Capítulo 11 Rent-seeking, determinação de preços e dinâmica de mercado
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A busca por renda, comportamento conhecido como rent-seeking, explica por que os preços variam (e por que às vezes não variam) e como os mercados funcionam (às vezes para melhor, às vezes para pior)
- Preços são mensagens a respeito das condições da economia, e motivam os agentes a agirem com base nessas informações.
- As pessoas aproveitam oportunidades de conseguir rendas quando os mercados competitivos não estão em equilíbrio, geralmente lucrando ao definirem um preço diferente daquele que outros estabeleceram.
- O rent-seeking eventualmente pode igualar oferta e demanda.
- Nos mercados financeiros, os preços são determinados por mecanismos de compra e venda de ativos, e podem mudar de um minuto para o outro como resposta a novas informações e a mudanças nas expectativas.
- Bolhas de preços podem ocorrer, por exemplo, nos mercados de ativos financeiros.
- Às vezes, governos e firmas fixam preços e adotam outras políticas que fazem com que os mercados não cheguem ao equilíbrio.
- Rendas econômicas ajudam a explicar como os mercados funcionam.
Os peixes e a pesca são parte importante da vida das pessoas em Kerala, na Índia. A maioria delas come peixe pelo menos uma vez ao dia, e mais de um milhão de pessoas estão envolvidas na indústria pesqueira. Entretanto, antes de 1997, os preços eram altos e os lucros com a pesca eram limitados, devido a uma combinação de desperdício e poder de negociação dos comerciantes de peixes, que compravam a produção dos pescadores e a vendiam para os consumidores.
Ao voltarem para o porto para vender sua produção diária de sardinhas aos comerciantes de peixe, muitos pescadores descobriam que os comerciantes já tinham todo o peixe necessário para aquele dia. Assim, os pescadores se viam forçados a jogar sua produção no mar. Uns poucos sortudos retornavam ao porto certo no momento certo, isto é, quando a demanda excedia a oferta, e eram recompensados com preços extraordinariamente altos.
Em 14 de janeiro de 1997, por exemplo, onze barcos carregados de peixe chegaram ao mercado da cidade de Badagara e descobriram que havia um excesso de oferta de peixe, então, se desfizeram de sua carga. O excesso de oferta equivalia a onze barcos carregados. Entretanto, nos mercados de peixe a 15 km de Badagara, havia excesso de demanda: quinze compradores saíram do mercado de Chombala sem terem conseguido peixe a preço algum. A sorte (ou falta de) dos pescadores que retornam aos portos da costa de Kerala está ilustrada na Figura 11.1.
- lei do preço único
- É válida quando um bem é comercializado por todos os compradores e vendedores ao mesmo preço. Se um bem fosse vendido a preços diferentes em diferentes locais, um comerciante poderia comprá-lo a um preço baixo em um local e vendê-lo a um preço mais alto em outro. Veja também: arbitragem.
Apenas sete dos quinze mercados não sofreram nem excesso nem falta de oferta. Nesses sete vilarejos, os preços (na linha vertical) iam de 4 rúpias por quilo a mais de 7 rúpias por quilo. Esse é um exemplo de como a lei de preço único — característica do equilíbrio em um mercado competitivo — às vezes não é capaz de refletir como os mercados atuais funcionam.
Figura 11.1 Poder de negociação e preços no atacado de peixe do mercado de Kerala (14 de janeiro de 1997). (Observação: dois mercados tiveram o mesmo resultado, um preço de 6,2 rúpias por quilo.)
Robert Jensen. 2007. ‘The Digital Provide: Information (Technology), Market Performance, and Welfare in the South Indian Fisheries Sector.’ The Quarterly Journal of Economics 122 (3) (August): pp. 879–924.
Quando os pescadores têm maior poder de negociação porque há excesso de demanda, conseguem obter preços muito mais altos. Nos mercados em que não havia excesso de demanda nem de oferta, o preço médio era de 5,9 rúpias por quilo, como representa a linha pontilhada horizontal mais baixa. Nos mercados com excesso de demanda, a média era 9,3 rúpias por quilo. Os pescadores sortudos o suficiente para estarem nesses mercados obtinham lucros extraordinários, se assumirmos que, nos mercados sem excesso de demanda nem de oferta, o preço era alto o suficiente para produzir lucros econômicos. É claro que, no dia seguinte, esses pescadores podem ter sido os azarados, que não encontraram comprador nenhum, e então tiveram que jogar sua carga no mar.
Tudo isso mudou quando os pescadores compraram celulares. Enquanto ainda estavam no mar, os pescadores ligavam para os mercados de peixe costeiros e escolhiam aquele cujos preços do dia eram os mais altos. Se, na volta, oferecessem sua produção a um mercado com preços altos, conseguiriam obter uma renda econômica (isto é, uma renda extra em relação a sua melhor alternativa subsequente, que seria retornar para um mercado sem excesso de demanda, ou até mesmo com excesso de oferta).
Ao conseguirem acessar informação de mercado sobre os preços relativos de peixe em tempo real, os pescadores puderam ajustar seu padrão de produção (quanto pescar) e de distribuição (a que mercado ir) para garantir retornos mais altos.
Um estudo de 15 mercados costeiros ao longo de 225 km do litoral norte de Kerala descobriu que, uma vez que os pescadores começaram a usar celulares, as diferenças de preço diário entre os mercados costeiros se reduziram a um quarto dos níveis anteriores. Nenhum barco se desfez de sua carga. A redução do desperdício e a eliminação do poder de barganha dos comerciantes aumentaram os lucros dos pescadores em 8%, ao mesmo tempo em que os preços aos consumidores caíram 4%.
Os telefones celulares permitiram que os pescadores se tornassem eficazes rent-seekers (isto é, agentes que buscam obter renda econômica em suas transações), e suas atividades de rent-seeking mudaram o funcionamento dos mercados de peixe de Kerala: quase implementaram uma lei de preço único, praticamente eliminando os excessos periódicos de demanda e oferta, em benefício dos pescadores e dos consumidores (mas não dos comerciantes de peixes, que atuavam como intermediários).
Tudo isso ocorreu porque os pescadores de sardinha de Kerala puderam responder à informação que os preços davam a respeito de diferentes mercados costeiros. Este é outro exemplo da ideia que introduzimos no Capítulo 8 para explicar os efeitos da Guerra Civil Americana sobre os mercados de algodão: preços podem ser mensagens. Para o economista Friedrich Hayek, esta é a chave para entender os mercados.
Grandes economistas Friedrich Hayek
A Grande Depressão da década de 1930 devastou as economias capitalistas da Europa e da América do Norte, lançando um quarto da força de trabalho dos Estados Unidos ao desemprego. Durante o mesmo período, a economia de planejamento central da União Soviética continuava a crescer rapidamente, como resultado de uma sequência de planos quinquenais. Até o arquirrival do socialismo, Joseph Schumpeter, admitiu:
“O socialismo pode funcionar? É claro que sim… Não tem nada de errado com a teoria pura do socialismo.”
Friedrich Hayek (1899–1992) discordava. Nascido em Viena, o economista e filósofo austríaco (naturalizado britânico) acreditava que o governo devia desempenhar um papel mínimo na regulação de uma sociedade. Hayek era contra qualquer esforço de redistribuição de renda em nome da justiça social. Também se opôs às políticas defendidas por John Maynard Keynes, elaboradas para moderar a instabilidade da economia e a insegurança do emprego.
Hayek escreveu o livro O Caminho da Servidão no contexto da Segunda Guerra Mundial, período em que o planejamento econômico estava sendo empregado tanto pelos governos fascistas da Alemanha e do Japão e pelas autoridades comunistas soviéticas, quanto pelos governos do Reino Unido e dos Estados Unidos. No livro, Hayek argumentou que o planejamento bem-intencionado inevitavelmente levaria ao totalitarismo.1
Sua principal ideia revolucionou a forma como os economistas pensam sobre os mercados: a ideia de que os preços são mensagens. Os preços transmitem informações valiosas sobre quão escasso é um bem, mas essas informações só estão disponíveis se os preços são determinados livremente pela oferta e pela demanda, e não pelas decisões de um planejador. Hayek até mesmo escreveu um quadrinho, que foi distribuído pela General Motors, para explicar como este mecanismo era superior ao planejamento.
Entretanto, Hayek não tinha em mente a teoria do equilíbrio competitivo que explicamos no Capítulo 8, na qual todos os compradores e vendedores são tomadores de preços. “A teoria moderna de equilíbrio competitivo”, escreveu, “assume a existência de uma situação que na verdade deveria ser explicada como o resultado do processo de competição”.
Do ponto de vista de Hayek, assumir que existe um estado de equilíbrio (como Walras fez ao desenvolver a teoria do equilíbrio geral) nos impede de analisar a competição com seriedade. Ele definiu competição como “a ação de se esforçar para ganhar o que outro se esforça para ganhar ao mesmo tempo.” Hayek explicou:
Agora, quantos dos dispositivos adotados na vida cotidiana para alcançar este fim [ganhar o que o outro também se esforça para ganhar] ainda estariam ao alcance de um vendedor em um mercado no qual prevalecesse a dita “competição perfeita”? Acredito que a resposta seja, exatamente, nenhum. Fazer publicidade, oferecer preços abaixo dos competidores e melhorar (“diferenciar”) os bens ou serviços produzidos são todos excluídos por definição: competição “perfeita” significa, de fato, a ausência de todas as atividades competitivas (The Meaning of Competition, 1946)
Para Hayek, a vantagem do capitalismo é fornecer a informação certa às pessoas certas. Em 1945, ele escreveu:
Qual desses sistemas [planejamento central ou competição] tende a ser mais eficiente depende principalmente de sob qual dos dois podemos esperar [fazer uso total] do conhecimento existente. Isso, por sua vez, depende de se o sucesso é mais provável ao colocar à disposição de uma única autoridade central todo o conhecimento que deve ser usado, inicialmente disperso entre muitos indivíduos diferentes, ou ao transmitir aos indivíduos tal conhecimento adicional, necessário para que possam coordenar seus planos com os dos outros seus planos nos dos outros (The Use of Knowledge in Society, 1945).
As desafiadoras ideias de Hayek e suas aplicações ainda são ferozmente debatidas nos dias atuais.2
- exógeno
- Procedente do exterior do modelo, e não produzido pelos mecanismos do modelo em si. Veja também: endógeno.
- endógeno
- Produzido pelos mecanismos de um modelo, e não de fora deste modelo. Veja também: exógeno.
O Capítulo 8 introduziu o conceito de equilíbrio de mercado competitivo, situação na qual as ações dos compradores e dos vendedores de um bem não tendem a alterar o preço ou a quantidade comercializada, e os mercados se ajustam (isto é, atingem o equilíbrio entre demanda e oferta). Vimos que mudanças externas, os chamados choques exógenos, como um aumento na demanda por pão ou um novo imposto, irão alterar o preço e a quantidade de equilíbrio.
O oposto de exógeno é endógeno, que significa “vindo de dentro”, resultante dos mecanismos do próprio modelo. Neste capítulo, vamos estudar como os preços e as quantidades variam por meio de respostas endógenas a choques exógenos e da competição no mundo real, cuja ausência do modelo de equilíbrio competitivo foi tema da reclamação de Hayek. Veremos que o comportamento de buscar rendas econômicas (rent-seeking) adotado pelos participantes do mercado pode levar ao equilíbrio entre oferta e demanda, conduzir o mercado a diferentes equilíbrios no longo prazo, provocar bolhas e quebras ou levar ao desenvolvimento de mercados secundários em resposta a controles de preços.
Questão 11.1 Selecione a(s) resposta(s) correta(s)
A Figura 11.1 mostra como o poder de negociação afetou os preços nos mercados litorâneos de Kerala no dia 14 de janeiro de 1997. Com base nessa informação, o que podemos concluir?
- O preço do peixe é zero em todos os mercados com excesso de oferta.
- O preço médio nos mercados com excesso de demanda é 9,3. Entretanto, quanto mais alto o excesso de demanda, mais altos são os preços.
- A lei de preço único não se satisfaz porque os peixes são vendidos a preços diferentes em locais diferentes.
- Quando há excesso de oferta, o preço é zero. Os compradores têm todo o poder de negociação, enquanto os vendedores não têm nenhum.
11.1 Como pessoas alterando preços para obterem rendas podem levar a um equilíbrio de mercado
Quando a decisão de Lincoln de bloquear os portos do sul dos Estados Unidos levou a uma drástica escassez de algodão no mercado mundial (Capítulo 8), as pessoas viram uma oportunidade de se beneficiar ao alterar os preços. Por outro lado, essas mudanças nos preços enviaram uma mensagem aos produtores e consumidores de todo o mundo, sugerindo que mudassem seus comportamentos.
O bloqueio foi um choque exógeno que mudou o equilíbrio do mercado. Em um equilíbrio competitivo, todas as negociações se dão ao mesmo preço (o preço de equilíbrio de mercado), e os compradores e vendedores são tomadores de preços. Um deslocamento exógeno da oferta ou da demanda significa que o preço tem que mudar para que o mercado atinja um novo equilíbrio. O exemplo a seguir mostra como isso pode ocorrer.
A Figura 11.2 mostra o equilíbrio competitivo em um mercado de chapéus. No ponto A, o preço de equilíbrio equipara o número de chapéus demandados pelos consumidores ao número de chapéus produzidos e vendidos pelos chapeleiros. Neste ponto, ninguém pode se beneficiar ao oferecer ou cobrar um preço diferente, dado o preço que todos os outros estão oferecendo ou cobrando: é, portanto, um equilíbrio de Nash. Siga as etapas da Figura 11.2 para ver como um aumento na demanda de chapéus dá aos chapeleiros uma oportunidade de se beneficiar.
No ponto original de equilíbrio competitivo (A), o preço era $8 e todos os compradores e vendedores atuavam como tomadores de preços. Quando a demanda aumenta, os compradores ou vendedores não ficam sabendo imediatamente que o preço de equilíbrio aumentou para $10. Se todos permanecessem tomadores de preços, o preço não se alteraria. Porém, quando a demanda se desloca, alguns compradores ou vendedores vão perceber que podem se beneficiar ao se tornarem formadores de preços, e decidirem cobrar um preço diferente do que os outros cobram.
Por exemplo, quando uma chapeleira observa que todo dia há clientes querendo comprar chapéus, mas não há nenhum chapéu na prateleira, ela percebe que alguns clientes aceitariam pagar mais do que o preço atual, e que alguns dos clientes que pagaram o preço atual estariam dispostos a pagar mais. Então a chapeleira aumenta seu preço no dia seguinte: ser tomadora de preços não é mais a sua melhor estratégia, e ela se torna formadora de preços. Ela não sabe exatamente onde está a nova curva da demanda, mas não deixa de notar que as pessoas que queriam comprar chapéus vão embora decepcionadas.
Ao aumentar o preço, a chapeleira aumenta sua taxa de lucro e obtém uma renda econômica (pelo menos temporariamente) — isto é, obtém lucros maiores do que o necessário para manter sua chapelaria. Entretanto, como agora seu preço excede seu custo marginal, ela irá produzir e vender mais chapéus. O mesmo é válido para outros chapeleiros que terão preços mais altos e produções maiores.
Como resultado do comportamento rent-seeking dos chapeleiros, o setor de chapéus se ajusta ao novo equilíbrio, no ponto C da Figura 11.2. Nesse ponto, o mercado se equilibra novamente, a oferta é igual à demanda, e nenhum dos vendedores ou compradores pode se beneficiar se cobrar um preço diferente de $10. Todos eles voltam a ser tomadores de preços, e assim permanecem até a próxima mudança na oferta ou na demanda.
Quando um mercado não está em equilíbrio, tanto compradores quanto vendedores podem atuar como formadores de preços, negociando a um preço diferente do preço de equilíbrio anterior. Se começarmos com o equilíbrio original e tomarmos o caso oposto, uma queda na demanda de chapéus, haverá um excesso de oferta ao preço atual de $8. Um cliente que vá à chapelaria poderá dizer à chapeleira: “Vejo que alguns chapéus não foram vendidos e estão se acumulando na prateleira. Eu gostaria de comprar um deles por $7.” Isso seria uma barganha para o comprador, mas também acaba sendo um bom negócio para o vendedor, pois a um menor nível de vendas, $7 ainda é mais do que o custo marginal de produzir um chapéu para a chapeleira.
Equilíbrio de mercado por meio de rent-seeking
- renda de desequilíbrio
- Renda econômica que surge quando um mercado não está em equilíbrio, por exemplo, quando há excesso de demanda ou de oferta em um mercado de algum bem ou serviço. Por outro lado, rendas que surgem em equilíbrio são chamadas de rendas de equilíbrio.
O exemplo dos chapéus ilustra como os mercados se ajustam até o equilíbrio por meio da busca por rendas econômicas de desequilíbrio:
- Quando um mercado está em equilíbrio competitivo: se houver uma variação exógena na demanda ou na oferta, haverá um excesso de demanda ou de oferta ao preço original.
- Sendo assim, existem rendas potenciais: alguns compradores estão dispostos a pagar preços diferentes do preço original, e mais altos do que os custos marginais do vendedor.
- Enquanto o mercado está em desequilíbrio: compradores e vendedores podem auferir essas rendas fazendo transações a diferentes preços, tornando-se formadores de preços.
- Esse processo continua até que haja um novo equilíbrio competitivo: nesse ponto. não há excesso de demanda nem de oferta, e compradores e vendedores novamente são tomadores de preços.
- rendas de inovação
- Lucros, superiores ao custo de oportunidade do capital, que um inovador aufere ao introduzir uma nova tecnologia, forma organizacional ou estratégia de marketing. Também conhecido como: rendas schumpeterianas.
Observe como o equilíbrio de mercado por meio de rent-seeking se assemelha ao processo de avanço tecnológico por meio de rent-seeking representado pelo modelo do Capítulo 2. Neste último caso, a mudança exógena era a possibilidade de adotar uma nova tecnologia. A primeira firma a adotá-la recebia rendas de inovação: lucros superiores à taxa de lucro normal. Esse processo continuava até que a inovação estivesse amplamente difundida no setor e os preços tivessem se ajustado de modo que não houvesse mais rendas de inovação a serem obtidas.
Einstein Equilíbrio por meio de rent-seeking em um mercado experimental
Os economistas estudam o comportamento de compradores e vendedores em experimentos de laboratório para avaliar se os preços de fato se ajustam para igualar oferta e demanda. No primeiro desses experimentos, realizado em 1948, Edward Chamberlin deu um cartão a cada membro de um grupo de estudantes de Harvard, designando-os “compradores” ou “‘vendedores” e atribuindo-lhes uma disposição de pagar (se comprador) ou um preço de reserva (se vendedor) em dólares. Os estudantes podiam negociar entre si, enquanto Chamberlin registrava as negociações que ocorreriam. Ele descobriu que os preços tendiam a ser mais baixos e que o número de negociações tendia a ser mais alto do que os respectivos níveis de equilíbrio. Chamberlin repetiu este experimento ano a ano. Um dos estudantes que participou em 1952, Venon Smith, conduziria seus próprios experimentos no futuro, o que lhe renderiam o Prêmio Nobel de Economia.
Smith modificou as regras do jogo de modo que os participantes tivessem mais informações sobre o que estava acontecendo: compradores e vendedores declaravam os preços que estavam dispostos a oferecer ou a aceitar. Quando alguém aceitasse uma proposta de negociação, a transação ocorria e os dois participantes se retiravam do mercado. Sua segunda alteração foi repetir o jogo várias vezes, com os participantes mantendo os mesmos cartões a cada rodada.
A Figura 11.3 mostra os resultados. Havia onze vendedores, com preços de reserva entre $0,75 e $3,25, e onze compradores com disposição a pagar (DP) no mesmo intervalo. O diagrama mostra as funções de oferta e de demanda correspondentes. Você pode observar que, em equilíbrio, seis transações ocorrem ao preço de $2. Porém, os participantes não sabiam disso, já que não conheciam os preços nos cartões de mais ninguém. O lado direito do diagrama mostra o preço a cada transação que ocorreu. No primeiro período, houve cinco transações, todas a preços menores que $2. Entretanto, no quinto período, a maioria dos preços estava muito próxima de $2, e o número de transações era igual à quantidade de equilíbrio.
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Figura 11.3 Resultados experimentais de Vernon Smith.
Vernon L. Smith. 1962. ‘An Experimental Study of Competitive Market Behavior’. Journal of Political Economy 70 (3) (January): p. 322.
O experimento de Smith fornece algum respaldo à aplicação do modelo de equilíbrio competitivo para descrever mercados em que os bens são idênticos: há compradores e vendedores suficientes, e eles estão bem-informados sobre as negociações uns dos outros. O resultado se aproximou do equilíbrio mesmo no primeiro período, e convergiu rapidamente para este nos períodos seguintes à medida que os participantes aprendiam mais sobre a oferta e a demanda. O modelo competitivo não captura o comportamento rent-seeking durante os períodos de ajuste do experimento, mas prevê corretamente que o eventual resultado é o equilíbrio entre tomadores de preços.
Exercício 11.1 Um choque de oferta e ajuste para um novo mercado
Considere um mercado no qual padarias fornecem pães a um restaurante. Uma nova tecnologia está disponível para as padarias, deslocando a curva de oferta como mostra a figura.
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- Explique por que as padarias desejariam vender mais. Por que não podem fazê-lo ao preço original?
- Descreva como as atividades das padarias poderiam ajustar este setor a um novo equilíbrio.
- É sempre o vendedor quem se beneficia de renda econômica surgida quando um mercado está em desequilíbrio?
- Que ação os restaurantes podem adotar enquanto o mercado não atingir o equilíbrio?
Exercício 11.2 Preços do algodão e a Guerra Civil Americana
Leia a introdução ao Capítulo 8 e a caixa “Grandes Economistas” a respeito de Friedrich Hayek que vimos há pouco neste capítulo. Utilize o modelo de oferta e demanda para representar:
- O aumento no preço de algodão bruto nos Estados Unidos (represente o mercado de algodão bruto nos Estados Unidos, caracterizado por muitos produtores e compradores).
- O aumento no preço de algodão bruto na Índia (represente o mercado para de algodão bruto na Índia, caracterizado por muitos produtores e compradores).
- A redução do produto têxtil em uma tecelagem inglesa (ilustre uma única firma em um mercado de produto competitivo).
Em cada caso, indique qual(is) curva(s) se desloca(m) e explique o resultado.
Questão 11.2 Selecione a(s) resposta(s) correta(s)
A Figura 11.2 exibe o mercado de chapéus antes e depois de um deslocamento da demanda. Com base nessa informação, qual(is) das afirmações está(ão) correta(s)?
- A $8, os vendedores não aumentariam as vendas acima de A, porque seus custos marginais seriam mais altos que $8.
- O ajuste exige que preços e quantidades mudem. Buscar obter rendas econômicas proporciona incentivos para que compradores e vendedores façam tais mudanças.
- Até que o novo equilíbrio seja atingido, compradores e vendedores podem encontrar oportunidades de se beneficiar com transações a preços diferentes.
- No novo equilíbrio, a lei de preço único é válida e a oferta equivale à demanda (na nova curva de demanda). O preço será $10.
11.2 Como a organização do mercado pode influenciar os preços
As interações sociais e também a organização do mercado podem ter um importante impacto sobre os preços. Dados sobre os mercados de peixe (bons para comparação, pois peixes são um produto relativamente homogêneo) mostram quão influentes ambos podem ser.
Na costa leste da Itália, o mercado de peixe de Ancona usa um sistema de leilão holandês. Quando uma carga de peixe desce pela esteira rolante, uma tela exibe o preço inicial da carga. Esse preço diminui pouco a pouco até que um vendedor aperte o botão para comprar a carga. Transações ocorrem a cada quatro segundos, em três esteiras ativas, e são vendidos €25 milhões em peixes anualmente. Um leiloeiro decide os preços iniciais, e os compradores representantes de restaurantes e supermercados competem para determinar o preço final.
O mercado de peixe de Marselha utiliza um sistema diferente. Os vendedores combinam um preço com cada comprador que chega ao seu estande, o que é conhecido como negociação em pares. Se Paulo é um vendedor e George, um comprador, se aproxima do seu estande para comprar uma caixa de sardinhas, Paulo lhe oferece um preço. Esse preço pode ser diferente daquele que Paulo oferecerá a seu próximo cliente. Há pouca pechincha, mas George é livre para rejeitar o preço e procurar outro vendedor.
Alguns vendedores individuais do mercado de Marselha alteram em até 30% os preços do mesmo peixe para diferentes consumidores. Um comprador individual pode acabar pagando quantias muito díspares em diferentes transações para comprar um mesmo peixe. Apesar disso, ocorre a típica relação entre preços e quantidades em um mercado agregado: a reta que os relaciona é inclinada para baixo.
- discriminação de preços
- Estratégia de vendas na qual preços diferentes são definidos para diferentes compradores ou grupos de compradores, ou os preços variam dependendo do número de unidades compradas.
Alan Kirman utilizou dados sobre a fidelidade dos consumidores para explicar este tipo de discriminação de preços. O mercado de Marselha é composto por aproximadamente 45 vendedores e 500 compradores, muitos dos quais são varejistas, como os de Ancona. Alguns compradores são extremamente fiéis a certos peixeiros, enquanto outros circulam mais no mercado. Clientes mais fiéis pagam preços um pouco mais altos do que aqueles não tão leais. Os dados de Kirman revelam que este sistema levou a maiores lucros para os vendedores e a payoffs altos para 90% dos clientes leais.
Como podemos explicar esses resultados? Os payoffs dos compradores vêm tanto dos preços quanto da satisfação da demanda. Imagine que você é um comprador. Em seu primeiro dia no mercado de Marselha, você tem a mesma probabilidade de comprar de qualquer peixeiro. Você compra bacalhau de Sarah e seu supermercado lucra com a transação, o que o torna mais propenso a voltar a comprar de Sarah no dia seguinte. Dessa forma, suas experiências anteriores fornecem informações para que você tome suas decisões atuais.
Depois de continuar comprando de Sarah por algum tempo, ela começa a oferecer bacalhau a você antes de oferecer aos outros clientes, como recompensa por sua fidelidade. Você então continua comprando de Sarah, porque tem maior probabilidade de conseguir todo o peixe de que necessita com esta vendedora. Os benefícios de ser um cliente fiel são especialmente visíveis quando as condições climáticas limitam a quantidade de peixe disponível.
Agora, imagine que você é o peixeiro. O payoff dos vendedores vem tanto dos preços quanto da satisfação da oferta. Ao aumentar seu número de clientes fiéis, sua receita se torna mais estável e sua previsão de demanda, mais precisa.
Se você prioriza seus clientes fiéis em detrimento dos outros — talvez servindo-os primeiro — você melhora a experiência de compra deles, tornando-os mais propensos a voltar. Com o tempo, esses clientes se tornam tão fiéis que permanecerão com você mesmo que haja um pequeno aumento nos preços cobrado deles.
Dessa forma, o relacionamento entre os indivíduos e as experiências passadas influenciam os preços. A estrutura de negociação em pares permite que clientes fiéis tenham grande influência sobre os preços no mercado de Marselha.
É impressionante como algo semelhante ocorre no mercado de Ancona, estudado por Mauro Gallegati e seus coautores. A Figura 11.4 mostra que, nesse mercado, alguns compradores individuais no mercado têm relações preço-quantidade muito atípicas. No entanto, como mostrou a Figura 11.5, a relação preço-quantidade agregada é padrão. Mesmo sem interação face a face, a fidelidade dos clientes está presente e alguns consumidores são mais propensos a comprar de barcos específicos. Porém, diferente do mercado de Marselha, muitos dos clientes fiéis pagam preços menores do que os clientes pouco fiéis. Isso é intrigante, uma vez que não há contato face a face entre compradores e vendedores. Os autores acreditam que esta situação se deva a um complexo processo de aprendizado.
Outro fato notável sobre o mercado de Ancona é que os preços caem durante o dia. Nesse caso, por que os compradores não se limitam a simplesmente esperar por preços melhores? Mais uma vez temos que considerar um trade-off — se os compradores esperarem até mais tarde, é mais provável que não consigam comprar o peixe que querem. Muitos compradores podem não estar dispostos a correr o risco, e irão pagar preços altos para garantir que conseguem o peixe desejado. Consistente com essa explicação é o fato de que os preços aumentam bruscamente no final do dia, quando a oferta total é baixa.
Em última instância, os preços são determinados pelos interesses e relações entre compradores e vendedores. A organização do mercado determina como essas relações influenciam os preços.
Figura 11.4 Relação preço-quantidade para um único comprador no mercado de peixe de Ancona.
Mauro Gallegati, Gianfranco Giulioni, Alan Kirman e Antonio Palestrini. 2011. ‘What’s that got to do with the price of fish? Buyers behavior on the Ancona fish market’. Journal of Economic Behavior & Organization 80 (1) (September): pp. 20–33.
Figura 11.5 Relação preço-quantidade agregada no mercado de Ancona.
Mauro Gallegati, Gianfranco Giulioni, Alan Kirman e Antonio Palestrini. 2011. ‘What’s that got to do with the price of fish? Buyers behavior on the Ancona fish market’. Journal of Economic Behavior & Organization 80 (1) (September): pp. 20–33.
11.3 Equilíbrios de curto e de longo prazo
No Capítulo 8, quando elaboramos um modelo do equilíbrio no mercado de pães, assumimos que havia um número fixo de padarias (50) na cidade. Encontramos a curva de oferta do setor ao somar as quantidades de pão que cada padaria forneceria a cada preço, e depois determinamos o preço e a quantidade de equilíbrio.
Entretanto, também vimos que, ao preço de equilíbrio, as padarias estavam auferindo rendas (seus lucros econômicos eram maiores que zero), o que oferecia uma oportunidade para que outras firmas se beneficiassem ao entrarem no mercado. A entrada de novas firmas deslocaria a oferta do mercado, levando a um novo equilíbrio. Este é um exemplo de como rent-seeking pode levar um mercado a um equilíbrio diferente no longo prazo.
- equilíbrio no curto prazo
- Equilíbrio que prevalecerá enquanto certas variáveis (por exemplo, o número de firmas em um mercado) permanecerem constantes. Entretanto, neste ponto, esperamos que essas variáveis mudem quando as pessoas tiverem tempo para reagir à situação.
- equilíbrio no longo prazo
- Equilíbrio atingido quando as variáveis mantidas constantes no curto prazo (por exemplo, o número de firmas em um mercado) puderem se ajustar à medida que as pessoas ganham tempo para reagir à situação.
A Figura 11.6 representa o equilíbrio do mercado de pães com 50 padarias pelo ponto A do painel à direita: 5.000 pães são vendidos a €2 cada. O painel à esquerda exibe as curvas isolucro e de custo marginal para cada padaria (assumindo que sejam idênticas), e também o ponto ao qual produzem quando o preço é €2: são produzidos 100 pães (quando o preço é igual ao custo marginal). Além disso podemos ver que, no ponto A, a padaria está acima da curva de custo médio, obtendo um lucro econômico positivo.
O equilíbrio do mercado no ponto A é descrito como um equilíbrio de curto prazo. A expressão “curto prazo” é usada para indicar que estamos mantendo algo constante por enquanto, embora isso possa mudar no futuro. Neste caso, queremos dizer que o ponto A é o equilíbrio enquanto o número de firmas do mercado permanecer constante. Contudo, como as firmas estão auferindo rendas, não esperamos que essa situação dure muito. Siga as etapas da figura para ver o que acontece no longo prazo.
No ponto C, quando o equilíbrio de longo prazo é atingido, o preço do pão se iguala ao custo marginal e também ao custo médio (P = CMg = CMe), e o lucro econômico de cada padaria é zero.
No longo prazo, os lucros que o mercado de pão proporciona não são superiores aos lucros que os potenciais padeiros poderiam obter se investirem seus ativos em outra atividade. E se algum padeiro puder se sair melhor utilizando sua propriedade para algum outro uso (ou vendendo-a e investindo em um negócio diferente), esperamos que ele o faça. Mesmo que ninguém obtenha lucros acima dos normais, tampouco alguém deveria ganhar menos do que os lucros normais.
Podemos utilizar a Figura 11.6 para calcular quantas padarias haverá no equilíbrio no longo prazo. O painel à esquerda mostra que o preço deve ser €1,52, porque esse é o ponto da curva de oferta no qual a firma obtém lucros normais (P = CMg = CMe), e cada padaria produz 66 pães. A partir da curva de demanda no painel à direita, podemos deduzir que serão vendidos 6.500 pães a esse preço. Portanto, o número de padarias no mercado deve ser 6.500/66 = 98.
Observe como os equilíbrios de curto e de longo prazos são diferentes. No curto prazo, o número de firmas é exógeno — assume-se que permanecerá constante em 50. No longo prazo, o número de padarias pode mudar de acordo com as reações endógenas rent-seeking das firmas. O número de firmas no equilíbrio de longo prazo é endógeno — determinado pelo modelo.
Os conceitos de equilíbrio de curto e de longo prazo não têm muito a ver com períodos específicos, exceto com o fato de que algumas variáveis (tais como preço de mercado e quantidade produzida por firmas individuais) podem se ajustar mais rapidamente que outras (tais como o número de firmas que participam de um mercado). Sendo assim, o que queremos dizer com curto prazo e longo prazo depende do modelo. O equilíbrio de curto prazo é alcançado quando todos fizeram o melhor que puderam durante o ajuste das variáveis facilmente ajustáveis, enquanto as outras permaneceram constantes. O equilíbrio de longo prazo ocorre quando essas outras variáveis também se ajustaram.
Elasticidades de curto e de longo prazos
Lembre-se que, no Capítulo 8, vimos que, quando a demanda por um bem aumenta, o aumento da quantidade vendida depende da elasticidade da curva de oferta (isto é, a curva de custo marginal). Então, se a demanda por pão aumenta, uma curva de oferta mais inclinada (inelástica) significa que o preço do pão aumenta muito a curto prazo enquanto o número de padarias permanece fixo, com um aumento relativamente pequeno na quantidade. No entanto, a longo prazo, isso levará à entrada de mais padarias no mercado, então, o preço cai e a quantidade produzida aumenta (relativamente) mais. Dizemos que, por causa da possibilidade de entrada e saída das firmas, a oferta de pão é mais elástica no longo prazo.
A distinção entre curto e longo prazos se aplica a muitos modelos econômicos. Além do número de firmas de um setor, existem muitas outras variáveis econômicas que se ajustam lentamente, e a diferenciação entre os períodos é útil para distinguir o que ocorre antes do ajuste do que ocorre depois.
Na próxima seção, veremos outro exemplo: tanto a oferta quanto a demanda de petróleo são mais elásticas a longo prazo porque, ao ganharem tempo, produtores podem perfurar novos poços de petróleo e consumidores podem trocar o combustível que usam para os carros ou para aquecimento. Quando falamos em curto prazo neste caso queremos nos referir ao período durante o qual as firmas estão limitadas por sua capacidade de produção atual, e os consumidores, pelo tipo de carro e de aquecimento que estão usando.
Questão 11.3 Selecione a(s) resposta(s) correta(s)
A Figura 11.6 mostra o mercado de pão no curto prazo, com 50 padarias, e no longo prazo, quando mais padarias podem entrar. Todas as padarias são idênticas. Qual(is) das seguintes afirmações está(ão) correta(s)?
- A curva de oferta de cada padaria permanece a mesma. É a curva de oferta do mercado que se desloca.
- A e B só podem ser equilíbrios de curto prazo para um dado número de padarias. A renda econômica encorajará mais padarias a entrarem no mercado.
- Nenhuma outra padaria entrará no mercado porque, nesse caso, o preço cairia abaixo do custo médio, acarretando prejuízos às padarias.
- Em C, as padarias obtêm lucros normais, então não há motivo para deixar o mercado.
11.4 Preços, rent-seeking e dinâmicas de mercado na prática: preços de petróleo
A Figura 11.7 representa o preço real do petróleo nos mercados mundiais (em dólares americanos constantes de 2014) e a quantidade total consumida globalmente de 1861 a 2020. Para entender o que motiva as grandes flutuações nos preços do petróleo podemos utilizar nosso modelo de oferta e demanda, diferenciando curto prazo e longo prazo.
Figura 11.7 Preços mundiais de petróleo a preços constantes (1861–2020) e consumo global de petróleo (1965–2020).
BP. (2021) BP Statistical Review of World Energy June 2021.
Sabemos que os preços refletem a escassez. Se um bem se torna mais escasso ou mais caro para produzir, a oferta cairá e o preço tenderá a subir. Por mais de 60 anos, os analistas da indústria do petróleo têm previsto que a demanda em breve ultrapassaria a oferta: a produção alcançaria um pico e então os preços subiriam à medida que as reservas mundiais diminuíssem”. Na Figura 11.7, não há evidências do “auge do preço do petróleo”. Um motivo para isso é que preços maiores oferecem incentivos para realizar outras explorações. Entre 1981 e 2014, mais de 1 bilhão de barris foram extraídos e consumidos, mas as reservas mundiais de petróleo mais do que dobraram, passando de aproximadamente 680 bilhões para 1.700 bilhões de barris.
Os preços aumentaram muito no século XXI, e um número cada vez maior de analistas prevê que pelo menos o petróleo convencional tenha atingido um pico. Entretanto, atualmente estão sendo explorados outros recursos não convencionais, como óleo de xisto. Talvez sejam as políticas de combate às mudanças climáticas, e não o esgotamento dos recursos, que eventualmente virão a conter o consumo de petróleo.3 4
O que faz com que as mensagens dos preços na Figura 11.7 sejam difíceis de ler é a oscilação brusca, de cima para baixo e de baixo para cima, em curtos períodos. Essas flutuações não podem ser explicadas com base nas reservas de petróleo, porque refletem escassez no curto prazo. A oferta e a demanda são ambas inelásticas a curto prazo.
Oferta e demanda de curto prazo
Do lado da demanda, o principal uso de derivados do petróleo está nos serviços de transporte (aéreo, rodoviário e marítimo). A demanda é inelástica a curto prazo devido às possibilidades de substituição serem limitadas. Por exemplo, mesmo que os preços do petróleo aumentem substancialmente no curto prazo a maioria das pessoas continuará a usar seus atuais carros para ir trabalhar, devido ao limitado número de alternativas imediatas disponíveis. Portanto, a curva da demanda de curto prazo é mais inclinada.
- oligopólio
- Mercado com um número pequeno de vendedores, o que dá algum poder de mercado a cada vendedor.
A tecnologia tradicional de extração de petróleo é caracterizada por um grande investimento inicial em custosos poços de petróleo, que podem demorar meses ou até mais que isso para serem construídos e, uma vez construídos, podem ser bombeados até que o poço se esgote ou que a extração do petróleo deixe de ser lucrativa. Após a perfuração do poço, o custo de extrair o petróleo é relativamente baixo, mas a taxa a que é extraído enfrenta restrições de capacidade — os produtores só podem extrair uma dada quantidade de barris por dia de um poço. Isso significa que, tomando a capacidade existente como fixa a curto prazo, devemos traçar uma curva de oferta de curto prazo que seja baixa e plana no início, e depois se incline cada vez mais à medida que as restrições de capacidade são atingidas. Também precisamos reconhecer a estrutura oligopolistic do mercado mundial de petróleo bruto. A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) é um cartel com treze países membros, que atualmente respondem por 40% da produção mundial de petróleo. A OPEP estabelece cotas de produção para seus membros. Podemos representá-las em nosso diagrama de oferta e demanda com uma linha de custo marginal plana que é interrompida precisamente na cota de produção total da OPEP. Nesse ponto, a linha se torna vertical. Isso não se deve a restrições na capacidade produtiva, mas ao fato de que os produtores membros da OPEP não venderão petróleo além da cota.
A Figura 11.8 exibe a curva de oferta de mercado, dada pela soma da cota de produção da OPEP às curvas de oferta dos países que não são membros da OPEP (lembre-se que curvas de oferta de mercado são obtidas somando as quantidades fornecidas por produtor a cada preço). Para determinar o preço mundial do petróleo, a Figura 11.8 combina a curva de oferta de mercado à curva de demanda.
Os choques de preços do petróleo nos anos 1970
Em 1973 e 1974, os países da OPEP determinaram um embargo parcial do petróleo como resposta à guerra que ocorreu no Oriente Médio em 1973–74. Em 1979 e 1980, a produção de petróleo no Irã e no Iraque caiu devido às interrupções no fornecimento após a Revolução Iraniana e à eclosão da Guerra Irã-Iraque. Na Figura 11.9, esses eventos são representados pelo deslocamento da curva da oferta mundia Smundo, para a esquerda, causado pela redução no volume de produção da OPEP para Q′OPEP. A produção e o consumo totais caíram, mas, como a demanda é muito inelástica em relação ao preço, o aumento percentual do preço é muito maior do que a redução percentual da quantidade. É o que vemos nos dados da Figura 11.7: o preço do petróleo (em dólares americanos constantes de 2014) vai de $18 por barril em 1973, para $56 em 1974; depois, para $106 em 1980. Porém, comparada a esses aumentos, a redução do consumo mundial de petróleo após os choques de preços é pequena (−2% entre 1973 e 1975, e −10% entre 1979 e 1983).
Figura 11.9 Choques de preços do petróleo da OPEP na década de 1970: a OPEP reduz a produção.
O choque de preços do petróleo nos anos 2000–2008
- elasticidade-renda da demanda
- Mudança percentual na demanda que ocorreria em resposta a um aumento de 1% na renda das pessoas.
Os anos entre 2000 e 2008 foram um período de rápido crescimento econômico nos países industrializados, especialmente na China e na Índia. A elasticidade-renda da demanda por petróleo e derivados é mais alta nesses países do que nas economias de mercado desenvolvidas, e a demanda gerada por automóveis e viagens aéreas de turismo está crescendo relativamente rápido à medida que esses países se tornam mais ricos. Este crescimento da renda desloca a curva de demanda para a direita, como mostra a Figura 11.10. Nesse caso, é o fato da curva de oferta de petróleo ser inelástica no curto prazo que responde pelo grande aumento dos preços paralelo ao modesto aumento do consumo mundial de petróleo. A queda brusca dos preços em 2009 tem a mesma explicação, só que em sentido inverso: a crise financeira de 2008–2009 foi um choque negativo de demanda que deslocou esta curva para a esquerda, de modo que o consumo mundial caiu cerca de 3%, e o preço do petróleo bruto caiu de mais de $100 por barril em julho de 2008 para $40–50 no início de 2009.
Figura 11.10 Choques de preços do petróleo em 2000–2008: o crescimento econômico aumenta a demanda mundial.
Exercício 11.3 O mercado mundial de petróleo
Utilizando o diagrama de oferta e demanda:
- Ilustre o que acontece quando o crescimento econômico aumenta a demanda mundial
- no curto prazo
- no longo prazo, à medida que os produtores investem em novos poços de petróleo
- no longo prazo, à medida que os consumidores encontram substitutos para o petróleo
- De modo semelhante, descreva as consequências de um choque de oferta negativo similar ao ocorrido nos anos 1970 a curto e a longo prazos.
- Se você observasse um aumento do preço do petróleo, como poderia, a princípio, determinar se foi causado por eventos ocorridos no lado da oferta ou no lado da demanda?
- Como o diagrama e a resposta aos choques se alterariam se houvesse:
- um mercado competitivo composto por muitos produtores?
- um único produtor monopolista de petróleo?
- um cartel da OPEP que controlasse 100% da produção mundial de petróleo, procurando maximizar os lucros combinados de seus membros?
- Por que cada um dos membros da OPEP teria, individualmente, incentivos para produzir mais do que determina sua cota?
- Essa lógica se aplica à situação do mundo real, no qual também existem produtores de petróleo que não são membros da OPEP?
Exercício 11.4 A revolução do óleo de xisto
Um importante avanço dos últimos 10 anos vem sendo a reemergência dos Estados Unidos como grande produtor de petróleo, por meio da “revolução do óleo de xisto”. O óleo de xisto é extraído por meio da tecnologia de fraturamento hidráulico ou fracking: injeta-se fluido no solo a uma alta pressão para fraturar a rocha e permitir a extração. Em um discurso intitulado ‘The New Economics of Oil’, em outubro de 2015, o economista chefe do grupo produtor de petróleo BP plc, Spencer Dale, explicou como a produção de óleo de xisto difere da extração tradicional.
- De acordo com Dale, como a revolução do óleo de xisto afetou o mercado mundial de petróleo?
- No futuro, de que forma o mercado mundial de petróleo será diferente?
- Explique como nosso diagrama de oferta e demanda deve se alterar se sua análise estiver correta
11.5 O valor de um ativo: conceitos básicos
- ativo
- Qualquer coisa de valor que se possua. Veja também: balanço, passivo.
As pessoas compram peixe, chapéus e combustível pelo seu valor de consumo: para comer, para vestir e para queimar (respectivamente). Os mercados de ativos podem funcionar de forma diferente porque seus compradores têm uma segunda motivação: beneficiarem-se de alguma maneira não apenas enquanto tiverem o ativo, mas também ao vendê-lo no futuro. Então, o que determina o valor de um ativo, quer seja uma propriedade, uma obra de arte ou um ativo financeiro, como as ações de uma firma?
Lembre-se do Capítulo 6, no qual vimos que os lucros de uma firma pertencem a seus acionistas em proporção direta às cotas de cada um. Geralmente, os lucros se dividem em dividendos, pagos diretamente aos acionistas, e receitas, que são retidas para serem usadas na manutenção e expansão da capacidade da firma de gerar renda. Mas, já que o futuro é tão incerto, como essas ações devem ser valoradas?
Dois importantes determinantes do valor de um ativo financeiro (também conhecido como título ou, em inglês, security) são o tamanho dos fluxos de caixa que se espera que o ativo gere, e a incerteza nas previsões desses fluxos de caixa.
Títulos
- títulos públicos
- Instrumento financeiro emitido pelo governo que promete pagar fluxos de dinheiro a intervalos específicos.
É mais fácil começar com um ativo que promete um fluxo de pagamentos fixo, em datas específicas ao longo de um período. Suponha que os investidores tenham total confiança de que os pagamentos prometidos serão honrados. O melhor exemplo deste tipo de ativo é o título da dívida pública emitido por um país com uma probabilidade insignificante de inadimplência, como os Estados Unidos ou a Suíça (este caso foi analisado no Einstein no Capítulo 10).
- títulos privados
- Tipo de ativo financeiro pelo qual o emissor se compromete a pagar dada quantia ao portador ao longo do tempo. Também conhecido como: títulos corporativos, debêntures.
Os investidores só estarão dispostos a comprar e a manter um ativo se sua taxa de retorno — pagamentos futuros em relação ao preço pelo qual o ativo pode ser comprado ou vendido — se sair bem na comparação com as taxas de juros de ativos semelhantes em qualquer outro lugar da economia. O fluxo de pagamentos prometido é fixo, então, quanto menor o preço de um ativo, maior será a taxa de juros que renderá ao comprador. Em outras palavras: o preço de um ativo está inversamente relacionado à taxa de juros que o ativo rende. Se outras taxas de juros da economia aumentarem, a taxa de juros dos títulos terá que aumentar também — e então o preço dos títulos cairá.
Considere os títulos corporativos, que não estão livres de risco. Quanto maior for o risco de inadimplência, maior será a taxa de juros que os investidores exigirão a fim de permanecer com o ativo. Se dois títulos prometem exatamente o mesmo fluxo de pagamentos, aquele que for de maior risco terá um preço mais baixo. Os investidores recebem taxas de juros mais altas se comprarem títulos mais arriscados e se não houver inadimplência, mas enfrentam um maior risco de que nem todos os pagamentos prometidos se materializem.
Ações
- ação
- Parte dos ativos de uma firma que pode ser comprada e vendida. Uma ação dá a seu titular o direito de receber parte do lucro da firma, e de se beneficiar quando o valor dos ativos da empresa aumenta. Também conhecida como: ação ordinária.
As ações diferem dos títulos em dois aspectos importantes: não há promessa de um fluxo de pagamentos específico, e o prazo para fazer os pagamentos não é fixo. Firmas das quais se esperam grandes lucros líquidos terão ações mais valorizadas e, se as expectativas mudarem, o valor das ações também muda. Entretanto, assim como os títulos, seu valor também vai depender das taxas de juros em outras partes da economia e do risco esperado para obter os lucros.
Risco
- risco sistemático
- Risco que afeta todos os ativos do mercado, de modo que não é possível que os investidores reduzam sua exposição ao risco adquirindo uma combinação de diferentes ativos. Também conhecido como: risco não diversificável ou não mitigável.
- risco idiossincrático
- Risco que afeta apenas um pequeno número de ativos de uma vez. Os investidores podem praticamente eliminar sua exposição a tais riscos adquirindo uma carteira diversificada de ativos afetados por diferentes níveis de risco. Também conhecido como: risco diversificável ou mitigável.
Mas como o risco de um ativo deve ser avaliado? Para responder a essa pergunta, é preciso entender a distinção entre risco sistemático e risco idiossincrático. Os lucros de uma firma podem ficar acima ou abaixo das expectativas por vários motivos. Alguns eventos — tais como mudanças na política comercial, nas taxas de juros ou na demanda de bens e serviços de toda a economia — afetam simultaneamente diversas classes de ativos financeiros. Outros eventos — tais como testes bem-sucedidos de novos medicamentos, ou ações judiciais a respeito de problemas de segurança em um veículo — só afetam especificamente as firmas que irão perder ou ganhar com sua ocorrência. A primeira fonte de risco é chamada de sistemática, não diversificável ou não mitigável, e a segunda, de idiossincrática, diversificável ou mitigável.
- risco sistêmico
- Risco que ameaça o próprio sistema financeiro.
Um terceiro tipo de risco, o risco sistêmico, geralmente se refere a riscos que ameaçam o próprio sistema financeiro. Vamos analisar exemplos de risco sistêmico, tais como a crise financeira de 2008, no Capítulo 17.
Essa ideia foi desenvolvida por William Sharpe, John Lintner e outros pesquisadores na década de 1960, com base em um trabalho de Harry Markowitz.
Uma importante observação em economia financeira é que o risco diversificável é essencialmente irrelevante para valorar os títulos, porque os investidores podem praticamente eliminá-lo ao construírem carteiras que contenham muitos ativos, cada um com um peso pequeno em relação ao total. Em qualquer período, algumas das firmas da carteira vão passar por choques positivos, e outras, por choques negativos. Entretanto, desde que os choques sejam realmente idiossincráticos, terão tendência a cancelar um ao outro, e a maior parte da carteira em si não será afetada.
O risco sistemático é diferente: surge de choques que afetam muitas classes de títulos ao mesmo tempo e a diversificação da carteira não leva a sua redução. Firmas diferentes são expostas a diferentes níveis de risco sistemático, dependendo do grau em que seus lucros estão correlacionados aos lucros do mercado como um todo. Por exemplo, os lucros da Ford e da Chrysler são altamente dependentes das condições econômicas de toda a economia, uma vez que as pessoas adiam a compra de carros durante recessões econômicas. Por outro lado, as empresas de serviços que fornecem gás e eletricidade para clientes residenciais estão protegidas de tais riscos, uma vez que a energia consumida não é muito sensível às condições econômicas.
- taxa de capitalização do mercado
- Taxa de retorno alta o suficiente para induzir os investidores a adquirirem ações de uma empresa específica. Será alta se a companhia estiver sujeita a um alto nível de risco sistemático.
Os investidores exigirão retornos médios mais altos das ações de empresas com altos níveis de risco sistemático, uma vez que seus lucros tendem a ser voláteis de tais formas que a diversificação da carteira não seria capaz de protegê-lo com facilidade. A taxa de retorno que induz os investidores a comprarem as ações de uma empresa às vezes é chamada de taxa de retorno exigida ou taxa de capitalização do mercado. “Tudo o mais constante”, essa taxa será maior para empresas sujeitas a maior risco sistêmico. Então, dada qualquer expectativa de ganhos futuros, os valores das ações serão mais altos para empresas com taxas de mercado de capitalização mais baixas.
Estratégias de negociação
- valor fundamental da ação
- Preço da ação com base nos lucros futuros previstos e no nível de risco.
O preço da ação computado a partir de tais considerações — expectativa de lucros futuros e nível de risco sistêmico — às vezes é chamado de valor fundamental da ação ou título. Muitos investidores institucionais, inclusive fundos mútuos administrados ativamente e alguns fundos de cobertura (hedge), adotam estratégias de negociação baseadas na compra de ativos cujo valor é considerado abaixo de seu valor fundamental, e na venda de ativos considerados supervalorizados em relação aos fundamentais.
Entretanto, existem outras estratégias de negócios que absolutamente não se baseiam na avaliação de valor fundamental. Por exemplo, alguns investidores buscam evidências do momentum (isto é, inércia ou impulso) nos preços dos ativos, comprando quando esperam que os preços aumentem ainda mais, ou vendendo quando esperam que os preços caiam. Um investidor pode estar disposto a pagar mais do que o valor fundamental de uma ação se crê que o preço aumentará acima desse valor. Nesse caso, o comprador poderia obter ganhos comprando a um preço baixo e vendendo a um preço mais alto, mesmo que o valor fundamental da ação não tenha se alterado.
- especulação
- Comprar e vender ativos a fim de lucrar com uma previsão de mudança de seus preços.
Comprar e vender ativos com base na avaliação de seu valor fundamental é uma forma de especulação, motivada pela expectativa de que os preços em breve retornem a seus valores fundamentais. Comprar e vender com base em uma percebida inércia também é um exemplo de especulação, motivada pela expectativa de que tendências de curto prazo têm um grau de persistência. Essas e muitas outras estratégias estão presentes nos mercados financeiros modernos, determinando o comportamento dos preços e a possibilidade de bolhas e falências ocorrerem (como veremos nas próximas seções).
Como os economistas aprendem com os fatos A sabedoria das multidões: o peso do gado (bois) e o valor das ações
Qual é o preço certo de, digamos, uma ação do Facebook? Seria melhor que o preço fosse definido por especialistas em economia ao invés de determinado no mercado, pelas ações de milhões de pessoas, poucas das quais têm conhecimento especializado de economia ou das perspectivas da empresa?
Os economistas estão longe de entender os detalhes de como esse mecanismo realmente funciona. Contudo, uma importante perspectiva surge de uma fonte inusitada: um jogo de adivinhação jogado em 1907, em uma feira agrícola de Plymouth, Inglaterra. Um boi vivo foi mostrado aos participantes da feira, e por seis pence (2,5p), eles podiam adivinhar o peso “da arroba” do boi, que significa a quantidade de carne comercializável que poderia ser extraída do animal. O participante cuja resposta escrita em um bilhete se aproximasse mais da resposta certa levaria o prêmio.
Posteriormente, o estudioso de diversas áreas Francis Galton obteve os bilhetes associados a essa disputa. Ele descobriu que um jogador escolhido aleatoriamente errava o peso correto por, em média, 40 libras (18 kg). Entretanto, o que Galton chamou de vox populi ou “voz do povo” — o valor médio de todos os palpites — estava impressionantemente perto do valor real, diferindo em apenas 9 libras (4 kg) (menos de 1% de diferença).
A observação relevante para os economistas é que a média de um grande número de pessoas não tão bem-informadas em geral é extremamente precisa. É possível que seja mais precisa do que a estimativa de um veterinário experiente ou de um criador de gado.
Galton ter feito uso da média para combinar os palpites significava que a vox populi era a voz do jogador (supostamente) mais bem informado, mas foi por meio dos palpites de todos os demais que se chegou a este jogador mais informado. A vox populi foi obtida utilizando todas as informações disponíveis, inclusive os pressentimentos e as fantasias que levaram a palpites que desviaram muito, para cima ou para baixo.
O resultado de Galton é um exemplo da “Sabedoria Popular”. Esse conceito é particularmente interessante para os economistas porque contém, de forma estilizada, muitos dos componentes de um bom mecanismo de preços.
Como o próprio Galton observou, o jogo de adivinhação tinha uma série de características que contribuíram para o sucesso da vox populi. O custo para participar do jogo era pequeno, mas não nulo, o que permitia que muitos participassem, mas desencorajava os possíveis brincalhões. Os palpites foram escritos e entregues de maneira confidencial, e o juízo dos participantes não foi influenciado “por oratória e entusiasmo”. A promessa de uma recompensa foi o foco das atenções.
Embora muitos participantes fossem bem-informados, muitos outros não o eram, e como Galton observou, guiaram-se pelas opiniões dos outros participantes da feira e por sua imaginação. Galton ter escolhido o valor médio reduz (mas não elimina) a influência desses participantes menos informados, evitando que palpites individuais sem embasamento (digamos, aqueles 10 vezes maiores que o valor real) afastassem a vox populi da visão do grupo como um todo.
O mercado de ações representa outra expressão da vox populi, na qual as pessoas adivinham o valor de uma empresa de modo bastante preciso com frequência — mas nem sempre — acompanhando mudanças na qualidade da gestão, na tecnologia ou nas oportunidades do mercado.
A sabedoria popular também explica o sucesso dos mercados de previsão. Os Iowa Electronic Markets, geridos pela Universidade de Iowa, permitem que os indivíduos comprem e vendam contratos que pagam de acordo com quem ganhar as futuras eleições. Os preços desses ativos reúnem informações, pressentimentos e palpites de muitos participantes. Tais mercados de previsão (também conhecidos como mercados de ações políticas) podem fornecer previsões estranhamente precisas dos resultados das eleições com meses de antecedência, às vezes melhores do que as pesquisas oficiais e até mesmo do que sites de agregação de pesquisas. Outros mercados de previsões permitem que milhares de pessoas apostem em eventos como, por exemplo, quem vai ganhar o Oscar de melhor atriz. Chegaram a propor a criação de um mercado de previsões para o próximo ataque terrorista nos Estados Unidos.
Questão 11.4 Selecione a(s) resposta(s) correta(s)
Qual(is) das seguintes afirmações está(ão) correta(s)?
- Lucros futuros esperados e risco sistêmico determinam o fluxo de renda que o investidor pode esperar: é o que chamamos de valor fundamental.
- Sem novas informações sobre lucratividade ou risco, o valor fundamental não muda. Logo, os preços crescentes indicam especulação.
- É possível se beneficiar dessa estratégia se você vender a ação antes que os preços caiam.
- Os investidores não estão necessariamente de acordo, uma vez que podem ter informações diferentes sobre a lucratividade futura.
11.6 Variações na oferta e na demanda de ativos financeiros
- mercados primário e secundário
- O mercado primário é aquele em que bens e ativos financeiros são vendidos pela primeira vez. Por exemplo, a venda inicial das ações de uma empresa ao investidor (conhecida como oferta pública inicial ou IPO, na sigla em inglês) está no mercado primário. A subsequente negociação dessas ações na bolsa de valores está no mercado secundário. Os termos também são usados para descrever a venda inicial de tickets (mercado primário), e o mercado secundário no qual são negociados.
- bolsa de valores
- Mercado financeiro no qual ações (ou títulos) e outros ativos financeiros são negociados. Conta com uma lista das empresas que negociam suas ações ali.
Quando uma empresa coloca novas ações à venda para o público pela primeira vez, isso é chamado de oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês). Depois, as ações passam a ser negociadas na bolsa de valores, o que é chamado de negociação no mercado secundário.
Preços de negociação nos mercados secundários estão constantemente mudando. O gráfico da Figura 11.11 mostra como flutuou o preço das ações da News Corp (NWS) na bolsa de valores Nasdaq ao longo de um dia de maio de 2014 e, no painel inferior, está o número de ações negociadas em cada ponto. Logo após a abertura do mercado, às 9:30 da manhã, o preço estava em $16,66 por ação. À medida que os investidores foram comprando e vendendo ações ao longo do dia, o preço atingiu um mínimo de $16,45 às 10 da manhã e também às 2 da tarde. Quando o pregão fechou, com o preço das ações em $16,54, quase 556.000 ações haviam sido negociadas.
Figura 11.11 Preço das ações da News Corp e volume negociado (7 de maio de 2014).
Bloomberg L.P., accessed 28 May 2014.
A qualquer momento em que o mercado de ações da News Corp esteja aberto, cada um dos atuais acionistas tem um preço de reserva, isto é, o menor preço pelo qual o acionista aceitaria vender suas ações. Outros estão no mercado para comprá-las, desde que consigam encontrar preços aceitáveis. À medida que as expectativas dos investidores a respeito da rentabilidade da News Corp mudam, sua disposição para comprar ou vender se altera. Para ver como os preços dos ativos financeiros são afetados por tais deslocamentos da demanda e da oferta, siga as etapas da Figura 11.12. As curvas mostram o volume de ações por hora demandadas e ofertadas a cada preço.
Na prática, os mercados de ações não operam em prazos fixos, como uma hora. As negociações ocorrem de forma contínua e os preços estão sempre mudando, por meio de um mecanismo de negociação conhecido como leilão duplo contínuo (ou Continuous Double Auction (CDA), em inglês).
- ordem limitada
- Combinação anunciada de preço e quantidade de um ativo, para venda ou para compra. Também conhecido como: preço limite.
- livro de ofertas
- Registro de ordens limitadas feitas por compradores ou vendedores, mas ainda não atendidas.
Qualquer um que deseje comprar pode oferecer uma combinação de preço e quantidade conhecida como ordem limitada. Por exemplo, uma ordem limitada para comprar 100 ações da New Corp a um preço de $16,50 por ação indica que o comprador se compromete a comprar 100 ações, contanto que possam ser obtidas a um preço igual ou menor do que $16,50 por ação. Este é o preço de reserva do comprador. De modo semelhante, uma ordem limitada de venda indica um compromisso de vender dada quantidade de ações, contanto que o preço não seja menor do que a quantia especificada (o preço de reserva do vendedor).
Quando é feita uma ordem limitada de compra, acontece uma de duas coisas. Se uma ordem limitada de venda feita anteriormente ainda não tiver sido atendida e oferecer o número de ações solicitado a um preço igual ou abaixo da quantia indicada pelo comprador, ocorre uma negociação. Se uma dessas ordens não estiver disponível, então a ordem limitada é colocada no chamado livro de ofertas (que na verdade é apenas um registro eletrônico) e se torna disponível para ser negociada com novas ordens de venda que surgirem.
As ordens de compra são conhecidas como bids, e as ordens de vendas, como asks. O livro de ofertas lista as bids em ordem decrescente de preços, e os asks em ordem crescente. O início do livro de ações da NWS por volta do meio-dia de 8 de maio de 2014 se parecia com a tabela na Figura 11.13.
Bid | Ask | ||
---|---|---|---|
Preço ($) | Quantidade | Preço ($) | Quantidade |
16,56 | 400 | 16,59 | 500 |
16,55 | 400 | 16,60 | 700 |
16,54 | 400 | 16,61 | 800 |
16,53 | 600 | 16,62 | 500 |
16,52 | 200 | 16,63 | 500 |
Figura 11.13 Livro de ofertas de um leilão duplo contínuo: preços de bids e asks das ações da New Corp (NWS).
Yahoo Finance, acessado em 8 de maio de 2014.
Dada essa situação, uma ordem de compra de 100 ações a $16,57 não seria atendida e entraria para o livro no início da coluna de bids. Entretanto, uma ordem de compra de 600 ações a $16,60 seria imediatamente atendida, uma vez que pode ser pareada às ordens limitadas de venda atuais. 500 ações seriam negociadas a $16,59 cada, e 100 ações seriam negociadas a $16,60. Sempre que uma ordem de compra é imediatamente atendida, a negociação ocorre ao melhor preço possível para o comprador (o preço de oferta de compra). Da mesma forma, se uma ordem de compra for feita e imediatamente atendida por ordens de venda atuais, a negociação ocorre ao melhor preço possível para o vendedor (o preço de oferta de venda).
Agora podemos ver como os preços do mercado variam com o tempo. Alguém que receba notícias negativas sobre a News Corp, tais como um boato de que um diretor está para se demitir, e acredita que esta informação ainda não tenha sido incorporada aos preços, pode fazer uma grande ordem de venda a um preço abaixo de $16,56, que imediatamente será negociado com as bids existentes. À medida que essas negociações ocorrem, as bids negociadas são removidas do livro de ofertas e o preço das ações cai. De maneira semelhante, em resposta a boas notícias, ordens de compra a preços acima do menor ask serão negociadas com as ordens de venda existentes, e as transações ocorrerão a preços cada vez mais altos.
Como os preços flutuam, não é fácil imaginar este mercado em equilíbrio. Entretanto, os preços estão sempre se ajustando para conciliar oferta e demanda e, assim, ajustar o mercado até atingir o equilíbrio a cada ponto.
Os ativos financeiros fornecem outro exemplo de mercados que se equilibram por meio de rent-seeking:
- Aqueles que acreditam que podem se beneficiar comprando ações da News Corp a dado preço oferecem uma bid a esse preço.
- Aqueles que acreditam que podem se beneficiar vendendo ações oferecem um ask a dado preço.
- O preço em qualquer momento reflete o resultado agregado do comportamento rent-seeking de todos os agentes do mercado — inclusive daqueles que simplesmente estão conservando suas ações.
Exercício 11.5 Curvas de oferta e de demanda
- Utilize os dados do livro de ofertas da NWS da Figura 11.13 para traçar as curvas de oferta e de demanda destas ações.
- Explique por que as duas curvas não se cruzam.
Questão 11.5 Selecione a(s) resposta(s) correta(s)
A figura mostra um livro de ofertas para as ações da News Corp. Qual(is) das seguintes afirmações sobre o livro de pedidos está(ão) correta(s)?
Bid | Ask | ||
---|---|---|---|
Preço ($) | Quantidade | Preço ($) | Quantidade |
16,56 | 400 | 16,59 | 500 |
16,55 | 400 | 16,60 | 700 |
16,54 | 400 | 16,61 | 800 |
16,53 | 600 | 16,62 | 500 |
16,52 | 200 | 16,63 | 500 |
- $16,59 está no lado das ordens de venda, asks. Portanto, alguém quer vender 500 ações a esse preço.
- O preço indica os preços de reserva do comprador ou do vendedor. Então, nesse caso, o comprador pagaria, no máximo, $16,56.
- A ordem não pode ser atendida porque não existem ordens de compra a um preço de $16,58.
- O comprador não pagará mais que $16,59, então 500 ações serão compradas, e a ordem das outras 100 ações permanecerá não atendida.
11.7 Bolhas no mercado de ativos
- commodities
- Bens físicos negociados de forma semelhante às ações. Incluem metais, como ouro e prata, produtos agrícolas, como café e açúcar, petróleo e gás natural. Às vezes, o termo é usado de forma mais geral para se referir a qualquer coisa produzida para venda.
A flexibilidade demonstrada pelos preços das ações da News Corp é comum em mercados de outros ativos financeiros, tais como títulos da dívida pública, moedas sob taxas de câmbio flutuantes, commodities como ouro, petróleo bruto e milho, e ativos tangíveis como casas e obras de arte.
- bolhas de preços de ativos
- Aumento contínuo e significativo do preço de um ativo motivado por expectativas de futuros aumentos nos preços.
Entretanto, os preços das ações não são voláteis apenas hora a hora e dia a dia: também podem apresentar grandes oscilações, geralmente denominadas bolhas. A Figura 11.14 mostra o valor do Índice Composto Nasdaq entre 1995 e 2004. Esse índice é a média dos preços de um conjunto de ações, com as empresas ponderadas proporcionalmente à capitalização do mercado. Naquele momento, o Índice Composto Nasdaq incluía muitas companhias dos setores de tecnologia, com rápido crescimento e difíceis de valorar.
Figura 11.14 A bolha de tecnologia: Índice Composto Nasdaq (1995–2004).
Yahoo Finance, acessado em 14 de janeiro de 2014.
O índice abre o período em menos de 750 e, em cinco anos, sobe para mais de 5.000, com uma impressionante taxa de retorno anualizada de cerca de 45%. Depois, perde dois terços do seu valor em menos de um ano e, por fim, atinge o valor mínimo em cerca de 1.100, quase 80% abaixo do seu pico. O episódio foi chamado de bolha tecnológica.
Informação, incerteza e expectativas
O termo bolha se refere ao afastamento contínuo e significativo entre o preço de um ativo (financeiro ou de outro tipo) e seu valor fundamental.
Às vezes, novas informações sobre o valor fundamental de um ativo são expressas pelos mercados de maneira rápida e confiável. As mudanças nas expectativas de crescimento dos lucros futuros de uma firma resultam em ajustes quase instantâneos nos preços das ações. Notícias boas ou ruins sobre patentes, ações judiciais, doença ou afastamento de pessoas importantes, lucros inesperados, ou fusões e aquisições podem resultar em negociações ativas — e alterar os movimentos dos preços.
- negociação de momentum
- Estratégia de negociação de ações com base na ideia de que uma nova informação não é incorporada instantaneamente aos preços, então os preços apresentam uma correlação positiva ao longo de curtos períodos. Também conhecido como: trade momentum.
Como os movimentos dos preços das ações geralmente refletem informações importantes sobre a saúde financeira de uma firma, os investidores que não tiverem estas informações podem tentar deduzi-las a partir do movimento dos preços. Usando a linguagem de Hayek, variações nos preços são mensagens que contêm informações. Para que os mercados funcionam bem, os investidores devem reagir a essas mensagens. No entanto, quando interpretam um aumento de preços como um sinal de outros aumentos de preços no futuro (estratégia de negociação de momentum), o resultado pode ser o surgimento de ciclos autossustentados de aumentos de preços, levando a bolhas nos preços dos ativos seguidas por quedas bruscas nos preços, chamadas de crashes.
Três características correlacionadas e distintivas dos mercados podem levar a bolhas:
- Valor de revenda: a demanda pelo ativo aumenta tanto por conta dos benefícios de quem o possui (por exemplo, o fluxo de dividendos de uma ação, ou o prazer de ter uma obra de um artista famoso na sua sala de estar) quanto pelo fato de que oferece oportunidades de especulação sobre variações no seu preço. Da mesma forma, um senhorio pode comprar uma casa tanto para obter renda do aluguel, quanto para obter um ganho de capital de manter o ativo por um tempo e depois vendê-lo. As expectativas das pessoas sobre o que acontecerá com os preços dos ativos diferem e se alteram conforme elas recebem novas informações ou acreditam que outras pessoas estão reagindo a novas informações.
- Facilidade de negociação: nos mercados financeiros, a facilidade de negociar significa que você pode passar de comprador a vendedor (e vice-versa) se mudar de opinião sobre o que acha que vai acontecer com o preço (aumentar ou cair). Não é possível alternar entre comprar e vender nos mercados de bens e serviços comuns, em que os vendedores são firmas, com bens de capital especializados e trabalhadores qualificados, e os compradores são famílias ou outros tipos de firmas.
- Facilidade de tomar empréstimos para financiar compras: se os participantes do mercado puderem fazer empréstimos para aumentar sua demanda de um ativo por acreditarem que terá um aumento no preço, isso permite que o movimento ascendente dos preços continue criando a possibilidade de uma bolha e de posterior crash.
Quando os economistas discordam As bolhas existem mesmo?
Os movimentos dos preços na Figura 11.14 (e na Figura 11.20 na próxima seção) dão a impressão de que os preços dos ativos podem oscilar descontroladamente, tendo pouca relação com o fluxo de renda que é razoável esperar ao mantê-los.
Mas será que as bolhas realmente existem ou são uma ilusão baseada apenas em nossa visão do passado? Em outras palavras, será que é possível saber que um mercado está passando por uma bolha antes que quebre? Pode ser surpreendente saber que alguns economistas proeminentes conhecedores do mercado financeiro discordem sobre essa questão. Entre eles, estão Eugene Fama e Robert Schiller, dois dos três laureados com o Prêmio Nobel de 2013.
Fama nega que o termo “bolha” tenha qualquer significado útil:5
Essas palavras se tornaram populares. Não acho que tenham qualquer significado … É fácil dizer que os preços caíram e que deve ter sido uma bolha após o fato ter ocorrido. Muitas bolhas são fáceis de enxergar se analisarmos o passado. Agora, após o fato ter acontecido, sempre encontramos pessoas que disseram antes que os preços estavam muito altos. As pessoas estão sempre dizendo que os preços estão muito altos. Quando acertam, nós as louvamos. Quando erram, nós as ignoramos. Geralmente, as pessoas estão certas na metade das vezes, e erradas na outra metade.
Esta é uma expressão do que os economistas chamam de hipótese do mercado eficiente, segundo a qual todas as informações geralmente disponíveis sobre os valores fundamentais são incorporadas pelos preços quase que instantaneamente.6 Robert Lucas — outro laureado com o Nobel, na mesma área de Fama — explicou a lógica desse argumento em 2009, durante a crise financeira:7
Uma coisa que não vamos ter, nem agora nem nunca, é um conjunto de modelos que preveja quedas repentinas no valor dos ativos financeiros, como aquelas que se seguiram ao colapso do Lehman Brothers em setembro. Isso não é nada novo. Sabe-se disso há mais de 40 anos, e essa é uma das principais implicações da hipótese do mercado eficiente de Eugene Fama… Se um economista tivesse uma fórmula que pudesse prever confiavelmente as crises, digamos, uma semana antes de ocorrerem, então a fórmula se tornaria parte de uma informação amplamente disponível, e os preços cairiam uma semana antes.
Respondendo a Lucas, Markus Brunnermeier explica por que este argumento é discutível:8
É claro, como aponta Bob Lucas, que quando é amplamente aceito entre todos os investidores que uma bolha está para estourar na próxima semana, eles já vão estourá-la hoje. Na prática, no entanto, cada investidor individual não sabe quando os outros investidores vão começar a negociar contra a bolha. Essa incerteza leva cada investidor individual a se preocupar se pode ou não ficar tempo suficiente fora do mercado (ou quase) até que a bolha finalmente estoure. Como consequência, cada investidor reluta em ir contra a maré. De fato, os investidores podem preferir surfar na bolha por um longo tempo, até as correções de preços ocorrerem, o que geralmente se dá após uma longa espera e geralmente de forma abrupta. Pesquisas empíricas sobre a previsibilidade dos preços das ações dão suporte a essa visão. Além disso, como a fricção nos financiamentos limita as atividades de arbitragem, o fato de que você não pode ganhar dinheiro não implica que o “preço está certo”.
Essa forma de pensar sugere uma abordagem radicalmente diferente da arquitetura financeira no futuro. Os bancos centrais e os reguladores financeiros têm que ser vigilantes e procurar as bolhas, e devem ajudar os investidores a sincronizar seus esforços para evitar bolhas de preços dos ativos. Como mostrou o episódio atual, não é suficiente arrumar a bagunça após a bolha estourar, mas é essencial evitar a formação de bolhas em primeiro lugar.
Shiller argumentou que estatísticas relativamente simples e publicamente observáveis, tais como a razão de preço sobre o lucro por ação, podem ser usadas para identificar bolhas à medida que se formam. Nadar contra a maré, comprando ações baratas de acordo com esse critério e vendendo as caras, pode resultar em prejuízos a curto prazo, mas em ganhos de longo prazo. Esses últimos, na visão de Shiller, excedem os retornos que seriam obtidos ao simplesmente investir em uma carteira diversificada de títulos com riscos semelhantes.
Em colaboração com o Banco Barclays, Shiller lançou um produto chamado de nota negociada em bolsa (exchange-traded note (ETN), na sigla em inglês), que pode ser usado para investir de acordo com sua teoria. Este ativo está ligado ao valor da razão preço-lucro ciclicamente ajustado (cyclically adjusted price-to-earnings (CAPE), na sigla em inglês), que Schiller acredita ser capaz de prever os preços futuros durante grandes períodos. Então, esse é um economista que faz o que fala: você pode acompanhar a flutuação do índice de Shiller no site do Banco Barclays.9
Sendo assim, há duas interpretações bastante diferentes do episódio da “bolha de tecnologia” da Figura 11.14:
- exuberância irracional
- Processo pelo qual os ativos se tornam supervalorizados. A expressão foi usada pela primeira vez por Alan Greenspan, presidente do Federal Reserve dos Estados Unidos em 1996. Foi popularizada como conceito econômico pelo economista Robert Schiller.
- Visão de Eugene Fama: os preços dos ativos ao longo do episódio se baseavam na melhor informação disponível no momento, e flutuaram porque a informação sobre as perspectivas das empresas das companhias estava mudando abruptamente. Em 2010, na entrevista de John Cassidy com Fama para a revista The New Yorker, ele descreve muitos dos argumentos a favor da existência de bolhas como “completamente fracos”.10
- Visão de Robert Schiller: no final da década de 1990, os preços aumentaram simplesmente devido às expectativas de que subiriam ainda mais, o que ele chamou de “exuberância irracional” entre os investidores. O primeiro capítulo de seu livro, Irrational Exuberance, explica a ideia.11
Exercício 11.6 Mercados de pedras preciosas
Um artigo do New York Times, descreve como os mercados mundiais de opalas, safiras e esmeraldas são afetados por descobertas de novas fontes de pedras preciosas.
- Explique, utilizando a análise de oferta e demanda, por que os comerciantes australianos se entristeceram com a descoberta de opalas na Etiópia.
- O que determina a disposição para pagar por pedras preciosas? Por que as safiras de Madagascar continuam a ter preços mais baixos do que as da Ásia?
- Explique por que a reputação das pedras de uma fonte específica pode ser importante para um consumidor. Você não deveria avaliar quanto está disposto a pagar por uma pedra apenas com base no seu gosto por ela?
- Você acha que a boa reputação das pedras de determinada origem necessariamente reflete diferenças reais de qualidade?
- É possível observar bolhas nos mercados de pedras preciosas?
Questão 11.6 Selecione a(s) resposta(s) correta(s)
Qual(is) das seguintes afirmações sobre bolhas está(ão) correta(s)?
- Uma bolha ocorre quando o preço de mercado se distancia contínua e significativamente do valor fundamental de um ativo.
- É mais provável que as bolhas ocorram nessas circunstâncias.
- Investidores que utilizam a estratégia de negociação de momentum compram ou vendem de acordo com a queda ou o aumento dos preços, e não de acordo com os valores fundamentais, então podem contribuir para a formação de uma bolha.
- Uma bolha poderia ocorrer em um mercado de qualquer ativo que possa ser revendido, por exemplo, o mercado imobiliário.
11.8 Modelos de bolhas e crashes
Vimos que podem ocorrer bolhas em mercados de ativos financeiros porque a demanda depende, em parte, das expectativas dos preços a que os ativos podem ser revendidos no futuro. Este argumento também pode ser aplicado a bens duráveis — como casas, obras de arte e “colecionáveis”, como carros vintage ou selos postais. Podemos aplicar nosso modelo de compradores e vendedores tomadores de preços a tais mercados?
A Figura 11.15 ilustra a oferta e a demanda das ações de uma firma (até o momento) hipotética chamada Companhia de Carros Voadores (CCV). Inicialmente, o preço das ações é de $50 na curva de demanda mais inferior. Quando os potenciais investidores recebem boas notícias sobre a futura lucratividade esperada, a curva da demanda se desloca para a direita, e os preços aumentam para $60 (por simplicidade, assumimos que a curva de oferta não se desloca).
Inicialmente, o aumento exógeno da demanda tem o mesmo efeito que teve nos mercados de pães e chapéus. Siga as etapas na Figura 11.15 para ver o que acontece depois.
- feedback positivo (processo)
- Processo pelo qual algumas mudanças iniciais dão início a um processo que intensifica a mudança inicial. Veja também: feedback negativo (processo)
A sequência de eventos representada na Figura 11.15 pode ocorrer se as pessoas interpretarem um aumento de preços como indicação de que outras pessoas souberam de notícias que elas ainda não receberam, e então ajustaram suas expectativas para uma alta nos preços. Ou podem pensar que há oportunidades de especulação: comprar a ação agora e vendê-la com lucro no futuro. De qualquer forma, o aumento inicial da demanda cria um feedback positivo, que leva a outros aumentos na demanda.
Isso não ocorre no mercado de pão. Nesse mercado, as pessoas não reagem a um aumento de preços comprando mais pão e enchendo sua dispensa. Para elaborar modelos dos mercados de ativos como ações, pinturas ou casas, precisamos permitir a incorporação dos efeitos adicionais das expectativas sobre os preços futuros. A Figura 11.16 compara dois cenários alternativos do que ocorre após um choque exógeno de boas notícias sobre os futuros lucros da CCV, aumentando os preços das ações de $50 para $60, como na Figura 11.15.
No painel à esquerda, as expectativas amortecem os aumentos nos preços: alguns participantes do mercado desconfiam do aumento inicial de preços, e não têm certeza de que o valor fundamental da CCV é realmente $60. Então eles vendem suas ações, lucrando com os preços mais altos. Esse comportamento reduz o preço, que cai para um valor pouco acima de seu nível inicial, no qual se estabiliza. As notícias foram incorporadas a um preço que está entre $50 e $60, refletindo a expectativa agregada do mercado sobre o novo valor fundamental da CCV.
Figura 11.16 Feedback positivo versus feedback negativo
Por outro lado, no painel à direita, as expectativas intensificam o aumento nos preços. Quando a demanda aumenta, outros investidores acreditam que o aumento inicial é sinal de que o preço continuará aumentando no futuro. Essas expectativas produzem um aumento na demanda de ações da CCV. Outros investidores notam que quem comprou mais ações da CCV foi beneficiado à medida que os preços aumentaram, e então seguem seu exemplo. Começa um ciclo autossustentável de preços mais altos e demanda crescente.
- equilíbrio estável
- Estado no qual o equilíbrio tende a ser restaurado após ser interrompido por um pequeno choque.
Se as expectativas amortecem as mudanças nos preços e reconduzem o mercado ao equilíbrio após um choque de preços, dizemos que o equilíbrio é estável. A Figura 11.17 mostra como podemos elaborar um modelo do processo de ajuste de preços em caso de equilíbrio estável. O painel à esquerda mostra as curvas de oferta e demanda das ações da CCV, com um preço de equilíbrio P0 correspondente ao seu valor fundamental. O painel à direita mostra a relação entre preços em períodos sucessivos, chamada de curva de dinâmica dos preços (CDP). Se Pt, o preço no período t, é igual a P0, então o preço no próximo período, Pt+1, será o mesmo, porque não há tendência de mudança em equilíbrio. No entanto, se a curva atual Pt não estiver em equilíbrio, a CDP mostra qual será o preço no próximo período. Siga as etapas da Figura 11.7 para ver como, com uma CDP como a exibida aqui, o mercado irá retornar ao equilíbrio após um choque.
Na Figura 11.17, a CDP é mais plana do que a linha de 45°: então, quando o preço está acima do equilíbrio, ele se ajusta novamente para baixo até que o equilíbrio seja restaurado. Esta CDP representa o caso em que as expectativas do valor fundamental do ativo dominam qualquer tendência de interpretar o aumento de preços como sinal de outros aumentos de preços no futuro.
Vamos então supor que, após o aumento inicial no preço P1, a demanda aumente: agora, as ações da CCV são vistas como um investimento melhor. Mesmo se todos souberem que o valor fundamental das ações ainda é P0, haverá quem acredite que o preço continuará a subir por algum tempo. Se houver convicção de que os preços aumentarão ainda mais, então adquirir mais ações é uma boa estratégia. Haverá ganho de capital por possui-las, porque podem ser vendidas no futuro a um preço mais alto do que o pago para adquiri-las.
- equilíbrio instável
- Estado em que, se um choque perturbar o equilíbrio, há uma tendência subsequente de deslocar-se para ainda mais longe do equilíbrio inicial.
Nesse caso, como mostra o painel à esquerda da Figura 11.18, o preço mais alto desloca a curva de demanda para a direita. No painel à direita, a CDP é mais inclinada do que a linha de 45°: isso nos informa que o preço no próximo período estará mais afastado do equilíbrio em P0 do que o preço no período atual. A CDP representa um caso de equilíbrio instável.
Figura 11.18 Equilíbrio instável.
No próximo período, os preços sobem outra vez. Em uma bolha autossustentada, este processo pode continuar indefinidamente — pelo menos até acontecer algo que altere a expectativa de aumento contínuo dos preços (e de desvio crescente entre preços e valor fundamental).
A instabilidade causada por expectativas retroalimentáveis sobre os preços só pode ocorrer em mercados de bens que podem ser revendidos, como ativos financeiros ou bens duráveis. Não faz sentido comprar mais vegetais, peixe ou roupas da moda na expectativa de obter um ganho de capital com esses bens, porque peixes e vegetais apodrecem e a moda muda. Entretanto, nos mercados de tulipas do século XVII, de espaços para escritórios em Tóquio no final dos anos 1980, e de casas em Las Vegas nos anos 2000 (veja o Exercício 11.10), as pessoas continuaram a comprar à medida que os preços aumentavam, impulsionando-os ainda mais, porque esperavam se beneficiar com a revenda dos ativos.
No Capítulo 17, vamos utilizar um modelo com curva de dinâmica dos preços para analisar o papel do mercado imobiliário na crise financeira de 2008. No Capítulo 20, um modelo semelhante ajuda a explicar como os humanos interagem com o meio ambiente, e por que observamos tanto processos de estabilização quanto círculos viciosos de colapsos ambientais fora de controle em algumas situações.
Leibniz: Bolhas de preços
Como as bolhas chegam a um fim
Uma bolha estoura quando alguns participantes do mercado notam que há perigo de que o preço caia. Então os possíveis compradores desistem e quem tem ações tenta se livrar delas. O processo na Figura 11.15 se inverte. A Figura 11.19 utiliza o modelo de oferta e demanda para ilustrar o que ocorre. No auge da bolha, as ações são negociadas a $80. Ambas as curvas de oferta e de demanda se deslocam quando a bolha estoura, e os preços despencam de $80 para $54 — deixando aqueles que tinham ações em mãos quando o preço era $80 com grandes prejuízos.
Figura 11.19 O colapso do preço das ações da CCV.
Se o preço de um ativo foi impulsionado a aumentar somente por causa das expectativas de outros aumentos no futuro, deve haver oportunidades para aqueles que estavam bem-informados sobre o valor do ativo lucrarem com suas melhores informações. Então, se o aumento do índice Nasdaq na Figura 11.14 de fato foi uma bolha, por que aqueles que a identificaram como tal não lucraram ao apostar intensamente em uma enorme queda nos preços?
- venda a descoberto
- Venda de um ativo por parte de quem o tomou emprestado, com a intenção de comprá-lo de volta a um menor preço. Essa estratégia é adotada por investidores que esperam a queda do valor de um ativo. Também conhecido como: shorting, short selling.
À medida que o processo ocorria, muitos grandes investidores realmente “remaram contra a maré” e apostaram no estouro da bolha, inclusive alguns gestores de fundos famosos em Wall Street. Eles fizeram isso vendendo a descoberto (shorting): fazendo empréstimos de ações ao atual preço alto e vendendo-as imediatamente, com a intenção de recomprá-las mais baratas (para devolver ao proprietário) após os preços despencarem. Porém, essa é uma estratégia extremamente arriscada, pois requer exatidão ao determinar o momento da queda — se os preços continuarem a subir, os prejuízos podem se tornar insustentáveis. Você pode estar certo sobre haver uma bolha, mas se estiver errado sobre o momento do estouro, quando tiver que recomprar as ações e devolvê-las ao proprietário, o preço estará maior do que quando você as vendeu. Você terá prejuízo e pode não conseguir pagar seu empréstimo.
Na verdade, muitos dos que compram um ativo também podem estar convencidos de que haverá uma eventual queda, mas esperam sair do mercado antes que isso ocorra. Foi esse o caso durante a bolha tecnológica, quando Stanley Druckenmiller, gestor do Fundo Quantum, cujos ativos somavam $8 bilhões, manteve em sua carteira ações de empresas de tecnologia que ele sabia que estavam supervalorizadas. Após os preços caírem e infligirem grandes prejuízos ao fundo, ele usou uma metáfora do baseball para descrever seu erro: “pensamos que era a oitava entrada, e já era a nona” — explicou — e basicamente passei da hora de frear.”
Exercício 11.7 Qual é o valor fundamental de um Bitcoin?
Pode ter ocorrido uma bolha no mercado da moeda virtual chamada Bitcoin, introduzida por um grupo de desenvolvedores de software em 2009. Nos locais em que é aceita, ela pode ser transferida de uma pessoa para outra como pagamento por bens e serviços.
Diferentemente de outras moedas, o Bitcoin não é controlado por uma única entidade como um banco central. Ao invés disso, é “minerado” por pessoas que emprestam seu poder computacional para verificar e registrar transações de Bitcoins nas contabilidades oficiais. No início de 2013, um Bitcoin podia ser comprado por cerca de $13. Em 4 de dezembro de 2013, era negociado a $1.147. Depois, perdeu metade do seu valor em duas semanas. Essas e as seguintes oscilações de preços são exibidas na Figura 11.20.
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Figura 11.20 O valor de um Bitcoin (2013–2021).
Coindesk.com. 2021. Bitcoin News, Prices, Charts, Guides & Analysis e Bitcoincharts. Ambos acessados em fevereiro de 2021.
Utilize os modelos desta seção e argumentos contra e a favor da existência de bolhas para explicar os dados representados na Figura 11.20.
Exercício 11.8 As dez grandes bolhas de preços de ativos dos últimos 400 anos.
De acordo com Charles Kindleberger, um historiador econômico, bolhas de preços de ativos já ocorreram em uma grande variedade de países e épocas. As bolhas dos últimos 100 anos têm surgido predominantemente no mercado imobiliário, de ações e de investimentos externo.12
- 1636: bolha de tulipas na Holanda
- 1720: Companhia dos Mares do Sul
- 1720: Companhia do Mississippi
- 1927–29: bolha de preços de ativos dos anos 1920
- Década de 1970: escalada da dívida externa do México e de outras economias em desenvolvimento
- 1985–89: bolha japonesa de imóveis e ações
- 1985–89: bolha de imóveis e ações na Finlândia, na Noruega e na Suécia
- 1990s: bolha de imóveis e ações na Tailândia, na Malásia, na Indonésia e em outros países asiáticos entre 1992 e 1997, e escalada no investimento estrangeiro no México entre 1990 e 1999
- 1995–2000: bolha no mercado de balcão (onde as negociações são mais descentralizadas do que nas bolsas) dos Estados Unidos
- 2002–07: bolha imobiliária nos Estados Unidos, na Grã-Bretanha, na Espanha, na Irlanda e na Islândia
Escolha uma dessas bolhas de preços de ativos, pesquise sobre ela, e então:
- Conte a história da bolha usando os modelos desta seção.
- Explique a relevância, se houver, dos argumentos sobre a existência de bolhas que estão na caixa “Será que existem bolhas?”, na Seção 11.7, para a história que você contou.
Questão 11.7 Selecione a(s) resposta(s) correta(s)
Qual(is) das seguintes afirmações sobre preços de ativos está(ão) correta(s)?
- Quando as expectativas intensificam o aumento nos preços, há um afastamento entre preço e valor fundamental, provocando uma bolha.
- Feedback positivo é quando uma mudança inicial nos preços dá início a um processo que intensifica a mudança inicial, e então o mercado se afasta do equilíbrio.
- Feedback negativo é quando uma mudança inicial nos preços é amortecida por outros participantes do mercado que estão vendendo seus ativos, por acreditarem que o preço no presente está acima do valor fundamental.
- Se as expectativas sobre o valor fundamental amortecem um aumento nos preços, o mercado retorna ao equilíbrio.
Questão 11.8 Selecione a(s) resposta(s) correta(s)
Qual(is) das seguintes afirmações sobre venda a descoberto (shorting) está(ão) correta(s)?
- Shorting permite que um investidor se beneficie ao vender ações que tomou como empréstimo enquanto seu preço está alto e ao recomprá-las (para devolver ao proprietário) quando o preço tiver caído.
- Shorting envolve a venda de ações tomadas como empréstimo.
- Uma vez vendidas as ações a um dado preço, não há limite para o tamanho do prejuízo que você pode ter, já que o preço pode continuar aumentando.
- Shorting só funciona se você acertar o momento exato do estouro da bolha. De outra forma, essa estratégia pode resultar em um grande prejuízo.
11.9 Mercados que não atingem o equilíbrio: racionamento, filas e mercados secundários
Em 2013, os ingressos da turnê mundial da Beyoncé se esgotaram em 15 minutos para o show de Auckland, na Nova Zelândia, em 12 minutos para três shows no Reino Unido, e em menos de um minuto para o show de Washington D.C., nos Estados Unidos. Em outubro de 2013, quando o cantor americano Billy Joel anunciou um show surpresa em sua cidade natal, Long Island, em Nova York, todos os ingressos disponíveis foram adquiridos em minutos. Em ambos os casos, é seguro dizer que houve muitos compradores decepcionados, que teriam pagado bem mais que o preço do ingresso pelos shows. Ao preço escolhido pelos organizadores dos espetáculos, a demanda excedia a oferta.
Também vemos excesso de demanda de ingressos em eventos esportivos. O comitê organizador dos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012, recebeu 22 milhões de solicitações para 7 milhões de ingressos. A Figura 11.21 é uma representação estilizada da situação para um dos eventos das Olimpíadas.
O número de ingressos disponíveis, 40.000, é dado pela capacidade do estádio. O preço dos ingressos para o qual a oferta e a demanda são iguais é £225. O comitê organizador não escolhe esse preço, e sim um preço mínimo de £100, para o qual são solicitados 70.000 ingressos. Há um excesso de demanda de 30.000 ingressos.
Figura 11.21 Excesso de demanda de ingressos.
Alguns daqueles que conseguem ingressos para um evento popular podem ficar tentados a vendê-los ao invés de usá-los. Na Figura 11.21, qualquer pessoa que comprar um ingresso por £100 com a intenção de revendê-lo poderia fazer isso por pelo menos £225, auferindo uma renda de £125 (em comparação com a melhor alternativa subsequente, que é não comprar o ingresso).
O potencial de gerar renda pode criar um mercado paralelo ou secundário. No caso dos ingressos de shows e eventos esportivos, parte da demanda inicial vem de cambistas: pessoas que planejam revendê-los para obter lucro. Os ingressos aparecem quase que instantaneamente nas plataformas de negociação direta entre duas pessoas (peer-to-peer), tais como StubHub ou Ticketmaster, cotados a preços que podem ser muitas vezes maiores que o original. Nos últimos dias dos Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi, em 2014, ingressos para o Parque Olímpico cujo valor de face era de 200 rublos foram vendidos por até 4.000 rublos fora do Parque.
No mercado secundário, os preços igualam demanda e oferta, e os ingressos são alocados entre os que têm maior disposição para pagar. A expectativa de que esse preço de mercado de equilíbrio seja muito mais alto do que os preços oficiais é parcialmente responsável pela frenética demanda inicial pelos ingressos. Entretanto, algumas pessoas que compraram a preços mais baixos permanecem com seus ingressos e assistem a um evento a que não conseguiriam ter acesso de outra forma.
Os organizadores do evento podem tentar combater os cambistas. Em Sochi, os policiais deveriam ter intercedido. No entanto, combater os cambistas é cada vez mais difícil, já que as vendas online oferecem novas oportunidades de cambismo em larga escala utilizando ticket-bots: softwares que compram automaticamente os ingressos assim que são colocados à venda. O New York Times estimou que os cambistas conseguiram ganhar $15,5 milhões em apenas 100 apresentações do musical Hamilton, da Broadway, no verão de 2016.
- bens racionados
- Bens que são alocados entre os compradores por um processo diferente do que ocorre por meio preço (isto é, por filas ou sorteios, por exemplo).
No caso das Olimpíadas de Londres, o comitê organizador definiu o preço, e os ingressos foram distribuídos por sorteio. Este é um exemplo de bens sendo racionados, ao invés de serem alocados por meio dos preços. Os organizadores poderiam ter escolhido um preço muito maior (£225 para o evento da Figura 11.21), que teria levado o mercado ao equilíbrio. Contudo, isso significaria que pessoas dispostas a pagar menos de £225 não teriam assistido ao evento. Ao alocar os ingressos por sorteio, algumas pessoas com menor disposição para pagar (talvez por terem rendas limitadas) também poderiam assistir aos Jogos.
Houve um grande debate público sobre o processo e alguns atritos, mas o presidente do COI, Jacques Rogge, defendeu que o processo era “aberto, transparente e justo”.
Existem outros casos em que o produtor de um bem escolhe operar com um persistente excesso de demanda. No almoço, o restaurante Momofuku Ko, em Nova Iorque, oferece um menu de degustação com 16 pratos por $175, e tem apenas 12 lugares. As reservas online podem ser feitas com uma semana de antecedência, abrem diariamente às 10 da manhã, e geralmente são vendidas em três segundos. Em 2008, o proprietário, David Chang, vendeu uma reserva por $2.870 em um leilão de caridade. Mesmo considerando que as pessoas têm maior disposição a pagar por um item quando os lucros são destinados a caridade, isso sugere um excesso substancial de demanda pelas reservas — mas Chang não aumentou seu preço.
Exercício 11.9 Política do COI
- Você acha justa a política de loteria de ingressos do COI?
- A política é eficiente de Pareto? Explique por que sim ou por que não.
- Utilizando os critérios de justiça e de eficiência de Pareto, como você avaliaria a amplamente criticada prática de “cambismo”.
- Você consegue pensar em algum argumento contra ou a favor do cambismo?
Exercício 11.10 O preço de um ingresso
Explique por que os vendedores de um bem cuja oferta é fixa (como ingressos de um show ou as reservas em restaurantes) podem decidir fixar um preço que sabem ser menor do que o de equilíbrio de mercado.
Questão 11.9 Selecione a(s) resposta(s) correta(s)
A Figura 11.21 é uma representação estilizada do mercado de um evento dos Jogos Olímpicos de Londres em 2012. Foram distribuídos 40.000 por sorteio, custando £100 cada.
Assuma que os compradores pudessem revender seus ingressos no mercado secundário. Qual(is) das seguintes afirmações está(ão) correta(s)?
- Para uma oferta de 40.000 ingressos, o mercado teria atingido o equilíbrio em £225.
- 70.000 pessoas queriam ingressos, mas apenas 40.000 foram alocados por meio de um sorteio aleatório.
- No mercado secundário, os ingressos podiam ser vendidos a £225, o que produziria uma renda econômica de £125.
- Com a oferta limitada a 40.000, se todos os ingressos fossem vendidos a £225, o lucro dos organizadores seria maior. Entretanto, eles preferiram estabelecer um preço acessível para mais pessoas.
11.10 Mercados com preços controlados
Em dezembro de 2013, em um sábado inusitadamente frio em que nevava na Cidade de Nova Iorque, a demanda por serviços de táxi aumentou consideravelmente. Os famosos táxis amarelos e verdes, que operam a uma tarifa fixa (sujeita a pequenos ajustes em horários de pico e à noite), estavam difíceis de serem encontrados. As pessoas que procuravam táxis tinham que enfrentar um racionamento, ou longos tempos de espera.
Porém, havia uma alternativa disponível — outro exemplo de mercado secundário: o serviço de táxi on-demand por um aplicativo chamado Uber que, em março de 2017, já operava em 81 países. Esse novo participante do mercado de transporte local utiliza um algoritmo secreto que responde rapidamente a mudanças nas condições de demanda e oferta.
As tarifas convencionais de táxi não mudam de acordo com o clima, mas os preços do Uber podem se alterar consideravelmente. Nessa noite de dezembro, o algoritmo de alta nos preços resultou em tarifas mais de sete vezes maiores que a taxa comum do Uber. Esse pico deixou alguns solicitantes chocados e também levou a certo aumento na oferta, uma vez que os motoristas que teriam parado de trabalhar escolheram permanecer nas ruas e outros se juntaram a eles.
Com frequência, as autoridades da cidade regulam as tarifas de táxi como parte da política de transporte, por exemplo, para manter padrões de segurança e minimizar congestionamentos. Em alguns países, os governos locais ou nacionais também controlam os aluguéis dos imóveis. Às vezes, isso serve para proteger os inquilinos, que podem ter pouco poder de negociação nas relações com os senhorios, ou também porque os aluguéis urbanos seriam altos demais para grupos importantes de trabalhadores.
A Figura 11.22 representa uma situação em que o governo local pode decidir controlar o aluguel de imóveis em uma cidade (observe que estamos empregando aluguel no sentido habitual, de pagamento que o inquilino faz ao locador para usar suas acomodações). Inicialmente, o mercado está em equilíbrio, com 8.000 locações a um aluguel de €500 — ocorre market-clearing. Suponha agora que ocorra um aumento na demanda por imóveis para alugar. Os aluguéis aumentarão porque a oferta de imóveis para alugar é inelástica, ao menos no curto prazo: levaria tempo para construir novas casas, então só é possível oferecer mais imóveis para alugar de imediato se quem for proprietário de um imóvel decidir se tornar locador e for morar em outro lugar.
- teto de aluguéis
- Máximo valor legal que pode ser cobrado por um aluguel.
Suponha que as autoridades da cidade temem que muitas famílias não possam arcar com esse aumento, então impõem um teto de aluguel de €500. Siga as etapas na Figura 11.22 para ver o que acontece.
- lado curto (de um mercado)
- Lado (de oferta ou de demanda) em que o número de transações desejadas é menor (por exemplo, empregadores estão no lado curto do mercado de trabalho porque geralmente há mais trabalhadores em busca de emprego do que empregos disponíveis). O oposto do lado curto é o lado longo de um mercado. Veja também: lado da oferta, lado da demanda.
A um preço controlado de €500, há excesso de demanda. Em geral, um preço controlado não leva o mercado ao equilíbrio, e as transações são determinadas pelo lado curto do mercado. Isto é, a quantidade negociada será menor do que as quantidades ofertadas e demandadas. Na Figura 11.22, o preço é baixo e os fornecedores estão do lado curto. Se o preço fosse alto (acima do preço de equilíbrio), as pessoas que procuram alugar imóveis, a demanda do mercado de aluguéis, estariam do lado curto.
Quando o aluguel é €500, o número de imóveis alugados é 8.000. Das 12.000 pessoas que estão no lado longo do mercado, 8.000 pagariam €1.100 ou mais, mas os imóveis não se destinam necessariamente às pessoas com maior disposição a pagar. Aqueles que forem sortudos o suficiente para conseguir um aluguel podem estar em qualquer ponto da nova curva de demanda que esteja acima de €500.
Essa breve análise econômica do controle de aluguéis em Paris sugere que os efeitos são contraprodutivos: Jean Bosvieux e Oliver Waine. 2012. ‘Rent Control: A Miracle Solution to the Housing Crisis?’. Metropolitics. Atualizado em 21 de novembro de 2012.
Por outro lado, Richard Arnott argumenta que os economistas deveriam repensar suas tradicionais objeções ao controle de aluguéis: Richard Arnott. 1995. ‘Time for Revisionism on Rent Control?’. Journal of Economic Perspectives 9 (1) (February): pp. 99–120.
A política de controle de aluguéis atribui maior peso a manter aluguéis considerados justos e acessíveis para inquilinos atuais que de outra forma poderiam ser forçados a se mudar, do que à eficiência de Pareto. A escassez de acomodações para alugar gera potenciais rendas econômicas: se fosse legal (geralmente não é), alguns inquilinos poderiam sublocar suas acomodações, obtendo rendas econômicas de €600 (diferença entre €1.100 e €500).
Se o aumento da demanda se revelar permanente, a solução de longo prazo para as autoridades municipais pode ser adotar políticas que encorajem a construção de imóveis, deslocando a curva de oferta para a direita, de modo que mais imóveis estejam disponíveis a um aluguel razoável.
Exercício 11.11 Por que não aumentar o preço?
Discuta a seguinte afirmação: “O aumento acentuado das tarifas num dia em que nevava em Nova Iorque levou a graves críticas ao Uber nas mídias sociais, mas um aumento acentuado do preço do ouro não tem o mesmo efeito.”
Questão 11.10 Selecione a(s) resposta(s) correta(s)
A Figura 11.22 ilustra o mercado de aluguel de imóveis. Inicialmente, o mercado atinge o equilíbrio a um aluguel de €500, com 8.000 imóveis alugados. Ocorre então um deslocamento da curva da demanda para fora, como mostra o diagrama. Como resposta, as autoridades municipais impõem um teto de aluguéis de €500 e proíbem a sublocação. Com base nessa informação, qual(is) das afirmações está(ão) correta(s)?
- A €500, 12.000 pessoas querem alugar imóveis, mas há apenas 8.000 imóveis disponíveis.
- O mercado atinge o equilíbrio em €830.
- Os sublocadores poderiam cobrar um aluguel de €1.100 sob a nova curva de demanda, obtendo rendas econômicas de €600.
- Construindo um número suficiente de casas, a curva de oferta se deslocaria para fora e o mercado voltaria ao equilíbrio a um aluguel de €500.
11.11 O papel das rendas econômicas
Uma renda econômica é um pagamento ou outro benefício que alguém recebe e que é superior ao gerado por sua melhor alternativa subsequente. Ao longo deste capítulo, vimos o papel que as rendas econômicas desempenham nas mudanças que ocorrem na economia.
- No caso real dos pescadores de Kerala, e no mercado hipotético de chapéus, compradores e vendedores adotaram comportamentos rent-seeking em reposta a excessos de oferta ou de demanda, o que levou ao equilíbrio de mercado — isto é, à ocorrência de market-clearing.
- No modelo do mercado de pães, as rendas (lucros econômicos) podem surgir em um equilíbrio de curto prazo no qual o número de firmas é fixo. A longo prazo, outras padarias entram no mercado em busca dessas rendas.
- No mercado mundial de petróleo, as rendas dos produtores surgem das restrições a produtores e consumidores que tornam as curvas de oferta e demanda inelásticas a curto prazo. No entanto, essas mesmas restrições fornecem incentivos para construir novos poços de exploração.
- Nos mercados de ativos, as rendas surgem quando o preço se desvia do valor fundamental do ativo, fornecendo oportunidades de especulação e gerando a possibilidade de bolhas.
- Nos mercados em que não ocorre market-clearing porque os preços são controlados, o excesso de demanda gera possíveis rendas econômicas, o que leva desenvolvimento de um mercado secundário capaz de atingir o equilíbrio (a menos que a regulação seja capaz de impedir seu surgimento).
- Outro exemplo, visto no Capítulo 2, é a renda de inovação adquirida pelos pioneiros em inovação, que fornece um incentivo para a adoção de novas tecnologias.
- renda de equilíbrio
- Renda de um mercado que está em equilíbrio. Também conhecida como: renda estacionária ou persistente.
Em cada um desses exemplos, as rendas surgem por causa de algum tipo de desequilíbrio ou de restrição de curto prazo — por isso são chamadas de rendas de desequilíbrio ou dinâmicas. Essas rendas iniciam um processo de rent-seeking que termina criando um equilíbrio no qual esses tipos de renda deixam de existir. Por outro lado, também vimos exemplos de rendas persistentes ou estacionárias. Os principais exemplos estão listados na tabela da Figura 11.23.
Tipo | Descrição | Capítulo |
---|---|---|
Negociação | Em uma negociação, a renda é dada por quanto o resultado excede as opções de reserva (melhor alternativa subsequente) das partes | 4,5 |
Emprego | Salários e condições que excedem as opções de reserva de um empregado, fornecendo um incentivo para que se esforce no trabalho | 6,9 |
Monopólio | Lucros superiores aos lucros econômicos, que se tornam possíveis em caso de competição limitada | 7 |
Induzido pelo governo | Pagamentos que excedem a melhor alternativa subsequente do agente e que não são eliminados pela competição devido à regulação governamental (por exemplo, controle de aluguéis, direitos de propriedade intelectual) | 9 |
Figura 11.23 Exemplos de rendas estacionárias
No modelo estudado neste capítulo, vimos que, se os mercados não atingem o equilíbrio, surgem rendas de desequilíbrio que incentivam mais pessoas a alterar os preços ou quantidades das transações e, assim, provocam o ajuste do mercado. O mercado de trabalho (Capítulo 9) é diferente: não se ajusta até o equilíbrio. Portanto, os empregados recebem uma renda — a diferença entre o salário e sua opção de reserva — que, nesse caso, é uma renda de equilíbrio ou persistente: como um contrato garantindo o esforço no trabalho não é exequível, não há como o comprador (empregador) ou o vendedor (trabalhador) se beneficiar se alterar seu preço ou quantidade.
As rendas econômicas e aqueles que as buscam, os rent-seekers, geralmente têm uma reputação ruim na economia. As pessoas os desaprovam porque veem a renda como algo gerado por monopólios criados pelo governo (licenças de táxi, direitos de propriedade intelectual) ou por empresas privadas. Essas rendas indicam que o bem ou o serviço será vendido a um preço maior que seu custo marginal e, por isso, os mercados desses bens não são eficientes de Pareto.
Entretanto, vimos agora que algumas rendas econômicas são úteis: encorajam a inovação, oferecem incentivos para que os empregados trabalharem com afinco, incentivam a entrada de novos participantes no mercado e, assim, diminuem os preços aos consumidores, bem como podem levar a um mercado em desequilíbrio a um equilíbrio eficiente de Pareto.
Questão 11.11 Selecione a(s) resposta(s) correta(s)
Qual(is) dos seguintes são rendas estacionárias?
- A renda de inovação é apenas temporária: dura até que outras firmas alcancem a pioneira — então é uma renda dinâmica.
- Os empregadores continuarão a pagar salários acima do salário reserva porque senão os empregados reduziriam seus esforços no trabalho.
- Quando a competição é limitada, as firmas continuam a produzir em níveis onde os preços são maiores que o custo marginal.
- Claramente esta renda não é permanente!
11.12 Conclusão
Os preços são mensagens sobre as condições de uma economia de mercado. Em situações de desequilíbrio do mercado ou de equilíbrio de curto prazo surgido a partir de restrições temporárias, as pessoas agem com base nas mensagens transmitidas pelos preços se puderem fazê-lo, com o objetivo de obter rendas econômicas. Nos mercados de bens, isso frequentemente leva ao equilíbrio de mercado e ao eventual desaparecimento das rendas no longo prazo.
Os ativos são comprados, em parte, por conta de seu valor de revenda. Nos mercados de ativos financeiros, oferta e demanda mudam rapidamente à medida que os investidores recebem novas informações. O preço se ajusta em um leilão duplo contínuo que reconcilia oferta e demanda. Os preços dos mercados de ativos enviam mensagens para os investidores a respeito dos preços futuros, o que pode levar o preço a se desviar do valor fundamental do ativo; nesse caso, rent-seeking pode criar uma bolha ou causar crashes.
Às vezes, os fornecedores ou os reguladores escolhem dispensar as mensagens dos preços, o que leva ao excesso de oferta ou de demanda, por exemplo, por ingressos de shows, táxis ou imóveis para alugar. Rendas econômicas podem ser persistentes — a menos que um mercado secundário tenha permissão para se desenvolver.
Conceitos introduzidos no Capítulo 11
Antes de passar adiante, reveja essas definições:
11.13 Referências
- Arnott, Richard. 1995. ‘Time for Revisionism on Rent Control?’. Journal of Economic Perspectives 9 (1) (February): pp. 99–120.
- Bosvieux, Jean, and Oliver Waine. 2012. ‘Rent Control: A Miracle Solution to the Housing Crisis?’. Metropolitics. Updated 21 November 2012.
- Brunnermeier, Markus. 2009. ‘Lucas Roundtable: Mind the frictions’. The Economist. Updated 6 August 2009.
- Cassidy, John. 2010. ‘Interview with Eugene Fama’. The New Yorker. Updated 13 January 2010.
- Harford, Tim. 2012. ‘Still Think You Can Beat the Market?’. The Undercover Economist. Updated 24 November 2012.
- Hayek, Friedrich A. 1994. The Road to Serfdom. Chicago, Il: University of Chicago Press.
- Keynes, John Maynard. 1936. The General Theory of Employment, Interest and Money. London: Palgrave Macmillan.
- Kindleberger, Charles P. 2005. Manias, Panics, and Crashes: A History of Financial Crises (Wiley Investment Classics). Hoboken, NJ: Wiley, John & Sons.
- Lucas, Robert. 2009. ‘In defence of the dismal science’. The Economist. Updated 6 August 2009.
- Malkiel, Burton G. 2003. ‘The Efficient Market Hypothesis and Its Critics’. Journal of Economic Perspectives 17 (1) (March): pp. 59–82.
- Miller, R. G., and S. R. Sorrell. 2013. ‘The Future of Oil Supply’. Philosophical Transactions of the Royal Society A: Mathematical, Physical and Engineering Sciences 372 (2006) (December).
- Owen, Nick A., Oliver R. Inderwildi, and David A. King. 2010. ‘The Status of Conventional World Oil Reserves—Hype or Cause for Concern?’. Energy Policy 38 (8) (August): pp. 4743–4749.
- Shiller, Robert J. 2003. ‘From Efficient Markets Theory to Behavioral Finance’. Journal of Economic Perspectives 17 (1) (March): pp. 83–104.
- Shiller, Robert J. 2015. ‘The Stock Market in Historical Perspective’. In Irrational Exuberance. Princeton, NJ: Princeton University Press.
- The Economist. 2014. ‘Keynes and Hayek: Prophets for Today’. Updated 14 March 2014.
-
Friedrich A. Hayek. 1994. The Road to Serfdom. Chicago, Il: University of Chicago Press. ↩
-
‘Keynes and Hayek: Prophets for Today’. The Economist. Updated 14 March 2014. ↩
-
R. G. Miller and S. R. Sorrell. 2013. ‘The Future of Oil Supply’. Philosophical Transactions of the Royal Society A: Mathematical, Physical and Engineering Sciences 372 (2006) (December). ↩
-
Nick A. Owen, Oliver R. Inderwildi, and David A. King. 2010. ‘The status of conventional world oil Reserves—Hype or cause for concern?’ Energy Policy 38 (8) (August): pp. 4743–4749. ↩
-
Eugene Fama, quoted in ‘Interview with Eugene Fama’, The New Yorker. (2010). ↩
-
Tim Harford. 2012. ‘Still Think You Can Beat the Market?’. The Undercover Economist. Updated 24 November 2012. ↩
-
If the efficient market hypothesis is accurate, how could the 2008 financial crisis happen? Robert Lucas on Fama’s efficient market hypothesis: Robert Lucas. 2009. ‘In Defence of the Dismal Science’. The Economist. Updated 6 August 2009. ↩
-
Brunnermeier argues Lucas was right to emphasize that financial market frictions are a counter-argument to the efficient market hypothesis: Markus Brunnermeier. 2009. ‘Lucas Roundtable: Mind the Frictions’. The Economist. Updated 6 August 2009.
Robert J. Shiller. 2003. ‘From Efficient Markets Theory to Behavioral Finance’. Journal of Economic Perspectives 17 (1) (March): pp. 83–104.
Burton G. Malkiel. 2003. ‘The Efficient Market Hypothesis and Its Critics’. Journal of Economic Perspectives 17 (1) (March): pp. 59–82. ↩
-
The classic examination of bubbles was made by John Maynard Keynes in Chapter 12 of his General Theory. John Maynard Keynes. 1936. The General Theory of Employment, Interest and Money. London: Palgrave Macmillan. ↩
-
John Cassidy. 2010. ‘Interview with Eugene Fama’. The New Yorker. Updated 13 January 2010. ↩
-
Robert J. Shiller. 2015. Irrational Exuberance, Chapter 1. Princeton, NJ: Princeton University Press. ↩
-
Charles P. Kindleberger. 2005. Manias, Panics, and Crashes: A History of Financial Crises (Wiley Investment Classics). Hoboken, NJ: Wiley, John & Sons. ↩