceira coluna na Figura 14.12.
- jogo de coordenação
- Jogo no qual existem dois equilíbrios de Nash, dos quais um pode ser Pareto superior ao outro. Também conhecido como: jogo da garantia.
Exercício 14.10 Coordenando estímulos
Assuma que o mundo tem apenas dois países, ou blocos, chamados Norte e Sul. O mundo está em uma profunda recessão. A situação pode ser descrita com o jogo de coordenação usado para o investimento no Capítulo 13. Aqui, as duas estratégias são Estímulo e Sem Estímulo.
Explique em palavras como o jogo de coordenação reflete os problemas enfrentados pelos formuladores de políticas nos dois países, devido a sua interdependência.
Questão 14.9 Escolha a(s) resposta(s) correta(s)
A Figura 14.16 mostra os efeitos do aumento de despesas governamentais e do corte de impostos na França em 1982 sobre as economias francesa e alemã.
Com base nessa informação, qual(is) das afirmações está(ão) correta(s)?
- Em 1983, G − T estava abaixo de −3%, comparado com 0 em 1980.
- A taxa de crescimento do PIB aumentou para mais de 2% no ano da expansão fiscal (1982). Entretanto, caiu rapidamente em 1983, para perto de 1%.
- As exportações alemãs foram muito mais altas em 1982–1983 do que em 1979–1980.
- A política de expansão fiscal pode ser eficaz se todos os países adotarem políticas expansionistas simultaneamente.
14.10 Demanda agregada e desemprego
- lado da oferta (economia agregada)
- Como o trabalho e o capital são usados para produzir bens e serviços. Utiliza o modelo do mercado de trabalho (também conhecido como modelo da curva de determinação de salários e curva de determinação de preços). Veja também: lado da demanda (economia agregada.
- lado da demanda (economia agregada)
- Como as decisões de gastos geram demanda por bens e serviços e, por consequência, emprego e produção. Utiliza o modelo do multiplicador. Veja também: lado da oferta (economia agregada).
- lado da demanda
- Lado de um mercado no qual os participantes estão oferecendo dinheiro em troca de algum outro bem ou serviço (por exemplo, aqueles que desejam comprar pão). Veja também: lado da oferta.
Agora temos dois modelos para pensar sobre a produção total, o emprego e a taxa de desemprego na economia:
- O modelo do lado da oferta (mercado de trabalho): um modelo, mostrado no Capítulo 9, refere-se ao lado da oferta da economia e enfatiza como o trabalho é empregado para produzir bens e serviços. É chamado de modelo do mercado de trabalho (também conhecido como modelo da curva de determinação de salários e curva de determinação de preços).
- O modelo do lado da demanda (multiplicador): o outro é o do lado da demanda da economia e explica como as decisões de gastos geram demanda por bens e serviços e, por consequência, emprego e produção. Esse é o modelo do multiplicador.
Quando integramos os modelos, podemos explicar como a economia flutua ao redor do equilíbrio de longo prazo do mercado de trabalho durante o ciclo econômico.
O modelo do mercado de trabalho do Capítulo 9 é mostrado na Figura 14.17: o equilíbrio no mercado de trabalho ocorre onde as curvas de determinação de salários e de preços se cruzam. Veremos que a economia tende a flutuar ao longo do ciclo econômico ao redor da taxa de desemprego mostrada no ponto A. No exemplo na Figura 14.17, a taxa de desemprego de equilíbrio está em 5%.
Figura 14.17 O lado da oferta da economia agregada: o mercado de trabalho.
- função de produção
- Expressão gráfica ou matemática que descreve a quantidade de produto que pode ser gerado com qualquer quantia ou combinação de insumo(s). A função descreve diferentes tecnologias capazes de produzir a mesma coisa.
- desemprego cíclico
- Aumento no desemprego acima do desemprego de equilíbrio provocado por uma queda na demanda agregada associada ao ciclo econômico. Também conhecido como: desemprego por insuficiência de demanda. Veja também: desemprego em equilíbrio.
- curto prazo (modelo)
- O termo não se refere a um período de tempo, mas ao que é exógeno: preços, salários, estoque de capital, tecnologia, instituições. Veja também: salários, capital, tecnologia, instituições, médio prazo (modelo), longo prazo (modelo).
A Figura 14.18 mostra o diagrama do multiplicador abaixo do diagrama do mercado de trabalho. Observe que, no diagrama do mercado de trabalho, o eixo horizontal mede o número de trabalhadores para que possamos medir o emprego e o desemprego. No diagrama do multiplicador, a produção está no eixo horizontal. A função de produção conecta o emprego e a produção e, neste modelo, a função de produção é bem simples.
Assumimos que a produtividade do trabalho é constante e igual a λ (‘lambda’), então a função de produção é:
\[\begin{align*} Y = \lambda N \end{align*}\]Para que possamos desenhar o modelo do lado da demanda abaixo do modelo do lado da oferta, assumimos que λ = 1, de modo que Y = N.
Figura 14.18 O lado da oferta e o lado da demanda da economia agregada.
Flutuações de curto prazo no emprego são provocadas por alterações na demanda agregada. Como vimos no Capítulo 9, quando o emprego está abaixo do equilíbrio do mercado de trabalho por causa da deficiência de demanda agregada, o desemprego adicional é chamado de desemprego cíclico. Se há excesso de demanda, acima do equilíbrio do mercado de trabalho, então o desemprego está abaixo do seu nível de equilíbrio.
Na Figura 14.19, a economia está inicialmente no equilíbrio do mercado de trabalho no ponto A, com o desemprego em 5%. O nível de produção nesse ponto é chamado de nível normal de produção. Isso significa que o nível de demanda agregada deve ser o mostrado na curva de demanda agregada denominada ‘normal’. Qualquer outro nível de demanda agregada produziria um nível diferente de emprego.
No nosso estudo das flutuações do ciclo econômico utilizando o modelo do multiplicador, fizemos uma série de pressuposições “tudo o mais constante”. Assumimos que os preços, salários, estoque de capital, tecnologia e instituições são constantes. Usamos o termo curto prazo para nos referirmos a essas pressuposições. A finalidade do modelo é prever o que acontece com a produção, a demanda agregada e o emprego quando há um choque de demanda (um choque no investimento, no consumo ou nas exportações) ou quando os formuladores de políticas usam a política fiscal ou a política monetária para deslocar a curva de demanda agregada.
- médio prazo (modelo)
- O termo não se refere a um período de tempo, mas ao que é exógeno. Nesse caso, estoque de capital, tecnologia e instituições são exógenos. Produção, emprego, preços e salários são endógenos. Veja também: bens de capital, tecnologia, instituições, curto prazo (modelo), longo prazo (modelo).
Observe que, na Figura 14.19, o mercado de trabalho não está em equilíbrio quando a produção é mais alta ou mais baixa do que o normal. O modelo do mercado de trabalho é de médio prazo no qual os salários e os preços podem mudar, diferentemente do modelo do multiplicador, que é de curto prazo model. Então, o equilíbrio de curto prazo no modelo do multiplicador pode não ser um equilíbrio de médio prazo no modelo do mercado de trabalho.
- longo prazo (modelo)
- O termo não se refere a um período de tempo, mas ao que é exógeno. A curva de custo de longo prazo, por exemplo, refere-se aos custos quando a firma pode ajustar completamente todos os insumos incluindo seus bens de capital, mas a tecnologia e as instituições econômicas são exógenas. Veja também: tecnologia, instituições, curto prazo (modelo), médio prazo (modelo).
- No Capítulo 15, o ciclo econômico: desenvolvemos o modelo na Figura 14.19 nos perguntando sobre o que ocorre com os salários e preços em um boom e em uma recessão.
- No Capítulo 16, o longo prazo: usamos a curva de determinação de salários e a curva de determinação de preços para estudar o longo prazo, no qual a produção, o emprego, os preços e os salários podem ser alterados, bem como as instituições e tecnologias. Nos perguntamos como as mudanças nas instituições básicas e nas políticas públicas – como o enfraquecimento dos sindicatos, o aumento na concorrência em mercados de bens e serviços ou novas tecnologias poupadoras de mão de obra – afetarão a economia agregada.
A tabela na Figura 14.20 resume os diferentes modelos que usaremos para estudar a economia agregada.
Capítulo | Prazo | O que é exógeno? | O que é endógeno? | Problemas a serem abordados | Políticas adequadas | Modelo de uso |
---|---|---|---|---|---|---|
13, 14 | Curto | Preços, salários, estoque de capital, tecnologias, instituições | Emprego, demanda, produção | Deslocamentos da demanda afetam o desemprego | Lado da demanda | Multiplicador |
14, 15 | Médio | Estoque de capital, tecnologias, instituições | Emprego, demanda, produção, preços, salários | Deslocamentos da demanda e da oferta afetam o desemprego, a inflação e o desemprego de equilíbrio | Lado da demanda, lado da oferta | Mercado de trabalho; curva de Phillips |
16 | Longo | Tecnologias, instituições | Emprego, demanda, produção, preços, salários, estoque de capital | Alterações nas condições de lucratividade e mudanças nas instituições afetam o desemprego de equilíbrio e os salários reais. | Lado da oferta | Modelo do mercado de trabalho com entrada e saída de firmas |
Figura 14.20 Modelos para estudar a economia agregada.
Questão 14.10 Escolha a(s) resposta(s) correta(s)
A seguir estão os diagramas do mercado de trabalho e do multiplicador, representando, respectivamente, o lado da oferta no médio prazo e o lado da demanda no curto prazo da economia agregada:
Assuma que a função de produção da economia seja dada por Y = N, onde Y é a produção e N é o emprego. Com base nessa informação, qual(is) das afirmações está(ão) correta(s)?
- No curto prazo não há deslocamento das curvas de determinação de preços e de salários. Ao invés disso, ocorrem flutuações cíclicas que afastam o desemprego do seu nível de médio prazo.
- No curto prazo não há deslocamento das curvas de determinação de preços e de salários. Ao invés disso, ocorrem flutuações cíclicas que afastam o desemprego do seu nível de médio prazo.
- Assume-se que a produtividade do trabalho é constante no curto prazo.
- O modelo do mercado de trabalho determina o equilíbrio de médio prazo enquanto o modelo de demanda agregada determina o equilíbrio no curto prazo.
14.11 Conclusão
Constantemente, as economias passam por choques de demanda agregada, tais como um declínio nos investimentos empresarial ou um aumento na poupança desejada pelas famílias. Esses choques tendem a ser ampliados por processos descritos pelo multiplicador. Além dos seus efeitos de primeira ordem, ocorrem efeitos de segunda ordem ou outros efeitos indiretos devido a mais reduções de gastos.
Na segunda metade do século XX, as economias avançadas passaram por uma grande redução da instabilidade econômica, o que se deveu, em parte, a governos maiores e à existência de estabilizadores automáticos que moderaram as oscilações na demanda agregada.
Embora a política fiscal ativa tenha desempenhado seu papel, o histórico de seus efeitos foi variado. A França descobriu no início da década de 1980 que uma expansão fiscal mal planejada pode levar a um déficit fiscal com poucos benefícios para a economia doméstica.
Em 2008, o mundo foi lembrado de que mesmo os países ricos podem sofrer com crises econômicas e a importância da política fiscal em grandes recessões foi reafirmada. Infelizmente, na Zona do Euro os países mais fortemente atingidos não conseguiram implementar os estímulos fiscais necessários por medo de crises de dívida soberana.
Conceitos introduzidos no Capítulo 14
Antes de passar adiante, reveja essas definições:
- Processo multiplicador, modelo do multiplicador
- Propensão marginal a consumir, propensão marginal a importar
- Função de consumo
- Função de investimento
- Equilíbrio do mercado de bens
- Consumo autônomo, demanda autônoma
- Objetivo de riqueza
- Acelerador financeiro
- Estabilizadores automáticos
- Estímulo fiscal
- Paradoxo da parcimônia
- Resultado, déficit, superávit orçamentário do governo
- Déficit primário
- Dívida pública
- Crise da dívida soberana
- Feedback positivo e negativo
- Lados da oferta e da demanda da economia agregada
- Flutuações do ciclo econômico
- Longo prazo, médio prazo, curto prazo
14.12 Referências
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John Maynard Keynes. 1936. The General Theory of Employment, Interest and Money. London: Palgrave Macmillan. ↩
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John Maynard Keynes. 2004. The End of Laissez-Faire. Amherst, NY: Prometheus Books. ↩
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This is a summary of the paper published in 2012: Alan Auerbach and Yuriy Gorodnichenko. 2015. ‘How Powerful Are Fiscal Multipliers in Recessions?’. NBER Reporter 2015 Research Summary. ↩
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Antonio Acconcia, Giancarlo Corsetti, and Saverio Simonelli. 2014. ‘Mafia and Public Spending: Evidence on the Fiscal Multiplier from a Quasi-Experiment’. American Economic Review 104 (7) (July): pp. 2185–2209. ↩
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Sylvain Leduc and Daniel Wilson. 2015. ‘Are State Governments Roadblocks to Federal Stimulus? Evidence on the Flypaper Effect of Highway Grants in the 2009 Recovery Act’. Federal Reserve Bank of San Francisco Working Paper 2013–16 (September). ↩
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The debate continues. Here are some easily available resources:
Miguel Almunia, Agustín Bénétrix, Barry Eichengreen, Kevin H. O’Rourke, and Gisela Rua. 2010. ‘From Great Depression to Great Credit Crisis: Similarities, Differences and Lessons.’ Economic Policy 25 (62) (April): pp. 219–65.
Tim Harford. 2010. ‘Stimulus Spending Might Not Be as Stimulating as We Think’. Financial Times.
Paul Krugman. 2012. ‘A Tragic Vindication’. Paul Krugman – New York Times Blog. Updated 9 October 2012.
Jonathan Portes. 2012. ‘What Explains Poor Growth in the UK? The IMF Thinks It’s Fiscal Policy’. National Institute of Economic and Social Research Blog. Updated 9 October 2012.
Noah Smith. 2013. ‘Why the Multiplier Doesn’t Matter’. Noahpinion. Updated 7 January 2013.
Simon Wren-Lewis. 2012. ‘Multiplier Theory: One Is the Magic Number’. Mainly Macro. Updated 24 August 2012. ↩ -
International Monetary Fund. 2012. World Economic Outlook October: Coping with High Debt and Sluggish Growth. ↩
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Robert J. Barro. 2009. ‘Government Spending Is No Free Lunch.’ The Wall Street Journal.
Paul Krugman. 2009. ‘War and Non-Remembrance’. Paul Krugman – New York Times Blog. ↩
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Bradford DeLong. 2015. ‘Draft for Rethinking Macroeconomics Conference Fiscal Policy Panel’. Washington Center for Equitable Growth. Updated 5 April 2015. ↩
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‘A Load to Bear’. The Economist. Updated 26 November 2009. ↩
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Olivier Blanchard. 2012. ‘Lessons from Latvia’. IMFdirect – The IMF Blog. Updated 11 June 2012. ↩